Henrique
O clima fresco e agradável juntamente com a iluminação natural do fim de tarde fornecem ao evento do orfanato um clima acolhedor. Algumas pessoas circulam em torno do jardim, mas a maioria encontra-se sentada às mesas com tendas ornamentadas.
Cristina observa as crianças que brincam e correm ao redor com brilho nos olhos. Eu quase posso ler seus pensamentos. Ela vê essas crianças e imagina que o filho que perdemos estaria agora com esta idade e poderia estar brincando com essas outras crianças. Sem pensar, pego sua mão e a aperto. Ela volta seu olhar para mim e me dá um sorriso triste, acompanhado por uma lágrima solitária que escorre pelo seu rosto.— Se quiser, podemos ir embora — ofereço.
— Não, eu estou bem — responde rapidamente, erguendo sua outra mão para secar a lágrima do rosto. Ela volta a se concentrar nas crianças e eu libero minha mão da sua.
Eu não sinto falta de ter uma criança em casa, nem fico com este olhar amoroso de Cristina quando vejo uma. O que me entristece é sua dor. O olhar vazio que demonstra quando minha mãe começa seu discurso sobre netos. Cristina se sente incapaz, e por mais que eu lhe diga que não quero ter filhos, ela se martiriza por não poder gerar um.— Olhe bem para estas crianças, meu filho — fala minha mãe sentando-se ao meu lado. — A responsável pelo orfanato é uma conhecida minha. Podíamos escolher a criança que quiséssemos — Bufo exasperado.
— Já falamos sobre isso, mamãe. Não é mais dessa forma que uma adoção funciona e eu não quero adotar criança nenhuma.
— Mas sua esposa quer — argumenta. — Pense nisso para ela, Henrique, não para você. Sabe como ela se sente sobre isso.
— E a senhora não ajuda em nada falando no assunto o tempo todo — respondo ríspido. — Eu não quero mais falar sobre isso, mamãe. Entendeu? — Ela abre a boca para contestar, mas sua atenção é atraída para as crianças. Elas começam a se amontoar em volta de duas mulheres que não consigo ver os rostos.
— Não acredito que esta puta teve a coragem de aparecer aqui! — protesta minha mãe, chamando também a atenção de Cristina para as mulheres.
— Ouvi dizer que ela faz muitas contribuições financeiras para o orfanato — informa Cristina.
— O que é um absurdo! — exclama mamãe. — Não deveriam aceitar ajuda dessa vagabunda!
— De quem vocês estão falando? — questiono. Tenho minha resposta quando a mulher se volta em minha direção, sorrindo largamente com uma menina nos braços. Camila. Ela cruza seu olhar com o meu e fica paralisada por alguns instantes. Ela está maravilhosa em um vestido amarelo soltinho ao corpo que vai até o meio das coxas. Os cachos volumosos soltos sensualmente sobre os ombros. A mulher a seu lado está com um vestido creme feito sob medida e seu cabelo loiro está preso num coque sofisticado. Elas são muito parecidas. O que me leva a pensar que podem ser parentes.
Camila observa-me com determinação sexual no olhar, mas sua postura muda quando percebe as duas mulheres ao meu lado; em especial Cristina. Ela se inclina e fala algo para a senhora, que logo depois começa a me avaliar. E ela diz algo para Camila que a faz ter uma expressão amarga. Camila leva a menina ao chão, dá um beijo em seu rosto e sai em direção ao interior do orfanato.— Volto num minuto — aviso a mamãe e Cristina, levantando-me sem esperar por suas respostas. Caminho a passos largos para o interior do orfanato, sentindo os olhares de algumas pessoas sobre mim. Não consigo pensar em nada além de ter Camila entregue aos meus braços. Vislumbro sua silhueta de costas para mim, apoiada à parede de um corredor.
— Sabia que você vinha — anuncia sem se virar.
— Lamento ser tão previsível — respondo irônico.
Camila se volta para mim, olhando-me fixamente, não deixando transparecer nenhuma emoção em seu rosto.— Muito bonita a sua esposa — indaga sem se alterar. — E sua mãe é uma mulher muito... sincera — completa escolhendo suas palavras.
— Como você... — começo a perguntar mas ela me interrompe:
— Como eu sei quem elas são? — retorque para mim. — Sei quem é sua mulher pela forma como ela te olha quando você não está prestando atenção nela. E sei quem é sua mãe porque ela tem os olhos parecidos com os seus. E só para te poupar, eu sei bem o que ela pensa sobre mim. Tive o prazer de ouvir da boca dela no último evento promovido pelo orfanato em que estive — explica com amargura na voz. — Só queria ver o que ela diria se soubesse o quanto você gostou de foder esta puta aqui — fala aproximando-se de mim com passos lentos. — Eu também posso ter uma conversinha com sua mulher, sabe? — balbucia em meu ouvido. — Explicar a ela em detalhes como você gosta de ser chupado — Solto um grunhido e a seguro rente a mim pela cintura.
