8- Nicole Santoro.

Henry se curva para falar alguma coisa no meu ouvido, mas eu me distraio com a visão de Valentin conversando com uma mulher monumental. Ela é da altura dele e está bem perto, falando algo no seu ouvido com um sorriso fácil. E caramba! Ele está sorrindo para ela! Nunca vi esse sorriso antes.

Valentin Salvatore está em busca da sua caça, e não sei como me sinto em presenciar uma coisa tão íntima do meu chefe. Eu não deveria ter que ver isso, droga. Pelo visto, o que ele diz para a peituda ruiva a agrada demais porque ela faz questão de esfregar os peitões nele, que não a afasta.

— Tudo bem por você? — Henry fala mais alto no meu ouvido, e eu volto à realidade, dando-me conta de que não escutei nadinha do que ele falou.

— Desculpe, eu me distraí. — Com meu chefe flertando, completo em pensamento. — Vamos fazer o seguinte. Não estou no meu melhor momento agora, por que não me pega meu número e a gente combina algo depois?

Ele não parece muito chateado com a ideia e não demora a tirar o celular do bolso para que eu digite meu número. Quando o faço, dou um beijo na bochecha dele depois de ficar na ponta dos pés e volto para o sofá, onde Maya e Nat conversam animadas.

Se voltássemos um ano atrás, eu jamais diria que essa cena seria possível. No início do relacionamento de Maya com o pai de Nat, minha melhor amiga odiou a nova namorada de Thomas Forbs, muitos anos mais nova do que ele, apenas por ciúme da falecida mãe. Hoje em dia, graçasa mim, somos um trio inseparável. Obrigada, de nada.

— Cansou? Desistiu do gostosão? — Maya pergunta, apontando para o homem que seguiu a vida dançando com a próxima mulher da fila.

— Não, só adiei — respondo, tirando um pouco os saltos dos pés, só para dar um descanso a eles. — Eu me distraí com o chefe do inferno flertando. Quem diria que ele tem uma vida, afinal de contas?

Peço mais uma bebida para o garçom que está mesmo disposto a me fazer gastar hoje, enquanto observo o homem ainda entretido com a peituda. Meu Deus, ela poderia ser mais discreta! Daqui um pouco, as tetas dela vão bater na cara dele. É isso o que a mulher quer, pelo visto.

— Ué, você achou que ele fosse monge? — Nat pergunta, rindo.

— Claro que não. Só é estranho ver um homem tão intragável assim, todo solto. Comigo, ele deixa só a parte ruim — resmungo, fazendo uma careta para Valentin, mesmo que não esteja focado em mim.

Tem peitos imensos na sua frente, como estaria?

Como se tivesse me ouvido, ele se vira para mim de forma nada discreta e só me olha. Os olhos, como sempre, vêm até meus pés, agora descalços. Valentin ergue a sobrancelha escura e grossa, e abro meu melhor sorriso falso que consigo. A mulher tenta chamar a sua atenção de volta, e eu me levanto, doida para parar de alimentar os pesadelos que sei que vou ter com meu chefe trepando.

Eca! Eu me arrepio só de pensar nisso.

— Vou ao banheiro, gatinhas — digo para Nat e Maya, e elas apenas concordam, batendo na minha bunda enquanto termino de calçar os sapatos.

Fico na fila imensa por longos minutos antes de conseguir usar o banheiro. Encaro meu reflexo brilhante de suor no espelho e dou um jeito de amarrar meus cabelos para tirar um pouco da gastura deles grudando na minha nuca. Retoco meu batom, gasto apenas pelas bebidas que tomei, porque hoje fiquei no zero a zero em relação à bocas para beijar.

Assim que saio do banheiro, dou de cara com Valentin, quase entrando no masculino, que está muito mais vazio do que o feminino. Ele para de frente para mim, me olha de cima a baixo e abre o sorriso misterioso de lado.

— Quem diria que um dia eu te veria em um lugar como esse? — falo, cruzando os braços em frente ao corpo, na postura defensiva que aprendi a usar com ele.

— É, quem diria. Queria poder dizer o mesmo da senhorita. Não estou surpreso, já é um hábito que aja de forma irresponsável.

— Como é? Quem acha que é para me chamar assim, seu… prepotente?! Você está aqui também! Por que isso não o torna irresponsável?

— Cuidado com a língua, Santoro.

Valentin se aproxima de mim, e eu me assusto pelo gesto que parece ameaçador, dando alguns passos para trás. Solto um grito quando, do nada, ele me segura pela cintura e me gira com uma agilidade impressionante. Só depois entendo que me livrou de esbarrar em alguma mulher que estava saindo do banheiro. É péssimo, porque seu corpo fica perto demais do meu.

Espero sentir o cheiro de álcool para justificar a proximidade que nunca aconteceu antes, mas não sinto nada. Apenas o perfume gostoso e inebriante de todos os dias.

— Aqui, você não manda em mim, Salvatore — falo seu sobrenome em tom de escárnio, e ele parece bravo comigo de verdade. — Se eu sou tão irresponsável como diz, por que nunca me demitiu, hein? É porque sou boa no que faço, ou por que sabe que jamais encontraria outra louca para ficar no meu lugar? Você sabe que é insuportável!

— Você não é a pessoa mais fácil de lidar no mundo, querida — ele rebate, e meus olhos se arregalam em choque pelo apelido irônico que sai da sua boca.

— Sou um docinho perto de você.

Valentin se afasta de mim para rir, mas o hálito gostoso e refrescante chega ao meu nariz de todo jeito. Eu tiro alguns minutos para apreciar a risada dele, não vou negar. É chocante! É normal que esteja tão curiosa com esse lado dele que nunca vi. É tudo para ter material para usar contra ele, claro. Tudo é meramente profissional.

— Toma cuidado, Santoro — Valentin fala, soltando um suspiro enquanto coça a barba de forma brusca, — Você pode não saber, mas nem todas as pessoas do mundo são boas como você. Se o inferno está cheio de boas intenções, na Terra existem as piores.

— O que quer dizer com isso?

— Não fique vulnerável perto de desconhecidos. 

— Eu não fico — rebato na mesma hora, porque essa é a minha regra suprema. Não bebo quando saio sozinha e nem acompanhada só de homens. Só confio nas minhas amigas, porque sei que elas cuidam de mim caso eu precise.

Não tenho tempo de responder mais nada, porque logo vejo Natasha vindo em direção ao banheiro, com o celular na mão, parecendo me procurar. Não consigo me afastar de Valentin rápido o suficiente, porque ela nos vê perto demais. A sobrancelha loira se arqueia e ela abre um sorrisinho de lado.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo