6- Valentin Salvatore.

Tento tirar a baixinha da minha cabeça e foco no que faço melhor: trabalho. Trabalho por várias horas, como sempre perdendo o horário de ir embora. Quando saio da empresa, já passa das onze da noite. É impressionante como sempre parece ficar coisa para trás, não importa quanto tempo eu trabalhe. Às vezes, ainda chego em casa e respondo alguns e-mails que chegam durante a noite.

Vou até a garagem e encontro meu motorista dormindo dentro do carro, apenas esperando. Bato na janela, e Lionel se ajeita, limpando a baba imaginária do canto da boca. Ele sai do carro e abre a porta de trás para mim, pedindo desculpas com um sorriso sem graça. Não o culpo.

Enquanto o homem começa a dirigir em direção à minha casa, respondo algumas mensagens que recebi da minha mãe. Já sei que ela vai me encher de bronca pela demora, porque foi enviada de manhã, mas antes tarde do que nunca. Respondo ao meu irmão caçula também, que me chama mais uma vez para que eu saia com ele. Nunca aceito, nem sei porque Tyler insiste.

Diferente de dona Eleanor, meu irmão visualiza na mesma hora e me manda uma série de bichinhos dando dedo. Reviro os olhos e mando meia dúzia de palavras sobre como ele é maduro para os seus vinte e cinco anos. Temos uma diferença de idade significativa, mas isso nunca foi uma barreira para nosso vínculo fraterno. Pelo contrário, sempre amei ter um pirralho me usando como modelo de vida. Uma pena que essa peste teve que crescer, e que não seguiu quase nada do que ensinei a ele.

Deixo-o no vácuo, mas não demora para o pentelho decidir que é uma boa ideia encher a porra do meu saco em uma ligação também.

— Fala, moleque chato do caralho — atendo, ouvindo a sua risada alta do outro lado da linha, sem estar nem um pouco incomodado pelo tratamento nada carinhoso.

— Você me deve uma, Valentin Evan Salvatore.

— E posso saber o que eu te devo dessa vez? — pergunto, dando corda para ele.

Agradeço ao meu motorista e o dispenso quando chegamos em casa, menos de dez minutos depois. Não foi de forma aleatória que escolhi essa mansão, ela fica perto da empresa e tem um pouco da paz que busco quando saio do trabalho. Fica isolada das demais, ocupando boa parte da rua, e ainda me dá acesso a um lado privativo de uma das belas praias de Malibu. Não que eu ande indo à praia, mas é bom ter a opção.

— Você perdeu minha festa de aniversário do ano passado, então está me devendo isso.

— Não perdi, não — rebato, lembrando-me bem de como fui obrigado a ir em uma boate lotada, cheia de gente suada e barulhenta, para comemorar o aniversário de Tyler.

Estou falando da pré-festa, meu irmão. Comigo, a comemoração começa cedo — ele responde rindo, e sacudo a cabeça pelo sem futuro que tenho como irmão. Escuto-o conversando com alguém do outro lado da linha, no lugar barulhento onde está.

Ah, você fala a desculpa de gente desocupada e sem emprego para gastar um dinheiro que não tem e acordar podre de ressaca no dia seguinte? Sei, nessa não fui mesmo.

— Você me Fere meus sentimentos sem dó, mete a faca no meu coração.

Tiro o celular do ouvido e coloco no viva-voz enquanto ando até o quarto. Quando coloco o aparelho no colchão e começo a me livrar da roupa, ele ainda segue no seu drama de sempre, tentando me convencer através da chantagem a fazer as coisas que quer. Nunca funciona, mas meu irmão tem como qualidade a insistência.

— Não adianta me ignorar, sei que está me ouvindo — resmunga, e volto a pegar o iPhone, revirando os olhos para ele mesmo que não me veja. Sigo até o banheiro e dou um jeito de me livrar da peste. Prometo que vou pensar no caso dele, só para poder desligar a ligação e tomar meu banho em paz.

Não demora nem um minuto para que ele mande uma nova mensagem. Penso em não abrir e seguir com a minha vida, mas nunca consigo fazer isso com ele, então acabo abrindo. Baixo o vídeo, contrariado, ouvindo sua voz gritada para se sobressair ao barulho do local lotado.

— Só te aviso que está perdendo. Está cheio de mulher bonita aqui! Vou ficar com todas para mim! Tchau, careta!

Não dou muita importância para o vídeo até que ele foca em uma mulher que conheço bem demais. O corpo pequeno chama a atenção no meio de todas as pessoas altas. Qual é a porra da chance?

Volto o vídeo para quando ela aparece e vejo que está com suas duas amigas, as mesmas para quem sempre a escuto me xingando pelo telefone. Natasha, a atriz, eu conheci em uma festa da empresa, há muito tempo. Já a outra não conheço muito, mas sei que também é amiga de Nicole.

— O que está fazendo em um lugar desses em pleno dia de semana? Irresponsável do caralho… — resmungo, mas deixo para lá porque não é da minha conta.

Nada disso é.

Não tenho nada a ver com a vida social da minha secretária. Ela pode sair quando quiser, do jeito que quiser. Desde que isso não atrapalhe o seu trabalho, consequentemente a minha vida, não ligo. O problema é que sempre atrapalha. Tomo um banho rápido xingando a infeliz de todos os nomes, porque já sei que amanhã vai ser um dia daqueles. Tenho outra reunião importante que vou precisar da sua companhia!

Quando saio do banheiro, com a toalha amarrada na cintura, me sento na cama e olho para a tela, vendo se Tyler me mandou mais alguma coisa, mas não tem mais nada. E se, por um acaso, meu irmão der em cima dela? Ele não vale nada, com certeza Nicole sairia magoada e faria da minha vida um inferno. Já falei que ela vira o capeta quando está estressada?

— Não, não vou deixar que isso aconteça. Posso tentar colocar um pouco de juízo na cabeça daquela desmiolada.

Só por isso, mando uma mensagem para meu irmão, perguntando onde ele está. Se fica surpreso com o questionamento, não fala nada. Apenas me manda a localização do lugar, e eu me apresso em me vestir. Eu deveria trabalhar, claro que deveria, mas vou aproveitar para tirar algumas horinhas de descanso. Estou precisando mesmo de um respiro.

Saio de casa e dirijo até a boate, estranhando dirigir depois de tanto tempo, porque faz bons anos que tenho motorista e nunca saio por aí sozinho. Mas é como andar de bicicleta, não tem como esquecer. Quando chego à boate, me arrependo de imediato de ter vindo. Não é meu ambiente para relaxar. Não é meu ambiente de jeito nenhum. Ponto.

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