Fernanda
Nesta hora eu fiquei estarrecida com o que ouvi, nos olhamos alguns segundos e apertei firme a mão dela para que ela entendesse que poderia se abrir comigo, se ela se sentisse confortável para isso.
— Fernanda, os primeiros anos do meu casamento foram de total infelicidade. Desde que conheci o Jorge, ele ficava com várias mulheres, mas eu me apaixonei perdidamente por ele e engravidei tão novinha que precisei casar, ou melhor, morar junto, pois sendo menor de idade eu precisaria de autorização dos meus pais e isso não era possível. Eu morava na pista com eles, não éramos ricos, mas tínhamos uma vida confortável e quando meu pai soube da gravidez, descobrindo ser de um traficante, me expulsou de casa e eu não tive outra opção, a não ser morar no morro com o Jorge.
— Meu Deus, Ângela! E como o Jorge reagiu?
— Ele ficou muito feliz com a gravidez, é claro, desde o começo dizia ser um menino, me levou para viver com ele no Jacarezinho e aí começou o inferno que foi o início da nossa vida juntos. Foram tantas traições e humilhações... Até hoje me pergunto como não apareceram filhos dessas traições.
Nessa agora uma lágrima escorreu do meu olho e ela saiu da espécie de transe em que se encontrava, provavelmente se recordando das lembranças tristes e eu ainda segurava sua mão.
— Mas o que eu quero dizer com tudo isso minha querida, é que você precisa ser forte, se envolver com um homem como meu filho não é fácil, sempre haverão situações turbulentas.
— Eu não vou aceitar traições, Ângela, isso não! Eu não mereço!
— Eu sei que não merece e nem quero que você aceite, porém se prepare!
— Me preparar para quê? — me assustei com o que ela disse.
— Felipe é igual ao pai dele! — ela respondeu.
— Você quer dizer o quê com isso? Eu já deixei claro a ele que não aceito e vou pedir a separação!
— Você vai precisar ser muito forte, ele nunca vai aceitar isso!
— Como assim, não vai aceitar? Se eu não quero mais, ele tem que aceitar!
— O Felipe é possessivo, Fernanda!
— Mais do que ninguém, eu sei o quanto ele é! — respondi e amarrei meu cabelo como se fosse fazer um coque, mas soltei rapidamente. Eu estava inquieta, com raiva e meus movimentos estavam totalmente no automático.
— Ele não é meu dono não, Ângela! Somos pais do Gabriel, isso é fato, e é um vínculo entre nós para vida toda, mas como homem e mulher, não dá mais!
— O Felipe é idêntico ao Jorge e por experiência própria, digo a você: é quase impossível se livrar disso, ele não vai deixar e você tem que estar preparada para o que está por vir.
ANDREY, DANI E REBECA NO QUIOSQUE A BEIRA DA PISCINA NA CASA DE REBECA:
— Mas então amores, é isso! O boy está vindo ao Brasil para me conhecer!
— Sua louca! Você não tem medo não? Vai que ele é um louco psicopata?
— Mas é por isso que ele vem pra cá primeiro e também não posso perder a oportunidade de conquistar uma cidadania europeia, né Rebequinha? — ele fala e beija o ombro, Dani e Rebeca riem.
— Andrey, você não presta mesmo! Agora mudando de assunto, o casamento da Fernanda e do Carioca tava lindo, mas vocês não acharam ela um pouco estranha no final do dia? – Dani perguntou.
— Não reparei não! Você acha que aconteceu alguma coisa? – Andrey responde e Rebeca se remexe incomodada na cadeira.
— Fala o que você sabe! – Dani pressiona Rebeca.
— Sei de nada não, eu hein? – Rebeca se defende.
— Claro que sabe! Está escrito na sua cara que sabe! — Andrey argumenta.
— A gente te conhece bem, pode abrindo essa boca. — Dani continua.
— Gente, vocês são fogo hein? Eu soube de algo, mas não tenho certeza. É só uma conversa que escutei do Lucas falando no telefone com o Carioca. — ela se rende e fala.
— FALA, CRIATURA! – Andrey e Dani falam juntos como em um coro.
— Ai, tá bom! Não sei se tem a ver, mas parece que a Susana foi atrás do Carioca na Penha.
— Como assim? Tá viva ainda? Nunca mais tinha ouvido falar daquela lá. — Andrey fala.
— Depois de tudo que ela passou? Até presa por causa dele ela foi. – Dani completa.
— Pois é, mas tem mulher pra tudo nesse mundo e o Lucas nem sabe que eu ouvi, hein?
— Ah, isso é verdade! Mas é uma pena que a Fernandinha ainda não tem os macetes da Dani. — Andrey diz malicioso.
— Como assim? — Rebeca perguntou e olhou para os dois. Andrey sorri debochado, sugando o suco de melancia pelo canudinho.
— Tá muito fofoqueira, biba! Rebeca, o Japah, né? Com os pulos dele...
— Achei que ele tinha sossegado.
— Sossegou por uns tempos, Rebeca, mas andei descobrindo umas puladas dele.
