Na hora do jantar, enquanto Guilherme comia, Tábata alimentava Lean com papinha de legumes. Satisfazendo a fome da filha, Taby aproveitou que não tinha mais que se concentrar no perigo das mãozinhas agitadas baterem na colher, para falar sobre o ocorrido naquela tarde.— Paulina se encantou com o imóvel que vimos hoje — disse limpando a boca da filha.— Sim. Enfim a busca acabou — ele comemorou se erguendo para levar o prato vazio para a pia.— Ela tem muitas ideias. — Olhando para as costas dele, umedeceu os lábios e contou hesitante: — Paulina me convidou para trabalhar com ela... Na empresa que vai montar... E eu... aceitei...Guilherme moveu a atenção do prato que lavava, virando-se para olhá-la, a surpresa reluzindo nos olhos dourados.— Tem certeza de que quer trabalhar agora?Tábata travou, um nó se formando em sua garganta e o coração se apertando em um instante.— Acha que não devo?Ele se aproximou, ajoelhando na frente de Tábata, os dedos úmidos pela água da pia cobrindo a
Guilherme empurrou a porta da sala de Simone com tanta força que ela bateu contra a parede com um estrondo e voltou, fazendo ela e o cliente que a acompanhava, erguerem os olhos assustados.— Guilherme?! — ela perguntou confusa, enquanto ele atravessava a sala em sua direção.Ignorando o homem sentado em frente à advogada, ele espalmou as mãos na escrivaninha dela.— Sua obsessão não tem moral, nem vergonha? — ele perguntou furioso. — Como pode financiar Mateus para tirar a guarda da Lean de mim e da Tábata?Simone piscou lentamente, como se digerisse a acusação, e então virou-se para o cliente com um sorriso calculado.— Senhor Silva — ela se virou para o cliente —, remarcarei nossa reunião em breve. Infelizmente, surgiu um imprevisto.O homem, visivelmente desconfortável, não esperou que ela repetisse. Pegando sua pasta, levantou-se às pressas, murmurando algo indistinto antes de desaparecer pela porta escancarada.Ela se ergueu e, depois de dar um olhar fulminante aos colegas que o
Carlos olhou para Simone, sua expressão séria.— Isso é verdade?— Claro que não. Ele está sendo manipulado por aquela mulherzinha infeliz — mentiu sem titubear.Carlos olhou para ela, a expressão carregada de decepção.— Conheço você e Guilherme desde que estavam no ventre de suas mães. Aceitei ambos embaixo de minhas asas quando demonstraram gosto pela lei. Sei o tipo de pessoas se tornaram — pontuou olhando-a com firmeza. — Guilherme não é o tipo de homem que age por impulso, sem provas. Se ele está dizendo isso, é porque tem motivos de sobra. Por isso pergunto novamente: É verdade?— Ele está sendo irracional... Não vai deixar ele sair do escritório, vai?— Conversarei com ele.Ele saiu da sala, deixando Simone sozinha. Ela olhou para a porta fechada, sa
O sol poente tingia o quintal da casa de Lee Mamoru com tons dourados, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila. Sentada em um banquinho junto à parede, sua prima Tábata Mamoru sentia-se nervosa enquanto observava Guilherme Perez treinar kung fu com Lee. Seu coração batia descompassado, ansioso pelo momento de coragem, aquele que a faria chegar no rapaz e fazer o pedido que martelava em sua mente desde que acordou naquela manhã. Sendo sincera consigo, aquele pedido dominava seus sonhos desde que conheceu Guilherme.O vento suave brincava com os fios soltos dos coques duplos prendendo seu cabelo, quando, enfim, o treino acabou e Taby ergueu-se para colocar em ação seu desejo.Graças aos céus seu tio chamou seu primo, que correu para dentro da residência sem perceber as intenções dela. A presença dele inibiria sua intenção.Concentrado em tirar o suor do corpo, lavando o tórax fortificado e o rosto no tanque, Guilherme não reparou em sua aproximação, ou não se importou. Taby temia p
