Henry se curva para falar alguma coisa no meu ouvido, mas eu me distraio com a visão de Valentin conversando com uma mulher monumental. Ela é da altura dele e está bem perto, falando algo no seu ouvido com um sorriso fácil. E caramba! Ele está sorrindo para ela! Nunca vi esse sorriso antes.
Valentin Salvatore está em busca da sua caça, e não sei como me sinto em presenciar uma coisa tão íntima do meu chefe. Eu não deveria ter que ver isso, droga. Pelo visto, o que ele diz para a peituda ruiva a agrada demais porque ela faz questão de esfregar os peitões nele, que não a afasta.
— Tudo bem por você? — Henry fala mais alto no meu ouvido, e eu volto à realidade, dando-me conta de que não escutei nadinha do que ele falou.
— Desculpe, eu me distraí. — Com meu chefe flertando, completo em pensamento. — Vamos fazer o seguinte. Não estou no meu melhor momento agora, por que não me pega meu número e a gente combina algo depois?
Ele não parece muito chateado com a ideia e não demora a tirar o celular do bolso para que eu digite meu número. Quando o faço, dou um beijo na bochecha dele depois de ficar na ponta dos pés e volto para o sofá, onde Maya e Nat conversam animadas.
Se voltássemos um ano atrás, eu jamais diria que essa cena seria possível. No início do relacionamento de Maya com o pai de Nat, minha melhor amiga odiou a nova namorada de Thomas Forbs, muitos anos mais nova do que ele, apenas por ciúme da falecida mãe. Hoje em dia, graçasa mim, somos um trio inseparável. Obrigada, de nada.
— Cansou? Desistiu do gostosão? — Maya pergunta, apontando para o homem que seguiu a vida dançando com a próxima mulher da fila.
— Não, só adiei — respondo, tirando um pouco os saltos dos pés, só para dar um descanso a eles. — Eu me distraí com o chefe do inferno flertando. Quem diria que ele tem uma vida, afinal de contas?
Peço mais uma bebida para o garçom que está mesmo disposto a me fazer gastar hoje, enquanto observo o homem ainda entretido com a peituda. Meu Deus, ela poderia ser mais discreta! Daqui um pouco, as tetas dela vão bater na cara dele. É isso o que a mulher quer, pelo visto.
— Ué, você achou que ele fosse monge? — Nat pergunta, rindo.
— Claro que não. Só é estranho ver um homem tão intragável assim, todo solto. Comigo, ele deixa só a parte ruim — resmungo, fazendo uma careta para Valentin, mesmo que não esteja focado em mim.
Tem peitos imensos na sua frente, como estaria?
Como se tivesse me ouvido, ele se vira para mim de forma nada discreta e só me olha. Os olhos, como sempre, vêm até meus pés, agora descalços. Valentin ergue a sobrancelha escura e grossa, e abro meu melhor sorriso falso que consigo. A mulher tenta chamar a sua atenção de volta, e eu me levanto, doida para parar de alimentar os pesadelos que sei que vou ter com meu chefe trepando.
Eca! Eu me arrepio só de pensar nisso.
— Vou ao banheiro, gatinhas — digo para Nat e Maya, e elas apenas concordam, batendo na minha bunda enquanto termino de calçar os sapatos.
Fico na fila imensa por longos minutos antes de conseguir usar o banheiro. Encaro meu reflexo brilhante de suor no espelho e dou um jeito de amarrar meus cabelos para tirar um pouco da gastura deles grudando na minha nuca. Retoco meu batom, gasto apenas pelas bebidas que tomei, porque hoje fiquei no zero a zero em relação à bocas para beijar.
Assim que saio do banheiro, dou de cara com Valentin, quase entrando no masculino, que está muito mais vazio do que o feminino. Ele para de frente para mim, me olha de cima a baixo e abre o sorriso misterioso de lado.
— Quem diria que um dia eu te veria em um lugar como esse? — falo, cruzando os braços em frente ao corpo, na postura defensiva que aprendi a usar com ele.
— É, quem diria. Queria poder dizer o mesmo da senhorita. Não estou surpreso, já é um hábito que aja de forma irresponsável.
— Como é? Quem acha que é para me chamar assim, seu… prepotente?! Você está aqui também! Por que isso não o torna irresponsável?
— Cuidado com a língua, Santoro.
Valentin se aproxima de mim, e eu me assusto pelo gesto que parece ameaçador, dando alguns passos para trás. Solto um grito quando, do nada, ele me segura pela cintura e me gira com uma agilidade impressionante. Só depois entendo que me livrou de esbarrar em alguma mulher que estava saindo do banheiro. É péssimo, porque seu corpo fica perto demais do meu.
Espero sentir o cheiro de álcool para justificar a proximidade que nunca aconteceu antes, mas não sinto nada. Apenas o perfume gostoso e inebriante de todos os dias.
— Aqui, você não manda em mim, Salvatore — falo seu sobrenome em tom de escárnio, e ele parece bravo comigo de verdade. — Se eu sou tão irresponsável como diz, por que nunca me demitiu, hein? É porque sou boa no que faço, ou por que sabe que jamais encontraria outra louca para ficar no meu lugar? Você sabe que é insuportável!
