CAPÍTULO 02

Fernanda

Ele me olha perplexo, não sei se era porque eu já sabia da criança ou porque eu estava gritando. Ele vira de costas bufando e passando as mãos no cabelo.

 — Fala, Felipe! Com qual vagabund* você transou sem ter o mínimo de descendia de se prevenir? Arriscando me passar alguma doença, você é um escroto mesmo!

— Não fala besteira, Fernanda! — Falou se virando para mim.

— Ah, besteira? — eu ri ironicamente.

— É besteira sim! Você acha o quê? Que eu saio comendo essas vagabund*s por aí sem me cuidar? Tá maluca?

Nessa hora eu gargalhei alto.

— Ah claro, você usa camisinha mas uma piranha engravidou de você, tá certo. — bati palmas. Eu estava impressionada negativamente comigo mesma, nunca fui uma pessoa que resolve as coisas gritando ou falando palavrões.

— Eu te amo, caralh*! Põe isso nessa sua cabeça. A única pessoa com quem eu transo é você. – ele encheu um copo de whisky e tomou puro, sem gelo.

— Nem você acredita nessa mentira que está tentando contar. A prova disso é essa criança. Quem é ela, Felipe? Eu conheço? Aposto que todos sabem, tudo na minha cara e só eu não percebi, eu sou muito burra mesmo!

Nessa hora, ele jogou o copo com toda a força na parede e veio até mim. Com o barulho, me assustei e eu, que agora estava sentada, fui jogada pra traz com a força que ele usou. Fiquei deitada e ele por cima de mim, segurando meu queixo com a mão e me olhando.

– Que língua eu tô falando que você não tá entendendo? Ham? – falou olho no olho.

– Me solta! – esbravejei.

– Eu solto quando eu quiser e SE eu quiser! E baixa tua bolinha, não pensa que tu vai ficar de marra pra cima de mim, não! Tô tendo muita paciência contigo. — agora ele falava apontando o dedo pra minha cara.

É impressionante que ele ainda acha que eu não tenho direito de gritar, de colocar minha raiva pra fora.

— Coloca uma coisa nessa sua cabeça, desde que a gente voltou, a única pessoa que eu transo com camisinha, sem, em pé, deitado, em qualquer posição e os carai é você, a única!

Fiquei sem silêncio e ele continuou:

— A gente casou a poucas horas atrás, era pra estar lá naquele quarto comemorando, transando até pedir arrego. — ele aponta com a mão para o segundo andar, se referindo ao quarto da casa — Mas você tá fazendo tempestade num copo d’água por algo que não muda nada na nossa relação. Eu tô com dor de cabeça, cansado e você também. Então quando estiver mais calma, a gente conversa! — Falou e foi subindo as escadas, me ignorando totalmente. Eu quase não acreditei quando ele fez isso. O Felipe tá pensando que eu vou achar normal um filho fora do casamento? É isso mesmo?

— Espera! Eu não terminei de falar! — levantei, quase voando do sofá e fui até ele, puxando seu braço.

— E se fosse eu? — perguntei e ele me olhou sem entender.

Repeti a pergunta.

— Se fosse o inverso? Se eu estivesse grávida de outro?

Ele enfureceu ao ouvir e seu olhar era como uma chama me queimando.

— Nunca mais repete uma porra dessas!

Me assustei pois ele puxou meu braço, apertando.

— Tá vendo? Eu tenho que suportar tudo, mas você não! Você pode tudo, mas eu não posso nada!

Ele me encara alguns segundos e me solta.

— Fala, eu quero saber! Quem é a mãe dessa criança? — exigi.

— Para de querer se torturar assim!

— Essa tortura foi criada por você. Fala, eu quero saber! — Eu gritava.

— Que diferença faz?

— Pra mim, faz muita! – respondi.

Ele bufava passando a mão nos olhos, nitidamente cansado, físico e psicologicamente. E eu estava com o ego ferido, pensava em quantas vezes devo ter sido apontada no morro como a esposa chifruda do chefe.

— Fala, Felipe!

Ele suspira.

— A Susana!

Ao ouvir, passei por ele correndo escada acima e ele tentou me conter, mas não foi possível. Entrei no quarto, bati a porta com força e tranquei, ele tentou por bastante tempo fazer com que eu abrisse a porta, mas foi em vão.

Logo me joguei na cama e comecei a chorar, coloquei toda a mágoa, dor, raiva, tristeza e decepção pra fora. Eu não lembrava exatamente de como era fisicamente essa Susana. Mas já ouvi falar muito sobre ela, sei que eles sempre ficavam, inclusive ela foi presa, pois estava junto com ele na manhã da invasão policial. Porém, não ficou muito tempo na cadeia, ela deve amar muito ele, pois mesmo sendo presa se envolveu novamente com ele.

Depois de um tempo, Felipe voltou a bater na porta insistentemente várias vezes, me chamando. Mas eu não quis falar com ele e chorei tanto que acabei pegando no sono e acordei com o dia quase amanhecendo. Levantei, abri a porta da sacada e me debrucei sobre a mureta, fiquei um tempo ali olhando o céu e o mar.

As ondas revoltas invadiam a areia, assim como a raiva invadia ainda mais o meu coração. Os pássaros voavam alto, assim como a minha mente traiçoeira voava, imaginando ele transando com essa tal Susana. Nossa mente pode ser uma grande inimiga.

A brisa fria da manhã me faz voltar pro quarto. Fecho a porta de correr, entro no banheiro e pelo espelho, vejo que minha cara está péssima.

Tomo um banho, quente e relaxante e após, arrumo minhas coisas na mala. Quero voltar pra minha casa.

Ao descer as escadas, vejo Felipe sentado no sofá e ao seu lado havia uma garrafa de whisky vazia e outra pela metade, com um copo na mesinha lateral. Ele usava a mesma roupa de ontem, provavelmente não dormiu.

— Vamos embora! — falei.

— Nós temos que conversar! — ele respondeu e estava com um semblante péssimo, tanto quanto eu.

— Não, nós não temos! Está tudo acabado entre nós.

— Isso nunca! — ele falou e levantou do sofá, puxando minha mão. Mas eu a puxei de volta com força, indo em direção a porta e ele veio atrás.

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