Capítulo 9

Henrique

MEUS olhos se mantêm fixos no trânsito à minha frente, e mesmo aos sinais vermelhos, evito fazer qualquer tipo de contato visual com Cristina. 

Adentro ao condomínio e paro o carro em frente à casa da minha mãe esperando que ela desça, mas ela não desce. 

— Você não vai descer também, Henrique? — pergunta mamãe. — Por que está com esta cara? Você não disse nada desde que saímos do evento. 

— Desça logo, mamãe! — peço ríspido. 

— Isso é jeito de falar comigo? Não foi essa a educação que te dei! 

— A senhora é a última pessoa que pode falar comigo sobre educação — digo com sarcasmo. 

— Ora, tudo isso é por causa daquela mulherzinha? — indaga lançando um olhar incrédulo para Cristina. — Ela precisava saber que não era bem-vinda ali. 

— Cale a boca, mamãe! — grito fazendo ela e Cristina saltarem no banco de trás. — A senhora não poderia ter dito aquelas coisas para Camila! Não pode dizer para mulher nenhuma! Se não concorda com o modo de vida dela, ao menos respeite e guarde suas opiniões para si! 

— Como sabe o nome dela? — interroga Cristina, encontrando seu olhar com o meu através do espelho retrovisor. 

— Isso não importa — respondo, impassível. — Vamos, mamãe, desça logo — Ela bufa exasperada e desce batendo a porta do carro com força. Dou partida e saio sem olhar para trás.

Ao chegarmos em casa, eu vou direto para o banheiro e tranco a porta para não ser interrompido por Cristina. Tiro minhas roupas bruscamente e ligo o chuveiro, deixando a água fria vir de encontro à minha pele. Camila deve estar chateada comigo. Percebi quando ela disse àquelas palavras olhando diretamente para mim. Mas o que eu poderia ter feito? Desligo o chuveiro e vou para a banheira, ficando lá por minutos, horas talvez. Quando saio, encontro Cristina sentada na cama, trajando ainda o mesmo vestido azul que usou no evento. Ela folheia um álbum de fotos, e uma expressão tristonha toma conta do seu rosto. 

— O que está fazendo? — pergunto indo em direção ao closet. 

— Revendo as fotos do nosso casamento — responde com um suspiro. Fico paralisado por alguns segundos. Nós nos casamos há nove anos atrás. Éramos jovens e eu estava no sexto semestre de Direito. Cristina fazia Serviço Social, mas abandonou seu curso após o casamento, porque segundo nossas mães, uma boa esposa tinha que se dedicar exclusivamente ao lar e ao marido. Eu me lembrava bem desse dia por ser ele o maior arrependimento da minha vida. Eu subi ao altar com minha melhor amiga de infância. Uma pessoa que eu amava, mas não como mulher. 

Saio do closet vestindo meu terno de três peças vinho tinto e sapatos pretos. Passo a mão entre as mechas onduladas e as deixo despenteadas. Cristina ergue seu rosto do álbum e lança um olhar questionador para mim. Ela me observa da cabeça aos pés, e vislumbro o desejo surgindo em seus olhos. Quando nota que eu também a observo, fica vermelha, e desvia seu olhar rapidamente. — Vai sair? — pergunta sem olhar para mim.

— Vou — respondo.

— Sabe que horas vai voltar? 

— Não. E não precisa esperar por mim — aviso pegando minha carteira e chaves sobre a cômoda e saio sem olhar para trás. 

