Tábata empalideceu, apertando Lean em seus braços.— O quê? Como ela pode fazer algo assim?Assim que a pergunta saiu de seus lábios, o choque foi substituído pelo cinismo. Óbvio que Simone seria a pessoa por trás da inesperada vontade de Mateus em ser pai, na ostentação que o envolvia. O dinheiro daquela mulher era tão podre quanto o coração dela.— Ela é capaz de qualquer coisa — Guilherme disse, colocando em palavras a conclusão que Taby chegou. Ele esfregou os olhos, os ombros caídos ao contar: — Fiquei com tanta raiva que anunciei minha saída definitiva do escritório.— Gui, não pode fazer isso — ela se opôs de imediato. A ideia de Mateus envolvido com Simone era perturbadora, mas a de Guilherme jogando fora anos de trabalho árduo por isso era ainda pior. — Você ama seu trabalho. Entendo sua raiva... Compartilho dela. Mas abandonar tudo? Você batalhou por esse espaço, por esse respeito. Não pode desistir por algo que não é culpa sua.Carinhoso, ele tocou o rosto dela.— Amo meu t
O parque do Ibirapuera estava especialmente tranquilo naquela tarde. A chuva dos últimos dias tinha dado um descanso e o sol, filtrado pelas árvores, criava rastros de luz no chão, o ar fresco ainda carregando o cheiro de grama molhada. Guilherme caminhava com Lean presa ao canguru, a bebê balbuciando feliz. Tábata os acompanhava, observando-os com um sorriso terno, mas, por trás do sorriso, havia uma inquietação crescente.Guilherme andava tranquilo, os dedinhos gorduchos da bebê agarrados ao tecido da camisa dele, soltando murmúrios satisfeitos. O carinho que ele dedicava à menina era genuíno, natural.— Olha só, abelhinha — Guilherme disse, apontando para um casal de patos deslizando pela lagoa. — Os patinhos nadando.Lean balbuciou, os olhinhos amendoados brilhando de curiosidade seguindo um pássaro na direção contrária, as mãozinhas rechonchudas agarradas a camisa dele. Tábata sorriu, mas era superficial, apenas no exterior. O calor no peito que sentia ao vê-lo assim era rapida
Guilherme estacionou o Ford Ranger em frente à casa dos pais de Tábata, o motor silencioso contrastando com o turbilhão de emoções que ela sentia. Ele olhou para ela, os olhos âmbar cheios de preocupação, enquanto ela encarava a fachada da casa onde cresceu. A casa parecia à mesma de sempre, porém, Tábata temia que, dentro daquelas paredes, houvessem segredos se remoendo em sua fundação, segredos que explicariam anos de rejeição e tratamento frio.— Tem certeza de que quer fazer isso? — Guilherme perguntou apertando as mãos no volante, sem desligar o motor.Ela inspirou fundo. O ar preencheu os pulmões, mas não dissipou a pressão em seu peito.— Preciso saber... — murmurou, os dedos apertando o cinto de segurança, hesitantes em soltá-lo. — Não aguento viver com essa dúvida. Se minha vida foi uma mentira, mereço descobrir a verdade.Do banco de trás, um som suave preencheu o espaço. Lean balbuciava algo incompreensível, os dedinhos tentando agarrar um dos brinquedos presos à cadeirinha
O silêncio que se seguiu foi tão denso que parecia sufocar todos na sala. Agnes congelou, os olhos amendoados fixos em Tábata, como se não conseguisse processar o que acabara de ouvir. Claudiano, por sua vez, baixou os olhos para Lean, concentrando sua atenção na inocência da neta. Suas mãos tremiam levemente, e ele não disse uma palavra.Sem soltar a mão de Tábata, Guilherme manteve-se calmo, mas alerta, pronto para intervir e ajudar caso a situação fosse prejudicial para ela. Seu apoio enchendo Tábata de coragem para permanecer firme em sua busca pela verdade.— Preciso saber a verdade — suplicou. — Sou mesmo filha de vocês? Ou sou fruto de uma traição?Agnes ergueu as sobrancelhas, seus olhos castanhos escuros brilhando com uma mistura de desdém e irritação. Ela cruzou os braços, empertigando-se ainda mais, e bufando como se estivesse diante de uma acusação impertinente.— E quem foi que te contou esse absurdo? — perguntou ela, seus olhos estreitando-se em um olhar de desconfiança.
