PRÓLOGO
Aponto meu fuzil na cara dele, não tem pra onde ele correr, tiro e bomba pra todo lado, está encurralado. Esse momento é a glória pra mim.
Meu companheiro também tem a mira apontada pra ele.
— Demorou mas chegou tua hora! — falo na cara dele.
Sujeito ruim, ele me encara sem demonstrar sentir medo algum da morte.
Movimento o dedo pra apertar o gatilho. Meu telefone toca, atendo sem tirar os olhos dele.
Do outro lado da linha, aquela voz tão familiar:
— Você não pode matar ele!
A porta se abre, me viro e ele aponta a arma pra mim, volto a atenção para a ligação novamente.
– Ah não? Por quê? — Pergunto rindo, mas a resposta não foi nada engraçada.
DIAS ATUAIS
SEGUE O MOMENTO EM QUE FERNANDA LÊ A MENSAGEM NO CELULAR DE FELIPE DURANTE A COMEMORAÇÃO DO CASAMENTO.
Fernanda
Durante a tarde, precisei subir até o quarto para colocar o meu celular para carregar e na escrivaninha da cabeceira, o celular pessoal do Felipe que estava lá, vibrou algumas vezes. Não sei se por curiosidade ou instinto mesmo, fui até lá e o peguei, estava com a tela bloqueada, mas pela barra de notificação eu pude ver a seguinte mensagem:
“Você vai simplesmente fingir que este filho não existe mesmo?”
Eu quis morrer ali mesmo...
Simplesmente eu não conseguia acreditar no que tinha acabado de ler. Não, não podia ser verdade, mas se é o celular dele, não havia engano.
Como ele teve coragem de fazer isso comigo? De quanto tempo é essa gravidez?
Penso alguns segundos segurando o celular dele na mão e pensando que só pode ser do tempo em que eu estava no hospital. A raiva toma conta de mim. Enquanto eu me recuperava de um aborto e de quase ter morrido, ele estava me traindo, sabe-se lá com qual vagabund* ou com quantas delas.
Eu sou muito idiota mesmo.
Aí ele vem com esse circo de casamento, certamente pra tentar esconder o que viria pela frente, ou seja, um filho fora do casamento.
Fico andando de um lado a outro do quarto ainda com o celular dele na mão, sem saber o que fazer, quando de repente escuto um barulho no corredor. Conecto novamente o celular no carregador e deixo onde estava. Felipe entra pela porta.
— Morena, tava demorando, tá fazendo o que aqui, longe de todos?
Fingi estar retocando a maquiagem mesmo com as mãos trêmulas, mas decidi que não vou dar um showzinho aqui, nossos amigos não merecem passar por isso, assim como meu filho e a Ângela também não. Estou aprendendo muito com minha sogra, sei que tenho que agir com a cabeça fria e no momento certo, esse assunto é entre o Felipe e eu, na nossa casa. Então tentei disfarçar meu melhor sorriso.
— Oi, tava retocando a maquiagem, já estou descendo!
Ele se aproximou para me beijar, mas eu não consegui retribuir, fiquei dura igual estátua e o máximo que saiu foi um selinho da parte dele não retribuído por mim. Felipe, que me conhece muito bem, dá uma olhada mortal, mas não fala nada, percebendo que tem algo errado.
Saí do quarto sem dizer nada e voltei para a área de fora, onde todos estavam reunidos conversando animadamente. Felipe veio atrás de mim.
Passo pela Rebeca, faço um carinho na Milena que sorri para mim. Tentei ao máximo fingir que estava tudo maravilhosamente bem, mas entre eu e ele havia um clima muito pesado, e eu só queria ir embora dali.
