Carlos olhou para Simone, sua expressão séria.— Isso é verdade?— Claro que não. Ele está sendo manipulado por aquela mulherzinha infeliz — mentiu sem titubear.Carlos olhou para ela, a expressão carregada de decepção.— Conheço você e Guilherme desde que estavam no ventre de suas mães. Aceitei ambos embaixo de minhas asas quando demonstraram gosto pela lei. Sei o tipo de pessoas se tornaram — pontuou olhando-a com firmeza. — Guilherme não é o tipo de homem que age por impulso, sem provas. Se ele está dizendo isso, é porque tem motivos de sobra. Por isso pergunto novamente: É verdade?— Ele está sendo irracional... Não vai deixar ele sair do escritório, vai?— Conversarei com ele.Ele saiu da sala, deixando Simone sozinha. Ela olhou para a porta fechada, sa
Guilherme fechou a porta de sua sala. Com a bolsa carteiro no ombro e o casaco dobrado sobre o braço, seguiu para a porta separando o escritório da recepção. De queixo erguido e olhar vidrado a frente, ignorava os cochichos e olhares dos colegas, todos querendo decifrar o que ocorria, mas sem coragem de questioná-lo.Passando pelas portas, sentiu o peso dos olhares curiosos das colegas em suas costas. Mas não olhou para trás. A mente já estava focada no que vinha a seguir: uma semana longe de Simone; uma semana perto de Tábata e Lean; uma semana para arranjar um jeito de impedir o plano de sua ex contra elas.Ao chegar à recepção, as recepcionistas interromperam a conversa animada ao vê-lo se aproximar. Parou em frente ao balcão, a postura rígida e a voz calma.— Mila, Vanessa — começou, alternando o olhar entre as duas. — Ficarei fora até quinta que vem. Qualquer urgência, me avisem por e-mail ou WhatsApp. E, por favor, desmarquem as reuniões agendadas para esses dias.Mila abriu a b
Tábata empalideceu, apertando Lean em seus braços.— O quê? Como ela pode fazer algo assim?Assim que a pergunta saiu de seus lábios, o choque foi substituído pelo cinismo. Óbvio que Simone seria a pessoa por trás da inesperada vontade de Mateus em ser pai, na ostentação que o envolvia. O dinheiro daquela mulher era tão podre quanto o coração dela.— Ela é capaz de qualquer coisa — Guilherme disse, colocando em palavras a conclusão que Taby chegou. Ele esfregou os olhos, os ombros caídos ao contar: — Fiquei com tanta raiva que anunciei minha saída definitiva do escritório.— Gui, não pode fazer isso — ela se opôs de imediato. A ideia de Mateus envolvido com Simone era perturbadora, mas a de Guilherme jogando fora anos de trabalho árduo por isso era ainda pior. — Você ama seu trabalho. Entendo sua raiva... Compartilho dela. Mas abandonar tudo? Você batalhou por esse espaço, por esse respeito. Não pode desistir por algo que não é culpa sua.Carinhoso, ele tocou o rosto dela.— Amo meu t
O parque do Ibirapuera estava especialmente tranquilo naquela tarde. A chuva dos últimos dias tinha dado um descanso e o sol, filtrado pelas árvores, criava rastros de luz no chão, o ar fresco ainda carregando o cheiro de grama molhada. Guilherme caminhava com Lean presa ao canguru, a bebê balbuciando feliz. Tábata os acompanhava, observando-os com um sorriso terno, mas, por trás do sorriso, havia uma inquietação crescente.Guilherme andava tranquilo, os dedinhos gorduchos da bebê agarrados ao tecido da camisa dele, soltando murmúrios satisfeitos. O carinho que ele dedicava à menina era genuíno, natural.— Olha só, abelhinha — Guilherme disse, apontando para um casal de patos deslizando pela lagoa. — Os patinhos nadando.Lean balbuciou, os olhinhos amendoados brilhando de curiosidade seguindo um pássaro na direção contrária, as mãozinhas rechonchudas agarradas a camisa dele. Tábata sorriu, mas era superficial, apenas no exterior. O calor no peito que sentia ao vê-lo assim era rapida
