— Eu quero. Estou mesmo merecendo um aumento. Aquele homem me deve — brinco, e ele sacode a cabeça, sabendo que não vai conseguir tirar isso da minha cabeça.Já é algo que penso há um tempo, mas preciso me planejar para encaixar mais essa despesa na minha vida. Vou precisar abrir mão de alguma coisa, mas não ligo se isso significar deixar meu pai menos sobrecarregado.Quando tivemos o diagnóstico, foi um baque para todos nós, claro. Mamãe tinha alguns sintomas com frequência, que sempre justificava com o sedentarismo, com a preguiça que tinha de exercícios. Se ela subia poucos degraus de escada e ficava extremamente cansada, dizia que não estava acostumada. Se sentia formigamentos durante um dia inteiro nas pernas, era porque dormiu em uma posição ruim.Foi difícil convencê-la de que não era normal ter sintomas como esses por um período longo. A sorte foi que ela tem dois teimosos ao seu redor, e eu e papai não desistimos até levá-la ao médico.Após ser encaminhada para um neurologist
Há coisas na vida que eu gostaria de não me preocupar.Não me leve a mal, não sou uma má pessoa ou sem escrúpulos, mas sei reconhecer o limite das coisas. Sei que não é normal que eu esteja preocupado com minha secretária nesse nível. Fiquei desfocado nos últimos dias, pensando no que diabos aconteceu com ela para ter pedido essa folga com tanta urgência. Apesar de Nicole ter seus maus momentos, ela é uma ótima funcionária e nunca me deixou na mão antes.Foram dias insanos, em que percebi que ela é a pessoa que me traz de volta à realidade, a única capaz de me impedir de mergulhar no trabalho ao ponto de me esquecer de tudo. Prova disso é que perdi uma reunião importante. Não porque eu não sabia da existência, eu sabia, mas perdi a porra da noção da hora. Quando vi, já tinha se passado tempo demais.Nicole me mantém atento e me faz aterrissar quando minha mente se desliga por tempo demais para focar no que tenho que fazer.Espero muito que essa mulher volte hoje.Não que eu esteja olh
Os olhos, mais verdes do que castanhos agora, me encaram com pleno choque. Ela abre e fecha a boca, encarando os demais funcionários com vergonha.— Ela não é a sua secretária? O que teria para comentar? — Pierre pergunta, espantado com minha fala.— E o que tem a ver? Ela é a minha secretária, e eu quero saber o que ela tem para dizer a respeito da sua apresentação. Além disso, o currículo dela é tão bom quanto o seu, Bones. Na verdade, eu diria que até melhor. Sabia que ela já ocupou o mesmo cargo que o seu na nossa principal concorrente?Se antes Nicole estava chocada, agora sua expressão é impagável. Poucas vezes a vi tão sem fala quanto neste momento. Os olhos bonitos me encaram como se quisessem me matar, e eu gosto dessa reação. Posso lidar com ela me odiando por pegá-la de surpresa. Não posso lidar com a sua tristeza.O restante da equipe também está paralisado, estudando Nicole com mais atenção. Como se só agora tivessem notado que ela estava aqui. Pierre tenta conter a expre
Deveria ter um limite do quanto uma só pessoa pode ser babaca e arrogante. Juro que deveria. Isso tinha que estar, sei lá, na Constituição do país, proibindo chefes de serem tão… insuportáveis.Sabe o pior?Eu reclamo há anos, todos os dias da minha vida, sobre isso. Não estou exagerando, reclamo mesmo. Faço algo para mudar? Não. Pode parecer que sou frouxa, que não tenho amor à minha própria vida, mas não é isso. Pelo menos, não é só isso.A real é que odeio mudanças. Fico apavorada quando se trata das bonitinhas. Meu cérebro cheio de ansiedade começa a criar mil e duas hipóteses do que pode dar errado se eu decidir arriscar pedir demissão para não ter que suportar mais a personalidade intragável de Valentin, e sempre acho que nunca é a hora certa de mudar.Porque eu dependo do dinheiro.Porque poderia ser pior.Porque o maldito não é tão ruim assim.E, realmente, Valentin Salvatore poderia ser pior. Sou a prova real de que existem chefes muito piores por aí, mas não sou uma pessoa q