No final do dia, todos se despediram e foram embora. Fiquei aliviada, não via a hora de estar em casa, queria voltar logo pra Penha, era tanta raiva do Felipe e estar ali já não fazia mais sentido. Mas para minha surpresa, a Ângela quis que eu e o Felipe ficássemos aqui para curtir a noite sozinhos, enquanto ela levaria o Gabriel com ela e quem diria que a última coisa que eu queria era estar com meu marido exatamente no dia do nosso casamento. Mas eu não poderia recusar e querer voltar para a Penha, todos achariam no mínimo estranho.
Me despedi do meu filho com muitos beijos, prometendo estar com ele logo e dei várias recomendações a Ângela que só concordava, achando de certa forma, engraçado. Afinal, ela sabe muito bem cuidar de uma criança.
Mas o Felipe é cínico, mesmo percebendo que algo está errado, foi para o banho. Ele está fugindo da conversa que sabe que quero ter com ele e sobre o quê, ou pelo menos imagina.
Eu sentia um bolo na garganta, estar perto dele e lembrar da mensagem me deixava quase louca.
“Você vai simplesmente fingir que esse filho não existe mesmo?”
Essa frase martelava na minha cabeça, eu queria saber quem era ela mas o número não estava salvo no celular dele. Eu precisava respirar, então aproveitei que ele estava no banho e fui caminhar na areia a beira do mar, esse lugar o qual eu tinha lembranças maravilhosas era para ser ainda mais inesquecível depois da cerimônia do nosso casamento que foi tão linda. Mas a minha felicidade foi destruída por uma mensagem que mudaria tudo.
Meu relacionamento com o Felipe sempre foi assim, pequenos momentos felizes e muitas brigas e desentendimentos.
O sol já havia se despedido e a lua começava a surgir enquanto eu estava sentada na areia olhando o mar, tão perdida em meus pensamentos, que não observei ele chegando, só me dei conta de sua presença quando ele falou:
— Você vai falar que porr* tá acontecendo ou vai continuar fugindo de mim?
Olhei para ele incrédula com o que ouvi.
— O seu cinismo me impressiona! — falei e dei um pequeno sorriso debochado, virando o rosto, quando de repente ele puxa meu braço com brutalidade, me fazendo levantar.
— Me solta! — gritei.
— Solta é o caralh*! A gente vai conversar dentro de casa. — ele grita também e com a sua força, era como se eu fosse uma criança sendo arrastada, ele estava com raiva mas não mais do que eu.
Eu gritava pra ele me soltar, mas ele não soltava e também não respondia nada, enquanto me puxava para dentro de casa.
Assim que entramos na sala, ele b**e a porta com força e eu fui subindo escada acima, ou tentei pelo menos, mas ele me puxa novamente.
— Volta aqui! Tá pensando que vai aonde? Para de agir feito criança e fala pô, que foi que eu te fiz? — ele pergunta.
Achei que ele estava fugindo, mas na realidade, quem estava era eu. No fundo eu tinha medo do que sabia que ia ouvir.
Ele me puxa, me j**a no sofá e grita:
— FALA LOGO, PÔ!
Levanto no mesmo instante e grito também.
— VOCÊ IA ME ESCONDER ATÉ QUANDO QUE VAI TER OUTRO FILHO?
