Capítulo 5

Sem desconfiar dos planos insensíveis de sua irmã, Joana acordou cedo para dar aulas de catequese no colégio religioso, anexo ao convento e a igreja da cidade, como pedido por sua madrinha logo após se formar em licenciatura.

Naquele dia, após finalizar as aulas do dia, seguiu para outra tarefa que adquiriu após anos com os religiosos, decorar o altar para a pregação da tarde, o que costumava fazer com alegria. Mas, mesmo sendo uma tarefa que gostava, sua mente estava longe, no jardim, no homem que a beijou e que ela aceitou imaginando ser seu noivo.

Ao termino da função, encontrou sua melhor amiga, Tereza Braga do lado de fora da igreja, que se ofereceu para acompanha-la na volta para casa, aproveitando para conversar sobre as últimas novidades da cidade e questioná-la sobre a festa.

Bastou alguns segundos para Tereza notar seu abatimento. Tinha ido ao encontro da amiga no fim de seu expediente como secretaria da prisão da cidade, sedenta por informações da festa da noite anterior, mas Joana estava mais sucinta que o normal.

Sem coragem de citar o beijo, Joana limitou-se a contar que esteve presente, mas saiu cedo, antes da chegada de Adriano.

— Dalila o viu, mas não me contou muito do que conversaram — lamentou deslizando os dedos pelo colar com a foto de seu noivo, que carregava sempre junto a si.

— Hum... — Tereza respirou fundo meio desiludida. — Certeza que sua irmã se distraiu conquistando os homens da festa.

— Por favor, não fale dela como se fosse uma... oferecida.

Tereza revirou os olhos, exasperada com a inocência de Joana, que era a única moça da cidade que não percebia que tipo de mulher Dalila era. Cedo ou tarde a máscara cairia, só esperava que Joana não fosse prejudicada pelo que a irmã guardava debaixo.

— Que pena que não o viu e nem curtiu a festa até o fim, mas em breve receberá a visita dele.

Olhando Joana com atenção, Tereza ficou atenta em qual seria a reação da amiga ao seu comentário, esperando que a expressão desanimada sumisse. Mas Joana permaneceu de olhar baixo.

— O que foi? Está tão tensa e calada hoje — disse preocupada.

Constrangida com seu engano na festa, Joana deu de ombros e focou em outro assunto que a preocupava:

— Passamos tanto tempo sem nos ver pessoalmente, que não sei como será agora...

— Quando há amor não importa o tempo — Tereza indicou querendo acabar com a aflição da amiga.

— Está certa... — Joana soltou insegura, ainda pensando em como se sentiu nos braços do estranho no jardim. Nunca chegou perto de sentir o mesmo com os beijos e carinhos de Adriano.

Antes que Tereza interrogasse ainda mais a amiga, para saber o que de verdade a preocupava, chegaram à casa dos Savoia e viram o carro da viúva Kassandra, madrinha de Joana e mãe do noivo, estacionado na frente do portão.

Ansiosa, com Tereza seguindo-a, Joana se apressou a entrar na residência para encontrar sua madrinha e o noivo.

— Madrinha, que bom vê-la! — Joana cumprimentou ao abraça-la, os olhos buscando o noivo. — Adriano não veio junto?

— Também fico feliz em vê-la, querida. — Sorriu para a afilhada e depois para Tereza. — Como vai?

— Muito bem, senhora.

— Respondendo sua pergunta: Adriano teve de ficar em casa, revisando os relatórios da fazenda e cuidando de assuntos da empresa na capital — justificou, acrescentando para tranquilidade de Joana: — Mas mandou um beijo e disse que virá jantar com você e sua família hoje.

— Ah... Bem, sentem! — Joana pediu ocultando fracamente sua decepção por só ver Adriano no fim daquele dia.

Kassandra fez o que foi indicado, sentando no sofá ao lado de Tereza e aguardou que Joana pedisse bebidas para as três. Assim que a jovem sentou a sua frente, anunciou:

— Logo que Adriano terminar de resolver os assuntos que tem na cidade retornaremos para a fazenda e planejo convidar seus pais, você e sua irmã para passarem alguns dias conosco, de forma que poderemos definir melhor os detalhes do casamento — indicou, acrescentando com um amplo sorriso: — Espero que seja uma boa esposa para meu filho.

Aos ouvidos de Tereza aquilo pareceu mais uma ordem, mas para Joana foi apenas algo ao qual se preparou nos últimos seis anos.

— Eu o amo muito e serei uma esposa perfeita! — Joana declarou, afastando envergonhada a lembrança do beijo que só aceitou por um grande engano de identidade.

Sem saber o que ocupava a mente da jovem, Kassandra se encheu de satisfação com a resposta. Queria o melhor para seu filho, por isso o convenceu a se relacionar com Joana e se encarregou de dar uma educação diferenciada a ingênua nora.

Mesmo antes do namoro, revisou cada ensinamento que era passado a jovem, controlou suas amizades e a levou quase todo fim de semana para a fazenda, de forma que crescesse vendo Adriano e pouco a pouco se interessasse por ele.

Por sorte, Joana se apaixonou e Adriano também enxergou as vantagens em ter uma esposa preparada para assumir uma posição ao seu lado na fazenda.

Era óbvio que Joana amava incondicionalmente o noivo e tornou-se digna de carregar o sobrenome Orleans, além de ser fácil de controlar após o casamento.

Cada atitude que tomou nos últimos seis anos foi minimamente planejada com cuidado, tudo para garantir que Joana obedecesse ao marido no futuro sem fazer qualquer questionamento. E agora tinha a certeza que conseguiu seu objetivo. Joana sempre declarava amor eterno e submisso a Adriano.

As três conversaram por mais algumas minutos, depois Kassandra se retirou muito satisfeita em saber que logo seus sonhos se tornariam realidade.

Após a partida de sua madrinha, Joana não pode esconder da amiga sua tristeza.

— Que pena que Adriano não veio com minha madrinha... Estou tão nervosa!

— Não quer se casar?

— Lógico que quero — retrucou de imediato. — Mas nos últimos anos só nos falamos por celular. Posso parecer simplória perto das garotas da capital

— Não se preocupe! Logo estará casada e imensamente feliz— Tereza disse querendo confortar a amiga.

Aquelas palavras deixaram Joana mais tranquila, lhe traziam a falsa esperança de que Adriano sentia por ela a mesma devoção e amor que carregava no coração por ele há anos.

Logo descobriria que estava longe disso ser uma realidade.

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