Capítulo Quatro

Pega de surpresa, me virei depressa, e o susto foi imenso quando a visão finalmente revelou quem se tratava.

Meu coração saltou no peito, como se aquela fosse uma aparição ou uma alucinação ocasionada pela fadiga e cansaço.

Mas era mesmo Matheus.

Usava um terno impecável, olhava para a frente e admirava a vista do seu próprio jeito, como se não tivesse me reconhecido. Como se aquela sexta-feira tivesse acontecido apenas comigo.

O encarei, esperando alguma reação, sem saber se deveria dizer ou não alguma coisa. Esperei por um olhar, reconhecimento, um sorriso, mas sua expressão não se alterou. Os olhos passaram por mim rapidamente, mas se manteve sério, como se eu fosse uma secretária qualquer.

— Não esperava te encontrar aqui, mas espero que goste do trabalho.

Frio.

Ele estava frio como gelo e nossa troca de olhares não durou nem trinta segundos.

Senti frustração, alivio, e tentei manter a compostura e continuar seguindo o mesmo tom que ele, como se não me importasse. A boate não tinha sido coisa da minha cabeça, mas não valia minha energia pensar sobre algo assim. As coisas seriam melhores desse jeito, eu devia manter tudo no passado.

Ele era o chefe.

Eu, a secretária.

Sentia meu estômago pesar e baixei os olhos para minha xícara, sorrindo sem emoção, tentando parecer natural.

Baixei os olhos para minha xícara e me forcei a agir com naturalidade.

— Muito obrigada, senhor, com licença — passei por ele, com os olhos ardendo, e respirei fundo enquanto voltava ao meu lugar.

Sentei em minha cadeira, tentando não reparar no desconforto e nos calafrios, tentando focar no trabalho. Eu merecia aquele emprego, seria boa o suficiente para ser promovida e não precisaria da ajuda dos meus pais para nada.

Matheus não significava nada, e nós não precisávamos passar dos limites.

Eu não precisava.

Não podia.

Devia mesmo ser assim.

Sabia que estava mentindo para mim mesma, mas minhas vontades não eram importantes, e só precisava de paciência enquanto observava o tempo passar.

***

Quase sucumbi aos sentimentos obscuros que tentavam me dominar e faltei, mas resisti. Me arrumei e cheguei trinta minutos mais cedo no trabalho, antes de Henrique, para que o homem não tivesse abertura para implicar comigo. Trabalhei arduamente, sem pausas, e fiquei contente por minhas alterações dos documentos estarem corretas, embora minhas folhas de sugestões tenham sido devolvidas.

No almoço, procurei por alguém que parecesse minimamente simpático porque, com tanta coisa pra resolver, ainda não tinha tido oportunidade de conhecer ninguém.

— Oi, posso me sentar aqui? — perguntei e a moça se virou.

— Claro! — Ela sorriu. — Eu sou a Carla. Você é nova, não é?

— Sim, comecei hoje. Julia.

— Bem-vinda ao caos — brincou, me arrancando uma risada.

Conversamos durante o tempo de almoço todo, e felizmente Carla se mostrou uma pessoa bem simpática, desejei de verdade que fosse alguém com quem pudesse contar ali dentro. Seus comentários espirituosos e sinceros amenizaram o clima, me deixando mais a vontade e fazendo-me sentir um pouco mais pertencente aquele ambiente confuso e estranho.

No entanto, nossa conversa, assim como todas as outras, diminuíram até sumir. Quando segui seu olhar até a entrada do refeitório, arregalei os olhos brevemente, um tanto nervosa com a presença ali.

— Ih, temos uma visita — murmurou, com uma apreensão fácil de ser compreendida.

Matheus havia entrado, e meu coração tornou a apertar, explodindo em uma taquicardia ansiosa em seguida, que deixou meus dedos gelados. Ao conversar com um grupo de executivos, na entrada no refeitório, seu rosto era sério e sua postura imponente era bem diferente da que usara para me abordar naquela maldita boate.

Tentei seriamente não pensar muito nisso.

— Quem é ele? — fingi desinteresse e desconhecimento, sabia que ele era um executivo importante, porque estava na ala da diretoria, mas seu cargo pouco importava, eu não tinha qualquer interesse nele.

— Como assim? Você realmente não sabe? Ele é seu chefe! Matheus Vasconcellos, o CEO e herdeiro desta empresa. O homem mais lindo e mais gelado que tenha o prazer, ou desprazer de conhecer na sua vida.

Dei uma risada seca, sem graça.

CEO.

Não conseguia decidir entre rir ou entrar em pânico.

— Julia? — Carla me chamou, tentando desmanchar a mortalha de silêncio repentino. — Tudo bem?

— Não é nada — declarei. — Não sabia que ele era tão jovem, e é mais bonito pessoalmente.

Carla riu, alheia as minhas mentiras.

— Ele é lindo demais, mas nunca se envolve com ninguém, por mais que tentem, nenhuma mulher dessa empresa jamais se deu bem com aquele deus grego.

Olhei na direção dele uma última vez, antes de vê-lo se afastar, e voltei a comer. Em momento nenhum, nossos olhos se encontraram, era quase como se os olhos dele fugissem de mim. 

Ele estava realmente inclinado a fingir que eu não existia, então eu devia deixar de ser idiota.

Tinha que fazer o mesmo.

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