A TENTAÇÃO DO PADRE
A TENTAÇÃO DO PADRE
Por: Sol Rodrigues
OLHAR INDECENTE

(Leandro)

Eu me chamo Leandro Gurgel, tenho 28 anos, e sou padre da Igreja da padroeira da Fé, localizada em um pequeno município da Bahia, conhecido como Catolândea.

Por se tratar de um lugar com poucos habitantes, era fácil decorar os nomes dos moradores, estabelecer uma boa convivência, além de lembrar suas histórias e suas confições, e isso facilitava muito o acompanhamento dos fiéis, e me possibilitava ficar próximo de todos, os ajudando com o que fosse preciso.

Desde muito jovem eu já sabia que queria ser padre, eu acreditei fielmente que esse fosse o meu destino.

Eu passei por todas as etapas, desde o propedêutico, graduação em filosofia e teologia, até estar de fato pronto pra esse posto.

Foram anos de preparação, passei pela ordenação, pelo transitório, sacramento até ser consagrado.

Eu nunca tive pensamentos de construir uma vida familiar com alguém, e por diversas vezes fui considerado alguém fora do padrão masculino por nunca ter tido uma namorada, e nunca ter me interessado por alguém, fui chamado de louco muitas vezes por ter tomado essa decisão pra minha vida.

Eu não gosto de falar da minha vida pessoal pra ninguém, mas também nunca tive vergonha de falar que eu era virgem, embora muitas vezes essa condição tenha me feito passar por alguns constrangimento diante dos meus poucos amigos, pois eles diziam que eu estava perdendo a oportunidade de experimentar um manar dos deuses, mas isso não me enchia os olhos, muito menos o coração.

Quanto eu decidi me tornar padre, eu já sabia que eu teria que viver em função de Cristo e da igreja, e eu procurei durante todos esses anos não me desvirtuar com coisas impróprias e nem com sentimentos carnais de um homem, mas isso mudou drasticamente com a chegada de uma nova moradora, a Letícia Sanches, filha da dona Maria.

A dona Maria sempre foi uma devota fiel, defensora dos bons costumes e eu já a conhecia há algum tempo, mas não conhecia a filha dela.

A moça tinha 22 anos, e morava com o pai em outro estado, mas precisou ir morar com a dona Maria pois ela estava passando por problemas de saúde e iria fazer uma cirurgia delicada.

A notícia da chegada da moça se espalhou até chegar aos meus ouvidos, pra mim, isso não teve tanta importância, afinal eu já vi muitas pessoas saindo e chegando na cidade, mas quando eu a vi com os meus próprios olhos, eu passei a entender o motivo de tanto alvoroço.

Ela não era qualquer moça, era a moça mais linda e delicada que eu já havia visto em toda a minha vida.

Ela era alta, olhos brilhantes e claros, cabelos lisos e compridos, e trazia no olhar uma inocência única e até inquestionável, isso até eu conhecê-la de fato.

Eu sempre ouvi dizer que as aparências enganam, e eu nem sabia que iria confirmar essa teoria vivendo na pele.

Eu me obriguei a não olhar pro corpo dela pra não cair em pecado, embora fosse impossível não perceber o quanto ela tinha curvas chamativas.

Maria: Sua benção padre.

— Deus a abençoe irmã.

Maria: Essa aqui é a minha filha Letícia, ela vai ficar comigo até eu me operar e me recuperar.

Eu olhei nos olhos da moça e fiquei anestesiado, era como se anos de dedicação fossem colocados a prova em poucos segundos.

Letícia: Sua benção padre.

Ela baixou a cabeça timidamente, e em meio a gaguejos eu a abençoei e depois respirei fundo pra não passar mais vergonha.

— Eu me chamo Leandro, seja bem vinda Srt. Letícia, espero que você tenha sido bem recepcionada por nossos moradores.

Letícia: Fui sim, eu só não esperava ser recepcionada por um padre tão jovem.

Maria: Minha filha, isso não são modos.

Letícia: Desculpe mãe, e sinto muito padre.

— Não tem o que se desculpar, eu comecei muito cedo mesmo.

Ela desceu a visão até as minhas partes baixas e eu fiquei incomodado, a minha batina não revelava muita coisa, mas o espírito santo me alertou sobre a vulgaridade daquele olhar.

— Eu preciso voltar pra igreja, encontro vocês na missa no domingo?

Maria: Com certeza estarei lá.

Letícia: Não conte comigo padre, eu não sou muito religiosa, embora tenha bastante respeito pelo filhos de Deus.

— Estou vendo o respeito.

Eu juro que tentei me controlar, mas não consegui esconder a ironia na minha voz, ironia essa que eu tenho certeza que ela percebeu, levando em conta o pequeno sorriso disfarçado que ela deu.

Eu dei as costas pra elas e saí andando, sendo confrontado pela minha própria consciência, ao mesmo tempo que repreendia a mim mesmo por ter dito de forma tão explícita que eu havia percebido os olhares dela.

— Eu acho melhor me manter afastado dessa moça, ela não parece ser tão pura e inocente assim quanto eu pensei que fosse.

Falei enquanto entrava na casa de Deus.

Eu passei a minha vida toda sendo ensinado a não apontar o dedo pras pessoas, e durante o meu processo pra ser padre isso não foi diferente, eu fui ensinado a resolver situações espirituais, mas nunca a apontá-los de forma acusatória, mas algo dentro de mim me dizia que a minha preocupação com a moça era válida, e embora eu fosse um padre, eu sabia reconhecer o olhar de desejo de uma mulher pra um homem.

Todas as noites eu rezava, falava pra Deus e pros santos sobre o meu dia, sobre minhas preocupações e sobre os fiéis, mas nesse dia a minha reza foi diferente, eu rezei pra que aquela moça pudesse ser menos carnal e tivesse um encontro real com o pai Celestial, era o que eu na posição de padre poderia fazer por ela, e pedi também pra esquecer o olhar da moça, pois isso poderia me fazer ter pensamentos impróprios.

— Aquela alma está perdida, alguém voltado pras coisas de Deus jamais olharia pra um padre da forma como ela me olhou.

Falei diante de Deus.

Depois de rezar, eu fui cuidar de outros assuntos paroquiais, sem saber que eu estava prestes a conhecer Satanás de perto.

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