— O que você quer? — pergunto com minha boca roçando na sua. Ela passa a língua em volta dos meus lábios e responde:
— Você — Aperto seus quadris e a beijo firme e duro, andando com ela e parando apenas quando sinto a parede mais próxima em minhas costas. Inverto nossas posições e a pressiono contra a superfície. Ela geme baixinho, fazendo com que meu pau fique ainda mais duro.
— Me chupa — pede numa voz de comando.
— Aqui? — questiono, incrédulo.
— Aqui. Agora — responde incisiva. Obedeço-a e fico de joelhos à sua frente, fazendo meu caminho entre suas pernas. Fico surpreso ao notar que ela está sem calcinha. — Tirei quando vim para cá — responde minha pergunta silenciosa dando um sorriso malicioso. Ponho minha cabeça embaixo do seu vestido e apoio sua perna esquerda sobre o meu ombro. Camila respira audivelmente quando passo minha língua em sua boceta, sentindo sua umidade. Lambo e chupo seus pequenos lábios em movimentos circulares. Seu sexo pulsa e eu enfio três dedos dentro dela. Camila geme alto e introduz suas mãos em meu cabelo, puxando-o. Meto os meus dedos fundo, com movimentos lentos e sensuais, sentindo o aperto de sua vagina em torno dos meus dedos. Chupo lentamente seu clitóris e Camila explode num orgasmo intenso, gemendo o meu nome. Sustento seu peso com um braço e retiro os meus dedos de dentro dela delicadamente, lambendo todo o seu prazer. Ficando de pé, capturo seus lábios aos meus e lhe dou o sabor do seu gosto. Camila morde meu lábio inferior e envolve sua mão em meu pau, liberando mais um gemido. — Eu quero... — murmura dando um sorriso pervertido. Afasto-me um passo dela, segurando-a somente pela cintura.
— Você quer? — replico com minha voz rouca e carregada de desejo. Os olhos de Camila brilham em confirmação. Ela estende a mão para me segurar novamente, mas para o gesto no caminho ao ouvir uma voz familiarmente conhecida para mim:
— Henrique?
CamilaA esposa de Henrique direciona seu olhar para nós com uma expressão confusa. Percebo que ele está tenso e não sabe o que fazer. Divirto-me internamente com a situação. Ela não pode ser tão idiota. Deve saber reconhecer uma mulher que acabou de ter um orgasmo de contorcer os dedos dos pés. Mas, ainda assim, decido testá-la:— Muito obrigada — agradeço a Henrique. Ele me olha confuso e parece não entender. — Se você não me segurasse, eu teria caído. Acho que minha pressão baixou de repente — continuo dissimuladamente. Henrique parece finalmente entender a minha cena e entra também em ação:— Não precisa agradecer — diz acenando de leve, tirando com relutância sua mão da minha cintura.A esposa dele atenua a expressão. Aparentemente tentando convencer a si mesma de que seja essa a verdade. — Algum problema, Cristina? — pergunta ainda de costas para ela.— Você demorou... — explica hesitante. — Fiquei preocupada.Merda. Ela realment
HenriqueMEUS olhos se mantêm fixos no trânsito à minha frente, e mesmo aos sinais vermelhos, evito fazer qualquer tipo de contato visual com Cristina.Adentro ao condomínio e paro o carro em frente à casa da minha mãe esperando que ela desça, mas ela não desce.— Você não vai descer também, Henrique? — pergunta mamãe. — Por que está com esta cara? Você não disse nada desde que saímos do evento.— Desça logo, mamãe! — peço ríspido.— Isso é jeito de falar comigo? Não foi essa a educação que te dei!— A senhora é a última pessoa que pode falar comigo sobre educação — digo com sarcasmo.— Ora, tudo isso é por causa daquela mulherzinha? — indaga lançando um olhar incrédulo para Cristina. — Ela precisava saber que não era bem-vinda ali.— Cale a boca, mamãe! — grito fazendo ela e Cristina saltarem no banco de trás. — A senhora não poderia ter dito aquelas coisas para Camila! Não pode dizer para
CamilaMEUS olhos se abrem preguiçosamente, tendo como primeira visão do dia o rosto sereno de Henrique, que ainda dorme ao meu lado. Não me recordo de em algum outro momento da minha vida ter acordado com um homem em minha cama. É estranho, e ao mesmo tempo, é muito bom.Deslizo meus dedos por sua barba, com cuidado para não despertá-lo. Algumas mechas onduladas caem sobre os seus olhos e eu as retiro. Ao contemplar sua face, sinto algo dentro de mim florescer. Nós mal nos conhecemos, e no entanto, é como se ele estivesse na minha vida desde o princípio.Um sorriso se desenha em minha face ao me recordar da noite que tivemos juntos. Ele fez exatamente o que disse que faria. Ele me comeu na cama, no banheiro, no chão e nas três mesas do quarto. Beijou-me com delicadeza e brutalidade, me masturbou e me proporcionou vários orgasmos vaginais somente por penetração.Henrique é um deus do sexo no sentido amplo do termo. Quase não deixou que eu o acaricias
