5- Valentin Salvatore.

Louca.

De uma lista longa de adjetivos que podem ser utilizados para descrever Nicole Santoro, esse, com certeza, está no topo. Caralho, não consigo deixar de pensar em como ela sempre consegue me surpreender. Para o bem ou para o mal, consegue.

A sorte é que sou rápido para aparar seu corpo mesmo segurando um buquê em uma mão e o maldito cartão em outra. Deixo os objetos no chão mesmo e seguro a mulher minúscula, apoiando as duas mãos nas suas costas e erguendo-a. Solto um xingamento baixo, porque os funcionários começam a cochichar entre si ao presenciarem a cena.

Querendo fugir das fofocas, levo Nicole até a minha sala e empurro a porta com o ombro para fechá-la. Coloco a mulher miúda deitada no sofá de couro marrom que tem no canto. Raramente o uso, porque não costumo relaxar muito no escritório, mas pelo menos vai ser útil agora.

Cruzo os braços em frente ao corpo, enquanto aguardo sua farsa se encerrar, parando para observar como a maluca é bonita pra caralho. Já tive minha cota de mulheres ao longo dos meus quarenta anos, mas confesso que não me lembro de ter conhecido alguém como ela. Não somente pela aparência estonteante, e sim pelo combo. Nicole é, sim, linda e gostosa com seus um metro e meio, mas não é só isso.

Não tenho tempo de pensar demais nas suas qualidades quando a vejo abrir um olho de leve, como se o truque fosse passar despercebido por mim. Tapo a boca para prender o riso, porque, caralho, como é insana. Ela solta um suspiro e me olha, piscando devagar, colocando a mão na cabeça.

— O que… O que aconteceu? — pergunta, fingindo uma falta de memória.

— Você deu um show, senhorita Santoro. Ainda bem que não escolheu a carreira de atriz como a sua amiga, porque você iria passar fome — provoco, sabendo como ela sempre cai nas minhas frases utilizadas para causar suas reações explosivas.

— Do que está falando? Eu… desmaiei?

Observo-a se sentar no sofá, os cabelos longos batendo nas costas mesmo presos em um rabo de cavalo que sempre usa para trabalhar. Fantasio por um tempo como seria a textura deles, como ficariam enrolados nos meus dedos enquanto eu os puxasse.

— Preciso ir para casa, senhor Salvatore. Não estou me sentindo muito bem. Acho que foi o estresse do dia. Eu deveria ganhar uns dias de folga, sabe? Tem me explorado muito nas últimas semanas. Ou melhor, nos últimos anos!

— Não é assim que exploro uma mulher, senhorita.

Os olhos castanho-esverdeados se arregalam de surpresa, mas não dou tempo para que ela reaja muito, apenas me afasto dela e volto para a minha cadeira, ignorando a vontade de passar o dedo pelos lábios cheios, que estão sempre prontos para soltarem a primeira acidez que ela pensa.

Aprendi algumas coisas sobre Nicole no decorrer dos anos, desde que começou a trabalhar para mim. Costumo ser uma pessoa bastante observadora, essa é uma qualidade importante para os negócios, mas com ela… Sei mais do que deveria saber sobre uma simples funcionária.

Sei como é resmungona e teimosa, principalmente quando envolve o meu nome. Ela nem tenta esconder mais quando me xinga sempre que digo ou faço algo que a desagrada. Se fosse qualquer outra funcionária, ela não estaria mais aqui, porque não minto quando digo que seu comportamento extrapola todos os limites profissionais quando diz respeito a mim.

Sei como sua vida amorosa é bastante movimentada e como ela não parece durar com nenhum deles. Prova disso são os milhares de presentes baratos que recebe e j**a fora.

Sei como ela ama suas amigas como se fossem da sua família e como seria capaz de matar e morrer por elas. Inclusive, Nicole passou um bom tempo traumatizada com o episódio de sequestro dela e das suas amigas, que aconteceu há mais de um ano. Mesmo que tenha tentado se fazer de forte, sei como ficou assustada. Dei alguns dias de folga para ela, mas nada conseguiu segurar a mulher furacão em casa por muito tempo.

— Por que está me olhando assim? Não vou desmaiar de novo — ela fala, olhando para mim, ainda sentada no sofá, bem tranquila.

— Eu sei que não. Seus desmaios são… convenientes.

Nicole solta um pigarro e limpa uma sujeira imaginária no ombro, tentando disfarçar. Como se eu fosse idiota para acreditar em um desmaio falso. Quantos anos tem para se utilizar de uma tentativa tão infantil de fugir das suas responsabilidades? Sei que tem vinte e cinco, mas na maioria dos dias, não age como uma pessoa dessa idade.

— Pode ir, senhorita Santoro. Não me faça mudar de ideia sobre te liberar mais cedo.

— Mais cedo? Meu horário é até as seis, e olha só! São seis horas!

Não vem com esse papo de chefe bonzinho que isso não cola comigo.

A miniatura de mulher se levanta, sem dificuldade nenhuma em se equilibrar nos saltos imensos que usa para compensar a baixa estatura. Ela bufa, resmunga algo que não consigo ouvir e sai da minha sala sem dizer mais nada. Solto a risada que estava prendendo e passo as mãos pelo meu rosto, tentando, mais uma vez, entender essa dinâmica que há entre nós.

Ela me odeia, e eu finjo odiá-la de volta.

Não a odeio. Não consigo.

Ok, talvez eu a odeie um pouco quando me pega em um péssimo dia, quando o estresse já está nas alturas e tenho que lidar com suas provocações. Mas não dura muito. Posso dizer que a odeio na dose certa. É até melhor assim, porque não sei o que seria de mim se isso não fosse dessa forma.

Provocações à parte, gosto de ter Nicole por perto. Ela é extremamente inteligente, eficiente e habilidosa. Tirando o fato de que é uma tentação do caralho ter que olhar todo dia para as pernas torneadas, expostas pelos vestidos e saias apertadas que usa, eu gosto. Prefiro quando usa os terninhos sociais coloridos, porque tornam minha vida um pouco mais fácil.

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