Camila
A claridade que invade o quarto através da abertura circular envidraçada no teto incomoda os meus olhos. Abro-os preguiçosamente, acompanhados por um sorriso bobo. Involuntariamente, minha mão alcança o travesseiro ao lado, mas eu sei que ele não está aqui.
Eu estava quase adormecendo quando vi Henrique ir embora, deixando um beijo carinhoso em meu rosto antes de sair. Seu cheiro amadeirado domina minha pele, e é quase como se eu ainda pudesse senti-lo entre minhas pernas. Meu celular toca mais uma vez ao som do alarme e eu o desativo. Todas as quartas-feiras, eu e minha mãe tomamos café da manhã numa padaria que fica bem próxima à Casa de Prazer. É quase como um ritual nosso.Levanto da cama e conduzo os meus passos para o banheiro, faço minha higiene pessoal e finalizo meus cachos com uma fitagem rápida. No closet, escolho uma combinação de lingerie e saltos pretos, saia lápis marrom e blusa verde esmeralda. Arrumo-me o mais rápido que posso, e antes de voltar à minha realidade, pouso os meus olhos uma última vez sobre a cama e tento afastar da minha mente as lembranças da noite anterior.~~•~~
Chego à cafeteria trinta minutos mais tarde e encontro minha mãe já à minha espera em nossa costumeira mesa de canto, numa área mais reservada do local. Ela sorri ao me ver e levanta-se de sua cadeira para me cumprimentar.
— Bom dia, mãe — cumprimento-lhe dando um beijo no rosto.
— Bom dia, querida — Ela retribui o beijo e segura o meu rosto com ambas as mãos, olhando fixamente nos meus olhos. — Quem é ele?
— Quem é ele o quê? — desconverso afastando meu olhar dos seus olhos atentos e puxando a cadeira para me sentar. Ela segue os meus movimentos e volta a tomar o seu lugar.
— Não me esconda, Camila — pede incisiva —, eu reconheço uma mulher satisfeita sexualmente quando vejo uma.
— Não sei bem quem ele é — respondo sinceramente. — Ele esteve na Casa pela primeira vez ontem e ficamos juntos.
— Faz tempo que não vejo você assim tão radiante — observa. — E você não costuma ficar com os homens que vão à Casa pela primeira vez.
— Também não costumo ficar com homens casados — disparo de uma vez. Minha mãe me lança um olhar perplexo. Abre a boca para falar, mas a fecha novamente com a chegada da garçonete.
— Bom dia. As senhoras já querem fazer os seus pedidos? — pergunta a moça nos dando um sorriso gentil.
— Sim — respondo. — Quero um café preto e duas fatias de torta de limão, por favor.
— Certo. E a senhora? — pergunta dirigindo-se à minha mãe.
— O mesmo para mim — responde sem olhar para ela.
— Tudo bem. Em instantes trago os seus pedidos — informa, retirando-se.
— Como assim ele é casado? — volta minha mãe a interpelar. — Você não fica com homens casados, minha filha! Ao menos, não ficava.
— Eu sei, mãe. Não pretendo ser pivô do término de ninguém, muito menos ser considerada uma amante. A senhora sabe que raramente me envolvo com o mesmo homem mais de uma vez.
— Sim, eu sei. E é por isso que não entendo a sua atitude.
— Com ele foi diferente — explico. — Sentimos uma atração mútua muito forte. Como se nossos corpos já se conhecessem. E além disso, ele não me pareceu feliz com seu casamento. Devem estar se separando... E não me olhe assim, mãe. Acho difícil voltar a vê-lo na Casa.
— E se for, você vai ficar com ele novamente? — questiona. Penso a respeito e não sei o quê lhe responder. Felizmente sou salva pela chegada da garçonete com nossos pedidos. Levo um pedaço de torta à boca, deliciando-me com seu maravilhoso sabor, sentindo-a desmanchar em minha língua. O que me lembra o apetitoso pau de Henrique... Aperto minhas coxas instintivamente com a lembrança.
— A propósito — elucida minha mãe com seu café em mãos —, temos um evento a comparecer neste fim de semana. Daquele orfanato que você ajuda.
— A senhora não pode ir sem mim? — peço lembrando-me dos olhares furtivos que recebi de algumas voluntárias do orfanato no último evento deles em que estive.
