Fernanda
Fui indo em direção a garagem, coloquei minha mala no carro e abri a porta do carona para entrar, mas ele a b**e com força me impedindo.
— Para de agir feito criança, caralh*!
Olhei para ele incrédula. Felipe estava com os olhos vermelhos, não sei se por não ter dormido ou por ter usado alguma coisa.
— Criança, eu? — falei um tanto debochada enquanto cruzei os braços e me escorei no carro. É, talvez eu estivesse sendo um pouco infantil mesmo, mas eu estava com muita raiva dele, então acho eu que tinha esse direito.
— Você sai transando com todas as mulheres que aparecem pela frente sem se prevenir, mas eu é quem sou criança? Tá bom! — ri debochada no final.
— Não fala o que você não sabe! — ele respondeu.
— Felipe, vamos fingir que esse circo que você montou aqui ontem, não aconteceu, tá legal? Agora eu entendi, você fez esse teatro todo de casamento para que eu não descobrisse sobre seu “outro filho”. — falei com aspas porque estou com muito ódio e ele pegou meu braço com força, me assustando com a sua agressividade.
— Olha aqui, eu fiz isso tudo que você acabou de chamar de circo, teatro ou sei lá o que você pensa, porque eu te amo, porque é com você que eu quero ficar e não importa se eu tenho outro filho ou não, nada vai mudar entre a gente! OLHA PRA MIM CARALH*! — falou para eu olhar para ele, pois eu estava com o rosto virado para o lado contrário, não queria encarar seu olhar.
Ele vira meu rosto, me fazendo olhar no olho dele.
– Que papo é esse de não vai mudar nada? Muda tudo! – você não percebe, Felipe?
— Não muda nada, Fernanda! Entre nós, vai continuar tudo como sempre foi.
— Você está se ouvindo? Presta atenção, é um filho seu que não é comigo e você está dizendo que não muda nada? Então, quando você saiu da cadeia, se você estivesse feliz com a Jéssica, o meu filho também não mudaria nada na vida de vocês?
— Não viaja, Fernanda! É muito diferente!
— Não é diferente coisa nenhuma, Felipe! Um filho, é sempre um filho, independente da situação, sem falar que você me traiu!
— Eu não te traí porr* nenhuma!
— Para de mentir Felipe, para! Eu já descobri, abre o jogo, quando foi que aconteceu? Quando eu estava no cativeiro, no hospital ou quando eu estava lá no apartamento da sua mãe? Fala! — eu estava fora de mim.
— Você pensa isso de mim? Você acha que eu seria capaz de te trair enquanto você tinha acabado de passar por um sequestro, perder nosso filho e ainda quase morrer? É esse tipo de homem que você acha mesmo que eu sou? — ele balançou a cabeça em negativo.
Eu não respondi a pergunta dele, fiquei em silêncio e ele foi me puxando pelo braço para voltar para dentro da casa.
— Me solta, Felipe! Eu não fico nem mais 1 dia aqui com você. Me larga, me esquece! Maldito dia que eu me envolvi com você de novo!
Nessa hora ele parou, me olhou e perguntou:
— É isso mesmo? Você se arrependeu de ter voltado comigo?
— Muito! — mesmo me doendo demais e sendo mentira, soltei isso como se fosse um vômito, eu estava magoada e queria magoá-lo também. Ele me puxa em direção ao carro novamente, me forçando com brutalidade a entrar.
Volta para o interior da casa, deve ter ido trancar as portas e ativar o alarme. Fala ao telefone com alguém, traz uma mochila e entra no carro, dá partida e sai em alta velocidade.
Voltamos para a Penha com ele dirigindo feito um louco e permanecemos o tempo todo em silêncio. Durante o caminho, fui refletindo e tentando digerir o que estava acontecendo.
Em tempo recorde, estávamos chegando no morro e assim que chegamos em casa, Ângela estava sentada no tapete da sala, brincando com o Gabriel. Felipe vai até eles, beija Gabriel enquanto permanece calado.
Ângela, percebendo que algo está errado, pergunta:
— Aconteceu alguma coisa? — o olhar dela ia dele para mim e vice versa.
Ele não responde a pergunta, apenas me olha e vai para o segundo andar da casa.
Eu suspiro, abraço forte meu filho, o enchendo de beijos, sentido seu cheirinho que eu amo e que estava morrendo de saudades.
— O que está acontecendo, Fernanda? Vocês acabaram de casar e parece que voltaram de um enterro?
Gabriel voltou a brincar, muito interessado num jogo de montar peças que eu percebi ser novo, provavelmente Ângela deu a ele.
Sentei no sofá e comecei a contar, poucos minutos depois, parei de falar porque o Felipe desceu, veio dar mais um beijo no Gabriel e saiu sem falar nada batendo a porta com força.
Assim que contei a Ângela tudo o que sabia até o momento, ela estava visivelmente abalada, passava a mão na testa enquanto estava com os cotovelos apoiados no joelho.