— E você amiga, não fez nada? — Rebeca pergunta.
— Ah tá bom, né ruiva? Até parece que você não conhece a sua amiga aí. — Andrey responde antes de Dani.
— O que você fez, sua danada? — Rebeca pergunta sorrindo curiosa.
ACONTECIMENTO DE ALGUMAS SEMANAS ATRÁS NA MEMÓRIA DE DANI:
O Eduardo anda estranho, conheço bem e sei que ele tá aprontando, mas se ele pensa que vai fazer o que quiser sem que eu tome atitude, somente porque estou grávida, ele está muito enganado. Não quis que eu virasse a fiel? Então ele que tome jeito.
Peguei algumas mensagens de uma vagabund* no telefone dele, de mais uma no caso, eu já estava desconfiada, mulher tem sexto sentido... Salvei o número dela. E ser mulher do sub dono, me traz algumas vantagens, então não foi difícil descobrir quem ela é.
É uma piranha Maria Fuzil, já passou na mão de vários vapor e soldados, mas eu não sou do nível dela e ela vai se arrepender de se envolver com meu marido.
Assim que ela está saindo do salão de beleza, onde claramente acabou de colocar o megahair, eu a espero.
— Vem comigo, vagabund*! Vamos dar um passeio de carro. — falei assim que ela entrou no beco próximo a casa dela, a puxando pelo braço.
— Eu hein?! Tá maluca? Vou a lugar nenhum contigo não.
DANI LEMBRANDO E CONTANDO AOS AMIGOS:Já virei um tapa na cara dela e segurei ela de costas, pressionando a cara da desgraçada na parede de uma casa. O que me ajudava era que ali não ficava no campo de visão de nenhum soldado.— Escuta aqui, sua piranha, você vai me acompanhar até meu carro sim! Caso contrário, meu soldado que está lá do outro da rua da casa azul, ao lado do Bar do Tuca, vai atravessar e meter uma bala na cabeça da sua titia Lourdes. — A casa azul era a casa onde ela morava com Lourdes, a mulher que a criou. Primeiro me informei sobre a vida dela, não havia nenhum soldado vigiando a sua casa, mas ela não precisava saber disso.Ela se calou e me acompanhou, entrando no meu carro e eu dirigi acelerada até um local mais afastado, próximo de onde sei que fica o campo da desova. A princípio, hoje ninguém seria cobrado, então estaria limpo.Lá estacionei e dei uma surra nela, mesmo estando grávida bati muito, arranquei o mega que ela tinha acabado de colocar e após ela esta
Carioca Assim que voltamos da praia, eu nem fiquei em casa, brigar com a Fernanda me baqueia legal. Será que ela não entende que esse filho com a Susana não vai mudar absolutamente nada entre nós? Nem sei se é meu realmente e isso ela vai ter que provar, mas ela não seria louca de inventar uma parada dessas, não pra mim. Tava tudo pronto pro casamento, as coisas organizadas nos mínimos detalhes com a ajuda da minha mãe, ela adora um evento, por menor que seja. Aí do nada, aparece a Susana com esse papo de filho. Ela nem mora mais no morro desde a invasão, e quando saiu da cadeia não voltou pra cá. Será que entre eu e a Fernanda sempre vai ter algo pra atrapalhar? Meu telefone pessoal toca, olho na tela. E era minha mãe. Penso em não atender mais uma vez, ela já ligou 1 milhão de vezes. Atendo. — Fala, mãe! — Que história é essa de filho, Felipe? Suspiro. — Mãe, depois a gente conversa sobre isso, tá? Tô com a mente cheia! Você conseguiu colocar alguma coisa na cabeça da Fer
FernandaDepois que a Ângela foi embora, eu refleti muito, chorei muito, mas saber que o Felipe terá um filho com outra é algo que não vou conseguir passar por cima.Fico pensando, analisando cada detalhe para tentar saber quando foi que ele me traiu. Realmente eu sou muito masoquista. Que diferença faz? Ele traiu e pronto.Chego a conclusão de que só pode ter sido no período em que estive no hospital ou nos dias em que fiquei me recuperando no apartamento da Ângela. Era isso, enquanto eu me recuperava de ter quase morrido e ter perdido o nosso filho, ele estava na farra, sabe-se lá com quantas mulheres. Eu vivia o luto de ter perdido alguém que carreguei por tão pouco tempo dentro de mim, porque sim, foi um curto espaço de tempo e eu nem pude comemorar. E enquanto isso, ele se divertia com outras, pelo fato de ser um canalha que não consegue manter o pau sem funcionar.Felipe passou o dia todo fora de casa, anoiteceu e nada dele voltar. Gabriel já dormiu e eu não comi nada, não ten
