Henrique
SIGO com meu carro logo atrás ao de Marcone, acompanhados por outros tantos veículos que dominam o tráfego do Jardim Europa. Achei que o tal bordel se localizasse em algum lugar periférico, mas, na verdade, encontra-se num dos bairros mais sofisticados de São Paulo. E, ironicamente, pertencente a mesma região em que moro e trabalho.
Marcone para em frente a uma casa noturna, com sua fachada em tons neutros e o nome do local escrito numa caligrafia em estilo clássico que destaca: Casa de Prazer – Camila Monteiro. Ele desce do carro e entrega a chave para uma manobrista, e noto que há uma à minha espera também. Desprendo o cinto de segurança e saio do carro, estendendo a chave para a mulher que me cumprimenta com um leve aceno de cabeça.— Bem-vindo ao paraíso, meu amigo — elucida Marcone assim que adentramos ao local.
Para a minha surpresa, a Casa de Prazer é um espaço luxuoso que ostenta bom gosto e clima agradável. Bem diferente do bordel imundo e fétido que imaginei que seria.Há mulheres de diferentes tipos e estilos por todo o lugar. Mulheres jovens, velhas, altas, baixas, magras, gordas, loiras, ruivas, negras, brancas, lisas, cacheadas, crespas, onduladas e carecas. Cada uma diferente e única a seu modo. Ao centro da Casa, um bar aconchegante com mesas para duas e quatro pessoas voltadas para o palco e para as barras de pole dance. Marcone nos guia para uma mesa bem próxima a uma dançarina ruiva que executa uma coreografia bastante sensual. Reparo também que há pouquíssimos homens trabalhando no local. Desde a segurança a barwoman, majoritariamente composto por mulheres. — Então, Henrique — interpela Marcone —, estamos ou não num paraíso? — Abro a boca para respondê-lo, mas minha atenção é atraída para a mulher que acaba de entrar na Casa. Ela consegue ofuscar a beleza de todas as outras. Ao menos essa é a sensação que tenho quando a vejo. Seus olhos verdes e brilhantes, os cabelos longos e cacheados num tom mel, sua boca carnuda, as curvas bem delineadas num vestido de cetim prata, e o colar, também prateado, que envolve seu pescoço e adentra o decote... Tudo nela exala prazer. Ela encontra seu olhar ardente com o meu e o mantém firme, não quebrando a conexão.— Quem é ela, Marcone? — pergunto ainda sem desviar meu olhar do dela. Marcone acompanha o meu olhar e me responde com um sorriso bobo:
— Camila Monteiro, a dona da Casa de Prazer.
— Sério? — pergunto em descrença, tirando meus olhos dos dela e voltando-os para ele. — Ela não parece ser uma...
— Não termine de falar o que pensou — interrompe. — Você está muito preso a convenções, Henrique. Olhe para este lugar — pede girando seus dedos em volta. — Isso aqui é um lugar maravilhoso. Camila criou um espaço de bom gosto que oferece prazer de diferentes formas. Tudo aqui é consensual. Você não tocará em nenhuma destas mulheres se elas não quiserem que você as toque. E como já te disse, você não as escolhe, elas escolhem você.
— Besteira, Marcone. Elas continuam vendendo seus corpos de qualquer jeito.
— Aí que você se engana — replica tentando conter o sorriso. — Elas não cobram pelo sexo. Você paga para entrar, para beber, paga as dançarinas que você queira que dancem exclusivamente para você, mas não pelo sexo. Porque o sexo para elas é o ponto alto do prazer, e ele só acontece quando e com quem elas querem — Marcone ri da minha expressão de espanto. — E ainda que elas cobrassem, meu amigo. Não há nada de errado nisso. Os corpos são delas.
Uma linda mulher trajada em um vestido de seda amarelo que contrasta perfeitamente com sua pele negra retinta e seu cabelo Black Power castanho-escuro aproxima-se da nossa mesa e põe sua mão sobre o ombro de Marcone.
— Vamos — chama quase num sussurro. Seus olhos castanhos transbordando desejo.