— Fernanda, minha querida, de todo meu coração, eu não gostaria que você passasse por tudo que eu passei, mas parece que a história está se repetindo.
— Como assim? O seu marido também teve um filho fora do casamento? – perguntei.
— Até hoje não apareceu nenhum. Como já lhe contei antes, eu fui muito feliz com o pai dos meninos. Mas antes eu vivi um inferno na minha vida de casada, então eu não ficaria surpresa se daqui a pouco aparecesse 1, 2 ou sabe-se lá quantos filhos que ele tenha tido com várias mulheres por aí.
Involuntariamente coloquei a mão na boca, chocada e logo peguei a mão dela em sinal de solidariedade.
— Sabe Fernanda, apenas duas pessoas até hoje ficaram sabendo tudo o que realmente aconteceu entre mim e o Jorge.
Jorge era o pai do Felipe e do Eduardo.
Ela pensa um pouco, suspira e volta a falar.
— Uma dessas pessoas, foi a Josefa e a outra, a pessoa que eu achava ser a minha melhor amiga, a pessoa que sabia tudo da minha vida, a qual peguei na cama com o meu marido, um tempo depois...
FernandaNesta hora eu fiquei estarrecida com o que ouvi, nos olhamos alguns segundos e apertei firme a mão dela para que ela entendesse que poderia se abrir comigo, se ela se sentisse confortável para isso.— Fernanda, os primeiros anos do meu casamento foram de total infelicidade. Desde que conheci o Jorge, ele ficava com várias mulheres, mas eu me apaixonei perdidamente por ele e engravidei tão novinha que precisei casar, ou melhor, morar junto, pois sendo menor de idade eu precisaria de autorização dos meus pais e isso não era possível. Eu morava na pista com eles, não éramos ricos, mas tínhamos uma vida confortável e quando meu pai soube da gravidez, descobrindo ser de um traficante, me expulsou de casa e eu não tive outra opção, a não ser morar no morro com o Jorge.— Meu Deus, Ângela! E como o Jorge reagiu?— Ele ficou muito feliz com a gravidez, é claro, desde o começo dizia ser um menino, me levou para viver com ele no Jacarezinho e aí começou o inferno que foi o início da no
DANI LEMBRANDO E CONTANDO AOS AMIGOS:Já virei um tapa na cara dela e segurei ela de costas, pressionando a cara da desgraçada na parede de uma casa. O que me ajudava era que ali não ficava no campo de visão de nenhum soldado.— Escuta aqui, sua piranha, você vai me acompanhar até meu carro sim! Caso contrário, meu soldado que está lá do outro da rua da casa azul, ao lado do Bar do Tuca, vai atravessar e meter uma bala na cabeça da sua titia Lourdes. — A casa azul era a casa onde ela morava com Lourdes, a mulher que a criou. Primeiro me informei sobre a vida dela, não havia nenhum soldado vigiando a sua casa, mas ela não precisava saber disso.Ela se calou e me acompanhou, entrando no meu carro e eu dirigi acelerada até um local mais afastado, próximo de onde sei que fica o campo da desova. A princípio, hoje ninguém seria cobrado, então estaria limpo.Lá estacionei e dei uma surra nela, mesmo estando grávida bati muito, arranquei o mega que ela tinha acabado de colocar e após ela esta
Carioca Assim que voltamos da praia, eu nem fiquei em casa, brigar com a Fernanda me baqueia legal. Será que ela não entende que esse filho com a Susana não vai mudar absolutamente nada entre nós? Nem sei se é meu realmente e isso ela vai ter que provar, mas ela não seria louca de inventar uma parada dessas, não pra mim. Tava tudo pronto pro casamento, as coisas organizadas nos mínimos detalhes com a ajuda da minha mãe, ela adora um evento, por menor que seja. Aí do nada, aparece a Susana com esse papo de filho. Ela nem mora mais no morro desde a invasão, e quando saiu da cadeia não voltou pra cá. Será que entre eu e a Fernanda sempre vai ter algo pra atrapalhar? Meu telefone pessoal toca, olho na tela. E era minha mãe. Penso em não atender mais uma vez, ela já ligou 1 milhão de vezes. Atendo. — Fala, mãe! — Que história é essa de filho, Felipe? Suspiro. — Mãe, depois a gente conversa sobre isso, tá? Tô com a mente cheia! Você conseguiu colocar alguma coisa na cabeça da Fer