Fernanda— O que você disse? — perguntei.Não acredito que estou passando por isso.Eu estava tão nervosa que pensei ter escutado errado. Não sei o que seria pior, um filho de 03 anos ou um que ainda não tenha nascido.— Deixa eu te explicar!— Sai daqui, Felipe! Não tem mais nada pra me explicar. — falei, levantando da cama e indo até o closet pegar um pijama e ele veio atrás.— Não tem exatamente 03 anos, vai fazer eu acho, eu não tenho certeza! Nasceu um pouco depois que o Gabriel, mas isso não importa. — ele falou me impedindo de sair do cômodo do closet.— Realmente não importa, Felipe! Até porque eu já entendi tudo e sai da minha frente que eu vou tomar um banho.— Não entendeu nada, caralh*! Eu não te traí! — Ele grita e eu tento passar por ele, que segurou meus braços, me impedindo.— Você tá percebendo as mentiras que está falando? Pode não ter me traído agora, mas traiu lá no passado! Presta atenção Felipe, o garoto tem a mesma idade do Gabriel!— Eu não tava com você nessa
LCMe aproximei e apontei o fuzil na testa da mulher, que se assustou com a minha reação.— CALA ESSA BOCA! Muito pior é uma mulher que abandona um filho por droga. Ninguém fala mal do meu velho na minha frente, ele foi um pai da hora.Nesse momento vinha entrando o carro da Rebeca, só me faltava essa. Ela tinha ido fazer compras e estava de volta, e vendo a situação, para o carro ao nosso lado.— Lucas? — Ela me chama assustada com o que está vendo.— Vai pra casa, Rebeca! — ordenei sem deixar de olhar pra tal mulher e sem baixar o fuzil. — Vai logo caralh*! — repeti, falando exaltado quando percebi que a Rebeca continuava ali! Ela ligou o carro e foi.— É a sua mulher? Ela é linda — A mulher fala.— Não é da sua conta! Tá fazendo o que ainda aqui? Mete o pé!— Seu pai me batia meu filho, por isso eu fui embora.— É? Você não acabou de dizer que ele te expulsou? Tá confusa você! — falei irônico.— Me batia e me expulsou de casa, me proibindo de me aproximar de novo de você.— Te bat
REBECA— Não me meti em nada, apenas passei por ali! Tá estressado assim por quê, Lucas? — falei, levantando o olhar enquanto estava sentada no sofá.— Porque você tá se metendo em algo que não te diz respeito, por isso. — Ele foi direto para o barzinho servir uma bebida.— Te conheço o suficiente pra saber que ali tinha coisa errada, não parecia assunto de trabalho, até porque se fosse, você não estaria resolvendo na entrada da comunidade. — falei e ele apenas me olhou, ficando um tempo calado. Depois, bebeu tudo em um único gole.— E tem alguma coisa que eu faça que não é errada? — disse sem me olhar e subiu para o quarto a passos pesados, e eu fui atrás.— O que está acontecendo, Lucas? Me fala, a gente sempre conversou sobre tudo.Ele tava muito nervoso, não respondeu nada e foi para o banho. Essa história está cheirando mal, o Lucas nunca perde o controle por absolutamente nada. Ele é muito frio e centrado, então é algo grave e eu vou descobrir o que é.CariocaFoi até bom o Gabr
Fernanda Nunca mais sai de casa, não sei nada do que está acontecendo no morro e essa história de filho com a Susana não sai da minha cabeça. Após mais uma noite mal dormida, levanto cedo, pois nos poucos momentos em que eu conseguia pegar no sono, tinha pesadelos com brigas, sangue e mortes, e em todos estes pesadelos estava o Felipe. Tomo um banho, me olho no espelho e percebo que minha cara está péssima aliás, eu estou péssima. Não dá mais, tomo uma decisão: vou falar com ele. Felipe é como uma droga, altamente viciante e destruidora, e eu sou uma viciada, daquelas que até tenta, mas não consegue ficar longe, prefiro ter a dose diária letal e perigosa do que sofrer de abstinência. E eu sofro.... minha crise de abstinência é ficar longe dele... Então decido ir até a boca, agora sei o caminho. Deixo a Josefa tomando conta do Gabriel, pego meu carro e vou para lá. Durante o caminho, fico com raiva das vielas estreitas e suas subidas intermináveis, precisei estacionar muito ante
Carioca Meu relacionamento com a Fernanda acabou, simplesmente não tem mais volta. Eu tentei de tudo, mas nem falar comigo ela quer. Então não vou insistir mais, se ela quiser assim, então assim vai ser. Ela é marrenta demais, e uma hora isso cansa, vou voltar pra minha vida de putari*. Mulher não falta, claro que ter o que a Fernanda teve de mim, nenhuma outra terá, essa coisa de pele e sentimento que a gente teve, eu sei que foi só com ela. Mas se ela quer ficar de c* doce, então eu vou viver a minha vida. Todos os dias vejo meu filho, ele tá cada dia maior e mais esperto, vai ser sagaz igual ao pai. Cada noite durmo em uma das minhas casas espalhadas pelo morro, faço esse rodízio por estratégia e somente os meus seguranças noturnos é que ficam sabendo onde vou dormir em cada noite e só sabem na hora que eu vou. Bobeira igual aquela vez em que fui preso, nunca mais. Acordo, tomo um banho e vou pra boca, muita coisa pra resolver hoje. Tô em contato direto com o Turco, meu f