Pamela
Pamela Desliguei o celular, ainda em choque. A ligação de Flávia tinha arruinado meu humor por completo. Nem se o próprio Caleb aparecesse nu na minha frente agora, com aquele corpo esculpido por deuses, conseguiria me fazer sorrir. Não que isso fosse acontecer, mas o pensamento me arrancou um suspiro irritado. Como Flávia pode ser tão irresponsável? Hipotecar a casa e esconder isso de mim? E agora, empurrar um casamento arranjado como solução? Ainda me custa acreditar que vou ser usada como moeda de troca. Tudo isso para salvar uma casa que, no fundo, era a única lembrança verdadeira dos meus pais. Sacudi a cabeça, tentando afastar o turbilhão de pensamentos. Meu olhar caiu sobre o relógio na parede. Ainda faltavam algumas horas para o fim do expediente, mas, pelo menos, Caleb havia me liberado às 16h. Uma rara folga concedida por aquele homem metódico. Soltei um suspiro de alívio. "Pelo menos essa folga vai servir para alguma coisa", murmurei para mim mesma. Levantei-me da cadeira, tentando reorganizar minha mente e focar no trabalho que ainda precisava ser feito. Mas a cada tentativa de concentração, as palavras de Flávia ecoavam na minha cabeça. “Nos salve da ruína”. Como se fosse fácil. Como se casar com um homem que eu nem conheço fosse algo simples. Abri a gaveta da minha mesa e peguei alguns documentos para revisar, mas meus olhos insistiam em se desviar para a foto escondida de Caleb. Tinha que rir da ironia da situação. Caleb, o homem que me desconcertava de tantas formas, jamais poderia imaginar o caos que minha vida estava se tornando. E, pior, ele nem sabe que eu sou uma Monteiro. Respirei fundo. Era melhor terminar logo o que tinha para fazer antes que minha cabeça explodisse de vez. *** Estava no meu quarto, pronta para o encontro com o Nicolas Belmont. Depois de um banho demorado para tentar acalmar os nervos, penteei o cabelo e vesti algo confortável: uma calça jeans e uma blusa básica. Afinal, não estava indo a um desfile de moda, certo? Era só uma reunião arranjada, nada mais. Enquanto ajustava meu relógio no pulso, ouvi batidas na porta. — Entre. Flávia entrou e me analisou de cima a baixo, como se eu fosse uma atração de circo. Seus olhos quase saltaram do rosto. — Pamela, querida, que horas vai se arrumar? Já são 17h! Não se atrase por favor. — Eu já estou pronta,Flávia. O olhar dela ficou horrorizado, como se tivesse visto algo terrível. — O que foi? — perguntei, confusa. — Mas de jeito nenhum você vai sair assim! Se você for desse jeito, é capaz de ficarmos devendo a eles, ao invés de nos salvarmos da ruína! Antes que eu pudesse protestar, Flávia entrou no quarto, abrindo gavetas e vasculhando minhas coisas. — Mas o que você pensa que está fazendo? — Procurando algo decente para você usar! — ela respondeu, franzindo o nariz enquanto examinava minhas roupas. Depois de alguns minutos, jogou um vestido floral na cama, mas logo balançou a cabeça, insatisfeita. — Isso não serve. Nada aqui serve! — ela gritou, e então berrou: — Valentinaaaa, corre aqui! Valentina apareceu na porta como um furacão. — O que foi, mãe? — Minha filha, traz um vestido para Pamela. E um par de brincos. Rápido! Eu revirei os olhos, cruzando os braços. — Flavia, isso é exagero! Eu não preciso de nada disso. Flávia me ignorou, falando alto, enquanto Valentina corria pelo corredor em busca de algo "adequado". — Pamela, você tem noção do que está em jogo? Essa é sua chance de salvar nossa família! —Ela falou me sentando em um banco que ficava em frente a minha penteadeira. — Ou de vender minha dignidade — murmurei, mas Flávia não ouviu, ela estava ocupada demais penteado o meu cabelo, como se eu não soubesse fazer isso. Quando Valentina voltou com um vestido vermelho justo e um par de brincos brilhantes, eu já sabia que não tinha como escapar. — Vista isso, irmãzinha — Valentina deu um sorriso sinico, me entregando o vestido. — É o mínimo que você pode fazer. Suspirei profundamente, cansada. Não havia mais saída. Quando finalmente terminei de me arrumar, me olhei no espelho e fiquei surpresa. Era como se estivesse vendo outra pessoa. A maquiagem delicada, mas marcante, o cabelo perfeitamente penteado, e o vestido vermelho justo que Valentina trouxe me deixaram... deslumbrante. Fazia muito tempo que não me sentia assim. No dia a dia, me arrumava apenas para o trabalho, algo prático e básico, sem nada de especial. Mas agora, olhando meu reflexo, mal reconhecia a mulher confiante que parecia olhar de volta. — Agora sim, irmãzinha, arrasou! — Valentina elogiou com um sorriso satisfeito, enquanto