FernandaEle me olha perplexo, não sei se era porque eu já sabia da criança ou porque eu estava gritando. Ele vira de costas bufando e passando as mãos no cabelo. — Fala, Felipe! Com qual vagabund* você transou sem ter o mínimo de descendia de se prevenir? Arriscando me passar alguma doença, você é um escroto mesmo!— Não fala besteira, Fernanda! — Falou se virando para mim.— Ah, besteira? — eu ri ironicamente.— É besteira sim! Você acha o quê? Que eu saio comendo essas vagabund*s por aí sem me cuidar? Tá maluca?Nessa hora eu gargalhei alto.— Ah claro, você usa camisinha mas uma piranha engravidou de você, tá certo. — bati palmas. Eu estava impressionada negativamente comigo mesma, nunca fui uma pessoa que resolve as coisas gritando ou falando palavrões.— Eu te amo, caralh*! Põe isso nessa sua cabeça. A única pessoa com quem eu transo é você. – ele encheu um copo de whisky e tomou puro, sem gelo.— Nem você acredita nessa mentira que está tentando contar. A prova disso é essa cr
FernandaFui indo em direção a garagem, coloquei minha mala no carro e abri a porta do carona para entrar, mas ele a bate com força me impedindo.— Para de agir feito criança, caralh*!Olhei para ele incrédula. Felipe estava com os olhos vermelhos, não sei se por não ter dormido ou por ter usado alguma coisa.— Criança, eu? — falei um tanto debochada enquanto cruzei os braços e me escorei no carro. É, talvez eu estivesse sendo um pouco infantil mesmo, mas eu estava com muita raiva dele, então acho eu que tinha esse direito.— Você sai transando com todas as mulheres que aparecem pela frente sem se prevenir, mas eu é quem sou criança? Tá bom! — ri debochada no final.— Não fala o que você não sabe! — ele respondeu.— Felipe, vamos fingir que esse circo que você montou aqui ontem, não aconteceu, tá legal? Agora eu entendi, você fez esse teatro todo de casamento para que eu não descobrisse sobre seu “outro filho”. — falei com aspas porque estou com muito ódio e ele pegou meu braço com fo
FernandaNesta hora eu fiquei estarrecida com o que ouvi, nos olhamos alguns segundos e apertei firme a mão dela para que ela entendesse que poderia se abrir comigo, se ela se sentisse confortável para isso.— Fernanda, os primeiros anos do meu casamento foram de total infelicidade. Desde que conheci o Jorge, ele ficava com várias mulheres, mas eu me apaixonei perdidamente por ele e engravidei tão novinha que precisei casar, ou melhor, morar junto, pois sendo menor de idade eu precisaria de autorização dos meus pais e isso não era possível. Eu morava na pista com eles, não éramos ricos, mas tínhamos uma vida confortável e quando meu pai soube da gravidez, descobrindo ser de um traficante, me expulsou de casa e eu não tive outra opção, a não ser morar no morro com o Jorge.— Meu Deus, Ângela! E como o Jorge reagiu?— Ele ficou muito feliz com a gravidez, é claro, desde o começo dizia ser um menino, me levou para viver com ele no Jacarezinho e aí começou o inferno que foi o início da no
DANI LEMBRANDO E CONTANDO AOS AMIGOS:Já virei um tapa na cara dela e segurei ela de costas, pressionando a cara da desgraçada na parede de uma casa. O que me ajudava era que ali não ficava no campo de visão de nenhum soldado.— Escuta aqui, sua piranha, você vai me acompanhar até meu carro sim! Caso contrário, meu soldado que está lá do outro da rua da casa azul, ao lado do Bar do Tuca, vai atravessar e meter uma bala na cabeça da sua titia Lourdes. — A casa azul era a casa onde ela morava com Lourdes, a mulher que a criou. Primeiro me informei sobre a vida dela, não havia nenhum soldado vigiando a sua casa, mas ela não precisava saber disso.Ela se calou e me acompanhou, entrando no meu carro e eu dirigi acelerada até um local mais afastado, próximo de onde sei que fica o campo da desova. A princípio, hoje ninguém seria cobrado, então estaria limpo.Lá estacionei e dei uma surra nela, mesmo estando grávida bati muito, arranquei o mega que ela tinha acabado de colocar e após ela esta
