A Secretária do Chefe
A Secretária do Chefe
Por: Darlla Vi
1- Nicole Santoro.

Deveria ter um limite do quanto uma só pessoa pode ser babaca e arrogante. Juro que deveria. Isso tinha que estar, sei lá, na Constituição do país, proibindo chefes de serem tão… insuportáveis.

Sabe o pior?

Eu reclamo há anos, todos os dias da minha vida, sobre isso. Não estou exagerando, reclamo mesmo. Faço algo para mudar? Não. Pode parecer que sou frouxa, que não tenho amor à minha própria vida, mas não é isso. Pelo menos, não é isso.

A real é que odeio mudanças. Fico apavorada quando se trata das bonitinhas. Meu cérebro cheio de ansiedade começa a criar mil e duas hipóteses do que pode dar errado se eu decidir arriscar pedir demissão para não ter que suportar mais a personalidade intragável de Valentin, e sempre acho que nunca é a hora certa de mudar.

Porque eu dependo do dinheiro.

Porque poderia ser pior.

Porque o maldito não é tão ruim assim.

E, realmente, Valentin Salvatore poderia ser pior. Sou a prova real de que existem chefes muito piores por aí, mas não sou uma pessoa que sabe lidar com temperamentos fortes. Talvez porque já basta o meu para ter que aguentar. Não sou obrigada a aturar o dos outros, eu hein. Já preciso me suportar. Você me viu de TPM? Nem queira!

É dizendo mais uma vez que não posso matar meu chefe durante as noites em que ele me obriga a ficar até tarde, fazendo com que eu tenha que mudar ou atrasar meus planos, que me preparo para bater na sala do CEO infeliz. Ou como eu gosto de chamar, na porta do inferno.

— Com licença, senhor Salvatore — falo, cansada, forçando o tom gentil que sempre tento colocar nos nossos diálogos para não extrapolar o limite do aceitável para uma funcionária diante de um superior hierárquico. Eu disse que tento, não quer dizer que consiga sempre. — Estou indo embora.

— Eu ainda estou aqui, senhorita Preciso da minha secretária até o fim do expediente.

Conto até dez, mas não adianta, então estendo a contagem até vinte. Não resolve. A quem quero enganar? Nunca resolveu. Nem se eu contasse até um milhão diminuiria a vontade que sempre sinto de jogá-lo do topo do arranha-céu em que a LDrinks está localizada.

— Entendo, senhor, mas já são nove horas da noite. Não é como se eu vivesse em função do trabalho, sabe? — Uso meu tom mais pacífico do mundo, porque não quero mesmo que ele implique comigo agora e me prenda aqui por mais tempo só de pirraça. Acredite, Valentin é capaz disso. — Estou sempre disponível durante o horário do meu expediente.

— Tem algum compromisso?

A minha recusa anterior faz com que ele tire os olhos do notebook e, como sempre, perco o ar por alguns segundos. Ah, qual é, eu disse que ele era babaca e arrogante, não feio. Infelizmente, o desgraçado é bonito e tentador como o próprio anjo caído. Não que eu saia comentando isso por aí. Minha boca é um túmulo quando se trata de exaltar algo dele, nem que seja uma coisa tão superficial quanto a aparência, que pelo visto é a sua única qualidade.

Merda! E ele sabe disso!

Quando retira os óculos de grau, que usa apenas para usar o computador, fica ainda mais gostoso e sexy.

Troco o peso do meu corpo de um pé para o outro, tensa com os meus pensamentos cada vez mais impertinentes a respeito da aparência dele, mas não consigo não reparar em como seus olhos muito pretos e pequenos brilham, mesmo com a baixa luz da sala. É assim que ele prefere trabalhar.

Ou em como os cabelos pretos e lisos nunca parecem ter um rumo certo no topo da cabeça, dando a ele um ar despojado, descontraído. O que é um desperdício, se quer saber a minha opinião, porque Valentin Salvatore não tem nada disso. Ele é tudo, menos isso. Pelo contrário, o CEO quarentão é todo sério, fechado, previsível e metódico.

Já falei que eu o odeio? Acho que ainda não, né?

— Senhorita Santoro? — chama com a voz impaciente, passando a mão grande pela barba escura e cheia.

Não vou me aprofundar aqui sobre como uma característica física tão bonita quanto essa está sendo desperdiçada em uma pessoa tão sem carisma quanto ele, mas saiba aqui a minha opinião a respeito disso. São vários desperdícios!

—  Tenho, senhor — respondo sucinta, apesar de tardiamente, sem querer ter que me explicar que eu tenho um encontro agora.

Valentin não diz nada.

E seu silêncio me incomoda pra caralho.

Ele puxa as mangas da camisa social verde-clara que usa e as arruma com calma, sem tirar os olhos de mim. Não foco na sua análise crítica por muito tempo, porque estou mesmo tentando ser uma pessoa melhor e não entrar em mais um embate com ele, mas o senhor Salvatore maldito não me ajuda. Quando volto a olhar para seu rosto, vejo que seus olhos estão focados nos meus pés.

— Ajudo em algo mais?

— Não. Pode — Solto um suspiro de alívio e aceno em concordância, virando-me depressa para não dar tempo de ele mudar de ideia. Mas não sou rápida o suficiente ou ele que é um infeliz, porque logo me chama. — Senhorita Santoro?

— Sim, senhor?

— Se certifique de chegar no horário amanhã, e sóbria, por favor. Se não for pedir demais, claro. Não deixe que seu encontro atrapalhe as suas obrigações.

Arregalo meus olhos pela sua fala, fitando o miserável bonito demais para ser justo com o resto da população masculina. Eu poderia reb**er, claro que poderia. Tenho até uma resposta na ponta da língua sobre como ele pode enfiar a sugestão dele bem onde o sol não b**e, mas rebato? Claro que não. Não porque sou boba ou porque não sei me impor, só que quero mesmo terminar a minha noite na cama de alguém para me desestressar.

Estou tentando ser uma pessoa melhor, já disse. Sou capaz de me controlar, na maioria das vezes.

Aliás, como ele sabe que vou a um encontro? Poderia ser qualquer outro compromisso!

De toda forma, não penso muito nisso, apenas engulo a fala atrevida junto com meu veneno e aceno, abrindo um sorriso falso e saindo da sua sala. Reúno minhas coisas e o xingo baixinho enquanto isso, sem me preocupar se vai me ouvir. Não seria a primeira vez que Valentin me ouviria reclamar sobre ele — para alguém ou só para mim mesma.

Nunca me esqueço de quando ele me flagrou o xingando de todos os nomes ao telefone para Natasha, a minha melhor amiga.

Por falar nela, me esqueço do meu chefe e saio do prédio respondendo à sua última mensagem, enviada mais cedo, com mais uma foto de Amanda, minha afilhada, a bebê mais linda e simpática desse mundo inteiro.

Mando vários áudios exaltando a pequena e combino de me encontrar com Nat em algum dia do resto da semana. Nossa saída semanal ainda é sagrada, mesmo depois de tantos anos de amizade e de agora ela estar em outra vibe, sendo esposa e mãe. Apesar de ser uma atriz superfamosa, sinto que sua maior vocação é ser feliz ao lado da sua família. Nunca a vi tão radiante. Ela merece. Ainda mais depois do sufoco e do susto que passou há pouco tempo.

Longa história.

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