Furo a fila de pessoas reclamando, evitando que esbarrem em mim, e vejo o segurança me olhar desconfiado.
— Para o final da fila, senhor!
— Vim buscar meu irmão, ele está dando trabalho aí dentro — minto com facilidade, e ele coça a barba, pensativo. — Sou Valentin Salvatore e posso…
— O dono da LDrinks? Por que não falou antes? Eu amo as suas bebidas, cara. Vamos, entre!
Surpreso por um cara no meio do nada ter me reconhecido, eu sorrio em agradecimento e entro. Não é como se todo mundo no país me conhecesse por aí. A empresa só tem dez anos, é relativamente nova, tem sua fama, mas não sou famoso. Apareço vez ou outra em capas de revista e em divulgações da marca por aí, apesar de achar uma grande baboseira ter que usar a minha imagem como marketing.
Xingo alto quando vejo que o lugar tem mais gente do que imaginei e me meto no meio dos corpos suados, buscando alguma área VIP, porque tenho certeza de que é nela que meu irmão está metido. Descubro que acertei no palpite quando o vejo dançando com duas mulheres no andar superior e vou até lá, dando meu nome mais uma vez para o outro segurança que controla o acesso ao lugar privilegiado. De novo, não me barram.
— Não estou acreditando no que meus olhos estão vendo. Valentin Evan Salvatore se juntando a mim em uma farra! — grita Tyler, afastando-se das mulheres para me abraçar com força. — O que eu fiz que te convenceu? Você nunca vem! Está doente? Estou preocupado.
Eu me afasto quando ele grita perto demais do meu ouvido e dou batidinhas na sua cabeça, em um costume antigo, de quando Tyler ainda era uma criança.
Não tenho tempo de responder, porque quando me viro para o fundo do camarote, vejo o motivo de eu ter vindo até aqui, toda animadinha. Pelo menos até virar o corpo em minha direção e me ver.
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Nicole Santoro.
Eu sou uma boa pessoa, sabe? Sou uma excelente filha, honro meus pais, cuido dos dois com carinho. Sou uma ótima amiga também, me preocupo com elas, sou presente e demonstro meu amor da melhor forma que posso.
Então, por que infernos sou punida? Hein?
Não é possível que até na minha noite de folga agora vou ser obrigada a lidar com Valentin. Não pode ser coincidência, cara. Como meuchefe veio parar em um lugar como esse, para começo de conversa? Este seria o último lugar em todo o universo em que eu imaginava vê-lo. Como eu disse, nem sabia que o desgraçado tinha vida social!
— Não acredito — falo baixo, o que obriga Natasha a se inclinar para mais perto de mim para me ouvir melhor. — O infeliz do meu chefe está aqui! Não acredito! Eu aposto que ele me seguiu para me encher o saco e ficar no meu pé aqui também!
— O quê? Cadê? — Maya, nossa mais recente amiga, também conhecida como namorada do pai de Natasha, se vira para procurar o homem a quem estou me Discreta como um coice de cavalo. — Onde? Qual deles? Não me diga que é o barbudo gostoso?
— O próprio. O gostoso fica por sua conta — digo, puta da vida por ele estar tentando acabar com a minha diversão.
Qual é? É proibido sair para me divertir também?
É estranho. Fora as reuniões em que vamos em restaurantes chiques espalhados por Malibu, nunca o vejo fora do escritório. Sua imagem sempre está relacionada a trabalho, então é esquisito demais vê-lo tão informal em uma boate barulhenta. Não combina com Valentin Salvatore. Não mesmo.
Desvio da troca de olhares intensa, cheia de muito ódio, para olhar a roupa despojada. Nunca o vi fora do terno também. Que porra! Eu esperava que parte da beleza dele fosse pelo clichê de homem poderoso vestido de um jeito formal, mas não. Ele fica bonito até com a roupa casual toda preta. É apenas uma camisa gola polo, uma calça jeans e um par de tênis. Como o ordinário consegue ter uma aparência tão extraordinária?
