Camila
EXCETUANDO os feriados, a Casa de Prazer funciona normalmente sete dias por semana. Antes de conhecer Henrique, eu passava praticamente todo o meu dia na Casa. Era a minha casa, literalmente. Não que eu vivesse em função do meu trabalho, mas sim porque lá sempre fora um espaço em que me senti livre para ser e dizer sem me importar com a opinião alheia. Porém com Henrique eu venho descobrindo que posso ser livre para ser e dizer ao lado dele. Ainda que não concordemos em tudo, nós sabemos que nos amamos e que não desejamos mal um para o outro, muito pelo contrário.
Com a chegada de Helena o nosso apartamento se tornou o nosso refúgio, nosso recanto de amor. E fazemos questão de estarmos juntos durante o fim de semana. Sem preocuparmo-nos com o trabalho ou com os problemas da sociedade que nos cerca. Somente nosso amor e nossa filha importam.Helena desprende seus pequenos lábios do meu seio; sua mãozinha agarrada firmemente ao tecido do meu vestido.
CristinaHÁ alguns meses atrás eu nunca imaginaria que chegaria a um sábado depois de uma semana cansativa de trabalho. Eu estou trabalhando há quase um mês na Secretaria de Assistência Social. No momento eu trabalho com pequenos projetos sociais e meu salário não é grande coisa. Mas só de saber que receberei pelo fruto do meu trabalho, pelo meu próprio esforço e dedicação, eu já me sinto imensamente feliz por isso.É estranho estar em casa e não ter os risos de Vitória e João preenchendo o ambiente. O silêncio deixou de ser minha zona de conforto. Agora prefiro o barulho. Sons ecoando pelo espaço. Ouvir o eco da minha voz pelos corredores. Papai pediu para que as crianças ficassem com ele durante o fim de semana, e eu consenti.A princípio estar sozinha em casa me fez ter coragem para dar o primeiro passo. Mas, neste momento, não sei se por insegurança ou por medo de encarar algo já quase desconhecido, gostaria que meus filhos estivessem aqui para que
CamilaNORMALMENTE eu coloco a razão à frente das minhas emoções. Porém se não fosse o meu egoísmo e desejo, se eu não tivesse deixado que tais sentimentos falassem mais alto que a razão, eu não teria me envolvido com Henrique e a minha vida não teria mudado tanto. Desfiz alguns conceitos e hoje eu sei que ser esposa e mãe não me apagam como mulher. Não tiram o controle que eu tenho sobre a minha vida e sobre o meu corpo. Encostada à parede, observo a decoração floral que domina o salão privativo da Casa de Prazer para o aniversário de um ano da minha filha. Minha mãe a segura em seu colo, cercada por Pérola, tia Malu e Rita, que quase discutem para decidir a quem Helena se referiu quando balbuciou "bobó".Quase ri quando notei o desconforto de Pérola ao entrar na Casa de Prazer, observando a cada centímetro do espaço como se buscasse algo que pudesse criticar, ainda que silenciosamente.Algumas das minhas funcionárias conversam animadamente
Por favor, me chame de putaSussurros abafadosCarícias veladas e sóNada além dissoTu achas que isso é suficiente?Por favor, me dê mais de você!Não sou de porcelanaPode me pegar firmeMe sintaMe toqueTu não sentes vergonhaem unir teu sexo ao meu,então por que não me provarcom tua língua?Eu posso ser pudica, ousada, instigantePosso ser o que eu quiserEu posso ser o meu próprio prazer,mas adoraria apreciar o gozoatravés da tua bocaMoralistas podem me apontar como putapor não camuflar o meu desejoPor favor, me chame de puta!Não tenho pudor algum em dizerque quero coabitar contigoEu quero que me tomesPor favor, me possua! Se por acaso não é capaz de fazeralgo tão simples, com licença,irei em busca de outrosJoelma Santos
São Paulo, 31 de julho de 2001CamilaOUÇO os gemidos da minha tia atravessarem a parede do meu quarto. Não consigo dormir. Levanto-me e vou até a sala, onde encontro mamãe assistindo a um filme qualquer.Mesmo com o barulho da TV, ainda é possível ouvir os gemidos da minha tia, e agora também os do seu namorado.— Mamãe, não consigo dormir — falo me aproximando dela, sem jeito.— Por que não, meu amor? — pergunta acariciando o meu rosto.— Esses barulhos que a titia faz... Por que ela geme tanto? — questiono, hesitante. Mamãe me observa com seus olhos verdes e atentos antes de responder:— Camila, você ainda é muito jovem, mas quando for mais velha irá entender — fala me oferecendo o seu sorriso gentil. — O que sua tia Malu está fazendo é dando e recebendo prazer do namorado dela — explica mamãe olhando nos meus olhos.— E isso é bom, mamãe? — pergunto erguendo uma sobrancelha.— É maravilhoso, querida! — res