— Claro que não. Você doa uma quantia generosa todos os meses para aquele orfanato, portanto tem que comparecer. Sei que você está pensando no comportamento daquelas mulheres com você no último evento, e sei que não gosta de discussões, mas você deve ir, minha filha. Duvido que alguma delas faça um terço do que você faz por aquelas crianças.
— Eu sei, mãe. Eu só prefiro evitar conflitos, só isso. Mas eu vou sim. Pelas crianças, eu vou. Não tenho vergonha do que faço e de quem eu sou. Elas podem até não gostar de mim, mas deviam aprender a ao menos respeitar as escolhas dos outros.
— Era isso o que eu esperava ouvir de você, meu amor — elucida oferecendo-me seu sorriso gentil. Sorrio de volta para ela e tento terminar o nosso café sem que minha imaginação me leve de volta para o meu quarto.
HenriqueO clima fresco e agradável juntamente com a iluminação natural do fim de tarde fornecem ao evento do orfanato um clima acolhedor. Algumas pessoas circulam em torno do jardim, mas a maioria encontra-se sentada às mesas com tendas ornamentadas.Cristina observa as crianças que brincam e correm ao redor com brilho nos olhos. Eu quase posso ler seus pensamentos. Ela vê essas crianças e imagina que o filho que perdemos estaria agora com esta idade e poderia estar brincando com essas outras crianças. Sem pensar, pego sua mão e a aperto. Ela volta seu olhar para mim e me dá um sorriso triste, acompanhado por uma lágrima solitária que escorre pelo seu rosto.— Se quiser, podemos ir embora — ofereço.— Não, eu estou bem — responde rapidamente, erguendo sua outra mão para secar a lágrima do rosto. Ela volta a se concentrar nas crianças e eu libero minha mão da sua.Eu não sinto falta de ter uma criança em casa, nem fico com este olhar amoroso de Cristina
CamilaA esposa de Henrique direciona seu olhar para nós com uma expressão confusa. Percebo que ele está tenso e não sabe o que fazer. Divirto-me internamente com a situação. Ela não pode ser tão idiota. Deve saber reconhecer uma mulher que acabou de ter um orgasmo de contorcer os dedos dos pés. Mas, ainda assim, decido testá-la:— Muito obrigada — agradeço a Henrique. Ele me olha confuso e parece não entender. — Se você não me segurasse, eu teria caído. Acho que minha pressão baixou de repente — continuo dissimuladamente. Henrique parece finalmente entender a minha cena e entra também em ação:— Não precisa agradecer — diz acenando de leve, tirando com relutância sua mão da minha cintura.A esposa dele atenua a expressão. Aparentemente tentando convencer a si mesma de que seja essa a verdade. — Algum problema, Cristina? — pergunta ainda de costas para ela.— Você demorou... — explica hesitante. — Fiquei preocupada.Merda. Ela realment
HenriqueMEUS olhos se mantêm fixos no trânsito à minha frente, e mesmo aos sinais vermelhos, evito fazer qualquer tipo de contato visual com Cristina.Adentro ao condomínio e paro o carro em frente à casa da minha mãe esperando que ela desça, mas ela não desce.— Você não vai descer também, Henrique? — pergunta mamãe. — Por que está com esta cara? Você não disse nada desde que saímos do evento.— Desça logo, mamãe! — peço ríspido.— Isso é jeito de falar comigo? Não foi essa a educação que te dei!— A senhora é a última pessoa que pode falar comigo sobre educação — digo com sarcasmo.— Ora, tudo isso é por causa daquela mulherzinha? — indaga lançando um olhar incrédulo para Cristina. — Ela precisava saber que não era bem-vinda ali.— Cale a boca, mamãe! — grito fazendo ela e Cristina saltarem no banco de trás. — A senhora não poderia ter dito aquelas coisas para Camila! Não pode dizer para
CamilaMEUS olhos se abrem preguiçosamente, tendo como primeira visão do dia o rosto sereno de Henrique, que ainda dorme ao meu lado. Não me recordo de em algum outro momento da minha vida ter acordado com um homem em minha cama. É estranho, e ao mesmo tempo, é muito bom.Deslizo meus dedos por sua barba, com cuidado para não despertá-lo. Algumas mechas onduladas caem sobre os seus olhos e eu as retiro. Ao contemplar sua face, sinto algo dentro de mim florescer. Nós mal nos conhecemos, e no entanto, é como se ele estivesse na minha vida desde o princípio.Um sorriso se desenha em minha face ao me recordar da noite que tivemos juntos. Ele fez exatamente o que disse que faria. Ele me comeu na cama, no banheiro, no chão e nas três mesas do quarto. Beijou-me com delicadeza e brutalidade, me masturbou e me proporcionou vários orgasmos vaginais somente por penetração.Henrique é um deus do sexo no sentido amplo do termo. Quase não deixou que eu o acaricias