— Ele é mais bonito do que eu me lembrava, amorzinho — Nat fala, toda faceira ao meu lado, e olho para ela como se tivesse nascido chifres em sua cabeça. Como eu disse, nunca vou assumir para ninguém nada relacionado à sua beleza.
— Uma pena que não vale nada.
Aproveito a oportunidade para parar de olhar para ele quando o garçom da área VIP, cortesia por ser amiga de Natasha Forbs, vem nos servir nossas bebidas. Como minha melhor amiga ainda está amamentando nossa pequena Amanda, se mantém no suco enquanto eu e Maya aproveitamos para encher a cara por ela.
— Estava com tanta saudade de uma noite de garotas! Ultimamente, a única que estou tendo é com minha pequena — Nat diz, empolgada como há muito tempo não a via. Ela reluz de tanta felicidade.
— Quem precisa de noite de garotas quando se tem um gostoso como marido? — brinco, recebendo de volta uma cotovelada e um sorriso bobo. Ela sabe que ganhou na loteria duas vezes com aquele homem e com a filha linda que ele a deu. Eles são a família perfeita. — Não vai me dizer que estou mentindo?
— Não está. Ele é mesmo sensacional! — fala rindo e me abraçando pelos ombros. Ela faz o mesmo com Maya, que apenas ri, sem estar acostumada com a forma de amor de Natasha, que envolve bastante contato físico.
Somos muito diferentes nesse sentido. Eu me doo muito a qualquer relação que tenha, tirando a amorosa inexistente por opção, claro. Defendo quem eu amo com unhas e dentes, parto para briga se for preciso, mas não conte comigo para declarações aleatórias e carinho físico. Tenho outras formas de demonstrar meu amor.
— Vamos dançar, porque quero aproveitar muito a nossa noite! — Nat nos arrasta para a pista de dança da área VIP, e preciso me equilibrar para não deixar meu drink cair.
Danço com as duas e viro a bebida de uma vez, entregando a taça vazia para o garçom bonitinho que passa por nós. Rebolo e gargalho com as melhores companhias do mundo para mim, sem cansar. Nat é a primeira a desistir porque desacostumou com as noitadas, mas eu e Maya nos mantemos ali por mais alguns minutos.
Meu corpo sua, meus pés começam a doer, mas não paro porque eu amo dançar! Quando Maya fala algo no meu ouvido sobre banheiro, apenas aceno com a cabeça e sigo dançando conforme ela se afasta. Junto os fios de cabelos, sentindo a nuca molhada pelo suor, e o seguro em um rabo de cavalo imaginário enquanto sigo rebolando.
Sinto um corpo esbarrar nas minhas costas e me viro, desculpando- me com o homem. Ele sorri e não disfarça o olhar por todo meu corpo, focando nos meus peitos saltando no decote generoso do vestido branco e colado que uso. São bonitos mesmo, sei que é difícil não olhar.
— Me desculpe você, gata. Não ia me perdoar se machucasse uma mulher como você.
Se eu fosse feia, então podia?
Abro um sorriso sedutor, porque apesar da cantada ser broxante, ele é gostoso. Não quero um marido, só procuro uma sentada despretensiosa! Isso não é pedir demais. Não hoje, porque já bebi demais, mas nada me impede de pegar o telefone dele. Nunca se sabe o dia de amanhã.
— Sou Henry, e você? — ele pergunta, aproveitando-se da altura da música para se aproximar de mim.
É cheiroso, mais um bônus para ele.
— É um prazer conhecer você, Henry.
Quando conversar sem estourar o tímpano do outro se torna impossível, eu me contento em dançar contra os músculos dele. São durinhos, noto quando meus dedos deslizam de forma nada despretensiosa pelo seu tanquinho. Henry nota e sorri, apreciando minha investigação. É um ótimo parquinho para eu me divertir, gostei.