— Você não é a pessoa mais fácil de lidar no mundo, querida — ele rebate, e meus olhos se arregalam em choque pelo apelido irônico que sai da sua boca.
— Sou um docinho perto de você.
Valentin se afasta de mim para rir, mas o hálito gostoso e refrescante chega ao meu nariz de todo jeito. Eu tiro alguns minutos para apreciar a risada dele, não vou negar. É chocante! É normal que esteja tão curiosa com esse lado dele que nunca vi. É tudo para ter material para usar contra ele, claro. Tudo é meramente profissional.
— Toma cuidado, Santoro — Valentin fala, soltando um suspiro enquanto coça a barba de forma brusca, — Você pode não saber, mas nem todas as pessoas do mundo são boas como você. Se o inferno está cheio de boas intenções, na Terra existem as piores.
— O que quer dizer com isso?
— Não fique vulnerável perto de desconhecidos.
— Eu não fico — rebato na mesma hora, porque essa é a minha regra suprema. Não bebo quando saio sozinha e nem acompanhada só de homens. Só confio nas minhas amigas, porque sei que elas cuidam de mim caso eu precise.
Não tenho tempo de responder mais nada, porque logo vejo Natasha vindo em direção ao banheiro, com o celular na mão, parecendo me procurar. Não consigo me afastar de Valentin rápido o suficiente, porque ela nos vê perto demais. A sobrancelha loira se arqueia e ela abre um sorrisinho de lado.
— Achei que estivesse no banheiro — diz, prendendo o riso, e se vira para meu chefe. — Olá, se lembra de mim? Sou Natasha.— Oi, Natasha. Claro que me lembro. Como está? — Ele é um poço de simpatia com minha amiga, conversando amenidades, e vejo como ela cai na lábia dele.Queria que tivesse que conviver com Valentin diariamente para ver se ia ficar sorrindo feito boba assim.— Amorzinho, eu preciso ir. Não queria acabar nossa noite mais cedo, mas Amanda está enjoadinha. Benjamin me ligou agora para dizer que ela não consegue dormir.— Tudo bem, Vamos. Será que não é bom levá-la ao médico?Esqueço-me de Valentin, ainda parado mais perto do que o necessário, preocupada com a minha pequenina. É um ser humano tão frágil que demorei a pegá-la no colo, com medo de quebrar. Sempre me preocupo com qualquer resfriado que ela pega.— Não se preocupe. Você pode ficar, se for o que quer… Está sóbria?— Estou, mas eu vou com você. Não tenho por que ficar aqui.Quando digo isso, olho direto para V
— Eu quero. Estou mesmo merecendo um aumento. Aquele homem me deve — brinco, e ele sacode a cabeça, sabendo que não vai conseguir tirar isso da minha cabeça.Já é algo que penso há um tempo, mas preciso me planejar para encaixar mais essa despesa na minha vida. Vou precisar abrir mão de alguma coisa, mas não ligo se isso significar deixar meu pai menos sobrecarregado.Quando tivemos o diagnóstico, foi um baque para todos nós, claro. Mamãe tinha alguns sintomas com frequência, que sempre justificava com o sedentarismo, com a preguiça que tinha de exercícios. Se ela subia poucos degraus de escada e ficava extremamente cansada, dizia que não estava acostumada. Se sentia formigamentos durante um dia inteiro nas pernas, era porque dormiu em uma posição ruim.Foi difícil convencê-la de que não era normal ter sintomas como esses por um período longo. A sorte foi que ela tem dois teimosos ao seu redor, e eu e papai não desistimos até levá-la ao médico.Após ser encaminhada para um neurologist
Há coisas na vida que eu gostaria de não me preocupar.Não me leve a mal, não sou uma má pessoa ou sem escrúpulos, mas sei reconhecer o limite das coisas. Sei que não é normal que eu esteja preocupado com minha secretária nesse nível. Fiquei desfocado nos últimos dias, pensando no que diabos aconteceu com ela para ter pedido essa folga com tanta urgência. Apesar de Nicole ter seus maus momentos, ela é uma ótima funcionária e nunca me deixou na mão antes.Foram dias insanos, em que percebi que ela é a pessoa que me traz de volta à realidade, a única capaz de me impedir de mergulhar no trabalho ao ponto de me esquecer de tudo. Prova disso é que perdi uma reunião importante. Não porque eu não sabia da existência, eu sabia, mas perdi a porra da noção da hora. Quando vi, já tinha se passado tempo demais.Nicole me mantém atento e me faz aterrissar quando minha mente se desliga por tempo demais para focar no que tenho que fazer.Espero muito que essa mulher volte hoje.Não que eu esteja olh