~~•~~

A Casa de Prazer está praticamente lotada. Provavelmente por ser sábado à noite. Visualizo Marcone no bar central, acompanhado pela mesma mulher de terça-feira. Bruna, se não me engano. Penso em cumprimentá-los, mas minha atenção é atraída para a mulher que sobe ao palco acompanhada por um homem que a envolve pela cintura. Camila. Ela está irresistível em um vestido longo dourado com uma abertura nas costas que vai até a base dos seus quadris. Os cachos estão presos em um coque sofisticado e saltos também dourados direcionam seus passos decididos e sensuais. O homem veste uma calça chumbo de suspensórios, o peitoral despido, sapatos pretos e seu cabelo Black Power está solto, ostentando volume. Meu olhar detém-se na mão que ele envolve possessivamente em torno da cintura de Camila. Sinto meu sangue ferver com a visão de outro homem a tocando desse modo. A música muda, juntamente com a iluminação do espaço, e a atenção de todos é voltada para eles. A mesma música que dançamos juntos. Ele a mantém bem próxima dele e Camila coloca suas mãos em seus quadris, segurando os suspensórios da calça. Eles têm praticamente a mesma altura, o que faz com que suas bocas fiquem quase se tocando. Eles dançam rebolando sensualmente numa coreografia elaborada. Os corpos se movimentando no mesmo ritmo como se já se conhecessem intimamente. Camila fica de costas e se esfrega nele, olhando diretamente para mim. As pessoas gritam e soltam assovios acompanhados por algumas palavras de cunho sexual. Minha vontade é subir neste palco e socar a cara do sujeito até deixá-lo desacordado. A música termina e todos na Casa aplaudem a performance dos dois. Eles fazem uma pequena reverência e saem do palco. O homem beija o pescoço de Camila e diz algo que a faz sorrir. Ele vai em direção à saída da Casa e Camila vem caminhando entre as mesas do bar, prendendo a atenção de vários homens e mulheres que a olham com desejo. Ela parece completamente alheia a eles, mantendo seu olhar fixo em mim. Quando está a poucos passos de onde estou, muda seu caminho para o corredor que leva ao último andar da Casa. Sem pensar, faço meu trajeto a passos largos em sua direção e a sigo. Camila anda lentamente até o elevador. Percebe minha proximidade, mas não olha para trás. Leva uma mão até a cabeça, e com um movimento simples, seu coque se desfaz e os cachos cor de mel caem em cascatas sobre suas costas. Ela sabe exatamente como me fazer perder a sanidade e o controle sobre mim. Entra no elevador ainda de costas e espera. Adentro também ao pequeno espaço, inalando uma inspiração profunda, e ela aperta o botão de subida.

— Que merda foi aquela? — esbravejo segurando sua cintura e a virando para mim.

— Uma dança — responde sarcástica, olhando fixamente nos meus olhos. Trago-a para mim, pressionando seu corpo ao meu, fazendo-a sentir minha ereção crescente. 

— Você não pode dançar daquele jeito com outro homem. Não pode deixar que outro homem te toque assim — Ela leva sua mão até o meu cabelo e o puxa com força, me fazendo liberar um grunhido. 

— Eu posso sim — responde decidida. — Você não manda em mim. Eu não pertenço a você. Eu não sou sua propriedade. 

— Você fez de propósito, não foi? — questiono. — Para se vingar de mim? 

— Fiz — Meneia a cabeça dando um sorriso lascivo.

O elevador para e ela se desprende do meu toque, indo com passos calculados até a porta do seu quarto, e eu a sigo. Pega a chave em seu colar, abre a porta e adentra ao cômodo. Entro também no quarto e fecho a porta com força. 

— Você quis me deixar louco de ciúmes? — grito. — Parabéns, você conseguiu! Minha vontade é acabar com aquele sujeito! 

— Você não vai encostar um dedo em Caíque! — grita de volta.

— Caíque? Quem é ele? Um cliente especial seu? — interpelo com desprezo. — Você é mesmo uma puta! 

— Acha que isso para mim é uma ofensa? — questiona, aproximando-se. — Este é o problema da sociedade. Pega palavras inofensivas e atribuem significados que, para ela, inferiorizam a imagem da mulher. Pois saiba que para mim ser puta não é uma ofensa, Henrique. Mesmo que quando você diga essa palavra queira dizer que eu sou uma mulher fácil que se entrega a qualquer homem, ainda assim, para mim, não é uma ofensa. Eu fico com os homens que eu quiser, quando eu quiser. E isso não faz de mim uma mulher fácil; faz de mim uma mulher que sabe o que quer e quem quer. E só para você saber, Caíque é meu amigo. Meu melhor amigo. Ele não tem nenhum interesse sexual em mim. Acredite, é mais fácil ele está interessado por você — debocha com a mágoa refletida em seu olhar. 

— Me desculpe, Camila — peço acariciando o seu rosto. — Eu não queria te ofender. Só não aguentei ver outro homem te tocando daquela forma, te sentindo tão perto. 

— Você quis ofender, sim — afirma rispidamente, tentando se afastar do meu toque. — Pode ir embora, Henrique. Volte para o seu casamento de fachada e para a mulher que, com certeza, deve acatar às suas vontades. 

 

— Não — protesto levando minha mão direita à sua nuca. — Eu quero ficar aqui. Com você.

— Eu não vou ser sua amante — retorque, impassível.

— Você é minha mulher — afirmo encostando minha testa na sua. 

— Não é comigo que você é casado. Não é comigo que você dorme todas as noites — elucida com seus olhos fixos nos meus. 

— Cristina só é minha esposa no papel. Nós não transamos há mais de sete anos. Eu nem sequer a beijo. 

— Então por que não se separa? — interroga.

— Não é simples assim — desconverso. 

— É simples sim! Qualquer advogado pode te dizer isso melhor do que eu. 

— Eu sou advogado.

— Vai me dizer que é da vara de família também? — pergunta ironicamente. 