Henry se curva para falar alguma coisa no meu ouvido, mas eu me distraio com a visão de Valentin conversando com uma mulher monumental. Ela é da altura dele e está bem perto, falando algo no seu ouvido com um sorriso fácil. E caramba! Ele está sorrindo para ela! Nunca vi esse sorriso antes.Valentin Salvatore está em busca da sua caça, e não sei como me sinto em presenciar uma coisa tão íntima do meu chefe. Eu não deveria ter que ver isso, droga. Pelo visto, o que ele diz para a peituda ruiva a agrada demais porque ela faz questão de esfregar os peitões nele, que não a afasta.— Tudo bem por você? — Henry fala mais alto no meu ouvido, e eu volto à realidade, dando-me conta de que não escutei nadinha do que ele falou.— Desculpe, eu me distraí. — Com meu chefe flertando, completo em pensamento. — Vamos fazer o seguinte. Não estou no meu melhor momento agora, por que não me pega meu número e a gente combina algo depois?Ele não parece muito chateado com a ideia e não demora a tirar o ce
— Achei que estivesse no banheiro — diz, prendendo o riso, e se vira para meu chefe. — Olá, se lembra de mim? Sou Natasha.— Oi, Natasha. Claro que me lembro. Como está? — Ele é um poço de simpatia com minha amiga, conversando amenidades, e vejo como ela cai na lábia dele.Queria que tivesse que conviver com Valentin diariamente para ver se ia ficar sorrindo feito boba assim.— Amorzinho, eu preciso ir. Não queria acabar nossa noite mais cedo, mas Amanda está enjoadinha. Benjamin me ligou agora para dizer que ela não consegue dormir.— Tudo bem, Vamos. Será que não é bom levá-la ao médico?Esqueço-me de Valentin, ainda parado mais perto do que o necessário, preocupada com a minha pequenina. É um ser humano tão frágil que demorei a pegá-la no colo, com medo de quebrar. Sempre me preocupo com qualquer resfriado que ela pega.— Não se preocupe. Você pode ficar, se for o que quer… Está sóbria?— Estou, mas eu vou com você. Não tenho por que ficar aqui.Quando digo isso, olho direto para V
— Eu quero. Estou mesmo merecendo um aumento. Aquele homem me deve — brinco, e ele sacode a cabeça, sabendo que não vai conseguir tirar isso da minha cabeça.Já é algo que penso há um tempo, mas preciso me planejar para encaixar mais essa despesa na minha vida. Vou precisar abrir mão de alguma coisa, mas não ligo se isso significar deixar meu pai menos sobrecarregado.Quando tivemos o diagnóstico, foi um baque para todos nós, claro. Mamãe tinha alguns sintomas com frequência, que sempre justificava com o sedentarismo, com a preguiça que tinha de exercícios. Se ela subia poucos degraus de escada e ficava extremamente cansada, dizia que não estava acostumada. Se sentia formigamentos durante um dia inteiro nas pernas, era porque dormiu em uma posição ruim.Foi difícil convencê-la de que não era normal ter sintomas como esses por um período longo. A sorte foi que ela tem dois teimosos ao seu redor, e eu e papai não desistimos até levá-la ao médico.Após ser encaminhada para um neurologist
Há coisas na vida que eu gostaria de não me preocupar.Não me leve a mal, não sou uma má pessoa ou sem escrúpulos, mas sei reconhecer o limite das coisas. Sei que não é normal que eu esteja preocupado com minha secretária nesse nível. Fiquei desfocado nos últimos dias, pensando no que diabos aconteceu com ela para ter pedido essa folga com tanta urgência. Apesar de Nicole ter seus maus momentos, ela é uma ótima funcionária e nunca me deixou na mão antes.Foram dias insanos, em que percebi que ela é a pessoa que me traz de volta à realidade, a única capaz de me impedir de mergulhar no trabalho ao ponto de me esquecer de tudo. Prova disso é que perdi uma reunião importante. Não porque eu não sabia da existência, eu sabia, mas perdi a porra da noção da hora. Quando vi, já tinha se passado tempo demais.Nicole me mantém atento e me faz aterrissar quando minha mente se desliga por tempo demais para focar no que tenho que fazer.Espero muito que essa mulher volte hoje.Não que eu esteja olh