Guilherme estacionou o Ford Ranger em frente à casa dos pais de Tábata, o motor silencioso contrastando com o turbilhão de emoções que ela sentia. Ele olhou para ela, os olhos âmbar cheios de preocupação, enquanto ela encarava a fachada da casa onde cresceu. A casa parecia à mesma de sempre, porém, Tábata temia que, dentro daquelas paredes, houvessem segredos se remoendo em sua fundação, segredos que explicariam anos de rejeição e tratamento frio.— Tem certeza de que quer fazer isso? — Guilherme perguntou apertando as mãos no volante, sem desligar o motor.Ela inspirou fundo. O ar preencheu os pulmões, mas não dissipou a pressão em seu peito.— Preciso saber... — murmurou, os dedos apertando o cinto de segurança, hesitantes em soltá-lo. — Não aguento viver com essa dúvida. Se minha vida foi uma mentira, mereço descobrir a verdade.Do banco de trás, um som suave preencheu o espaço. Lean balbuciava algo incompreensível, os dedinhos tentando agarrar um dos brinquedos presos à cadeirinha
O silêncio que se seguiu foi tão denso que parecia sufocar todos na sala. Agnes congelou, os olhos amendoados fixos em Tábata, como se não conseguisse processar o que acabara de ouvir. Claudiano, por sua vez, baixou os olhos para Lean, concentrando sua atenção na inocência da neta. Suas mãos tremiam levemente, e ele não disse uma palavra.Sem soltar a mão de Tábata, Guilherme manteve-se calmo, mas alerta, pronto para intervir e ajudar caso a situação fosse prejudicial para ela. Seu apoio enchendo Tábata de coragem para permanecer firme em sua busca pela verdade.— Preciso saber a verdade — suplicou. — Sou mesmo filha de vocês? Ou sou fruto de uma traição?Agnes ergueu as sobrancelhas, seus olhos castanhos escuros brilhando com uma mistura de desdém e irritação. Ela cruzou os braços, empertigando-se ainda mais, e bufando como se estivesse diante de uma acusação impertinente.— E quem foi que te contou esse absurdo? — perguntou ela, seus olhos estreitando-se em um olhar de desconfiança.
A acusação não fez sentido para Guilherme, tampouco para Tábata que se colocou ao lado dele. Supôs que sua mãe, para atingi-la e minar sua relação, movia sua raiva em direção a Guilherme.— Mãe... — cortou a fala ao receber um olhar azedo, logo se corrigindo: — Agnes, não envolva o Gui nos nossos problemas familiares.— Como não vou envolver? Minha vida estava calma, sem a sua presença — salientou com um sorriso caustico —, até ele te dar abrigo. — Continuou a apontar o dedo para Guilherme, a voz cortante como uma lâmina afiada. — Você é o culpado de tudo isso. Da renovação da minha humilhação. — Diante da descrença nos olhares deles, explicou com amargor: — Desde que a abrigou, estou recebendo ameaças por telefone.Claudiano ergueu os olhos, confuso, a voz rouca e hesitante ao questionar:— Ameaças? Que ameaças, Agnes? Não sei de ameaça alguma.Agnes riu, um som frio e carregado de desdém. Olhou para o marido como se ele fosse um estranho, alguém que nunca realmente a compreendeu.—
O quarto de Lean era um refúgio de cores suaves e detalhes delicados. As paredes brancas, adornadas com abelhinhas que pareciam voar em direção ao berço, criavam um ambiente acolhedor e tranquilo para a bebê quando Tábata a colocou no berço de madeira clara.Naquela tarde, o ambiente sempre acolhedor, não conseguiu desanuviar a mente dela. Ficou um tempo parada ao lado do berço, as mãos apertadas na barra, observando Lean dormir, as mãozinhas rechonchudas repousando sobre o cobertor. Tão frágil, inocente e, felizmente, protegida da maldade que ameaçava a vida delas.Guilherme entrou no quarto silenciosamente, seus passos cuidadosos para não perturbar a paz da pequena, até parar ao lado de Tábata, repousando a mão suavemente em seu ombro.— Ela está dormindo tão bem desde que saímos de lá — sussurrou ele, a voz baixa, quase um murmúrio.Tábata não respondeu imediatamente. Seus olhos amendoados estavam fixos na filha, mas sua mente estava longe, presa no turbilhão de pensamentos dos últ