Henrique
CHEGO em casa já passando da meia-noite com meus pensamentos completamente voltados para Camila. Aquela mulher fez coisas comigo que nunca pensei que pudessem ser feitas tão descaradamente e sem o menor pudor. E me fez fazer com ela coisas que eu nunca tinha feito com a minha esposa quando ainda transávamos.
— Henrique, você chegou — fala Cristina para mim com sua voz grogue de sono quando adentro ao quarto.
— Desculpe, não queria te acordar — respondo tentando não estabelecer um contato visual com ela.
— Onde você estava? Você não costuma chegar tão tarde.
— Saí com Marcone para um bar depois do trabalho — respondo ao entrar no banheiro. Tiro minhas roupas e ligo o chuveiro, permitindo que a água quente lave do meu corpo o cheiro inebriante de sexo e Camila.
— Você não costuma beber — elucida Cristina, detendo-se na porta aberta do banheiro. Posso ver o desejo em seu olhar ao vislumbrar o meu corpo nu. Mas ela jamais diria isso em alto e bom som. Jamais diria que queria ser fodida com vontade por mim. Afinal, ela foi educada para atender às necessidades do marido e não as dela. A sentir vergonha e não tesão em falar abertamente sobre sexo. E era isso o que eu acreditava ser a atitude esperada por uma mulher de respeito, até ouvir de Camila o quanto ela queria me ter dentro dela. — Desculpe — pede desviando seus olhos do meu corpo.
— Sem problema — respondo ao sair do chuveiro. — Pode pegar para mim? — peço apontando para a toalha.
— Claro — Ela me entrega a toalha e fixa seu olhar por um tempo em meu pau. Cristina é uma mulher muito bonita, com seus olhos e cabelos negros compridos que emolduram o seu rosto delicado. Muitos homens a admiram e me dizem que sou um homem de sorte por ser casado com ela, mas eu, no entanto, nunca consegui enxergá-la como mulher. Recebo a toalha de sua mão e envolvo-a em meus quadris. Cristina fica vermelha e sai do banheiro seguida por mim.
— Fomos comemorar uma causa importante que ganhamos no escritório — falo respondendo à sua pergunta anterior, tentando fazer com que minha voz não falhe com a mentira que profiro.
— Tudo bem... Só fiquei preocupada porque você não costuma chegar tão tarde — observa.
— Esqueci de ligar avisando, desculpe — peço ao sair do closet vestido com minha calça de moletom cinza.
Apago as luzes do quarto, caminho até a cama e deito-me ao seu lado de um modo que nossos corpos não se toquem. Nunca me senti tão sujo, e, ao mesmo tempo, não consigo me arrepender por tê-la traído.— Sua mãe ligou — informa voltando seu rosto para mim. — Ela queria saber se nós vamos ao evento beneficente em prol das crianças daquele orfanato ajudado pela igreja. Vai ser no fim de semana. Eu disse a ela que íamos, fiz mal?
— Claro que não, vamos sim.
— Ela também voltou àquele assunto... Sobre adotarmos um bebê — Fico paralisado. Já tinha falado com minha mãe sobre isso, mas ela não desistia. Ela achava que já estava mais do que na hora de termos um filho, e se Cristina não podia gerar um, devíamos recorrer a adoção.
— Já conversamos sobre isso, Cristina. Não quero mais falar sobre esse assunto — A mágoa se faz presente em seu olhar. Sei que ser mãe é o seu maior sonho, mas isso não está nos meus planos. Na verdade, nunca me imaginei sendo pai, em constituir uma família. Isso é algo que nunca vislumbrei para mim. O casamento é algo necessário, mas ter filhos com uma mulher que não amo está fora do meu planejamento.
— Me desculpe, Henrique. Mas você sabe o quanto sua mãe quer ter um neto. E você sabe que isso eu não posso dar para ela — responde com seus olhos tristonhos.
— Ainda que pudesse, Cristina — digo ríspido —, eu não quero ter filhos. Chega desse assunto.
— Me descu...
— Pare de se desculpar, pelo amor de Deus! — grito, interrompendo-a. — Eu sou seu marido e não seu chefe para você ficar se desculpando o tempo todo.
— Será mesmo, Henrique? — pergunta não mais controlando suas lágrimas.
— Será mesmo o quê?
— Que você ainda é o meu marido? — Fixo meu olhar em seus olhos escuros sem nenhuma palavra sair da minha boca. Eu não sei o quê lhe responder. Tudo o que faço é virar-me de costas para ela e fechar os olhos, com seus soluços embalando o meu sono.
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— Posso reconhecer um homem satisfeito quando vejo um — ironiza Marcone ao entrar na minha sala.
— Devo dizer o mesmo para você — Ele abre um sorriso malicioso, sentando-se em frente a mim.
— A Bruna é sensacional — fala com a paixão estampada em seu olhar. — Ela acabou comigo. Literalmente. Quando voltamos ao bar, eu não te vi mais na mesa. Com quem você estava?
— Camila Monteiro — respondo com um sorriso nos lábios. Marcone tem um sobressalto e olha para mim espantado.