— Agora mesmo — responde Marcone esboçando um sorriso cúmplice para ela, levantando-se da mesa. — Não espere por mim, Henrique — avisa dando-me uma piscadela. Ele envolve o seu braço na cintura da mulher, encaminhando-se para um extenso corredor que fica no lado esquerdo da Casa.
— Ótimo — digo a mim mesmo com sarcasmo —, hora de ir embora daqui.
— Ainda não — afirma uma voz feminina atrás de mim. — Antes eu terei você.
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CamilaALGUMAS pessoas têm uma visão deturpada de mim e da minha Casa de Prazer. Acham que aqui é um ponto de prostituição, e a Casa está muito longe disso. As atividades sexuais que acontecem aqui são completamente consensuais. Até porque o sexo só acontece se as mulheres quiserem, com quem elas quiserem e quando elas quiserem. Eu criei a Casa de Prazer com o intuito de oferecer um espaço desprendido de padrões sobre os corpos femininos. Um local em que podemos nos sentir livres para explorar todos os sentidos do prazer, segundo a nossa vontade e não a da sociedade patriarcalista.Além dos bares nos andares inferior e superior, temos um restaurante, salão de festas, e claro, os quartos de prazer, que são pagos pelos clientes que desejam utilizá-los. Os preços variam de acordo com a imaginação e criatividade de cada um. Há os quartos convencionais, quartos inspirados em fantasias eróticas, quartos com decoração romântica e quartos para os que gostam e pra
HenriqueANTES eu terei você. Que mulher é essa? Nunca conheci uma que fosse tão direta e determinada assim. Seus olhos brilham de desejo, e através deles, noto que os meus não estão diferentes. Não me recordo de já ter me sentido tão atraído por alguém...Uma parte de mim quer estar de joelhos diante dela e saborear cada parte do seu corpo. Mas uma outra grita que me envolver com essa mulher é um caminho quase sem volta. Além disso, eu não posso me esquecer de Cristina. Não seria justo com ela. O problema é que meu pau não está obedecendo à minha cabeça no momento.— Camila Monteiro — se apresenta estendendo a mão para mim —, mas isso você já deve saber — infere com um sorriso malicioso nos lábios.— Henrique Veiga — digo apertando sua mão. Uma onda de calor percorre todo o meu corpo com o simples contato de nossas peles. A tensão sexual entre nós é palpável.— Está sentindo também? — pergunta com seus olhos vidrados nos meus. — Nenh
HenriqueCHEGO em casa já passando da meia-noite com meus pensamentos completamente voltados para Camila. Aquela mulher fez coisas comigo que nunca pensei que pudessem ser feitas tão descaradamente e sem o menor pudor. E me fez fazer com ela coisas que eu nunca tinha feito com a minha esposa quando ainda transávamos.— Henrique, você chegou — fala Cristina para mim com sua voz grogue de sono quando adentro ao quarto.— Desculpe, não queria te acordar — respondo tentando não estabelecer um contato visual com ela.— Onde você estava? Você não costuma chegar tão tarde.— Saí com Marcone para um bar depois do trabalho — respondo ao entrar no banheiro. Tiro minhas roupas e ligo o chuveiro, permitindo que a água quente lave do meu corpo o cheiro inebriante de sexo e Camila.— Você não costuma beber — elucida Cristina, detendo-se na porta aberta do banheiro. Posso ver o desejo em seu olhar ao vislumbrar o meu corpo nu. Mas ela jamais di
CamilaA claridade que invade o quarto através da abertura circular envidraçada no teto incomoda os meus olhos. Abro-os preguiçosamente, acompanhados por um sorriso bobo. Involuntariamente, minha mão alcança o travesseiro ao lado, mas eu sei que ele não está aqui.Eu estava quase adormecendo quando vi Henrique ir embora, deixando um beijo carinhoso em meu rosto antes de sair. Seu cheiro amadeirado domina minha pele, e é quase como se eu ainda pudesse senti-lo entre minhas pernas.Meu celular toca mais uma vez ao som do alarme e eu o desativo. Todas as quartas-feiras, eu e minha mãe tomamos café da manhã numa padaria que fica bem próxima à Casa de Prazer. É quase como um ritual nosso.Levanto da cama e conduzo os meus passos para o banheiro, faço minha higiene pessoal e finalizo meus cachos com uma fitagem rápida. No closet, escolho uma combinação de lingerie e saltos pretos, saia lápis marrom e blusa verde esmeralda. Arrumo-me o mais rápido que posso, e antes de