A primeira vez que recebeu uma amostra da raiva de sua mãe, Tábata Mamoru tinha sete anos. Era uma menina magrela, com longas madeixas marrons espremidas até as lágrimas em dois coques alto, feitos todas as manhãs por sua mãe a fim de evitar piolhos. Já naquela época notava que não era amada como os outros três irmãos e tentava, dentro das possibilidades de sua tenra idade, agradá-la e demonstrar que desejava ser aceita por ela.Do seu ponto de vista – que persistiria nos anos seguintes – era uma filha exemplar. Ajudava nos afazeres de casa, nunca respondia os mais velhos, respeitava todas as regras de comportamento e ordens de seus pais e, por mais que não gostasse em alguns momentos, ajudava nos cuidados de seu irmão seis anos mais novo.Mas nada satisfazia sua mãe. O desagrado e desaprovação sulcavam o rosto dela toda vez que olhava em sua direção. Por isso, em sua inocência infantil, achou que se maquiar como ela a faria perceber que a amava e queria ser igual a mãe. Entretanto, q
O celular vibrou sobre a escrivaninha, obrigando Guilherme Perez a tirar os olhos do documento que redigia. Sorriu ao ver a foto de seu amigo de infância preencher a tela.— Oi Lee! Como anda a vida?— Comigo tudo bem, cara. Estou nos Estados Unidos, participando de alguns eventos. Farei meu nome brilhar esse ano! — informou empolgado como sempre. — Mas não te liguei pra falar disso. Preciso da sua ajuda.— Jurídica? — Se endireitou em sua poltrona de couro marrom, intrigado com o pedido. Lee não costumava se meter em encrenca, não conseguia imagina-lo em uma situação que precisasse de um advogado.— Talvez... — O que você fez?— Eu? Nada. O problema é com a minha prima Tábata. Lembra-se dela? — Lembro...E como não lembrar? Sorriu nostálgico ao recordar da menina determinada, com constantes coques duplos, lembrando o penteado da personagem Pucca. A garota que seguia Lee e ele nos treinos de boxe e kung fu, sendo tão boa na luta quanto os dois. A jovem que lhe pediu um beijo de pres
Ele assentiu devagar observando seu rosto com tanta atenção que parecia querer ler sua alma, desnudá-la e penetrar sem misericórdia. Sentiu o rosto quente com a direção que sua mente tomava, quando deveria trabalhar em formas de resolver a confusão em que sua vida transformara-se. Culpando os hormônios da gravidez, ergueu-se e marchou em direção ao enorme carro preto estacionado em frente à lanchonete.— Sua casa fica longe? — perguntou, tentando focar em outra coisa.— Dever ser alguns minutos daqui.Ele colocou a mão em suas costas fazendo Tábata arrepiar-se dos pés à cabeça, e apressar o passo para manter distância do toque masculino. Mas ao chegar ao carro de quatro portas e caçamba percebeu que precisaria de ajuda.— O piso é alto... — comentou nervosa, voltando-se e dando de cara com o peito forte de Guilherme.Pousando as mãos nos ombros dela, Guilherme notou a confusão no rosto da Mamoru quando ela o encarou com seus profundos olhos castanhos.— Vai ficar tudo bem — ele garant
A casa de Guilherme ficava em um bairro de classe média, arborizado, jardins na maioria bem cuidados e casas que lembravam as de bonecas. No caminho Tábata visualizou um parque familiar, com crianças correndo e brincando com os aparelhos colocados especialmente para elas: escorregadores, caixas de areia, entre outros. Era um bairro perfeito para criar uma família, o que estava longe de combinar com a visão que tinha de Guilherme.Ela nunca questionou o primo a respeito do Perez, mas sabia que continuava solteiro, por isso presumiu que vivesse em um apartamento frio e solitário como o dono. Mas o bairro e a pequena casa de fachada creme e telhado de lajotas estavam longe de corresponder às suas expectativas. Parecia à casa perfeita para um comercial de margarina, só faltava o casal e as crianças felizes no quintal.Ele estacionou dentro da garagem, construída do lado da casa e com acesso ao imóvel, fechando a porta com o controle enquanto descia e dava a volta para abrir o lado dela. D