São Paulo, 07 de fevereiro de 2017Henrique— EU estou bem. Agora podemos seguir em frente. — Isso foi o que Cristina me disse há sete anos atrás, após a sua cirurgia.Ela só ainda não sabia que não podia mais engravidar. Não sabia que seu útero precisou ser retirado para ela não morrer. Cristina sentiu fortes dores naquela noite e a levei direto para o hospital. Ela teve uma hemorragia grave e precisou ser operada com urgência.— Mioma — a médica me disse.Caso não fosse operada imediatamente, ela morreria. E se seu útero não fosse retirado, ela teria câncer. O que eu poderia fazer? Os médicos precisavam da minha autorização para seguir com o procedimento. Cristina estava inconsciente. Eu não tinha outra escolha a fazer. Ela tinha sofrido um aborto espontâneo alguns meses antes disso. Como falar a sua esposa que o seu maior desejo não poderia se realizar?Minha família e a de Cristina sempre foram muito próximas, e quando nos tornamos adolesc
HenriqueSIGO com meu carro logo atrás ao de Marcone, acompanhados por outros tantos veículos que dominam o tráfego do Jardim Europa. Achei que o tal bordel se localizasse em algum lugar periférico, mas, na verdade, encontra-se num dos bairros mais sofisticados de São Paulo. E, ironicamente, pertencente a mesma região em que moro e trabalho. Marcone para em frente a uma casa noturna, com sua fachada em tons neutros e o nome do local escrito numa caligrafia em estilo clássico que destaca: Casa de Prazer – Camila Monteiro. Ele desce do carro e entrega a chave para uma manobrista, e noto que há uma à minha espera também. Desprendo o cinto de segurança e saio do carro, estendendo a chave para a mulher que me cumprimenta com um leve aceno de cabeça.— Bem-vindo ao paraíso, meu amigo — elucida Marcone assim que adentramos ao local.Para a minha surpresa, a Casa de Prazer é um espaço luxuoso que ostenta bom gosto e clima agradável. Bem diferente do bordel i
CamilaALGUMAS pessoas têm uma visão deturpada de mim e da minha Casa de Prazer. Acham que aqui é um ponto de prostituição, e a Casa está muito longe disso. As atividades sexuais que acontecem aqui são completamente consensuais. Até porque o sexo só acontece se as mulheres quiserem, com quem elas quiserem e quando elas quiserem. Eu criei a Casa de Prazer com o intuito de oferecer um espaço desprendido de padrões sobre os corpos femininos. Um local em que podemos nos sentir livres para explorar todos os sentidos do prazer, segundo a nossa vontade e não a da sociedade patriarcalista.Além dos bares nos andares inferior e superior, temos um restaurante, salão de festas, e claro, os quartos de prazer, que são pagos pelos clientes que desejam utilizá-los. Os preços variam de acordo com a imaginação e criatividade de cada um. Há os quartos convencionais, quartos inspirados em fantasias eróticas, quartos com decoração romântica e quartos para os que gostam e pra
HenriqueANTES eu terei você. Que mulher é essa? Nunca conheci uma que fosse tão direta e determinada assim. Seus olhos brilham de desejo, e através deles, noto que os meus não estão diferentes. Não me recordo de já ter me sentido tão atraído por alguém...Uma parte de mim quer estar de joelhos diante dela e saborear cada parte do seu corpo. Mas uma outra grita que me envolver com essa mulher é um caminho quase sem volta. Além disso, eu não posso me esquecer de Cristina. Não seria justo com ela. O problema é que meu pau não está obedecendo à minha cabeça no momento.— Camila Monteiro — se apresenta estendendo a mão para mim —, mas isso você já deve saber — infere com um sorriso malicioso nos lábios.— Henrique Veiga — digo apertando sua mão. Uma onda de calor percorre todo o meu corpo com o simples contato de nossas peles. A tensão sexual entre nós é palpável.— Está sentindo também? — pergunta com seus olhos vidrados nos meus. — Nenh