Capítulo 2

Confuso com a saída intempestiva da jovem, Maximiliano deu-se conta que havia beijado a mulher errada. Ficou evidente, pelo tremor do corpo e dos lábios contra os seus, que a jovem em seus braços não tinha a experiência sedutora de sua atual amante.

E havia o sabor daquele beijo... Doce, delicado e envergonhado. Nunca a provara antes. Algo incomum para ele que todos apontavam como Don Juan da cidade.

Analisou a casa dos Orleans sem vontade de retornar ao salão. As luzes nas janelas, a música chegando fraca no jardim, a recordação das pessoas rindo, bebendo e dançando o entediava e despertava lembranças desagradáveis de seu passado.

Nem mesmo sua vontade de encontrar sua atual amante, Dalila Savoia, foi o suficiente para voltar aquela casa. Moveu-se sorrateiro até o muro que rodeava a propriedade, o pulou e partiu da mesma forma sorrateira que chegou.

~*~

Envergonhada pela cena decadente ao fugir do noivo, tendo abandonado a festa sem falar com ninguém, Joana decidiu ir para sua casa. Ao chegar, tocou desesperada a campainha até a empregada abrir a porta e deixa-la entrar.

— Chegou sozinha? — A empregada perguntou curiosa, olhando para fora em busca das demais pessoas da família.

No entanto, em vez de responder, Joana seguiu em frente, subindo as escadas rumo ao seu quarto.

Ainda mareada, assim que entrou do dormitório se jogou na cama, o rosto se afundado no travesseiro para ocultar um grito de frustração.

Girou na cama, os olhos se fixando no teto, os dedos se movendo de leve nos lábios ainda cativados pelo beijo que recebeu. Talvez pelo tempo em que não beijava o noivo, a saudade tornou aquele mais cálido, mais envolvente que os que tinham trocado antes.

Queria ser mais confiante, mais desinibida e não ter bebido tanto, de forma a não ter fugido e aproveitado melhor o reencontro.

— Dá próxima vez não aceitarei tantas taças — definiu ao sentar na cama, as bochechas quentes de vergonha. — Ele deve achar que sou uma boba por ter fugido depois de tanto tempo separados — deduziu levando uma mão ao camafeu em volta do pescoço. O abriu e observou a foto do noivo em seu interior, ao lado da inscrição apaixonada que pediu para fazerem.  — Amanhã explicarei o que houve, meu amor — prometeu beijando o interior e levantando-se para escovar os dentes, de forma a retirar o gosto azedo da língua, e tomar um banho, para acabar de vez com a embriaguez.

Podia mandar uma mensagem, mas como ele tinha a festa a cuidar, não acreditava que adiantaria. E também não tinha certeza do que escrever ou dizer.

As consequências de sua fuga e da bebedeira, junto do maravilhoso e breve beijo, dominaram a mente de Joana durante horas. Algumas vezes lamentava ter bebido e fugido, em outras ria por ter sentido os lábios de seu noivo sobre os seus e, na maioria, sonhava quando o veria novamente e sentiria seus beijos de novo.

~*~

Na festa, todos continuavam dançando e se divertindo sem notar a falta de Joana até que o noivo chegou. Empolgada em rever o filho, Kassandra Orleans vibrou.

— Meu filho chegou! — Kassandra anunciou no baile de máscaras. Virou-se para os lados a procura de Joana, mas só encontrou os pais dela e a irmã mais nova, a quem perguntou ansiosa. — Dalila, onde está sua irmã?

— Deve estar dançando — a jovem respondeu sem interesse. — E cadê o Adriano?

Seguindo Kassandra, os olhos de Dalila se fixaram no homem alto, de cabelos loiros e de porte distinto vestido com trajes de militar azul marinho e mascara da mesma cor.

Ao parar em frente o noivo da irmã, a jovem, com um especial brilho de interesse nos olhos, sorriu ao perceber que ele a avaliava com aprovação. Conhecedora da própria beleza, deduziu que ele estava atraído por sua beleza estonteante e corpo escultural. Comemorou alheia de estar frente ao pretendente da irmã.

~*~

Amor... Adriano Orleans não o entendia e, mesmo tendo uma noiva – fornecida por sua mãe -, pouco pensava nessa palavra. Para ele, seu relacionamento com Joana era um acordo diplomático para um futuro tranquilo, nada mais, e fora algumas conversas e beijos insossos, não ligava para os sentimentos dela, assim como não se forçava a ser um noivo apaixonado.

Seus dias e noites eram de estudos, de trabalho na empresa que abriu na capital e planejamento para quando retornasse a Sanmarino, cumprindo o combinado de casar-se e estabelecer-se em Recanto Dourado, fazenda de sua família durante várias gerações e casar com a mulher preparada para ele.

No entanto, quando colocou os olhos em Dalila, algo mudou.

Da última vez que a viu não passava de uma adolescente magrela de quinze anos, aparelho nos dentes e um gênio irritadiço e difícil de aturar para o homem de vinte e oito anos que era na época.

Ela mudará muito nos últimos seis anos, e para melhor, ao ponto que a jovem de cachos acobreados, usando vestido prateado destacando suas curvas e com um enorme decote que valorizava seus seios fartos, fez seu coração disparar e o atingiu em partes que Joana, irmã dela e sua noiva, nunca chegou perto de alcançar.

Quando iniciaram uma dança, com uma música sem graça escolhida por sua mãe, o perfume tão sensual quando sua usuária aumentou sua vontade de agarrar aquela mulher e nunca mais larga-la.

Esse impacto forte e desejo ardente seria amor ou simplesmente excitação? Não sabia, mas estava ansioso em descobrir.

E com esse simples desejo iniciou um efeito dominó que alteraria para sempre o destino de Joana Savoia e Maximiliano Gonzalez.

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