Caleb
O sol invadia a sala de jantar da mansão Belmont como um lembrete cruel de que aquele café da manhã não seria apenas uma refeição. Sentado à mesa impecavelmente posta, tentei focar no aroma do café, no pão fresco… qualquer coisa que me distraísse do olhar controlado do meu pai.
Bernardo Belmont, mesmo aos 68 anos, parecia mais uma estátua de comando do que um homem comum. Sempre ereto, sempre vestindo um terno perfeitamente alinhado — até dentro de casa. Ele nunca relaxava. Nunca deixava de ser o patriarca. Minha mãe, Vitória, estava ao seu lado. Linda, elegante, com aquele ar quase etéreo que ela mantinha mesmo depois dos sessenta. Mas ali, ao lado dele, parecia sempre uma coadjuvante resignada.
Do outro lado da mesa, meu irmão Nicolas mal prestava atenção. Magro, distraído, vivia no próprio mundo, mexendo no celular como se aquilo tudo não o envolvesse. E, até aquele momento, eu achava que não envolvia mesmo.
Então, veio o golpe:
Engoli o café com dificuldade. Já tínhamos tido essa conversa. Várias vezes. E eu sempre deixava claro que não estava interessado. Mas meu pai nunca ouvia.
Quando deixei a mesa, empurrando a cadeira com mais força do que queria, eu estava fervendo por dentro. Queria fugir daquilo. Mas ele não deixou.
Horas depois, invadiu meu escritório como se fosse dele — o que, tecnicamente, era.
Minha cabeça girou. Casamento arranjado? Em pleno século 21?
A gota d’água veio quando ele ameaçou tirar tudo de mim. A empresa. A herança. O nome. Tudo.
Eu estava prestes a sair da sala quando vi sua expressão mudar. Ele levou a mão ao peito, os olhos perdendo o foco. Cambaleou na cadeira.
Corri até ele. Era estranho ver aquele homem — o mesmo que me tratava como um soldado — tão frágil.
Chamei ajuda. Um médico. Um milagre. Qualquer coisa.
Naquele instante, algo dentro de mim cedeu. Pela primeira vez, eu o vi como um homem. Não como o chefe. Não como o imperador da dinastia Belmont. Só um pai. Um velho pai tentando segurar tudo com as próprias mãos.
E eu não sabia mais se queria herdar esse império… ou fugir dele.
****
Meu pai estava dente, e naquele momento eu não tinha mais o que fazer, eu precisava me casar para realizar o seu sonho de ser avô.
***
Caleb
A vista da sacada do hotel era magnífica, mas eu mal conseguia prestar atenção. Estava a trabalho em Londres, lidando com investidores, mas minha cabeça não saía de São Paulo. Mais especificamente, daquela conversa com meu pai. Meu celular vibrava em cima da mesa. Peguei o aparelho, esperando que fosse uma mensagem de algum dos diretores, mas era apenas um lembrete irritante. Encontro com a Srta. Monteiro – 20h. Suspirei, esfregando o rosto. — Droga... Eu não tinha tempo para voltar a tempo desse encontro. E para ser sincero, não estava com a mínima vontade de ir. A ideia de conhecer minha futura esposa por meio de um contrato arranjado parecia absurda. Mas se eu faltasse, sabia que Bernardo usaria isso contra mim. Ele estava louco para me empurrar essa responsabilidade. Foi então que uma ideia estúpida — e talvez genial — me ocorreu. Rolei os contatos do celular até o nome do meu irmão. Liguei, e ele atendeu no terceiro toque. — Caleb? — Nicolas. Preciso de um favor. — Hum… Isso nunca é bom. — A voz dele soou hesitante. — O que foi? Me joguei na cadeira e estiquei as pernas, encarando o teto. — Lembra do acordo ridículo que o pai fez? O casamento arranjado? — Lembro. — Ele riu do outro lado. — Você ainda tá fugindo disso? — Sim. E agora preciso que você vá no meu lugar. — O quê?! Afastei o telefone do ouvido com a reação dele. — Não é grande coisa. Só apareça no encontro e diga que é você, mas está lá para me representar. — Caleb, isso é loucura. — Não precisa fazer nada além de sentar e conversar. Só quero que ela saiba que eu tenho interesse, mesmo que seja de longe. Nicolas riu de novo, mas dessa vez nervoso. — E se ela perceber que eu não sou você? — Ela nunca me viu pessoalmente. Além disso, nós têmos o mesmo sobrenome. Não tem erro. Ele hesitou, e eu sabia que estava quase o convencendo. — Cara, eu não acho que isso vai dar certo… — Nicolas… — Apertei a ponte do nariz, já irritado. — Me faz esse favor. Se você fizer, eu fico