Carioca Assim que voltamos da praia, eu nem fiquei em casa, brigar com a Fernanda me baqueia legal. Será que ela não entende que esse filho com a Susana não vai mudar absolutamente nada entre nós? Nem sei se é meu realmente e isso ela vai ter que provar, mas ela não seria louca de inventar uma parada dessas, não pra mim. Tava tudo pronto pro casamento, as coisas organizadas nos mínimos detalhes com a ajuda da minha mãe, ela adora um evento, por menor que seja. Aí do nada, aparece a Susana com esse papo de filho. Ela nem mora mais no morro desde a invasão, e quando saiu da cadeia não voltou pra cá. Será que entre eu e a Fernanda sempre vai ter algo pra atrapalhar? Meu telefone pessoal toca, olho na tela. E era minha mãe. Penso em não atender mais uma vez, ela já ligou 1 milhão de vezes. Atendo. — Fala, mãe! — Que história é essa de filho, Felipe? Suspiro. — Mãe, depois a gente conversa sobre isso, tá? Tô com a mente cheia! Você conseguiu colocar alguma coisa na cabeça da Fer
FernandaDepois que a Ângela foi embora, eu refleti muito, chorei muito, mas saber que o Felipe terá um filho com outra é algo que não vou conseguir passar por cima.Fico pensando, analisando cada detalhe para tentar saber quando foi que ele me traiu. Realmente eu sou muito masoquista. Que diferença faz? Ele traiu e pronto.Chego a conclusão de que só pode ter sido no período em que estive no hospital ou nos dias em que fiquei me recuperando no apartamento da Ângela. Era isso, enquanto eu me recuperava de ter quase morrido e ter perdido o nosso filho, ele estava na farra, sabe-se lá com quantas mulheres. Eu vivia o luto de ter perdido alguém que carreguei por tão pouco tempo dentro de mim, porque sim, foi um curto espaço de tempo e eu nem pude comemorar. E enquanto isso, ele se divertia com outras, pelo fato de ser um canalha que não consegue manter o pau sem funcionar.Felipe passou o dia todo fora de casa, anoiteceu e nada dele voltar. Gabriel já dormiu e eu não comi nada, não ten
Fernanda— O que você disse? — perguntei.Não acredito que estou passando por isso.Eu estava tão nervosa que pensei ter escutado errado. Não sei o que seria pior, um filho de 03 anos ou um que ainda não tenha nascido.— Deixa eu te explicar!— Sai daqui, Felipe! Não tem mais nada pra me explicar. — falei, levantando da cama e indo até o closet pegar um pijama e ele veio atrás.— Não tem exatamente 03 anos, vai fazer eu acho, eu não tenho certeza! Nasceu um pouco depois que o Gabriel, mas isso não importa. — ele falou me impedindo de sair do cômodo do closet.— Realmente não importa, Felipe! Até porque eu já entendi tudo e sai da minha frente que eu vou tomar um banho.— Não entendeu nada, caralh*! Eu não te traí! — Ele grita e eu tento passar por ele, que segurou meus braços, me impedindo.— Você tá percebendo as mentiras que está falando? Pode não ter me traído agora, mas traiu lá no passado! Presta atenção Felipe, o garoto tem a mesma idade do Gabriel!— Eu não tava com você nessa
LCMe aproximei e apontei o fuzil na testa da mulher, que se assustou com a minha reação.— CALA ESSA BOCA! Muito pior é uma mulher que abandona um filho por droga. Ninguém fala mal do meu velho na minha frente, ele foi um pai da hora.Nesse momento vinha entrando o carro da Rebeca, só me faltava essa. Ela tinha ido fazer compras e estava de volta, e vendo a situação, para o carro ao nosso lado.— Lucas? — Ela me chama assustada com o que está vendo.— Vai pra casa, Rebeca! — ordenei sem deixar de olhar pra tal mulher e sem baixar o fuzil. — Vai logo caralh*! — repeti, falando exaltado quando percebi que a Rebeca continuava ali! Ela ligou o carro e foi.— É a sua mulher? Ela é linda — A mulher fala.— Não é da sua conta! Tá fazendo o que ainda aqui? Mete o pé!— Seu pai me batia meu filho, por isso eu fui embora.— É? Você não acabou de dizer que ele te expulsou? Tá confusa você! — falei irônico.— Me batia e me expulsou de casa, me proibindo de me aproximar de novo de você.— Te bat