O Ford Ranger preto parou suavemente em frente ao imóvel onde o pai de Guilherme morava. A noite estava calma, apenas o farol do carro iluminava a fachada, criando sombras nas paredes. Guilherme desligou o motor, soltou o cinto e virou-se para Tábata, sentada ao seu lado. O moletom cinza largo emprestado por Alessandro a deixava pequena e frágil, mas os olhos amendoados agora estavam calmos.— Espere aqui, enquanto busco a Lean — pediu.Tábata ergueu o olhar.— Tem certeza? Posso ir com você...Guilherme sorriu, levando a mão ao cabelo dela e afastando uma mecha que caíra sobre seu rosto.— Melhor não. Assim que meu pai e Paola notarem a troca de roupas, vão fazer perguntas. — Ele deslizou o polegar pelo queixo dela. — E, sinceramente, não quero gastar meia hora criando respostas ou desviando das perguntas inconvenientes da minha prima.Ela assentiu, os dedos brincando com as mangas compridas do moletom, que cobriam suas mãos por completo. Sabia que ele estava certo. E, no fundo, tamb
Depois de colocar Lean adormecida no berço, Guilherme passou rapidamente pela cozinha antes de seguir para o quarto principal, levando uma xícara de chá de camomila que exalava um aroma suave. A luz do abajur criava uma atmosfera aconchegante, iluminando o espaço com uma tonalidade quente. Tábata estava sentada na beira da cama, usando uma leve camisola, que aumentava fragilidade que transparecia em seus olhos amendoados. Eles estavam vazios, fixos em um ponto distante, como se ela estivesse perdida em seus próprios pensamentos novamente. E ele sabia o que se passava na mente dela.Aproximou-se devagar, sentou-se ao seu lado e cuidadosamente colocou a xícara de chá entre as mãos dela.— Beba! É de camomila — explicou. — Vai te ajudar a esquentar o corpo e acalmar o coração.Tábata olhou para a xícara, os dedos se fechando ao redor do recipiente quente. Levou o chá à boca, bebendo lentamente, enquanto Guilherme a observava, os olhos âmbar cheios de preocupação. Quando ela terminou, peg
O vento frio de fim de tarde carregava um aroma das folhagens próximas, enquanto Tábata esperava ao lado de Paulina e o corretor de imóveis, indicado por Guilherme, em frente ao prédio comercial que visitariam naquele dia. O local era praticamente deserto e a fachada nem um pouco atraente, mas tinham esperança de ser aquele o local para a realização do sonho de Paulina.Fugindo das declarações sobre sua filiação e da ansiedade com o processo de guarda, não hesitou em aceitar o convite para ajudar nas visitas ao futuro local que Paulina iniciaria sua empresa.— Tá tudo bem, abelhinha? — perguntou para a bebê, que se agitava no carrinho. Lean olhou para ela com aqueles olhinhos amendoados, cheios de curiosidade, e soltou um som alegre que a fez sorrir.— Espero que ela não demore — comentou Paulina, apertando a alça da bolsa. — Paola insistiu tanto para me encontrar que não tive alternativa... — lamentou.Tábata assentiu, balançando levemente a cabeça enquanto acariciava o cabelo filha.
