Capítulo 4

Vendo a irmã empalidecer, Dalila foi atingida por uma sensação ruim.

— Quando estiveram no jardim, ele te fez algo? Tentou algo?

— Não houve nada... — Joana negou levando a mão ao camafeu, o medo do que aconteceria se descobrissem que traiu, mesmo sem querer, seu noivo dominando-a.

Os olhos de Dalila foram para a joia com desenho de rosa, consciente do que havia em seu interior, a suspeita aumentando com a evidente tensão dominando as feições da irmã.

— Não me engana Joana. Esse homem tentou algo, não tentou? — Dalila insistiu na pergunta irritada só em pensar que o amante, seu Maximiliano, pudesse ter tocado Joana como a tocava. — Esteve se agarrando com outro homem na casa de seu noivo?

Joana ficou chocada com o que a irmã disse, com o tom acusatório, como se soubesse o deslize que cometeu.

— Não houve nada e sua acusação é obscena e injusta! — Alterada caminhou em direção à saída. — Vou deixa-la para que descanse.

Antes que abrisse a porta, Dalila veloz se levantou e a segurou pelo braço.

— Irmã, se fez algo indevido, pode compartilhar comigo. Não contarei a ninguém, nem mesmo para o Adriano.

Puxando o braço, Joana se retirou apresada deixando uma irritada Dalila para trás.

Abandonando o plano de tomar um longo banho para tirar o suor da pele, Dalila trancou a porta de seu quarto, foi para sua cama e ergueu o colchão, retirando de debaixo dele uma sacola de lixo, cujo interior abrigava um velho uniforme da empregada da casa e uma peruca de fios escuros.

Usando o estranho traje, Dalila escapou pela sacada de seu quarto e pegou a bicicleta que deixava nos fundos da propriedade. Pedalando rápido pelas vielas da cidade, se afastou de casa, utilizando a escuridão para ocultar sua fuga.

~*~

Morando em uma parte afastada da cidade, no montanhoso Monte do Diabo, Maximiliano Gonzalez desfrutava de uma tranquilidade incomum, fornecida pelas crendices dos populares que tornaram o local proibido há anos.

Logo que chegou do baile tomou um longo banho, necessitando esfriar o corpo de um desejo novo, por uma mulher que não fazia ideia de quem era. Sentou na poltrona em frente à lareira, já crepitante, e com o olhar perdido nas chamas e o indicador deslizando por seu lábio, rememorou aquele beijo em meio às rosas que no passado sua mãe plantou com todo amor.

“— As rosas são o símbolo maior do amor, principalmente as vermelhas, que significam paixão intensa.” Milene Gonzalez havia lhe dito ao cortar o talo de uma rosa de pétalas macias e vermelhas, como os lábios da jovem que beijou clandestinamente em seu antigo lar.

Jogou a cabeça para trás e fitou o teto de madeira, reparando em uma nova teia de aranha.

Fazia um tempo que não pensava em sua mãe e em todos os familiares mortos quinze anos antes, mas sua nova amante o fez relembrar a dor da perda e reavivou uma chama apagada por anos de sofrimento, uma vontade de fogo por vingança e reparação. Foi atrás disso que se infiltrou na festa dos Orleans, dada na casa que eles lhe roubaram após matar seus pais. Mas acabou aos beijos com uma estranha...

Levantou-se ao ouvir batidas na porta e reconhecer a voz sensual chamando-o. Apressou-se a abrir a porta e deu uma longa olhada nela, em seu horroroso disfarce para encontra-lo.

Com um sensual sorriso de canto, estendeu a mão, enrolando um dedo nos fios artificias ao gracejar:

— Venho me ver, bela noiva? — Maximiliano questionou usando as palavras que a Dalila pediu para usar ao abordá-la na festa a fantasia. Embora com isso tenha cometido um erro e beijado a mulher errada. Um erro que o perturbava mais do que deveria, admitia para si.

Dalila, deslumbrando-se pela milionésima vez ao encontrar o Gonzalez. Suspirou ao observar a água do banho recente escorrer pelo cabelo negro quase na altura dos ombros, descendo sensualmente pelo pescoço forte rumo ao peitoral definido.

— Claro — Dalila disse deixando Maximiliano envolver os braços em sua cintura, puxando-a para dentro da cabana e fechando a porta.

Desde a primeira vez que foi apresentado a Dalila pelo pai dela, cada detalhe o atraía como um imã sexual. E havia a vantagem de ter laços familiares com seus inimigos, o que seria muito útil para sua vingança e plano de reaver o que lhe foi roubado.

Deslizando as mãos pelas costas da amante, provocativo a beijou no pescoço, subindo pouco a pouco, assim como o fazia ao encaminha-la para a cama em que a tomaria uma vez mais.

— Estive na festa dos Orleans — Maximiliano disse após se refazer dos momentos de paixão. — Mas outra pessoa estava com a fantasia que você me descreveu — contou com uma estranha vontade dela conhecer a pessoa e lhe dizer quem era.

Fazendo mini círculos no peito másculo, Dalila o fitou, vendo a oportunidade para saber o que houve entre ele e Joana.

— Minha irmã tanto insistiu que trocássemos de fantasias que nossos pais, para agradá-la, me obrigaram a fazer sua vontade — mentiu, logo questionando com ciúmes e desconfiança: — Ela me disse que você a levou ao jardim. Ocorreu algo entre vocês dois?

— Ela disse que aconteceu algo? — Maximiliano sondou, sem vontade de mencionar o beijo para não irritar Dalila.

Igual a ele, sua amante era passional com a relação deles. Tendo ouvido que ele mantinha um harém a sua disposição, logo no início do relacionamento ela exigiu ser a única.

Também evitava o assunto porque passou horas lembrando-se da maciez daqueles lábios nos seus, a suavidade do beijo, do leve gemido que ela soltou contra sua boca antes de sair correndo. Inclusive por causa da reação do seu corpo as recordações daqueles segundos, necessitou tomar um banho frio. Dalila não gostaria de nenhum desses detalhes.

— Joana é uma sonsa invejosa, mas tão puritana que quando questionei me chamou de obscena e saiu correndo.

Maximiliano teve vontade de rir ao encontrar semelhança na atitude citada por Dalila com o que ocorreu após o beijo. Mas conteve-se e decidiu não expor Joana, como ela não o tinha exposto a Dalila.

— Tentei conversar com ela, mas saiu correndo assustada.

— Agir como um ratinho acuado é tão Joana — Dalila zombou. — A sorte dela foi arranjar um compromisso com Adriano.

Maximiliano se moveu incomodado no leito. Apesar de sua vontade de se infiltrar nos círculos sociais dos Orleans, preferia evitar o nome deles quando estava na cama com a amante.

— Esqueça sua irmã — pediu movendo-se para ficar por cima da jovem e reiniciando as carícias. — E aproveite esse tempo que estamos juntos.

Correspondeu na mesma intensidade, Dalila deixou-se envolver como em todos os encontros anteriores.

Maximiliano não era seu primeiro romance clandestino, mas era o mais intenso e perigoso. Apesar de ser um amante maravilhoso e cobri-la de joias, Maximiliano era um contrabandista e não tinha nada a oferecer aos seus sonhos de vida tranquila. Por isso, quando ele propôs aproveita-se da festa para se divertirem juntos, teve de agir e colocou Joana propositalmente na fantasia que descreveu para ele. Assim ficou livre da irmã, do amante e teve a oportunidade de cativar os olhos de um rico fazendeiro, comemorou certa que em breve obteria o que tanto desejava, mesmo à custa da felicidade de Joana.

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