Os olhos, mais verdes do que castanhos agora, me encaram com pleno choque. Ela abre e fecha a boca, encarando os demais funcionários com vergonha.— Ela não é a sua secretária? O que teria para comentar? — Pierre pergunta, espantado com minha fala.— E o que tem a ver? Ela é a minha secretária, e eu quero saber o que ela tem para dizer a respeito da sua apresentação. Além disso, o currículo dela é tão bom quanto o seu, Bones. Na verdade, eu diria que até melhor. Sabia que ela já ocupou o mesmo cargo que o seu na nossa principal concorrente?Se antes Nicole estava chocada, agora sua expressão é impagável. Poucas vezes a vi tão sem fala quanto neste momento. Os olhos bonitos me encaram como se quisessem me matar, e eu gosto dessa reação. Posso lidar com ela me odiando por pegá-la de surpresa. Não posso lidar com a sua tristeza.O restante da equipe também está paralisado, estudando Nicole com mais atenção. Como se só agora tivessem notado que ela estava aqui. Pierre tenta conter a expre
Precisei recorrer à minha melhor amiga para não surtar mais ainda. Veja bem, minha vida não está fácil nos últimos tempos. Tenho várias coisas para me preocupar, para lidar, para enfrentar.A última semana foi uma verdadeira provação para a minha saúde mental, com todo o lance com a minha mãe e com as minhas finanças, então a última coisa que preciso é de Valentin Salvatore tentando acabar com o que resta da minha vida.— Sinto vontade de matar aquele homem, Nat! — exclamo para minha melhor amiga, enquanto vejo que a safada prende o riso ao invés de me apoiar no meu discurso de ódio. — Estou vendo esse sorrisinho aí, Natasha Forbs! Estou falando sério, como pode uma pessoa tentar te foder assim?— Oh, amorzinho… Não estou rindo de você. Não exatamente, mas é engraçada essa sua situação com seu chefe. Tem anos que reclama desse homem, mas teima em ficar lá.— Eu sei, eu sei! Não quero soluções para os meus problemas, só quero reclamar! Me deixa! — resmungo, tentando me distrair com a p
Após dar um beijo na bochecha de Amanda e mais um em Nat, ele sai e nos deixa sozinhas, com a esposa babona suspirando mesmo depois que Benjamin some das suas vistas. Abro um sorriso sincero e aproveito do seu momento de distração para pegar uma almofada decima do sofá e jogar no seu rosto. O gesto assusta Natasha e faz Amanda gargalhar a ponto de cair com a bunda amortecida pela fralda direto no chão.— Olha a má influência para a minha filha! — Nat protesta, e eu solto uma risada Mesmo após a fala, ela sorri e pega outra almofada, falhando ao tentar jogá-la no meu rosto. — Ataca a madrinha, filha!Corro pela casa e vejo Natasha pegar Amanda no colo, sem saber quem ri mais com a brincadeira infantil. Quando as duas adultas se cansam, a criança ainda se mantém com a energia de dois seres humanos atletas. Nós brincamos com a pequena de coisas mais leves pelo restante da noite.É o tempo de Benjamin voltar para o jantar. Fico com a pequena, dando um tempo para os dois tomarem banho junt
As coisas voltaram ao seu curso natural.Nicole Santoro voltou a ser a secretária de língua afiada, resmungona, teimosa e que insiste em tentar me desafiar sempre que pode. Dessa forma, eu pude voltar a me concentrar na minha prioridade, que é a empresa. Estou estressado pra porra com as semanas turbulentas e cheias de altos e baixos, mas pelo menos tudo está dando certo e indo conforme o meu planejamento.Escuto uma batida na porta e autorizo a entrada no automático, focado apenas nos documentos na tela do computador. Enquanto leio o último parágrafo da página, me lembro da presença da pessoa que autorizei. Quando vejo a expressão de David Johnson, sei que vem merda. Ele se aproxima, cheio de dedos, com as mãos nos bolsos da calça social.— Bom dia, David. Está com os contratos? — pergunto, indo direto ao ponto, retirando os óculos de leitura e
Só volto para a realidade quando ela entra mais uma vez ali, parecendo inquieta.— Algum problema? — pergunto, estranhando a reação dela.— A sua mãe está aqui, senhor...— O quê? Porra, justo hoje. Deixe que ela entre, por favor.Olho para o relógio e vejo que são quase seis horas da tarde. Provavelmente, minha mãe veio cobrar as promessas que fiz para ela de que sairíamos para jantar juntos nos próximos dias. Não preciso dizer que não consegui cumprir porque estive trabalhando demais. Mas para ela ter vindo aqui, significa que não vai ouvir um “não” como resposta.Quando Eleanor Salvatore cruza a porta, a expressão simpática desaparece assim que me encara. Ela se aproxima, jovial e elegante demais para os sessenta anos que tem, ainda montada nos saltos altos e com os cabelos antes escuros agora
Viajar com Valentin. Ok, eu consigo fazer isso sem o matar. Vou tentar. Tenho uma família que precisa de mim, não posso ir presa agora. Esse seria um problema fodido e não estou podendo lidar com mais esse, então preciso conseguir.Serão cinco dias inteiros na companhia do homem mais intragável que já tive o desprazer de conhecer. Tudo bem. Talvez não o mais, mas um dos. Ele é difícil de lidar, e nunca sei o que esperar do seu humor. Só espero que nessa viagem, ele esteja bonzinho. Estou com os dedos cruzados, olhando para o relógio de minuto em minuto enquanto espero.Ele disse que não precisaria que eu fosse para a empresa, que o seu motorista ia passar aqui para que fôssemos direto para o aeroporto. Então estou pronta, com duas malas feitas, por garantia, porque como o maluco é imprevisível, preciso estar pronta para tudo. Pode me d
— Já vamos pousar em alguns minutos — ele anuncia, olhando para mim com um sorrisinho de lado. — Quase consigo me enganar contigo dormindo. Parece um anjo.— Não se engane.— Não me atreveria. Eu disse quase — diz sorrindo fraco, e eu solto um pigarro. Esse Valentin quase… fofo me intimida mais do que o intragável, babaca e arrogante que sempre faz questão de me irritar de propósito.Quando o piloto anuncia o pouso, meu chefe fecha seu notebook e o guarda na case de novo. Afivela o cinto e aponta para o meu, que está solto. Eu o prendo também, meio sonolenta ainda, e ajeito meus cabelos que deixei soltos, que se bagunçaram na minha soneca.Valentin me observa, sem disfarçar, e solto um pigarro, sem graça, porque ele está me encarando mais do que o normal. Será que está tramando algo maligno? E se es
Não sei se foi uma boa ideia ter trazido Nicole comigo nessa viagem. Em um primeiro momento, pareceu a melhor decisão. Não menti para ela quando disse que é uma das poucas pessoas naquela empresa que me traz problemas já com as soluções. Sei que ela é bem paga para isso, mas Nicole sempre faz além do que recebe para fazer.Lidar com ela quando se trata do trabalho, ignorando as trocas de farpas, claro, é fácil. A sua competência me ajuda, e acho que por isso que a segurei até onde pude como minha secretária. Mesmo sabendo que é um cargo muito pequeno para ela, meu lado egoísta não quis abdicar tão cedo de tê-la junto de mim.Mas sei que a hora de a liberar para que se desenvolva cada vez mais está chegando, e pensar nisso não deveria me causar tristeza. Vou sentir falta dos dias movimentados, das suas falas ariscas e das provo