Fernanda
Ele me olha perplexo, não sei se era porque eu já sabia da criança ou porque eu estava gritando. Ele vira de costas bufando e passando as mãos no cabelo.
— Fala, Felipe! Com qual vagabund* você transou sem ter o mínimo de descendia de se prevenir? Arriscando me passar alguma doença, você é um escroto mesmo!
— Não fala besteira, Fernanda! — Falou se virando para mim.
— Ah, besteira? — eu ri ironicamente.
— É besteira sim! Você acha o quê? Que eu saio comendo essas vagabund*s por aí sem me cuidar? Tá maluca?
Nessa hora eu gargalhei alto.
— Ah claro, você usa camisinha mas uma piranha engravidou de você, tá certo. — bati palmas. Eu estava impressionada negativamente comigo mesma, nunca fui uma pessoa que resolve as coisas gritando ou falando palavrões.
— Eu te amo, caralh*! Põe isso nessa sua cabeça. A única pessoa com quem eu transo é você. – ele encheu um copo de whisky e tomou puro, sem gelo.
— Nem você acredita nessa mentira que está tentando contar. A prova disso é essa criança. Quem é ela, Felipe? Eu conheço? Aposto que todos sabem, tudo na minha cara e só eu não percebi, eu sou muito burra mesmo!
Nessa hora, ele jogou o copo com toda a força na parede e veio até mim. Com o barulho, me assustei e eu, que agora estava sentada, fui jogada pra traz com a força que ele usou. Fiquei deitada e ele por cima de mim, segurando meu queixo com a mão e me olhando.
– Que língua eu tô falando que você não tá entendendo? Ham? – falou olho no olho.
– Me solta! – esbravejei.
– Eu solto quando eu quiser e SE eu quiser! E baixa tua bolinha, não pensa que tu vai ficar de marra pra cima de mim, não! Tô tendo muita paciência contigo. — agora ele falava apontando o dedo pra minha cara.
É impressionante que ele ainda acha que eu não tenho direito de gritar, de colocar minha raiva pra fora.
— Coloca uma coisa nessa sua cabeça, desde que a gente voltou, a única pessoa que eu transo com camisinha, sem, em pé, deitado, em qualquer posição e os carai é você, a única!
Fiquei sem silêncio e ele continuou:
— A gente casou a poucas horas atrás, era pra estar lá naquele quarto comemorando, transando até pedir arrego. — ele aponta com a mão para o segundo andar, se referindo ao quarto da casa — Mas você tá fazendo tempestade num copo d’água por algo que não muda nada na nossa relação. Eu tô com dor de cabeça, cansado e você também. Então quando estiver mais calma, a gente conversa! — Falou e foi subindo as escadas, me ignorando totalmente. Eu quase não acreditei quando ele fez isso. O Felipe tá pensando que eu vou achar normal um filho fora do casamento? É isso mesmo?
— Espera! Eu não terminei de falar! — levantei, quase voando do sofá e fui até ele, puxando seu braço.
— E se fosse eu? — perguntei e ele me olhou sem entender.
Repeti a pergunta.
— Se fosse o inverso? Se eu estivesse grávida de outro?
Ele enfureceu ao ouvir e seu olhar era como uma chama me queimando.
— Nunca mais repete uma porra dessas!
Me assustei pois ele puxou meu braço, apertando.
— Tá vendo? Eu tenho que suportar tudo, mas você não! Você pode tudo, mas eu não posso nada!
Ele me encara alguns segundos e me solta.
— Fala, eu quero saber! Quem é a mãe dessa criança? — exigi.
— Para de querer se torturar assim!
— Essa tortura foi criada por você. Fala, eu quero saber! — Eu gritava.
— Que diferença faz?
— Pra mim, faz muita! – respondi.
Ele bufava passando a mão nos olhos, nitidamente cansado, físico e psicologicamente. E eu estava com o ego ferido, pensava em quantas vezes devo ter sido apontada no morro como a esposa chifruda do chefe.
— Fala, Felipe!
Ele suspira.
— A Susana!
Ao ouvir, passei por ele correndo escada acima e ele tentou me conter, mas não foi possível. Entrei no quarto, bati a porta com força e tranquei, ele tentou por bastante tempo fazer com que eu abrisse a porta, mas foi em vão.
Logo me joguei na cama e comecei a chorar, coloquei toda a mágoa, dor, raiva, tristeza e decepção pra fora. Eu não lembrava exatamente de como era fisicamente essa Susana. Mas já ouvi falar muito sobre ela, sei que eles sempre ficavam, inclusive ela foi presa, pois estava junto com ele na manhã da invasão policial. Porém, não ficou muito tempo na cadeia, ela deve amar muito ele, pois mesmo sendo presa se envolveu novamente com ele.
Depois de um tempo, Felipe voltou a bater na porta insistentemente várias vezes, me chamando. Mas eu não quis falar com ele e chorei tanto que acabei pegando no sono e acordei com o dia quase amanhecendo. Levantei, abri a porta da sacada e me debrucei sobre a mureta, fiquei um tempo ali olhando o céu e o mar.
