As coisas voltaram ao seu curso natural.Nicole Santoro voltou a ser a secretária de língua afiada, resmungona, teimosa e que insiste em tentar me desafiar sempre que pode. Dessa forma, eu pude voltar a me concentrar na minha prioridade, que é a empresa. Estou estressado pra porra com as semanas turbulentas e cheias de altos e baixos, mas pelo menos tudo está dando certo e indo conforme o meu planejamento.Escuto uma batida na porta e autorizo a entrada no automático, focado apenas nos documentos na tela do computador. Enquanto leio o último parágrafo da página, me lembro da presença da pessoa que autorizei. Quando vejo a expressão de David Johnson, sei que vem merda. Ele se aproxima, cheio de dedos, com as mãos nos bolsos da calça social.— Bom dia, David. Está com os contratos? — pergunto, indo direto ao ponto, retirando os óculos de leitura e
Só volto para a realidade quando ela entra mais uma vez ali, parecendo inquieta.— Algum problema? — pergunto, estranhando a reação dela.— A sua mãe está aqui, senhor...— O quê? Porra, justo hoje. Deixe que ela entre, por favor.Olho para o relógio e vejo que são quase seis horas da tarde. Provavelmente, minha mãe veio cobrar as promessas que fiz para ela de que sairíamos para jantar juntos nos próximos dias. Não preciso dizer que não consegui cumprir porque estive trabalhando demais. Mas para ela ter vindo aqui, significa que não vai ouvir um “não” como resposta.Quando Eleanor Salvatore cruza a porta, a expressão simpática desaparece assim que me encara. Ela se aproxima, jovial e elegante demais para os sessenta anos que tem, ainda montada nos saltos altos e com os cabelos antes escuros agora
Viajar com Valentin. Ok, eu consigo fazer isso sem o matar. Vou tentar. Tenho uma família que precisa de mim, não posso ir presa agora. Esse seria um problema fodido e não estou podendo lidar com mais esse, então preciso conseguir.Serão cinco dias inteiros na companhia do homem mais intragável que já tive o desprazer de conhecer. Tudo bem. Talvez não o mais, mas um dos. Ele é difícil de lidar, e nunca sei o que esperar do seu humor. Só espero que nessa viagem, ele esteja bonzinho. Estou com os dedos cruzados, olhando para o relógio de minuto em minuto enquanto espero.Ele disse que não precisaria que eu fosse para a empresa, que o seu motorista ia passar aqui para que fôssemos direto para o aeroporto. Então estou pronta, com duas malas feitas, por garantia, porque como o maluco é imprevisível, preciso estar pronta para tudo. Pode me d
— Já vamos pousar em alguns minutos — ele anuncia, olhando para mim com um sorrisinho de lado. — Quase consigo me enganar contigo dormindo. Parece um anjo.— Não se engane.— Não me atreveria. Eu disse quase — diz sorrindo fraco, e eu solto um pigarro. Esse Valentin quase… fofo me intimida mais do que o intragável, babaca e arrogante que sempre faz questão de me irritar de propósito.Quando o piloto anuncia o pouso, meu chefe fecha seu notebook e o guarda na case de novo. Afivela o cinto e aponta para o meu, que está solto. Eu o prendo também, meio sonolenta ainda, e ajeito meus cabelos que deixei soltos, que se bagunçaram na minha soneca.Valentin me observa, sem disfarçar, e solto um pigarro, sem graça, porque ele está me encarando mais do que o normal. Será que está tramando algo maligno? E se es
Não sei se foi uma boa ideia ter trazido Nicole comigo nessa viagem. Em um primeiro momento, pareceu a melhor decisão. Não menti para ela quando disse que é uma das poucas pessoas naquela empresa que me traz problemas já com as soluções. Sei que ela é bem paga para isso, mas Nicole sempre faz além do que recebe para fazer.Lidar com ela quando se trata do trabalho, ignorando as trocas de farpas, claro, é fácil. A sua competência me ajuda, e acho que por isso que a segurei até onde pude como minha secretária. Mesmo sabendo que é um cargo muito pequeno para ela, meu lado egoísta não quis abdicar tão cedo de tê-la junto de mim.Mas sei que a hora de a liberar para que se desenvolva cada vez mais está chegando, e pensar nisso não deveria me causar tristeza. Vou sentir falta dos dias movimentados, das suas falas ariscas e das provo
— Que proposta? — Nicole questiona,— Uma trégua. Estamos em um lugar legal, com um clima gostoso, com ótimos lugares turísticos para conhecer e prestes a fecharmos dois contratos milionários, então não tem motivo para que a gente não se dê bem. Depois, se quiser, a gente volta ao normal.— Vai parar de ser babaca? E arrogante? E mandão? E…— Tudo bem, tudo bem, já entendi. Vou tentar. É mais forte que eu. É difícil mudar a personalidade, senhorita língua afiada.— Ok — ela concorda, rindo, bem mais leve do que costuma ficar no escritório. Tenho medo de essa versão de Nicole ser ainda mais hipnotizante do que as outras, não vou negar. — Assumo que não sou fácil. Podemos tentar. Vou tentar também, pelo bem desses cinco dias.— Temos um acordo, senhorita
Eu vou negar todos os acontecimentos dessa viagem até os últimos dias da minha vida. Jamais vou admitir para ninguém que me diverti um dia inteirinho ao lado de Valentin Salvatore. Se me perguntarem, direi que fui abduzida e trocada por outro ser humano.Não tem a menor condição de esse homem ser divertido! Recuso- me a aceitar que ele me fez rir de verdade durante a tarde que passamos juntos. Estou colocando culpa na tal trégua, mas não senti vontade de mandá-lo ir tomar no cu nem uma vez sequer! Isso é uma grande vitória para nossa relação.Enquanto chegamos no hotel, já anoitecendo, depois de conhecermos vários museus na cidade, um zoológico e um jardim botânico, eu me sinto feliz e leve como não me sinto há muito tempo. Estou falando que não está normal! Passei o dia com meu chefe e estou me sentindo bem. Que porra de universo paralelo é esse?— O dia escureceu e eu nem percebi — ele fala, sorrindo de um jeito charmoso, porque posso estar louca, mas senti que Valentin flertou comi
Retribuo o sorriso, e ele volta a focar no computador. Olho vez ou outra e o pego me encarando, sem disfarçar. Noto quando fecha a tela e se levanta, vindo até mim.— Arriscando soar pretensioso, uma mulher como você não deveria comer sozinha.— Quem disse que estou sozinha? — pergunto faceira, e o vejo hesitar por alguns — Um cavalheiro acabou de chegar para me fazer companhia.Quando entende a minha cantada barata, o homem vestido de maneira formal também sorri e se senta na cadeira em frente à minha. Ele se apresenta como Charles Bianchi e segura meus dedos de forma galante, beijando a ponta deles. O homem é mais velho, bonitão, e eu me sinto em um filme. Ouso sonhar que faço parte desse mundo. Digo meu nome pouco antes de recolher minha mão.— O que te traz aqui, Nicole?— Nada muito divertido. Apenas trabalho.— E quem disse que o trabalho não pode ser divertido? Veja só, no meio dele, acabei encontrando você.O homem é bom. Ele flerta em um tom respeitoso e brincalhão, e eu me d