FernandaDepois que a Ângela foi embora, eu refleti muito, chorei muito, mas saber que o Felipe terá um filho com outra é algo que não vou conseguir passar por cima.Fico pensando, analisando cada detalhe para tentar saber quando foi que ele me traiu. Realmente eu sou muito masoquista. Que diferença faz? Ele traiu e pronto.Chego a conclusão de que só pode ter sido no período em que estive no hospital ou nos dias em que fiquei me recuperando no apartamento da Ângela. Era isso, enquanto eu me recuperava de ter quase morrido e ter perdido o nosso filho, ele estava na farra, sabe-se lá com quantas mulheres. Eu vivia o luto de ter perdido alguém que carreguei por tão pouco tempo dentro de mim, porque sim, foi um curto espaço de tempo e eu nem pude comemorar. E enquanto isso, ele se divertia com outras, pelo fato de ser um canalha que não consegue manter o pau sem funcionar.Felipe passou o dia todo fora de casa, anoiteceu e nada dele voltar. Gabriel já dormiu e eu não comi nada, não ten
Fernanda— O que você disse? — perguntei.Não acredito que estou passando por isso.Eu estava tão nervosa que pensei ter escutado errado. Não sei o que seria pior, um filho de 03 anos ou um que ainda não tenha nascido.— Deixa eu te explicar!— Sai daqui, Felipe! Não tem mais nada pra me explicar. — falei, levantando da cama e indo até o closet pegar um pijama e ele veio atrás.— Não tem exatamente 03 anos, vai fazer eu acho, eu não tenho certeza! Nasceu um pouco depois que o Gabriel, mas isso não importa. — ele falou me impedindo de sair do cômodo do closet.— Realmente não importa, Felipe! Até porque eu já entendi tudo e sai da minha frente que eu vou tomar um banho.— Não entendeu nada, caralh*! Eu não te traí! — Ele grita e eu tento passar por ele, que segurou meus braços, me impedindo.— Você tá percebendo as mentiras que está falando? Pode não ter me traído agora, mas traiu lá no passado! Presta atenção Felipe, o garoto tem a mesma idade do Gabriel!— Eu não tava com você nessa
LCMe aproximei e apontei o fuzil na testa da mulher, que se assustou com a minha reação.— CALA ESSA BOCA! Muito pior é uma mulher que abandona um filho por droga. Ninguém fala mal do meu velho na minha frente, ele foi um pai da hora.Nesse momento vinha entrando o carro da Rebeca, só me faltava essa. Ela tinha ido fazer compras e estava de volta, e vendo a situação, para o carro ao nosso lado.— Lucas? — Ela me chama assustada com o que está vendo.— Vai pra casa, Rebeca! — ordenei sem deixar de olhar pra tal mulher e sem baixar o fuzil. — Vai logo caralh*! — repeti, falando exaltado quando percebi que a Rebeca continuava ali! Ela ligou o carro e foi.— É a sua mulher? Ela é linda — A mulher fala.— Não é da sua conta! Tá fazendo o que ainda aqui? Mete o pé!— Seu pai me batia meu filho, por isso eu fui embora.— É? Você não acabou de dizer que ele te expulsou? Tá confusa você! — falei irônico.— Me batia e me expulsou de casa, me proibindo de me aproximar de novo de você.— Te bat
REBECA— Não me meti em nada, apenas passei por ali! Tá estressado assim por quê, Lucas? — falei, levantando o olhar enquanto estava sentada no sofá.— Porque você tá se metendo em algo que não te diz respeito, por isso. — Ele foi direto para o barzinho servir uma bebida.— Te conheço o suficiente pra saber que ali tinha coisa errada, não parecia assunto de trabalho, até porque se fosse, você não estaria resolvendo na entrada da comunidade. — falei e ele apenas me olhou, ficando um tempo calado. Depois, bebeu tudo em um único gole.— E tem alguma coisa que eu faça que não é errada? — disse sem me olhar e subiu para o quarto a passos pesados, e eu fui atrás.— O que está acontecendo, Lucas? Me fala, a gente sempre conversou sobre tudo.Ele tava muito nervoso, não respondeu nada e foi para o banho. Essa história está cheirando mal, o Lucas nunca perde o controle por absolutamente nada. Ele é muito frio e centrado, então é algo grave e eu vou descobrir o que é.CariocaFoi até bom o Gabr
Fernanda Nunca mais sai de casa, não sei nada do que está acontecendo no morro e essa história de filho com a Susana não sai da minha cabeça. Após mais uma noite mal dormida, levanto cedo, pois nos poucos momentos em que eu conseguia pegar no sono, tinha pesadelos com brigas, sangue e mortes, e em todos estes pesadelos estava o Felipe. Tomo um banho, me olho no espelho e percebo que minha cara está péssima aliás, eu estou péssima. Não dá mais, tomo uma decisão: vou falar com ele. Felipe é como uma droga, altamente viciante e destruidora, e eu sou uma viciada, daquelas que até tenta, mas não consegue ficar longe, prefiro ter a dose diária letal e perigosa do que sofrer de abstinência. E eu sofro.... minha crise de abstinência é ficar longe dele... Então decido ir até a boca, agora sei o caminho. Deixo a Josefa tomando conta do Gabriel, pego meu carro e vou para lá. Durante o caminho, fico com raiva das vielas estreitas e suas subidas intermináveis, precisei estacionar muito ante