ajustava os brincos em minhas orelhas. — Só precisava de um pouco de ajuda — acrescentou Flávia, orgulhosa do próprio trabalho. Eu suspirei, tentando ignorar o peso da situação que me aguardava. Olhei para o relógio e meu coração deu um salto: já eram 17h30. — Droga! Vou me atrasar. Corri para pegar minhas coisas e desci as escadas às pressas. No portão, meu fiel companheiro me esperava: meu carro. Velho, acabado, com um som estranho no motor, mas ainda assim meu. Em cerca de vinte minutos, cheguei ao restaurante. O lugar era tão elegante quanto imaginei: discreto, sofisticado e absolutamente intimidador. Respirei fundo e entrei. Assim que pisei no salão, um anfitrião ruivo veio me receber. Ele era impecável: alto, magro, com cabelos perfeitamente penteados e olhos claros. Vestia um terno cinza que parecia feito sob medida, e um sorriso cortês iluminava seu rosto. — Boa noite, senhorita. Como posso ajudá-la? — perguntou com uma voz suave e educada, inclinando levemente a cabeça. — Sou Pamela Monteiro. Vim para o jantar com o senhor Belmont. Ele acenou com a cabeça, dando um pequeno sorriso. — Ah, claro, senhorita Monteiro. Por aqui, por favor. — Ele gesticulou com elegância, conduzindo-me pelo salão.PamelaSegui o anfitrião pelo salão, sentindo o chão sob meus pés parecer mais instável a cada passo. Meu coração já estava disparado, mas quando nos aproximamos da mesa, algo me fez parar por um instante. De costas, o homem sentado ali parecia muito com Caleb.“Caramba, como o Nicolas parece o Caleb de costas…” pensei, tentando ignorar o nó que se formava no meu estômago. Eles tinham os mesmos trejeitos: ele passou a mão pelo cabelo do mesmo jeito casual e despreocupado que eu tinha visto Caleb fazer tantas vezes no escritório. Logo em seguida, começou a tamborilar os dedos na mesa de forma rítmica.Quanto mais perto eu chegava, mais aquela impressão se tornava impossível de ignorar. Meu coração, que já estava acelerado, parecia prestes a sair pela boca. Minhas mãos estavam tão suadas que eu tive que esfregá-las disfarçadamente na lateral do vestido.Quando o anfitrião parou ao lado da mesa, a voz dele soou alta e clara:— Senhor Belmont, a senhorita Monteiro está aqui.Foi aí que ele
CalebCheguei ao restaurante me sentindo um pouco nervoso, mesmo não sendo uma pessoa ansiosa, eu preciso admitir que conhecer a mulher com quem vou me casar por livre e espontânea pressão me deixou um pouco aflito.— Boa noite! — Cumprimentei o anfitrião que já vi uma centena de vezes, mas não recordo o nome.— Boa noite, senhor Belmont, em que posso lhe ser útil?— O homem respondeu de uma forma tão condescendente que pensei que fosse fazer uma reverência. — Fiz uma reserva para as 17h30.— Ah sim, mesa para duas pessoas, em um lugar um pouco mais reservado. Confere?— Ele conferiu as informações em um tablet de ultima geração.— Isso,exatamente.— Respondi.— Tudo bem, senhor Belmont, sua mesa já está pronta. Por favor, siga-me para que eu possa te levar até ela.— Ele falou de uma forma quase robótica e eu o segui.Andamos pelo restaurante em silêncio até uma parte mais reservada do salão, uma area que eu tinha costume de estar. Me sentei de costas para a entrada do restaurante, pois
CalebTerminamos o jantar e fomos ao meu apartamento ou como meu irmão gosta de chamar "o matadouro", onde eu costumava levar algumas mulheres que acabava me interessando, mas isso já fazia muito tempo, um tempo distante, acho que fazia mais de 2 anos que eu não levava ninguém lá. Destranquei a porta e a abri, fazendo um gesto com as mãos para que ela entrasse. — Por favor, entre. — Falei com um sorriso que tentei deixar casual, mas não consegui disfarçar a minha vontade de devorar a Pamela. Eu não iria fazer nada, mas se ela quisesse eu não iria recusá-la.Pamela hesitou por um segundo antes de cruzar a porta, os ombros tensos, o olhar curioso, mas cauteloso. Era intrigante ver a senhorita Gomes, digo, senhorita Gomes Monteiro, vulnervél daquele jeito, porque eu estava mais acostumado a ver o mulherão da porra que sempre resolve os meus problemas, dos minimos como mandar lavar meu terno,ou comprar o meu café, como conseguir uma reunião com o maior investidor da empresa. Essa mulher
