Rosa não entendia por que o pai a odiava tanto. Isso acontecia desde quando era muito pequena, e ela se lembrava de sua mãe sempre se colocando entre ela e as agressões. Já com Jéssica, o homem era mais brando. Ele não era afetuoso ou cuidadoso, mas Jéssica não precisava fugir dele como Rosa.
As aparências das irmãs eram gritantes na diferença, e ninguém no mundo acreditaria que elas eram irmãs. Os traços, a cor de pele e, principalmente, a índole eram completamente diferentes. --- Quando Jéssica saiu da hotel naquela tarde, Rosa instruiu Vitor a agir como se fosse mudo. Ela sabia que, se por acaso o menino a chamasse de tia, poderiam levantar suspeitas. — Vitor, escute bem. Se, por um acaso, você me chamar de tia, isso pode criar problemas. Temos que manter a mentira firme — disse Rosa, em tom sério. Vitor, por sua vez, apenas acenou com a cabeça, compreendendo a gravidade da situação. Ele sabia que as coisas com a mãe e a tia eram complicadas. No final da tarde, Jéssica anunciou que eles partiriam para o império de Guilherme Moreau, mas por pouco tempo. — Vamos para o império de Guilherme amanhã cedo. Será o nosso novo lar — disse Jéssica com um tom de decisão. Rosa, no entanto, não conseguiu dormir. O medo tomava conta dela, pois sabia o quão perigoso poderia ser esse novo capítulo em sua vida e na vida de Vitor. --- Pela manhã, o telefone do quarto tocou, avisando que o motorista de Guilherme Moreau os aguardava. Rosa percebeu que Jéssica estava visivelmente animada, algo que ela não via há muito tempo. — Bom dia, César — disse Rosa ao motorista, enquanto ele a observava pelo retrovisor. César, com um olhar insistente, finalmente quebrou o silêncio. — Desculpe a pergunta, mas... ela é sua filha? A pergunta foi dirigida a Jéssica, que imediatamente demonstrou irritação. — Ela é minha irmã, e este é meu sobrinho — respondeu Jéssica com frieza. César, um tanto surpreso, arriscou mais uma observação: — Com todo respeito, mas vocês não parecem irmãs. Jéssica, sentindo o tom indelicado, mudou rapidamente o rumo da conversa. — O senhor Guilherme Moreau está na mansão? — perguntou, tentando desviar da pergunta incômoda. — Sim, senhora — respondeu César. Jéssica, então, com um tom mais firme, disse: — Não seja maldoso, motorista. Senhorita, por favor. Rosa, embora desconfortável com a situação, fingia não perceber os olhares de César, que, apesar de ser atraente, estava invadindo seu espaço de maneira incomodativa. --- A viagem até o império de Guilherme Moreau durou cerca de uma hora. Era uma mansão impressionante. Rosa e Vitor se entreolharam, imaginando que poderiam ser felizes ali, se não fossem as circunstâncias que os haviam levado até aquele lugar. Circunstâncias que nem eles compreendiam completamente. A casa era grandiosa, e ao redor haviam outras construções menores, mas igualmente sofisticadas. Uma senhora saiu da casa principal, sorrindo para eles. — Olá, vocês devem ser os convidados que o senhor Guilherme esperava. Eu sou Meg, Sejam bem-vindos. Por alguns segundos, Meg se aproximou de Jéssica para um abraço. Ela rapidamente estendeu a mão, pois Jéssica não parecia querer estabelecer uma conexão física com ela. Meg percebendo a resistência, estendeu a mão para Rosa, que aceitou o gesto calorosamente. Meg sorriu amplamente, depois se abaixou para cumprimentar Vitor e o abraçou, recebendo o abraço com carinho. — Como se chama esse menino bonito? — perguntou Meg sorrindo para Vitor. — Ele não fala. Nasceu mudo — mentiu Jéssica, sem hesitar. Meg tentando não deixar a situação