Os olhos, mais verdes do que castanhos agora, me encaram com pleno choque. Ela abre e fecha a boca, encarando os demais funcionários com vergonha.— Ela não é a sua secretária? O que teria para comentar? — Pierre pergunta, espantado com minha fala.— E o que tem a ver? Ela é a minha secretária, e eu quero saber o que ela tem para dizer a respeito da sua apresentação. Além disso, o currículo dela é tão bom quanto o seu, Bones. Na verdade, eu diria que até melhor. Sabia que ela já ocupou o mesmo cargo que o seu na nossa principal concorrente?Se antes Nicole estava chocada, agora sua expressão é impagável. Poucas vezes a vi tão sem fala quanto neste momento. Os olhos bonitos me encaram como se quisessem me matar, e eu gosto dessa reação. Posso lidar com ela me odiando por pegá-la de surpresa. Não posso lidar com a sua tristeza.O restante da equipe também está paralisado, estudando Nicole com mais atenção. Como se só agora tivessem notado que ela estava aqui. Pierre tenta conter a expre
Deveria ter um limite do quanto uma só pessoa pode ser babaca e arrogante. Juro que deveria. Isso tinha que estar, sei lá, na Constituição do país, proibindo chefes de serem tão… insuportáveis.Sabe o pior?Eu reclamo há anos, todos os dias da minha vida, sobre isso. Não estou exagerando, reclamo mesmo. Faço algo para mudar? Não. Pode parecer que sou frouxa, que não tenho amor à minha própria vida, mas não é isso. Pelo menos, não é só isso.A real é que odeio mudanças. Fico apavorada quando se trata das bonitinhas. Meu cérebro cheio de ansiedade começa a criar mil e duas hipóteses do que pode dar errado se eu decidir arriscar pedir demissão para não ter que suportar mais a personalidade intragável de Valentin, e sempre acho que nunca é a hora certa de mudar.Porque eu dependo do dinheiro.Porque poderia ser pior.Porque o maldito não é tão ruim assim.E, realmente, Valentin Salvatore poderia ser pior. Sou a prova real de que existem chefes muito piores por aí, mas não sou uma pessoa q
Sorrio quando ela surta mais uma vez dizendo que o pai dela está a enlouquecendo com o planejamento da festa de aniversário de Amanda, que vai ocorrer daqui umas semanas. A pequena vai fazer apenas um aninho de vida, mas a comemoração vai virar notícia graças ao avô babão, tenho certeza. Como tudo na vida de Nat.Quando chego no meu carro, jogo a bolsa no banco do passageiro e dirijo até o barzinho em que combinei de me encontrar com Oliver, um amigo com benefícios com quem estou envolvida sexualmente há um bom tempo. Ele é uma ótima companhia, divertido, inteligente e ainda me come de forma satisfatória, então tenho um combo muito bom em uma pessoa só.Mandei mensagem para ele mais cedo, dizendo que ia me atrasar por causa do meu chefe carrasco, e Oliver entendeu, respondendo que ia me esperar porque a noite é uma criança. É provável que já esperasse que eu não fosse chegar no horário, porque não é a primeira vez que me atraso pelo mesmo motivo.Assim que estaciono um pouco distante
Meu humor está terrível no dia seguinte ao caos.Eu deveria me acostumar com isso, afinal, não é a primeira vez que acontece. Pelo visto, não será a última. O que tem de errado com os homens? Por que sempre sou atraída pelos emocionados, quando tudo o que quero é um cafajeste que queira as mesmas coisas que eu?Não me julgue. Não é que nunca vou querer sossegar, construir uma família, ficar o resto da minha vida com uma pessoa só. Quero isso, em algum momento. Só não agora. Tudo está instável demais na minha vida. Começando pela minha carreira, que não foi bem o que planejei para meu futuro.A meta de todo trabalhador é progredir, subir de cargo, ser reconhecido fazendo o que ama. E isso já aconteceu comigo um dia. Quando arrancaram tudo isso de mim, fui obrigada a aceitar um emprego como secretária, ganhando até bem, mas tendo que aceitar um chefe carrasco de brinde. Não tinha experiência na área assim que me aceitaram na vaga, há três anos, só que meu currículo é excelente e estavam