— Não, empresarial — explico. — Por favor, Camila, me deixe ficar. Me deixe sentir você — peço roçando meu nariz ao seu. — Me deixe mostrar o quanto te quero, o quanto a desejo, o quanto você tem poder sobre mim — Passo minha língua no seu lábio inferior e a trago para mais perto, fazendo-a sentir minha ereção. Ela abre a boca com um gemido e eu me aposso dos seus lábios, deslizando delicadamente minha língua em sua boca. Camila se rende ao meu toque e retribui o beijo com a mesma intensidade. Acaricio suas costas com a ponta dos meus dedos, e com a outra mão aperto sua bunda, trazendo-a mais e mais para mim. 

— Eu deveria me afastar de você — sussurra quando nos afastamos, ofegantes. — Você está fazendo muita bagunça na minha vida. Está fazendo com que eu quebre as minhas próprias regras. Mas... Eu não consigo. Eu quero você — confessa acariciando o meu rosto.

—  Eu também te quero. E a menos que você me mande embora agora, é com você que quero ficar. 

— Eu não consigo te deixar ir — diz com um suspiro.

— Não deixe — imploro.

Levo minhas mãos ao seu pescoço, abro o fecho do seu vestido e o deixo deslizar por seu corpo. Ela fica ainda mais linda de calcinha preta e saltos dourados. 

— Pare de me olhar com esta cara de bobo — pede sorrindo. — Você é uma tentação de terno, mas eu quero você completamente nu para mim — fala mordendo os lábios. 

— Seu pedido é uma ordem — acato depositando um beijo carinhoso em seus lábios. 

Camila se afasta a um passo de mim, retira os sapatos e calcinha e vai até a cama, sentando-se na beirada.

— Agora, Henrique — ordena. Assinto para ela e me inclino para baixo, começando primeiro pela retirada dos sapatos e meias. Ergo-me e retiro lentamente peça por peça do terno. Camila me lança um sorriso malicioso, batendo palmas para a minha performance. Desabotoo minha calça e a desço para baixo com minha boxer num só movimento. — Você é tão gostoso, Henrique — fala lambendo os lábios. — Me mostre agora o quanto me quer — Aproximo-me dela e a tiro da cama, trazendo-a para o meu colo. Camila envolve suas pernas em meus quadris, e com um movimento preciso, penetro-a por inteiro e a faço soltar um grito de surpresa. Mantenho-a parada, segurando-a no lugar com minhas mãos em volta da sua bunda. 

— Está sentindo o quão duro estou? — pergunto mordendo o seu lábio inferior. — Você é a única mulher capaz de me deixar assim — Capturo seus lábios aos meus e a beijo duro, começando a me movimentar dentro dela. Camila encaixa seus braços em meu pescoço e eu deslizo minhas mãos para as suas coxas, permitindo que ela também se movimente. Libero seus lábios e levo minha boca para o seu seio esquerdo, chupando-o delicadamente e mordiscando, sem interromper o ritmo das estocadas dentro dela. Ela geme sem o menor pudor e continua subindo e descendo em meu pau, caminhando juntos ao ápice. Volto minhas mãos para a sua bunda e a pressiono ainda mais para mim quando sinto o aperto da sua vagina em torno do meu pau. 

— Henrique, eu vou... — Ela explode num orgasmo intenso, com os tremores percorrendo todo o seu corpo. Com mais algumas investidas, eu  gozo  dentro dela, gemendo alto. Camila goza mais uma vez com as vibrações que tomam conta do meu corpo, sussurrando o meu nome. O suor toma conta dos nossos corpos, e ficamos parados até que nossas respirações voltem ao seu ritmo normal. 

— Nunca pensei que uma foda em pé pudesse ser tão intensa — balbucia com seus lábios roçando em meu pescoço. Sorrio e mordisco a ponta do seu queixo. 

— Nós mal começamos. Ainda temos a cama, o banheiro, a mesa, o chão...

— Ai, meu Deus, eu criei um monstro! — exclama, divertida.

— Com toda a certeza — digo nos conduzindo até a cama, deitando-me sobre ela. — Eu vou comer você — aviso distribuindo beijos em seu pescoço — a noite toda.

— Você vai dormir aqui? — pergunta, surpresa.

— Só não irei se você não quiser. 

— Mas e a  — interrompo sua frase com um beijo. 

— Mais nada. Se você quiser, eu darei prazer a cada centímetro do seu corpo por toda a noite. Você quer? — Ela assente para mim em afirmativa. — Ótimo! Então vamos começar pela cama, e depois, o banheiro.

— Começar? — pergunta com seu sorriso atrevido. — Pensei que já tivéssemos começado.

— Aquilo foi só um aquecimento — informo sorrindo feito um bobo e começo a me movimentar dentro dela, de novo e de novo.  

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