— O caralho que estava! Como assim de primeira você é escolhido por ela? — questiona, incrédulo.
— Ah, cala a boca. Aconteceu. Não tinha como evitar. Camila é irresistível, linda, atrevida, sexy...
— E este olhar no seu rosto me diz que você está de quatro por ela, meu amigo. Justamente pela mulher que você não deveria.
— Não deveria por quê? — pergunto, encarando-o.
— Porque todos os frequentadores da Casa sabem que Camila não é mulher de se estar presa a um único homem.
— Você não entende, Marcone. A química entre nós é muito forte. Ela realmente se entregou para mim.
— Bom, nesse caso é melhor eu te lembrar que você não é um homem livre. Você está em um casamento arruinado, mas não pretende por um fim a ele, e tenho certeza que Camila percebeu que seu relacionamento não está bem, não é mesmo?
— Percebeu sim. Mas o que isso tem a ver?
— Eu frequento a Casa e admiro aquela mulher há muito tempo para saber que ela não costuma se envolver com homens casados. Acredito que você tenha sido uma exceção... Ela deve pensar que vocês estão se separando — conclui com uma expressão pensativa.
— Isso não faz sentido, Marcone — indago, ficando de pé. — Você fala como se Camila quisesse algo sério entre nós dois depois de dizer que ela não é mulher de prender-se a um único homem.
— Só estou dizendo que Camila tem suas próprias regras e uma delas é não se envolver com homens casados. Você vai perceber isso com o tempo — avisa ao se levantar para sair.
— Não vai acontecer novamente — afirmo. Marcone interrompe seus passos, detendo-se no lugar e voltando o olhar para mim. — Você sabe que antes de ontem eu nunca tinha traído Cristina. E mesmo que nosso casamento seja arruinado, como você diz, eu não pretendo voltar a traí-la e nem pretendo por um fim a ele. Eu a prometi diante do altar estar ao seu lado enquanto vivêssemos, e é assim que vai ser — digo com convicção. Marcone me analisa atentamente e volta a seguir em direção à porta, mas vira-se para me olhar mais uma vez antes de sair da sala.
— Não é a mim quem você está tentando convencer disso, Henrique — observa e sai porta afora, fazendo com que eu me sinta ainda pior pelo que fiz.
CamilaA claridade que invade o quarto através da abertura circular envidraçada no teto incomoda os meus olhos. Abro-os preguiçosamente, acompanhados por um sorriso bobo. Involuntariamente, minha mão alcança o travesseiro ao lado, mas eu sei que ele não está aqui.Eu estava quase adormecendo quando vi Henrique ir embora, deixando um beijo carinhoso em meu rosto antes de sair. Seu cheiro amadeirado domina minha pele, e é quase como se eu ainda pudesse senti-lo entre minhas pernas.Meu celular toca mais uma vez ao som do alarme e eu o desativo. Todas as quartas-feiras, eu e minha mãe tomamos café da manhã numa padaria que fica bem próxima à Casa de Prazer. É quase como um ritual nosso.Levanto da cama e conduzo os meus passos para o banheiro, faço minha higiene pessoal e finalizo meus cachos com uma fitagem rápida. No closet, escolho uma combinação de lingerie e saltos pretos, saia lápis marrom e blusa verde esmeralda. Arrumo-me o mais rápido que posso, e antes de
HenriqueO clima fresco e agradável juntamente com a iluminação natural do fim de tarde fornecem ao evento do orfanato um clima acolhedor. Algumas pessoas circulam em torno do jardim, mas a maioria encontra-se sentada às mesas com tendas ornamentadas.Cristina observa as crianças que brincam e correm ao redor com brilho nos olhos. Eu quase posso ler seus pensamentos. Ela vê essas crianças e imagina que o filho que perdemos estaria agora com esta idade e poderia estar brincando com essas outras crianças. Sem pensar, pego sua mão e a aperto. Ela volta seu olhar para mim e me dá um sorriso triste, acompanhado por uma lágrima solitária que escorre pelo seu rosto.— Se quiser, podemos ir embora — ofereço.— Não, eu estou bem — responde rapidamente, erguendo sua outra mão para secar a lágrima do rosto. Ela volta a se concentrar nas crianças e eu libero minha mão da sua.Eu não sinto falta de ter uma criança em casa, nem fico com este olhar amoroso de Cristina
CamilaA esposa de Henrique direciona seu olhar para nós com uma expressão confusa. Percebo que ele está tenso e não sabe o que fazer. Divirto-me internamente com a situação. Ela não pode ser tão idiota. Deve saber reconhecer uma mulher que acabou de ter um orgasmo de contorcer os dedos dos pés. Mas, ainda assim, decido testá-la:— Muito obrigada — agradeço a Henrique. Ele me olha confuso e parece não entender. — Se você não me segurasse, eu teria caído. Acho que minha pressão baixou de repente — continuo dissimuladamente. Henrique parece finalmente entender a minha cena e entra também em ação:— Não precisa agradecer — diz acenando de leve, tirando com relutância sua mão da minha cintura.A esposa dele atenua a expressão. Aparentemente tentando convencer a si mesma de que seja essa a verdade. — Algum problema, Cristina? — pergunta ainda de costas para ela.— Você demorou... — explica hesitante. — Fiquei preocupada.Merda. Ela realment