HenriqueSÓ Deus sabe o quanto foi difícil para mim ouvir aquelas palavras de Camila. Porém sei que ela está coberta de razão. Não posso dizer que estou me apaixonando por ela e no entanto continuar casado com uma mulher por quem só nutro sentimentos de amizade e cuidado. Por que é tão complicado para mim por um fim a esse casamento? Por que Cristina continua comigo mesmo sabendo que eu não a desejo?Ligo o celular e a tela é tomada por mensagens de Cristina, querendo saber onde passei a noite. A última foi mandada há alguns minutos atrás dizendo que estava indo para a casa da minha mãe. Claro, o almoço de domingo.O sinal volta a abrir e eu me junto aos inúmeros veículos que dominam o tráfego do Jardim Paulistano. Ativo o sistema de voz do carro, sincronizado ao meu celular, e ligo para Marcone. Ele atende ao terceiro toque:— Eu disse a você, meu amigo — começa ele numa voz sonolenta —, você está literalmente de quatro por Camila.— Tod
HenriqueÉ quase cômica a distância que separa a casa da minha mãe da minha. A pé, o percurso não demoraria mais que dez minutos. Mas um leve congestionamento me tomou pouco mais de trinta minutos até chegar ao condomínio em que eu e Cristina moramos. Peguei somente algumas coisas que precisaria pelos próximos dias e saí antes que ela retornasse. Não queria ser confrontado por ela.Ter um escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima sempre foi um símbolo de orgulho para mim e Marcone. Não somente por ser um dos principais centros comerciais e financeiros de São Paulo, mas também por nosso escritório não ser apenas mais um na Avenida.Como era de se esperar, não havia nenhum funcionário além dos seguranças no escritório. Fui para a minha sala e adiantei a leitura de alguns processos e documentos que precisavam da minha assinatura, e depois, passei o resto da tarde em contato com corretores de imóveis. Agora, só me resta rezar para que Camila não imponha nenhum
CamilaAPRECIO a paisagem que me cerca através da janela do carro de Henrique. Tínhamos acordado às cinco da manhã para seguir sabe-se lá para onde. Se bem que acordar não é a palavra. Nós nos entregamos um ao outro por toda a noite. Estou ficando viciada. Tê-lo em minha cama, sentir o seu toque sobre a minha pele, a maciez de seus lábios, a sensação de completude quando ele investe fundo em mim... Eu estou me viciando nele. Só não sei ao certo se isso é bom ou ruim.Henrique para o carro em frente a um chalé, com sua fachada em pedras marrom. Ao redor, somente as árvores e as montanhas ao longe são testemunhas do nosso esconderijo. Ele desce do carro, faz a volta e abre a porta para mim.— Obrigada — agradeço apoiando-me na mão que ele estende para mim. — Então este é o seu plano? — pergunto colocando minhas mãos em volta da sua cintura. — Passarmos duas semanas neste lugar maravilhoso sem ninguém para nos atrapalhar?— Sim — responde puxando-
HenriqueO ipod de Camila reproduz uma canção alegre e dançante que domina toda a suíte. Saio do banheiro com uma toalha envolvendo os meus quadris e a encontro vestida numa camisa social branca minha, rebolando com os braços estendidos para cima no ritmo da música. Já tinha percebido o quanto Camila adora dançar. Sempre está ouvindo alguma batida envolvente e sensual. Ela se volta em minha direção e me lança um olhar lascivo. Fica de lado e coloca as mãos sobre os joelhos, remexendo os quadris lentamente em movimentos de vai e vem. Libero um suspiro pesado e percorro as mãos por meu cabelo molhado. Mal acabamos de ter a transa mais apaixonada entre nós dois e eu já estou louco de tesão por ela.— Vem aqui — pede num sussurro, estendendo sua mão para mim. Pego minha mão na sua e a abraço por trás. Ela roça sua bunda em minha pélvis sem o menor pudor. Coloco minhas mãos em seus quadris e começo a acompanhar o seu ritmo, a trazendo ainda mais para mim. Passo minha lí
CamilaVIRO meu corpo de lado e contemplo a beleza do homem que está deitado comigo na cama. Depois da foda insana que tivemos, dormimos, completamente exaustos. Olho para fora da janela e percebo que já está quase anoitecendo. Faço um esforço e levanto-me da cama devagar para não acordá-lo.Abro minha mala e pego um short moletom cinza, blusa de algodão com mangas branca e calcinha preta. Visto-me e apanho na bolsa meu elástico, prendendo meus cachos num rabo de cavalo frouxo. Calço minhas sandálias rasteiras e saio do quarto com o máximo de cuidado possível para não fazer barulho.Da varanda é possível apreciar o belo e confuso contraste de cores alaranjadas no céu, assemelhando-se a como se tornou a minha vida desde que Henrique apareceu. É errado, eu sei. Estar com ele vai contra a tudo que acredito. Mas eu não posso ser hipócrita. Estar ao lado de Henrique me faz bem. Eu estaria mentindo se dissesse o contrário. Claro, quando esta viagem chegar ao fim eu