Na hora do jantar, enquanto Guilherme comia, Tábata alimentava Lean com papinha de legumes. Satisfazendo a fome da filha, Taby aproveitou que não tinha mais que se concentrar no perigo das mãozinhas agitadas baterem na colher, para falar sobre o ocorrido naquela tarde.— Paulina se encantou com o imóvel que vimos hoje — disse limpando a boca da filha.— Sim. Enfim a busca acabou — ele comemorou se erguendo para levar o prato vazio para a pia.— Ela tem muitas ideias. — Olhando para as costas dele, umedeceu os lábios e contou hesitante: — Paulina me convidou para trabalhar com ela... Na empresa que vai montar... E eu... aceitei...Guilherme moveu a atenção do prato que lavava, virando-se para olhá-la, a surpresa reluzindo nos olhos dourados.— Tem certeza de que quer trabalhar agora?Tábata travou, um nó se formando em sua garganta e o coração se apertando em um instante.— Acha que não devo?Ele se aproximou, ajoelhando na frente de Tábata, os dedos úmidos pela água da pia cobrindo a
Guilherme empurrou a porta da sala de Simone com tanta força que ela bateu contra a parede com um estrondo e voltou, fazendo ela e o cliente que a acompanhava, erguerem os olhos assustados.— Guilherme?! — ela perguntou confusa, enquanto ele atravessava a sala em sua direção.Ignorando o homem sentado em frente à advogada, ele espalmou as mãos na escrivaninha dela.— Sua obsessão não tem moral, nem vergonha? — ele perguntou furioso. — Como pode financiar Mateus para tirar a guarda da Lean de mim e da Tábata?Simone piscou lentamente, como se digerisse a acusação, e então virou-se para o cliente com um sorriso calculado.— Senhor Silva — ela se virou para o cliente —, remarcarei nossa reunião em breve. Infelizmente, surgiu um imprevisto.O homem, visivelmente desconfortável, não esperou que ela repetisse. Pegando sua pasta, levantou-se às pressas, murmurando algo indistinto antes de desaparecer pela porta escancarada.Ela se ergueu e, depois de dar um olhar fulminante aos colegas que o
Carlos olhou para Simone, sua expressão séria.— Isso é verdade?— Claro que não. Ele está sendo manipulado por aquela mulherzinha infeliz — mentiu sem titubear.Carlos olhou para ela, a expressão carregada de decepção.— Conheço você e Guilherme desde que estavam no ventre de suas mães. Aceitei ambos embaixo de minhas asas quando demonstraram gosto pela lei. Sei o tipo de pessoas se tornaram — pontuou olhando-a com firmeza. — Guilherme não é o tipo de homem que age por impulso, sem provas. Se ele está dizendo isso, é porque tem motivos de sobra. Por isso pergunto novamente: É verdade?— Ele está sendo irracional... Não vai deixar ele sair do escritório, vai?— Conversarei com ele.Ele saiu da sala, deixando Simone sozinha. Ela olhou para a porta fechada, sa
O sol poente tingia o quintal da casa de Lee Mamoru com tons dourados, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila. Sentada em um banquinho junto à parede, sua prima Tábata Mamoru sentia-se nervosa enquanto observava Guilherme Perez treinar kung fu com Lee. Seu coração batia descompassado, ansioso pelo momento de coragem, aquele que a faria chegar no rapaz e fazer o pedido que martelava em sua mente desde que acordou naquela manhã. Sendo sincera consigo, aquele pedido dominava seus sonhos desde que conheceu Guilherme.O vento suave brincava com os fios soltos dos coques duplos prendendo seu cabelo, quando, enfim, o treino acabou e Taby ergueu-se para colocar em ação seu desejo.Graças aos céus seu tio chamou seu primo, que correu para dentro da residência sem perceber as intenções dela. A presença dele inibiria sua intenção.Concentrado em tirar o suor do corpo, lavando o tórax fortificado e o rosto no tanque, Guilherme não reparou em sua aproximação, ou não se importou. Taby temia p
A primeira vez que recebeu uma amostra da raiva de sua mãe, Tábata Mamoru tinha sete anos. Era uma menina magrela, com longas madeixas marrons espremidas até as lágrimas em dois coques alto, feitos todas as manhãs por sua mãe a fim de evitar piolhos. Já naquela época notava que não era amada como os outros três irmãos e tentava, dentro das possibilidades de sua tenra idade, agradá-la e demonstrar que desejava ser aceita por ela.Do seu ponto de vista – que persistiria nos anos seguintes – era uma filha exemplar. Ajudava nos afazeres de casa, nunca respondia os mais velhos, respeitava todas as regras de comportamento e ordens de seus pais e, por mais que não gostasse em alguns momentos, ajudava nos cuidados de seu irmão seis anos mais novo.Mas nada satisfazia sua mãe. O desagrado e desaprovação sulcavam o rosto dela toda vez que olhava em sua direção. Por isso, em sua inocência infantil, achou que se maquiar como ela a faria perceber que a amava e queria ser igual a mãe. Entretanto, q