HenriqueMEUS olhos se mantêm fixos no trânsito à minha frente, e mesmo aos sinais vermelhos, evito fazer qualquer tipo de contato visual com Cristina.Adentro ao condomínio e paro o carro em frente à casa da minha mãe esperando que ela desça, mas ela não desce.— Você não vai descer também, Henrique? — pergunta mamãe. — Por que está com esta cara? Você não disse nada desde que saímos do evento.— Desça logo, mamãe! — peço ríspido.— Isso é jeito de falar comigo? Não foi essa a educação que te dei!— A senhora é a última pessoa que pode falar comigo sobre educação — digo com sarcasmo.— Ora, tudo isso é por causa daquela mulherzinha? — indaga lançando um olhar incrédulo para Cristina. — Ela precisava saber que não era bem-vinda ali.— Cale a boca, mamãe! — grito fazendo ela e Cristina saltarem no banco de trás. — A senhora não poderia ter dito aquelas coisas para Camila! Não pode dizer para
CamilaMEUS olhos se abrem preguiçosamente, tendo como primeira visão do dia o rosto sereno de Henrique, que ainda dorme ao meu lado. Não me recordo de em algum outro momento da minha vida ter acordado com um homem em minha cama. É estranho, e ao mesmo tempo, é muito bom.Deslizo meus dedos por sua barba, com cuidado para não despertá-lo. Algumas mechas onduladas caem sobre os seus olhos e eu as retiro. Ao contemplar sua face, sinto algo dentro de mim florescer. Nós mal nos conhecemos, e no entanto, é como se ele estivesse na minha vida desde o princípio.Um sorriso se desenha em minha face ao me recordar da noite que tivemos juntos. Ele fez exatamente o que disse que faria. Ele me comeu na cama, no banheiro, no chão e nas três mesas do quarto. Beijou-me com delicadeza e brutalidade, me masturbou e me proporcionou vários orgasmos vaginais somente por penetração.Henrique é um deus do sexo no sentido amplo do termo. Quase não deixou que eu o acaricias
HenriqueSÓ Deus sabe o quanto foi difícil para mim ouvir aquelas palavras de Camila. Porém sei que ela está coberta de razão. Não posso dizer que estou me apaixonando por ela e no entanto continuar casado com uma mulher por quem só nutro sentimentos de amizade e cuidado. Por que é tão complicado para mim por um fim a esse casamento? Por que Cristina continua comigo mesmo sabendo que eu não a desejo?Ligo o celular e a tela é tomada por mensagens de Cristina, querendo saber onde passei a noite. A última foi mandada há alguns minutos atrás dizendo que estava indo para a casa da minha mãe. Claro, o almoço de domingo.O sinal volta a abrir e eu me junto aos inúmeros veículos que dominam o tráfego do Jardim Paulistano. Ativo o sistema de voz do carro, sincronizado ao meu celular, e ligo para Marcone. Ele atende ao terceiro toque:— Eu disse a você, meu amigo — começa ele numa voz sonolenta —, você está literalmente de quatro por Camila.— Tod
HenriqueÉ quase cômica a distância que separa a casa da minha mãe da minha. A pé, o percurso não demoraria mais que dez minutos. Mas um leve congestionamento me tomou pouco mais de trinta minutos até chegar ao condomínio em que eu e Cristina moramos. Peguei somente algumas coisas que precisaria pelos próximos dias e saí antes que ela retornasse. Não queria ser confrontado por ela.Ter um escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima sempre foi um símbolo de orgulho para mim e Marcone. Não somente por ser um dos principais centros comerciais e financeiros de São Paulo, mas também por nosso escritório não ser apenas mais um na Avenida.Como era de se esperar, não havia nenhum funcionário além dos seguranças no escritório. Fui para a minha sala e adiantei a leitura de alguns processos e documentos que precisavam da minha assinatura, e depois, passei o resto da tarde em contato com corretores de imóveis. Agora, só me resta rezar para que Camila não imponha nenhum
CamilaAPRECIO a paisagem que me cerca através da janela do carro de Henrique. Tínhamos acordado às cinco da manhã para seguir sabe-se lá para onde. Se bem que acordar não é a palavra. Nós nos entregamos um ao outro por toda a noite. Estou ficando viciada. Tê-lo em minha cama, sentir o seu toque sobre a minha pele, a maciez de seus lábios, a sensação de completude quando ele investe fundo em mim... Eu estou me viciando nele. Só não sei ao certo se isso é bom ou ruim.Henrique para o carro em frente a um chalé, com sua fachada em pedras marrom. Ao redor, somente as árvores e as montanhas ao longe são testemunhas do nosso esconderijo. Ele desce do carro, faz a volta e abre a porta para mim.— Obrigada — agradeço apoiando-me na mão que ele estende para mim. — Então este é o seu plano? — pergunto colocando minhas mãos em volta da sua cintura. — Passarmos duas semanas neste lugar maravilhoso sem ninguém para nos atrapalhar?— Sim — responde puxando-