PamelaEu saí da sala dele com o gosto dele ainda nos meus lábios e um nó preso na garganta. Meus passos eram rápidos, quase apressados, como se quisessem fugir daquilo que meu coração ainda não tinha coragem de encarar. O som dos meus saltos contra o piso frio era a única coisa que me mantinha firme. Eu não podia desabar ali. Não agora.O problema é que eu não estava chateada com Caleb. Estava chateada comigo. Por me entregar. Por querer tanto alguém que me vê apenas como um corpo disponível. Eu sou melhor do que isso. Ou pelo menos era. Antes dele.Voltei para minha mesa tentando me concentrar, tentando parecer inteira, mas por dentro… eu estava um caos. As horas se arrastaram até o fim do expediente, e quando o relógio bateu seis da tarde, não tive coragem de ir direto para casa. Eu precisava respirar. Pensar. Me entender.Saí andando pela rua sem rumo certo, o vento bagunçando meus cabelos e meus pensamentos. Foi então que meu celular vibrou no bolso da jaqueta. Olhei a tela e, pe
Caleb“Solta ela agora… antes que eu esqueça que ainda estou sendo educado.”As palavras saíram da minha boca sem filtro, com a força de alguém à beira de perder o controle. Meu punho já estava fechado antes mesmo que ele se virasse. E quando o idiota me encarou com aquele olhar arrogante, eu soube que não havia outra forma de resolver aquilo.— Qual foi, cara? Eu vi ela primeiro.O som do soco foi seco. Preciso. Meu punho encontrou o rosto dele com toda a força que eu vinha acumulando desde que a vi sair de casa com aquele maldito vestido. A cabeça dele virou, e ele caiu no chão com uma expressão de choque e dor estampada no rosto.Minhas narinas ardiam de raiva, o coração disparado. Mas eu não estava ali por ele. Estava por ela.Pamela me olhou surpresa, mas logo rolou os olhos e se virou para a amiga.— Olha, Mel… é o meu marido chato — disse, e riu logo em seguida, tropeçando um pouco ao virar o corpo.Ela estava bêbada. Irritantemente linda, perigosamente solta, e completamente v
PamelaA luz que atravessava as cortinas me fez apertar os olhos. Minha cabeça latejava. Minha boca estava seca. Tudo girava devagar, como se eu tivesse atravessado um furacão na noite passada — e, de certa forma, tinha mesmo.Virei o rosto devagar e levei um susto ao ver Caleb… sentado no chão, encostado na lateral da cama.Ele estava com os cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça baixa. A respiração era lenta, pesada. Dormia — ou algo bem próximo disso.Não pude evitar de observá-lo por alguns segundos. Os cabelos bagunçados, a expressão cansada, as mangas da camisa dobradas até os cotovelos. Tinha um charme que me irritava profundamente. Ele era exatamente o tipo de homem que fazia promessas com os olhos e destruía com o silêncio.E eu estava apaixonada por ele.Uma dor aguda se espalhou no meu estômago. Talvez fosse a bebida… ou a verdade crua que vinha junto com ela.Me levantei com cuidado, tentando não fazer barulho, e segui para o banheiro. Assim que fechei a porta, me ajoelh
PamelaO cheiro do café era forte, mas não o suficiente para me fazer esquecer o gosto amargo na boca. A ressaca ainda martelava na minha cabeça, e o silêncio entre mim e Caleb deixava tudo ainda mais pesado.Estávamos sentados à mesa, frente a frente, e eu mal conseguia olhar para ele. A noite anterior insistia em voltar como flashes desconexos: a dança que não aconteceu, o cara que me puxou, Caleb chegando... e eu desmaiando feito uma adolescente inconsequente.Ele não disse nada desde que acordei. Apenas preparou o café, colocou o prato na minha frente e se sentou. Queria interpretar aquilo como uma gentileza genuína, mas a parte mais machucada de mim gritava que era só mais uma jogada para me levar de volta pra cama dele.Mas isso não vai acontecer de novo. Eu não vou mais me permitir ser usada.Foi quando a campainha tocou.Eu ergui os olhos, surpresa, mas Caleb se levantou rapidamente e foi até a porta. A expressão dele mudou no instante em que viu quem estava do outro lado.— P