te devendo uma. E você sabe que não dou favores à toa. Houve um silêncio do outro lado. Eu o conhecia bem. Nicolas adorava ter vantagem sobre mim. — Tá bom, tá bom. Eu vou. Sorri. — Sabia que podia contar com você. — Mas se isso der errado, eu vou te jogar na fogueira, Caleb. — Isso não vai acontecer. Desliguei o telefone, me sentindo mais leve. Agora, pelo menos, eu tinha um problema a menos para lidar.PamelaCheguei em casa exausta. O salto alto parecia mais cruel hoje, talvez porque eu tenha passado boa parte do dia andando de um lado para o outro no escritório, tentando ignorar o fato de que meus olhos insistiam em buscar Caleb Belmont. Era frustrante. Um homem como ele não deveria existir no ambiente de trabalho. Eu larguei minha bolsa no sofá e me joguei na cadeira da mesa de jantar, sentindo meus ombros caírem. O escritório, sem ele, parecia vazio, sem graça. Apenas pilhas de papéis, reuniões intermináveis e aquela máquina de café que parecia cuspir água suja em vez de café de verdade. Mas, quando Caleb estava lá, tudo ganhava um brilho diferente — ou talvez fosse só o jeito que ele usava aqueles ternos perfeitamente ajustados. — Preciso parar com isso — murmurei, balançando a cabeça enquanto me levantava. Fui para a cozinha e comecei a preparar algo simples. Ninguém ia fazer isso por mim. Flávia e Valentina não mexiam um dedo sequer. A diarista limpava, mas não cozinhav
PamelaSentei-me à minha mesa no escritório, a cabeça cheia de pensamentos que não me deixavam concentrar no trabalho. A pilha de documentos à minha frente parecia uma montanha intransponível. Meu olhar vagava pelas letras sem realmente processá-las. Tudo o que ecoava na minha mente eram as palavras de Flávia da noite anterior: "Nos salve da ruína."Suspirei, sentindo o peso da decisão que parecia inevitável.— Droga — murmurei para mim mesma, girando a caneta entre os dedos. — Vou ter que me casar.A realidade da situação era tão absurda que quase dava vontade de rir. "Casar para salvar a família", parecia algo saído de um romance barato, não da minha vida real.E com quem? Com Nicolas Belmont. Um garoto. Ele era mais novo que eu e, de todas as pessoas no mundo, seria meu futuro marido.Passei a mão pelo rosto, frustrada. Pensar nisso fazia tudo parecer ainda mais surreal. A pior parte? Ser cunhada de Caleb Belmont.Caleb.Deixei a caneta cair sobre a mesa e me encostei na cadeira. U
Caleb Levantei-me mais cedo do que o habitual hoje. Não que eu tenha dormido muito, afinal, passei boa parte da noite encarando o teto, perdido em pensamentos. A ideia de me casar contra a minha vontade me atormenta. Casamento nunca esteve nos meus planos. Apesar de meus pais terem um relacionamento sólido e feliz, eu nunca me vi nesse papel. Não sou o tipo de homem que sonha em construir uma família ou ser o marido perfeito. Agora, no entanto, não tenho escolha. Meu pai deixou bem claro: ou me caso ou perco tudo. E o pior de tudo é que terei que me casar com uma mulher que sequer conheço, escolhida por ele. É absurdo, mas minha única esperança é que essa mulher aceite manter um casamento de fachada por alguns anos. Só preciso de tempo. Tempo para meu pai desistir dessa obsessão por um neto e para que eu consiga assumir o controle da empresa como acionista majoritário. Quando isso acontecer, ele não terá mais poder para me forçar a nada, e eu poderei finalmente me livrar desse peso
PamelaPamelaDesliguei o celular, ainda em choque. A ligação de Flávia tinha arruinado meu humor por completo. Nem se o próprio Caleb aparecesse nu na minha frente agora, com aquele corpo esculpido por deuses, conseguiria me fazer sorrir. Não que isso fosse acontecer, mas o pensamento me arrancou um suspiro irritado.Como Flávia pode ser tão irresponsável? Hipotecar a casa e esconder isso de mim? E agora, empurrar um casamento arranjado como solução? Ainda me custa acreditar que vou ser usada como moeda de troca. Tudo isso para salvar uma casa que, no fundo, era a única lembrança verdadeira dos meus pais.Sacudi a cabeça, tentando afastar o turbilhão de pensamentos. Meu olhar caiu sobre o relógio na parede. Ainda faltavam algumas horas para o fim do expediente, mas, pelo menos, Caleb havia me liberado às 16h. Uma rara folga concedida por aquele homem metódico. Soltei um suspiro de alívio. "Pelo menos essa folga vai servir para alguma coisa", murmurei para mim mesma.Levantei-me da ca