Os olhos, mais verdes do que castanhos agora, me encaram com pleno choque. Ela abre e fecha a boca, encarando os demais funcionários com vergonha.— Ela não é a sua secretária? O que teria para comentar? — Pierre pergunta, espantado com minha fala.— E o que tem a ver? Ela é a minha secretária, e eu quero saber o que ela tem para dizer a respeito da sua apresentação. Além disso, o currículo dela é tão bom quanto o seu, Bones. Na verdade, eu diria que até melhor. Sabia que ela já ocupou o mesmo cargo que o seu na nossa principal concorrente?Se antes Nicole estava chocada, agora sua expressão é impagável. Poucas vezes a vi tão sem fala quanto neste momento. Os olhos bonitos me encaram como se quisessem me matar, e eu gosto dessa reação. Posso lidar com ela me odiando por pegá-la de surpresa. Não posso lidar com a sua tristeza.O restante da equipe também está paralisado, estudando Nicole com mais atenção. Como se só agora tivessem notado que ela estava aqui. Pierre tenta conter a expre
Deveria ter um limite do quanto uma só pessoa pode ser babaca e arrogante. Juro que deveria. Isso tinha que estar, sei lá, na Constituição do país, proibindo chefes de serem tão… insuportáveis.Sabe o pior?Eu reclamo há anos, todos os dias da minha vida, sobre isso. Não estou exagerando, reclamo mesmo. Faço algo para mudar? Não. Pode parecer que sou frouxa, que não tenho amor à minha própria vida, mas não é isso. Pelo menos, não é só isso.A real é que odeio mudanças. Fico apavorada quando se trata das bonitinhas. Meu cérebro cheio de ansiedade começa a criar mil e duas hipóteses do que pode dar errado se eu decidir arriscar pedir demissão para não ter que suportar mais a personalidade intragável de Valentin, e sempre acho que nunca é a hora certa de mudar.Porque eu dependo do dinheiro.Porque poderia ser pior.Porque o maldito não é tão ruim assim.E, realmente, Valentin Salvatore poderia ser pior. Sou a prova real de que existem chefes muito piores por aí, mas não sou uma pessoa q
Sorrio quando ela surta mais uma vez dizendo que o pai dela está a enlouquecendo com o planejamento da festa de aniversário de Amanda, que vai ocorrer daqui umas semanas. A pequena vai fazer apenas um aninho de vida, mas a comemoração vai virar notícia graças ao avô babão, tenho certeza. Como tudo na vida de Nat.Quando chego no meu carro, jogo a bolsa no banco do passageiro e dirijo até o barzinho em que combinei de me encontrar com Oliver, um amigo com benefícios com quem estou envolvida sexualmente há um bom tempo. Ele é uma ótima companhia, divertido, inteligente e ainda me come de forma satisfatória, então tenho um combo muito bom em uma pessoa só.Mandei mensagem para ele mais cedo, dizendo que ia me atrasar por causa do meu chefe carrasco, e Oliver entendeu, respondendo que ia me esperar porque a noite é uma criança. É provável que já esperasse que eu não fosse chegar no horário, porque não é a primeira vez que me atraso pelo mesmo motivo.Assim que estaciono um pouco distante
Meu humor está terrível no dia seguinte ao caos.Eu deveria me acostumar com isso, afinal, não é a primeira vez que acontece. Pelo visto, não será a última. O que tem de errado com os homens? Por que sempre sou atraída pelos emocionados, quando tudo o que quero é um cafajeste que queira as mesmas coisas que eu?Não me julgue. Não é que nunca vou querer sossegar, construir uma família, ficar o resto da minha vida com uma pessoa só. Quero isso, em algum momento. Só não agora. Tudo está instável demais na minha vida. Começando pela minha carreira, que não foi bem o que planejei para meu futuro.A meta de todo trabalhador é progredir, subir de cargo, ser reconhecido fazendo o que ama. E isso já aconteceu comigo um dia. Quando arrancaram tudo isso de mim, fui obrigada a aceitar um emprego como secretária, ganhando até bem, mas tendo que aceitar um chefe carrasco de brinde. Não tinha experiência na área assim que me aceitaram na vaga, há três anos, só que meu currículo é excelente e estavam
— Não sou arisca. — É tudo o que consigo dizer para tentar me defender, porque pelo visto, Valentin Salvatore me conhece bem demais para o meu gosto. O foda da situação é que a fala sai ácida, como se para provar o seu ponto.Ele abre um sorriso rápido de lado, bastante raro. Só usa quando não fala o que está pensando de verdade. Normalmente, são nos nossos embates saudáveis. Imagino que seja algo muito ruim para ser dito em voz alta, porque ele não é de guardar nada. O homem não hesita em brigar e dizer como gosta que as coisas aconteçam por aqui.— Tem muito mais. Posso ficar o restante do dia aqui falando sobre a sua falta de profissionalismo, mas vou finalizar com os presentinhos que você recebe com mais frequência do que seria apropriado para o ambiente de trabalho. Flores, ursos gigantes, serenatas…— Não é minha culpa! Não é como se eu quem enviasse os presentes. — Mas tem como garantir que eles não sejam entregues aqui, senhorita Santoro, e sim na sua casa. Sua vida pessoal g