PamelaO som das malas sendo fechadas ecoava no quarto como pequenas marteladas na minha consciência. Eu me movia devagar, sem vontade, como se cada dobra de roupa me lembrasse do motivo pelo qual eu ainda estava casada com Caleb.Não por amor, embora meu coração fosse teimoso.Mas por necessidade.O acordo com a família Belmont garantia que eu não perderia a casa que foi dos meus pais… e mais do que isso, a mesada que minha madrasta e minha irmã recebiam mensalmente. Era estranho — eu odiava ambas, mas odiava ainda mais a ideia de ver minha família, por pior que fosse, afundar por minha causa. Era como estar presa a uma corrente invisível, feita de obrigações e culpa.— Você não precisa arrumar nada — a voz de Caleb me tirou dos meus pensamentos. Ele apareceu na porta, apoiado com indiferença no batente, usando aquela camisa branca que sempre deixava os braços dele ainda mais atraentes, o que só me irritava mais.— Como assim?— Alguém vai vir organizar tudo. Suas roupas, seus livros
Caleb— Eu esperava mais de você, Caleb.A voz do meu pai cortou o ar como uma faca. Seca. Firme. Cheia de decepção.Eu estava sentado à frente da grande mesa de carvalho no escritório da mansão Belmont. Aquele lugar sempre me pareceu frio, mesmo com a lareira acesa. Mas hoje, o que gelava mesmo era o olhar dele. Bernardo Belmont. Meu pai. Meu modelo. E, naquele momento, meu maior acusador.— Você é um irresponsável! — ele continuou, andando de um lado para o outro como um touro bravo. — Eu coloquei minha confiança em você. Achei que o casamento com a Pamela te faria crescer, te tornaria mais maduro, mais... humano! Mas olha só pra onde você nos levou!Não falei nada. Só continuei ali, quieto, olhando para o chão.— Está em todos os sites! TV, jornais, redes sociais. Caleb Belmont, o CEO que sai de uma balada carregando a sua mulher bêbada! Isso é o que você quer ser? Um moleque mimado? Um playboyzinho que só pensa no próprio prazer?Ele me olhou nos olhos, a voz tremendo de raiva.—
PamelaEu estava com a cabeça cheia.Sabe quando você sente que precisa desligar do mundo antes que ele te engula de vez?Era exatamente assim que eu me sentia naquele final de tarde. Já fazia algum tempo que Caleb havia sumido pela mansão. Não o vi durante o almoço. Nem depois. Nada. Nem um rastro daquele homem que costumava encher a casa com suas passadas firmes e aquele perfume ridículo de tão bom.Talvez tivesse ido trabalhar… ou se esconder de mim. Vai saber.Depois de chamar por ele pelo corredor e ouvir apenas o eco da minha própria voz (um pouco dramático, mas verdadeiro), decidi ir até o nosso quarto. O "nosso quarto". Que conceito estranho.Empurrei a porta e olhei ao redor. Tudo no lugar. Nenhum sinal de Caleb. Chamei, mesmo sabendo que ele não estava:— Caleb? Tá aí?Nada. Só o silêncio e a minha vergonha por estar falando com o vazio.— Ótimo — murmurei. — Melhor assim.Era minha chance. Eu estava louca pra experimentar aquela banheira dos sonhos que mais parecia uma pisc
Caleb O jantar havia sido, no mínimo… constrangedor.Minha mãe, como sempre, estava animada demais, falando alto, elogiando a comida como se aquilo fosse um banquete de casamento real. Meu pai manteve o olhar sério o tempo todo, como se apenas tolerasse minha presença por educação. E Pamela… bem, Pamela estava linda demais. E cada vez mais distante de mim.Ela sorriu, respondeu às perguntas da minha mãe, fez elogios ao vinho e à sobremesa, mas não me olhou uma única vez. E quando o fez, foi aquele tipo de olhar que não deixa dúvidas: você está incomodando.Eu queria encurtar o jantar só pra poder falar com ela, tentar resolver as coisas. Mas parecia que, quanto mais eu tentava me aproximar, mais ela construía uma muralha entre nós.Depois do jantar, subimos juntos para o quarto. Em silêncio.Pela primeira vez, reparei com mais atenção naquele quarto enorme. As janelas altas com cortinas de linho, o chão de madeira escura brilhando com a luz do lustre, e a cama, grande o suficiente pa