As ondas revoltas invadiam a areia, assim como a raiva invadia ainda mais o meu coração. Os pássaros voavam alto, assim como a minha mente traiçoeira voava, imaginando ele transando com essa tal Susana. Nossa mente pode ser uma grande inimiga.
A brisa fria da manhã me faz voltar pro quarto. Fecho a porta de correr, entro no banheiro e pelo espelho, vejo que minha cara está péssima.
Tomo um banho, quente e relaxante e após, arrumo minhas coisas na mala. Quero voltar pra minha casa.
Ao descer as escadas, vejo Felipe sentado no sofá e ao seu lado havia uma garrafa de whisky vazia e outra pela metade, com um copo na mesinha lateral. Ele usava a mesma roupa de ontem, provavelmente não dormiu.
— Vamos embora! — falei.
— Nós temos que conversar! — ele respondeu e estava com um semblante péssimo, tanto quanto eu.
— Não, nós não temos! Está tudo acabado entre nós.
— Isso nunca! — ele falou e levantou do sofá, puxando minha mão. Mas eu a puxei de volta com força, indo em direção a porta e ele veio atrás.
FernandaFui indo em direção a garagem, coloquei minha mala no carro e abri a porta do carona para entrar, mas ele a bate com força me impedindo.— Para de agir feito criança, caralh*!Olhei para ele incrédula. Felipe estava com os olhos vermelhos, não sei se por não ter dormido ou por ter usado alguma coisa.— Criança, eu? — falei um tanto debochada enquanto cruzei os braços e me escorei no carro. É, talvez eu estivesse sendo um pouco infantil mesmo, mas eu estava com muita raiva dele, então acho eu que tinha esse direito.— Você sai transando com todas as mulheres que aparecem pela frente sem se prevenir, mas eu é quem sou criança? Tá bom! — ri debochada no final.— Não fala o que você não sabe! — ele respondeu.— Felipe, vamos fingir que esse circo que você montou aqui ontem, não aconteceu, tá legal? Agora eu entendi, você fez esse teatro todo de casamento para que eu não descobrisse sobre seu “outro filho”. — falei com aspas porque estou com muito ódio e ele pegou meu braço com fo
FernandaNesta hora eu fiquei estarrecida com o que ouvi, nos olhamos alguns segundos e apertei firme a mão dela para que ela entendesse que poderia se abrir comigo, se ela se sentisse confortável para isso.— Fernanda, os primeiros anos do meu casamento foram de total infelicidade. Desde que conheci o Jorge, ele ficava com várias mulheres, mas eu me apaixonei perdidamente por ele e engravidei tão novinha que precisei casar, ou melhor, morar junto, pois sendo menor de idade eu precisaria de autorização dos meus pais e isso não era possível. Eu morava na pista com eles, não éramos ricos, mas tínhamos uma vida confortável e quando meu pai soube da gravidez, descobrindo ser de um traficante, me expulsou de casa e eu não tive outra opção, a não ser morar no morro com o Jorge.— Meu Deus, Ângela! E como o Jorge reagiu?— Ele ficou muito feliz com a gravidez, é claro, desde o começo dizia ser um menino, me levou para viver com ele no Jacarezinho e aí começou o inferno que foi o início da no
DANI LEMBRANDO E CONTANDO AOS AMIGOS:Já virei um tapa na cara dela e segurei ela de costas, pressionando a cara da desgraçada na parede de uma casa. O que me ajudava era que ali não ficava no campo de visão de nenhum soldado.— Escuta aqui, sua piranha, você vai me acompanhar até meu carro sim! Caso contrário, meu soldado que está lá do outro da rua da casa azul, ao lado do Bar do Tuca, vai atravessar e meter uma bala na cabeça da sua titia Lourdes. — A casa azul era a casa onde ela morava com Lourdes, a mulher que a criou. Primeiro me informei sobre a vida dela, não havia nenhum soldado vigiando a sua casa, mas ela não precisava saber disso.Ela se calou e me acompanhou, entrando no meu carro e eu dirigi acelerada até um local mais afastado, próximo de onde sei que fica o campo da desova. A princípio, hoje ninguém seria cobrado, então estaria limpo.Lá estacionei e dei uma surra nela, mesmo estando grávida bati muito, arranquei o mega que ela tinha acabado de colocar e após ela esta