HenriqueSÓ Deus sabe o quanto foi difícil para mim ouvir aquelas palavras de Camila. Porém sei que ela está coberta de razão. Não posso dizer que estou me apaixonando por ela e no entanto continuar casado com uma mulher por quem só nutro sentimentos de amizade e cuidado. Por que é tão complicado para mim por um fim a esse casamento? Por que Cristina continua comigo mesmo sabendo que eu não a desejo?Ligo o celular e a tela é tomada por mensagens de Cristina, querendo saber onde passei a noite. A última foi mandada há alguns minutos atrás dizendo que estava indo para a casa da minha mãe. Claro, o almoço de domingo.O sinal volta a abrir e eu me junto aos inúmeros veículos que dominam o tráfego do Jardim Paulistano. Ativo o sistema de voz do carro, sincronizado ao meu celular, e ligo para Marcone. Ele atende ao terceiro toque:— Eu disse a você, meu amigo — começa ele numa voz sonolenta —, você está literalmente de quatro por Camila.— Tod
HenriqueÉ quase cômica a distância que separa a casa da minha mãe da minha. A pé, o percurso não demoraria mais que dez minutos. Mas um leve congestionamento me tomou pouco mais de trinta minutos até chegar ao condomínio em que eu e Cristina moramos. Peguei somente algumas coisas que precisaria pelos próximos dias e saí antes que ela retornasse. Não queria ser confrontado por ela.Ter um escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima sempre foi um símbolo de orgulho para mim e Marcone. Não somente por ser um dos principais centros comerciais e financeiros de São Paulo, mas também por nosso escritório não ser apenas mais um na Avenida.Como era de se esperar, não havia nenhum funcionário além dos seguranças no escritório. Fui para a minha sala e adiantei a leitura de alguns processos e documentos que precisavam da minha assinatura, e depois, passei o resto da tarde em contato com corretores de imóveis. Agora, só me resta rezar para que Camila não imponha nenhum
CamilaAPRECIO a paisagem que me cerca através da janela do carro de Henrique. Tínhamos acordado às cinco da manhã para seguir sabe-se lá para onde. Se bem que acordar não é a palavra. Nós nos entregamos um ao outro por toda a noite. Estou ficando viciada. Tê-lo em minha cama, sentir o seu toque sobre a minha pele, a maciez de seus lábios, a sensação de completude quando ele investe fundo em mim... Eu estou me viciando nele. Só não sei ao certo se isso é bom ou ruim.Henrique para o carro em frente a um chalé, com sua fachada em pedras marrom. Ao redor, somente as árvores e as montanhas ao longe são testemunhas do nosso esconderijo. Ele desce do carro, faz a volta e abre a porta para mim.— Obrigada — agradeço apoiando-me na mão que ele estende para mim. — Então este é o seu plano? — pergunto colocando minhas mãos em volta da sua cintura. — Passarmos duas semanas neste lugar maravilhoso sem ninguém para nos atrapalhar?— Sim — responde puxando-
HenriqueO ipod de Camila reproduz uma canção alegre e dançante que domina toda a suíte. Saio do banheiro com uma toalha envolvendo os meus quadris e a encontro vestida numa camisa social branca minha, rebolando com os braços estendidos para cima no ritmo da música. Já tinha percebido o quanto Camila adora dançar. Sempre está ouvindo alguma batida envolvente e sensual. Ela se volta em minha direção e me lança um olhar lascivo. Fica de lado e coloca as mãos sobre os joelhos, remexendo os quadris lentamente em movimentos de vai e vem. Libero um suspiro pesado e percorro as mãos por meu cabelo molhado. Mal acabamos de ter a transa mais apaixonada entre nós dois e eu já estou louco de tesão por ela.— Vem aqui — pede num sussurro, estendendo sua mão para mim. Pego minha mão na sua e a abraço por trás. Ela roça sua bunda em minha pélvis sem o menor pudor. Coloco minhas mãos em seus quadris e começo a acompanhar o seu ritmo, a trazendo ainda mais para mim. Passo minha lí