Sorrio quando ela surta mais uma vez dizendo que o pai dela está a enlouquecendo com o planejamento da festa de aniversário de Amanda, que vai ocorrer daqui umas semanas. A pequena vai fazer apenas um aninho de vida, mas a comemoração vai virar notícia graças ao avô babão, tenho certeza. Como tudo na vida de Nat.Quando chego no meu carro, jogo a bolsa no banco do passageiro e dirijo até o barzinho em que combinei de me encontrar com Oliver, um amigo com benefícios com quem estou envolvida sexualmente há um bom tempo. Ele é uma ótima companhia, divertido, inteligente e ainda me come de forma satisfatória, então tenho um combo muito bom em uma pessoa só.Mandei mensagem para ele mais cedo, dizendo que ia me atrasar por causa do meu chefe carrasco, e Oliver entendeu, respondendo que ia me esperar porque a noite é uma criança. É provável que já esperasse que eu não fosse chegar no horário, porque não é a primeira vez que me atraso pelo mesmo motivo.Assim que estaciono um pouco distante
Meu humor está terrível no dia seguinte ao caos.Eu deveria me acostumar com isso, afinal, não é a primeira vez que acontece. Pelo visto, não será a última. O que tem de errado com os homens? Por que sempre sou atraída pelos emocionados, quando tudo o que quero é um cafajeste que queira as mesmas coisas que eu?Não me julgue. Não é que nunca vou querer sossegar, construir uma família, ficar o resto da minha vida com uma pessoa só. Quero isso, em algum momento. Só não agora. Tudo está instável demais na minha vida. Começando pela minha carreira, que não foi bem o que planejei para meu futuro.A meta de todo trabalhador é progredir, subir de cargo, ser reconhecido fazendo o que ama. E isso já aconteceu comigo um dia. Quando arrancaram tudo isso de mim, fui obrigada a aceitar um emprego como secretária, ganhando até bem, mas tendo que aceitar um chefe carrasco de brinde. Não tinha experiência na área assim que me aceitaram na vaga, há três anos, só que meu currículo é excelente e estavam
— Não sou arisca. — É tudo o que consigo dizer para tentar me defender, porque pelo visto, Valentin Salvatore me conhece bem demais para o meu gosto. O foda da situação é que a fala sai ácida, como se para provar o seu ponto.Ele abre um sorriso rápido de lado, bastante raro. Só usa quando não fala o que está pensando de verdade. Normalmente, são nos nossos embates saudáveis. Imagino que seja algo muito ruim para ser dito em voz alta, porque ele não é de guardar nada. O homem não hesita em brigar e dizer como gosta que as coisas aconteçam por aqui.— Tem muito mais. Posso ficar o restante do dia aqui falando sobre a sua falta de profissionalismo, mas vou finalizar com os presentinhos que você recebe com mais frequência do que seria apropriado para o ambiente de trabalho. Flores, ursos gigantes, serenatas…— Não é minha culpa! Não é como se eu quem enviasse os presentes. — Mas tem como garantir que eles não sejam entregues aqui, senhorita Santoro, e sim na sua casa. Sua vida pessoal g
Louca.De uma lista longa de adjetivos que podem ser utilizados para descrever Nicole Santoro, esse, com certeza, está no topo. Caralho, não consigo deixar de pensar em como ela sempre consegue me surpreender. Para o bem ou para o mal, consegue.A sorte é que sou rápido para aparar seu corpo mesmo segurando um buquê em uma mão e o maldito cartão em outra. Deixo os objetos no chão mesmo e seguro a mulher minúscula, apoiando as duas mãos nas suas costas e erguendo-a. Solto um xingamento baixo, porque os funcionários começam a cochichar entre si ao presenciarem a cena.Querendo fugir das fofocas, levo Nicole até a minha sala e empurro a porta com o ombro para fechá-la. Coloco a mulher miúda deitada no sofá de couro marrom que tem no canto. Raramente o uso, porque não costumo relaxar muito no escritório, mas pelo menos vai ser útil agora.Cruzo os braços em frente ao corpo, enquanto aguardo sua farsa se encerrar, parando para observar como a maluca é bonita pra caralho. Já tive minha cota