Tábata sentiu um nó se formar no estômago, prevendo que a loira estava afiando a língua. A elegância e a confiança de Simone eram palpáveis e combinavam com o ambiente, fazendo o incomodo crescer em torno de Tábata.O perfume adocicado antecedeu sua chegada, estrategicamente parando ao lado de Guilherme. Com sorriso calculado, seu olhar azul varreu parcialmente a mesa, passeando brevemente em Alessandro e Iolanda, antes de encontrar o alvo que lhe interessava.— Guilherme, estava a sua espera! — A voz melosa deslizou pelo ar como um veneno disfarçado de mel. Inclinou-se ligeiramente, como se fosse beijá-lo no rosto, mas recuou, deixando apenas o aroma de sua presença pairando entre eles, e a vista do decote azul céu cravejado de cristais. — Sem sua presença essa festa não teria sentido, querido.Simone ignorou por completo a presença de Tábata. O desprezo não era acidental, era meticulosamente planejado, assim como se oferecer para Guilherme. O constrangimento se infiltrou gélido na e
Necessitando de uma pausa no lavabo, Tábata deixou Guilherme conversando com um grupo de colegas e seguiu as instruções da dona da casa, se afastando do salão de festas. Minutos depois, ao sair do lavabo, no lugar de encontrar o corredor deserto como na ida, teve a desagradável visão de Simone bem em frente à porta, encostada na parede.— Pensei que fosse ficar ai dentro a noite toda — a loira comentou, descruzando os braços.Buscando não causar confusão na casa dos Salvatore, durante uma festa com os colegas de Guilherme, ignorou a mulher de vestido azul cravejado de cristais e, sem alimentar qualquer embate, encaminhou-se em direção à música e risos do salão de festas.Infelizmente, Simone não colaborou e bloqueou sua passagem.— Ouvi dizer que o pai da sua filha quer a guarda da bebê — disse Simone, com falsa doçura e feliz provocação. — Coisa séria, não é?O estômago de Tábata revirou, os dedos se apertaram nas pregas dourados do vestido e a respiração tornou-se pesada, sentindo a
Guilherme observou o salão, os dedos inquietos batendo levemente na mesa. Tábata havia saído para o lavabo e demorava a voltar. Sua ausência começava a incomodá-lo, principalmente ao notar que não era a única fora do salão: Simone também não estava em parte alguma.Uma sensação ruim se espalhou por seu corpo e ele decidiu agir.— Preciso dar uma olhada em algo — falou para os colegas, que continuavam a conversar animadamente, sem notar sua preocupação.Se afastou, desviando de cumprimentos, seguindo determinado para o corredor de acesso ao lavabo. Antes de fazer a curva, ouviu vozes. Uma suave e irritadiça, que reconheceu como sendo de Tábata. A outra, afiada e sarcástica, era de Simone. Seus passos congelaram ao entender o teor da conversa.— Acha que algum dia ele vai te levar a sério? — A voz de Simone ressoou, carregada de veneno. — Você? Uma criatura sem estudo, sem futuro, sem nada a oferecer além de uma gravidez indesejada? Ele merece mais do que isso. E você... bem, você dever
Desnorteada, Tábata correu. Seus pés mal tocavam o chão, o vestido dourado flamejando como um raio de sol em fuga. O salão de festas, com suas luzes brilhantes e risadas ecoantes, passou como um borrão. Pessoas uniformizadas tentaram interceptá-la, vozes se levantaram em questionamentos e alertas, mas ela não ouviu. Não podia ouvir. As palavras de Simone ecoavam em sua mente, cortantes como facas, dilacerando tudo o que sabia sobre si mesma.“Não tem uma gota do sangue da mulher que chama de mãe.”O ar fugiu de seus pulmões, um frio cortante atravessou sua espinha e sua mente se recusava a aceitar, mas algo dentro dela — um pressentimento profundo e obscuro de longa data — sussurrava que Simone dizia a verdade.Não sabia para onde ir, só sabia que precisava fugir. Fugir daquela revelação, daquela dor, da tempestade que se formava dentro dela. Atravessou portas, corredores, até que o ar fresco da noite a atingiu em cheio, junto das luzes noturnas e das lâmpadas distribuídas pelo local