HenriqueO clima fresco e agradável juntamente com a iluminação natural do fim de tarde fornecem ao evento do orfanato um clima acolhedor. Algumas pessoas circulam em torno do jardim, mas a maioria encontra-se sentada às mesas com tendas ornamentadas.Cristina observa as crianças que brincam e correm ao redor com brilho nos olhos. Eu quase posso ler seus pensamentos. Ela vê essas crianças e imagina que o filho que perdemos estaria agora com esta idade e poderia estar brincando com essas outras crianças. Sem pensar, pego sua mão e a aperto. Ela volta seu olhar para mim e me dá um sorriso triste, acompanhado por uma lágrima solitária que escorre pelo seu rosto.— Se quiser, podemos ir embora — ofereço.— Não, eu estou bem — responde rapidamente, erguendo sua outra mão para secar a lágrima do rosto. Ela volta a se concentrar nas crianças e eu libero minha mão da sua.Eu não sinto falta de ter uma criança em casa, nem fico com este olhar amoroso de Cristina
CamilaA esposa de Henrique direciona seu olhar para nós com uma expressão confusa. Percebo que ele está tenso e não sabe o que fazer. Divirto-me internamente com a situação. Ela não pode ser tão idiota. Deve saber reconhecer uma mulher que acabou de ter um orgasmo de contorcer os dedos dos pés. Mas, ainda assim, decido testá-la:— Muito obrigada — agradeço a Henrique. Ele me olha confuso e parece não entender. — Se você não me segurasse, eu teria caído. Acho que minha pressão baixou de repente — continuo dissimuladamente. Henrique parece finalmente entender a minha cena e entra também em ação:— Não precisa agradecer — diz acenando de leve, tirando com relutância sua mão da minha cintura.A esposa dele atenua a expressão. Aparentemente tentando convencer a si mesma de que seja essa a verdade. — Algum problema, Cristina? — pergunta ainda de costas para ela.— Você demorou... — explica hesitante. — Fiquei preocupada.Merda. Ela realment
HenriqueMEUS olhos se mantêm fixos no trânsito à minha frente, e mesmo aos sinais vermelhos, evito fazer qualquer tipo de contato visual com Cristina.Adentro ao condomínio e paro o carro em frente à casa da minha mãe esperando que ela desça, mas ela não desce.— Você não vai descer também, Henrique? — pergunta mamãe. — Por que está com esta cara? Você não disse nada desde que saímos do evento.— Desça logo, mamãe! — peço ríspido.— Isso é jeito de falar comigo? Não foi essa a educação que te dei!— A senhora é a última pessoa que pode falar comigo sobre educação — digo com sarcasmo.— Ora, tudo isso é por causa daquela mulherzinha? — indaga lançando um olhar incrédulo para Cristina. — Ela precisava saber que não era bem-vinda ali.— Cale a boca, mamãe! — grito fazendo ela e Cristina saltarem no banco de trás. — A senhora não poderia ter dito aquelas coisas para Camila! Não pode dizer para
CamilaMEUS olhos se abrem preguiçosamente, tendo como primeira visão do dia o rosto sereno de Henrique, que ainda dorme ao meu lado. Não me recordo de em algum outro momento da minha vida ter acordado com um homem em minha cama. É estranho, e ao mesmo tempo, é muito bom.Deslizo meus dedos por sua barba, com cuidado para não despertá-lo. Algumas mechas onduladas caem sobre os seus olhos e eu as retiro. Ao contemplar sua face, sinto algo dentro de mim florescer. Nós mal nos conhecemos, e no entanto, é como se ele estivesse na minha vida desde o princípio.Um sorriso se desenha em minha face ao me recordar da noite que tivemos juntos. Ele fez exatamente o que disse que faria. Ele me comeu na cama, no banheiro, no chão e nas três mesas do quarto. Beijou-me com delicadeza e brutalidade, me masturbou e me proporcionou vários orgasmos vaginais somente por penetração.Henrique é um deus do sexo no sentido amplo do termo. Quase não deixou que eu o acaricias