A acusação não fez sentido para Guilherme, tampouco para Tábata que se colocou ao lado dele. Supôs que sua mãe, para atingi-la e minar sua relação, movia sua raiva em direção a Guilherme.— Mãe... — cortou a fala ao receber um olhar azedo, logo se corrigindo: — Agnes, não envolva o Gui nos nossos problemas familiares.— Como não vou envolver? Minha vida estava calma, sem a sua presença — salientou com um sorriso caustico —, até ele te dar abrigo. — Continuou a apontar o dedo para Guilherme, a voz cortante como uma lâmina afiada. — Você é o culpado de tudo isso. Da renovação da minha humilhação. — Diante da descrença nos olhares deles, explicou com amargor: — Desde que a abrigou, estou recebendo ameaças por telefone.Claudiano ergueu os olhos, confuso, a voz rouca e hesitante ao questionar:— Ameaças? Que ameaças, Agnes? Não sei de ameaça alguma.Agnes riu, um som frio e carregado de desdém. Olhou para o marido como se ele fosse um estranho, alguém que nunca realmente a compreendeu.—
O quarto de Lean era um refúgio de cores suaves e detalhes delicados. As paredes brancas, adornadas com abelhinhas que pareciam voar em direção ao berço, criavam um ambiente acolhedor e tranquilo para a bebê quando Tábata a colocou no berço de madeira clara.Naquela tarde, o ambiente sempre acolhedor, não conseguiu desanuviar a mente dela. Ficou um tempo parada ao lado do berço, as mãos apertadas na barra, observando Lean dormir, as mãozinhas rechonchudas repousando sobre o cobertor. Tão frágil, inocente e, felizmente, protegida da maldade que ameaçava a vida delas.Guilherme entrou no quarto silenciosamente, seus passos cuidadosos para não perturbar a paz da pequena, até parar ao lado de Tábata, repousando a mão suavemente em seu ombro.— Ela está dormindo tão bem desde que saímos de lá — sussurrou ele, a voz baixa, quase um murmúrio.Tábata não respondeu imediatamente. Seus olhos amendoados estavam fixos na filha, mas sua mente estava longe, presa no turbilhão de pensamentos dos últ
A luz suave da manhã entrava pela janela da cozinha, iluminando o ambiente aconchegante, em que o cheiro de café fresco e mingau quente preenchia o ar. Guilherme, vestindo camiseta branca e calça de moletom, estava sentado à mesa, segurando a xícara de café enquanto lia as mensagens recebidas no celular. Lean ainda dormia. E Taby, ainda de pijama, estava junto ao fogão, preparando mingau para a filha.De repente, Guilherme soltou um palavrão baixo, audível o suficiente para fazer Taby virar-se rapidamente, os olhos amendoados arregalados de surpresa.— O que foi? — perguntou ela estranhando.Ele ergueu o celular, a expressão fechada, os lábios apertados em uma linha reta.— Paulina quer que a gente vá hoje a um almoço de família no apartamento do Simon — comentou ele, relendo o termo “almoço de família” com desgosto.Baixando o fogo, Taby o fitou confusa e curiosa.— Mas ela não tinha cortado relações com Simon? Fizeram as pazes?Guilherme resmungou, os dedos apertando o celular com m
Assim que entrou na sala, Tábata reparou que era um reflexo da personalidade de Simone: impecável, sofisticada e fria. As paredes brancas eram adornadas por quadros minimalistas, e a grande mesa de vidro no centro do ambiente estava organizada com precisão quase militar. Simone estava sentada em sua cadeira de couro branco, as pernas cruzadas, os dedos longos, de unhas longas e bem cuidadas, apoiados sobre os braços do móvel. O olhar azul-celeste fixou-se em Tábata assim que entrou, mas não se levantou, nem ofereceu um assento.— O que quer? — perguntou direta, poupando-se de saudações inúteis quando se tratava de sua rival.Tábata fechou a porta atrás de si, segurando firmemente a alça de sua bolsa de pano. Mesmo tendo escolhido uma roupa diferente de suas costumeiras camisetas, o vestido floral simples contrastava com a elegância austera do ambiente, mas não se deixou intimidar.— Vim pedir que pare de me perseguir e atrapalhar minha vida e a da minha filha — começou Tábata firme, e