Carioca Assim que voltamos da praia, eu nem fiquei em casa, brigar com a Fernanda me baqueia legal. Será que ela não entende que esse filho com a Susana não vai mudar absolutamente nada entre nós? Nem sei se é meu realmente e isso ela vai ter que provar, mas ela não seria louca de inventar uma parada dessas, não pra mim. Tava tudo pronto pro casamento, as coisas organizadas nos mínimos detalhes com a ajuda da minha mãe, ela adora um evento, por menor que seja. Aí do nada, aparece a Susana com esse papo de filho. Ela nem mora mais no morro desde a invasão, e quando saiu da cadeia não voltou pra cá. Será que entre eu e a Fernanda sempre vai ter algo pra atrapalhar? Meu telefone pessoal toca, olho na tela. E era minha mãe. Penso em não atender mais uma vez, ela já ligou 1 milhão de vezes. Atendo. — Fala, mãe! — Que história é essa de filho, Felipe? Suspiro. — Mãe, depois a gente conversa sobre isso, tá? Tô com a mente cheia! Você conseguiu colocar alguma coisa na cabeça da Fer
FernandaDepois que a Ângela foi embora, eu refleti muito, chorei muito, mas saber que o Felipe terá um filho com outra é algo que não vou conseguir passar por cima.Fico pensando, analisando cada detalhe para tentar saber quando foi que ele me traiu. Realmente eu sou muito masoquista. Que diferença faz? Ele traiu e pronto.Chego a conclusão de que só pode ter sido no período em que estive no hospital ou nos dias em que fiquei me recuperando no apartamento da Ângela. Era isso, enquanto eu me recuperava de ter quase morrido e ter perdido o nosso filho, ele estava na farra, sabe-se lá com quantas mulheres. Eu vivia o luto de ter perdido alguém que carreguei por tão pouco tempo dentro de mim, porque sim, foi um curto espaço de tempo e eu nem pude comemorar. E enquanto isso, ele se divertia com outras, pelo fato de ser um canalha que não consegue manter o pau sem funcionar.Felipe passou o dia todo fora de casa, anoiteceu e nada dele voltar. Gabriel já dormiu e eu não comi nada, não ten
Fernanda— O que você disse? — perguntei.Não acredito que estou passando por isso.Eu estava tão nervosa que pensei ter escutado errado. Não sei o que seria pior, um filho de 03 anos ou um que ainda não tenha nascido.— Deixa eu te explicar!— Sai daqui, Felipe! Não tem mais nada pra me explicar. — falei, levantando da cama e indo até o closet pegar um pijama e ele veio atrás.— Não tem exatamente 03 anos, vai fazer eu acho, eu não tenho certeza! Nasceu um pouco depois que o Gabriel, mas isso não importa. — ele falou me impedindo de sair do cômodo do closet.— Realmente não importa, Felipe! Até porque eu já entendi tudo e sai da minha frente que eu vou tomar um banho.— Não entendeu nada, caralh*! Eu não te traí! — Ele grita e eu tento passar por ele, que segurou meus braços, me impedindo.— Você tá percebendo as mentiras que está falando? Pode não ter me traído agora, mas traiu lá no passado! Presta atenção Felipe, o garoto tem a mesma idade do Gabriel!— Eu não tava com você nessa
LCMe aproximei e apontei o fuzil na testa da mulher, que se assustou com a minha reação.— CALA ESSA BOCA! Muito pior é uma mulher que abandona um filho por droga. Ninguém fala mal do meu velho na minha frente, ele foi um pai da hora.Nesse momento vinha entrando o carro da Rebeca, só me faltava essa. Ela tinha ido fazer compras e estava de volta, e vendo a situação, para o carro ao nosso lado.— Lucas? — Ela me chama assustada com o que está vendo.— Vai pra casa, Rebeca! — ordenei sem deixar de olhar pra tal mulher e sem baixar o fuzil. — Vai logo caralh*! — repeti, falando exaltado quando percebi que a Rebeca continuava ali! Ela ligou o carro e foi.— É a sua mulher? Ela é linda — A mulher fala.— Não é da sua conta! Tá fazendo o que ainda aqui? Mete o pé!— Seu pai me batia meu filho, por isso eu fui embora.— É? Você não acabou de dizer que ele te expulsou? Tá confusa você! — falei irônico.— Me batia e me expulsou de casa, me proibindo de me aproximar de novo de você.— Te bat
REBECA— Não me meti em nada, apenas passei por ali! Tá estressado assim por quê, Lucas? — falei, levantando o olhar enquanto estava sentada no sofá.— Porque você tá se metendo em algo que não te diz respeito, por isso. — Ele foi direto para o barzinho servir uma bebida.— Te conheço o suficiente pra saber que ali tinha coisa errada, não parecia assunto de trabalho, até porque se fosse, você não estaria resolvendo na entrada da comunidade. — falei e ele apenas me olhou, ficando um tempo calado. Depois, bebeu tudo em um único gole.— E tem alguma coisa que eu faça que não é errada? — disse sem me olhar e subiu para o quarto a passos pesados, e eu fui atrás.— O que está acontecendo, Lucas? Me fala, a gente sempre conversou sobre tudo.Ele tava muito nervoso, não respondeu nada e foi para o banho. Essa história está cheirando mal, o Lucas nunca perde o controle por absolutamente nada. Ele é muito frio e centrado, então é algo grave e eu vou descobrir o que é.CariocaFoi até bom o Gabr