PamelaSegui o anfitrião pelo salão, sentindo o chão sob meus pés parecer mais instável a cada passo. Meu coração já estava disparado, mas quando nos aproximamos da mesa, algo me fez parar por um instante. De costas, o homem sentado ali parecia muito com Caleb.“Caramba, como o Nicolas parece o Caleb de costas…” pensei, tentando ignorar o nó que se formava no meu estômago. Eles tinham os mesmos trejeitos: ele passou a mão pelo cabelo do mesmo jeito casual e despreocupado que eu tinha visto Caleb fazer tantas vezes no escritório. Logo em seguida, começou a tamborilar os dedos na mesa de forma rítmica.Quanto mais perto eu chegava, mais aquela impressão se tornava impossível de ignorar. Meu coração, que já estava acelerado, parecia prestes a sair pela boca. Minhas mãos estavam tão suadas que eu tive que esfregá-las disfarçadamente na lateral do vestido.Quando o anfitrião parou ao lado da mesa, a voz dele soou alta e clara:— Senhor Belmont, a senhorita Monteiro está aqui.Foi aí que ele
CalebCheguei ao restaurante me sentindo um pouco nervoso, mesmo não sendo uma pessoa ansiosa, eu preciso admitir que conhecer a mulher com quem vou me casar por livre e espontânea pressão me deixou um pouco aflito.— Boa noite! — Cumprimentei o anfitrião que já vi uma centena de vezes, mas não recordo o nome.— Boa noite, senhor Belmont, em que posso lhe ser útil?— O homem respondeu de uma forma tão condescendente que pensei que fosse fazer uma reverência. — Fiz uma reserva para as 17h30.— Ah sim, mesa para duas pessoas, em um lugar um pouco mais reservado. Confere?— Ele conferiu as informações em um tablet de ultima geração.— Isso,exatamente.— Respondi.— Tudo bem, senhor Belmont, sua mesa já está pronta. Por favor, siga-me para que eu possa te levar até ela.— Ele falou de uma forma quase robótica e eu o segui.Andamos pelo restaurante em silêncio até uma parte mais reservada do salão, uma area que eu tinha costume de estar. Me sentei de costas para a entrada do restaurante, pois
CalebTerminamos o jantar e fomos ao meu apartamento ou como meu irmão gosta de chamar "o matadouro", onde eu costumava levar algumas mulheres que acabava me interessando, mas isso já fazia muito tempo, um tempo distante, acho que fazia mais de 2 anos que eu não levava ninguém lá. Destranquei a porta e a abri, fazendo um gesto com as mãos para que ela entrasse. — Por favor, entre. — Falei com um sorriso que tentei deixar casual, mas não consegui disfarçar a minha vontade de devorar a Pamela. Eu não iria fazer nada, mas se ela quisesse eu não iria recusá-la.Pamela hesitou por um segundo antes de cruzar a porta, os ombros tensos, o olhar curioso, mas cauteloso. Era intrigante ver a senhorita Gomes, digo, senhorita Gomes Monteiro, vulnervél daquele jeito, porque eu estava mais acostumado a ver o mulherão da porra que sempre resolve os meus problemas, dos minimos como mandar lavar meu terno,ou comprar o meu café, como conseguir uma reunião com o maior investidor da empresa. Essa mulher
Pamela—Já sei,está demitida!Problema resolvido.— O Caleb teve a audácia de falar isso.— Como é?Demitida? Tá ficando maluco?—Perguntei furiosa.— Maluco? —Caleb me olhou com uma expressão engraçada no rosto.— Você não pode me demitir! Depois de tudo o que eu fiz por você?—Me levantei completamente emputecida.—Ei ei ei ei. Calma senhorita Monteiro. Só estou brincando com você. — Apenas depois que o Caleb se levantou que eu percebi que tinha alterado a minha voz.— Eu não vou demitir você! Só estava tentando descontraindo um pouco. Você parece tensa.—Ah, tudo bem, me desculpe por isso então.Eu não queria gritar.—Não se desculpe, eu não deveria ter brincado com isso. Eu não queria ter feito você gritar. Pelo menos não por isso.— Caleb provocou. O Caleb nunca havia flertado comigo antes, pelo menos não fora das minhas fantasias.Voltei a me sentar e o Caleb também. — Está um pouco mais calma?—Caleb me perguntou tomando um gole do vinho.—Estou.— Ótimo,então vamos conversar sobre