Pamela—Já sei,está demitida!Problema resolvido.— O Caleb teve a audácia de falar isso.— Como é?Demitida? Tá ficando maluco?—Perguntei furiosa.— Maluco? —Caleb me olhou com uma expressão engraçada no rosto.— Você não pode me demitir! Depois de tudo o que eu fiz por você?—Me levantei completamente emputecida.—Ei ei ei ei. Calma senhorita Monteiro. Só estou brincando com você. — Apenas depois que o Caleb se levantou que eu percebi que tinha alterado a minha voz.— Eu não vou demitir você! Só estava tentando descontraindo um pouco. Você parece tensa.—Ah, tudo bem, me desculpe por isso então.Eu não queria gritar.—Não se desculpe, eu não deveria ter brincado com isso. Eu não queria ter feito você gritar. Pelo menos não por isso.— Caleb provocou. O Caleb nunca havia flertado comigo antes, pelo menos não fora das minhas fantasias.Voltei a me sentar e o Caleb também. — Está um pouco mais calma?—Caleb me perguntou tomando um gole do vinho.—Estou.— Ótimo,então vamos conversar sobre
CalebMe aproximei lentamente, sentindo a tensão sexual entre nós aumentar a cada movimento meu. Levei minha mão até a sua nuca, os dedos encostando suavemente sua pele quente. Pamela congelou, seus olhos arregalados encontrando os meus, a sua respiração acelerada deixava bem claro como ela estava nervosa.E Sinceramente isso me divertia muito. Eu sei que a Pamela sente atração por mim, sei que já fantasiou comigo, assim como eu sempre penso nela batendo uma.Ela não recuou, e também não disse nada, e isso só tornava tudo ainda mais excitante para mim. Se eu quisesse beija-la ela cederia, aquele foi o momento que eu descobrir um controle sobre ela que eu nem sabia que poderia ter.Eu não pude conter o sorriso que se formou levemente em meus lábios quando a minha secretaria fechou os olhos, eu podia jurar que ela fez um biquinho com os lábios, ela realmente queria aquele beijo.— Conseguiu o que você queria, não é?— Sussurei em seu ouvido. Pamela abriu os olhos levemente decepcionada.
Pamela Cheguei em casa por volta das 22h, quando abri a porta me assustei com o grito de Flávia que veio em minha direção louca para saber o que havia acontecido. — E aí? boa notícia? Como foi lá? Quado vão se casar?Já posso mandar fazer o meu vestido? claro eles que precisam pagar, eu não tenho nem um tostão furado. — Flávia por favor! Posso pelo menos entrar em casa antes de ter que responder ao seu interrogatório?— Falei cansada. O encontro já tinha sido estressante o suficiente sem a ajuda dela. Passei por ela e andei diretamente para as escadas, a última coisa que eu iria querer naquele momento era responder os questionamentos malucos da Flávia. Ainda mais que eu sequer tinha certeza se eu iria me casar com o Caleb. Ao chegar no andar de cima encontrei Valentina Deitada na minha cama. —O que a senhorita pensa que está fazendo no meu quarto?—Perguntei cruzando os braços. —Esperando você! Porque demorou tanto pra chegar? Você dormiu com ele? —Valentina cai fora.—Se
CalebMe joguei no sofá, girando a taça de vinho na mão e soltando um riso baixo. Pamela tinha acabado de sair, e a única coisa que eu conseguia pensar era: Então eu vou me casar com a minha secretária gostosa. Isso está ficando cada vez melhor.Enchi a taça novamente, levando o vinho aos lábios. Parecia até mais doce agora. Talvez fosse o sabor da vitória.Nunca imaginei que um casamento arranjado poderia ter alguma vantagem, mas, honestamente, casar com Pamela não parecia um sacrifício. Pelo contrário. Eu finalmente podeira conseguir saciar os meus desejos mais sórdidos.A imagem dela não saía da minha cabeça. O jeito que ficou nervosa no jantar, como evitava me olhar por muito tempo... E aquela tensão no ar quando estávamos no meu apartamento?Soltei um suspiro e balancei a cabeça, rindo sozinho. Isso vai ser interessante. Muito interessante.Eu sempre me controlei para não ultrapassar limites no trabalho, mas agora... agora ela seria minha esposa.E não havia mais nada que nos impe
PamelaDirigir até o escritório deveria ser um momento tranquilo para organizar meus pensamentos, mas minha mente estava fervendo de raiva.As palavras de Valentina e Flávia ecoavam na minha cabeça como um disco riscado, repetindo-se sem parar."A Pamela é patética.""Merece alguém tão patético quanto ela."Meus dedos apertaram o volante com força. Senti o coração acelerar, a raiva borbulhando dentro de mim como lava prestes a transbordar. Quem elas pensavam que eram para falar assim de mim? Sempre me diminuindo, como se eu fosse um estorvo, como se não tivesse valor algum.Mas sabe de uma coisa?Que se foda.Se acham que sou tão patética assim, então vão ter que engolir o fato de que vou me casar com Caleb Belmont.Sorri sozinha, sentindo uma onda de satisfação me invadir. Elas jamais imaginariam que eu teria coragem de tomar essa decisão. Se estavam esperando que eu ficasse de cabeça baixa, sofrendo, lamentando a minha "falta de sorte", iam se decepcionar.O trânsito parecia mais rá