— Tábata... — Guilherme chamou novamente, a voz carregada de preocupação, a mão pousando em seu ombro trêmulo. — Vamos sair daqui.Ela não ergueu o olhar, os dedos se agarrados aos braços em volta das pernas, como se tentasse se proteger de algo que não podia ver. Estava estática, mergulhada em traumas passados, envernizados por uma conclusão amarga:— Não mereço ser amada... — sussurrava em um doloroso mantra. — Nunca vou merecer...Ele colocou as mãos em seu rosto, forçando-a a olhar para ele.— Escute — pediu, os polegares deslizando pelas bochechas molhadas. — Não importa o que foi dito naquele corredor. Eu te amo. Eu amo você e amo a nossa abelhinha, nossa filha. Escolhi estar ao lado de vocês, não por obrigação, mas porque as amo. Não consigo imaginar minha vida sem vocês.Tábata olhou para ele, os olhos brilhando com uma mistura de incredulidade e esperança. As lágrimas escorriam mais rápido agora, misturadas à fria chuva.— Não quero que você se arrependa, Gui — disse, a voz t
Alessandro guiou Guilherme e Tábata por um corredor silencioso, longe do burburinho do salão de festas, até chegar a um quarto amplo e bem decorado. Ele abriu o armário embutido, revelando pilhas de toalhas macias e roupões de banho.— Aqui estão toalhas para vocês se secarem — disse Alessandro, com um gesto em direção ao armário. — Tomem um banho quente antes de saírem. Não quero que fiquem doentes por causa dessa chuva.Guilherme pegou duas toalhas, estendendo uma para Tábata. Ela a aceitou com as mãos trêmulas, os olhos amendoados ainda um tanto perdidos, como se estivesse tentando processar tudo o que havia acontecido.— Vá na frente, Taby — comandou, explicando para evitar negativas: — Vou com o Alessandro buscar algumas roupas secas para nós. Não vai demorar.Tábata assentiu com a cabeça, segurando a toalha contra o peito. Seus lábios estavam levemente entreabertos, como se quisesse falar, mas as palavras não saíam. Ela se virou e caminhou em direção ao banheiro, os passos lento
O Ford Ranger preto parou suavemente em frente ao imóvel onde o pai de Guilherme morava. A noite estava calma, apenas o farol do carro iluminava a fachada, criando sombras nas paredes. Guilherme desligou o motor, soltou o cinto e virou-se para Tábata, sentada ao seu lado. O moletom cinza largo emprestado por Alessandro a deixava pequena e frágil, mas os olhos amendoados agora estavam calmos.— Espere aqui, enquanto busco a Lean — pediu.Tábata ergueu o olhar.— Tem certeza? Posso ir com você...Guilherme sorriu, levando a mão ao cabelo dela e afastando uma mecha que caíra sobre seu rosto.— Melhor não. Assim que meu pai e Paola notarem a troca de roupas, vão fazer perguntas. — Ele deslizou o polegar pelo queixo dela. — E, sinceramente, não quero gastar meia hora criando respostas ou desviando das perguntas inconvenientes da minha prima.Ela assentiu, os dedos brincando com as mangas compridas do moletom, que cobriam suas mãos por completo. Sabia que ele estava certo. E, no fundo, tamb
Depois de colocar Lean adormecida no berço, Guilherme passou rapidamente pela cozinha antes de seguir para o quarto principal, levando uma xícara de chá de camomila que exalava um aroma suave. A luz do abajur criava uma atmosfera aconchegante, iluminando o espaço com uma tonalidade quente. Tábata estava sentada na beira da cama, usando uma leve camisola, que aumentava fragilidade que transparecia em seus olhos amendoados. Eles estavam vazios, fixos em um ponto distante, como se ela estivesse perdida em seus próprios pensamentos novamente. E ele sabia o que se passava na mente dela.Aproximou-se devagar, sentou-se ao seu lado e cuidadosamente colocou a xícara de chá entre as mãos dela.— Beba! É de camomila — explicou. — Vai te ajudar a esquentar o corpo e acalmar o coração.Tábata olhou para a xícara, os dedos se fechando ao redor do recipiente quente. Levou o chá à boca, bebendo lentamente, enquanto Guilherme a observava, os olhos âmbar cheios de preocupação. Quando ela terminou, peg