desconfortável, disse: — Sinto muito, mas não se preocupe, aqui ele terá motivos para sorrir. — O nome dele é Vitor. Vitor Duret — Rosa disse com uma voz doce. A conversa foi interrompida por César, que estava observando a cena de longe: — Não vai falar comigo, Meg? Meg e César se cumprimentaram com um abraço amigável. — Onde está Guilherme? — perguntou Cesar — Ele saiu cedo. Deve estar na empresa — respondeu Meg. — Que beleza. Me coloca como motorista e ainda esquece da reunião que marcamos — brincou César. Meg, tentando aliviar o ambiente tenso, sugeriu: — Vamos entrar e tomar um café. Depois, Guilherme se senta com vocês para explicar como as coisas funcionam por aqui. Rosa e César levaram as malas para dentro. César não conseguia tirar os olhos de Rosa, que, apesar de estar com um vestido simples e sapatilhas gastas, exalava uma beleza peculiar e inusitada. Jéssica, por sua vez, ainda estava tentando entender quem César realmente era. Ela não sabia que ele era um homem de negócios bem-sucedido, e por isso, o tratava com certo desprezo. Meg os conduziu até a cozinha, onde havia uma mesa farta para o café da manhã. Jéssica não parecia confortável com a situação, mas decidiu acompanhar. Todos se sentaram, e Meg percebendo a hesitação de Rosa e Vitor, comentou: — Comam à vontade. Aqui, um dos maiores privilégios é a fartura. O senhor Guilherme come junto.Após o café, Rosa foi ajudar Meg a arrumar a cozinha, mesmo que ela insistisse que não precisava.Cesar se ofereceu para mostrar a mansão a Vitor. O garoto, ainda desconfiado, foi tranquilizado por Meg, que garantiu que ele estaria seguro. Vitor procurava aprovação no olhar de Rosa, que apenas balançou a cabeça, indicando que estava tudo bem.Jéssica, sem saber ainda da influência de Cesar, perguntou se ele poderia levá-la até Guilherme. Ele concordou, e os dois partiram. Cesar também queria encontrar o amigo para tratar de assuntos importantes.Enquanto isso, houve um desencontro. Cesar levou Vitor para empresa que ficava ao lado, mas Jéssica, que não queria ir, não teve muita escolha, já que ainda não conhecia bem a mansão. Guilherme retornou por outra estrada, em sua caminhonete.Guilherme, um homem de poucas palavras, chegou à casa e foi recebido por Meg, que sorria enquanto Rosa, tentando alcançar o armário, se equilibrava em uma cadeira. A cena fez Meg rir, e Rosa, um pouco sem
César se apressou em levar Jéssica para a cidade, ele sabia que a paciência do amigo era limitada, e Jéssica era uma mulher extremamente irritante e falsa. Seu comportamento mudou com César depois que ela descobriu que ele também era um dos acionistas do império mafioso de Guilherme, além de ser um dos responsáveis pelas operações da família.__Bom, agora que já terminamos a reunião, eu vou tomar um banho e, depois que almoçarmos, vou conhecer um pouco mais sobre os negócios da família. __Você almoça na cidade, eu já estou de partida. Vou ter um dedo de prosa de cinco minutinhos com meu primão e partimos. Mas, outro dia, você experimenta o tempero maravilhoso de Meg, afinal, você pode pedir para ela entrar, por favor. Ela precisa acertar com Rosa como ficará os horários delas duas.A mansão de Guilherme era afastada da cidade.Meg começou a trabalhar para a família Moreau quando a mãe de Guilherme ainda estava viva. Elas eram grandes amigas, a única amiga que Margarida teve. Meg cui
Guilherme e Gustavo Moreau, irmãos de sangue e de um legado poderoso, tiveram destinos muito distintos. Filhos do temido Dom Sampaio, um dos maiores chefes da máfia, os dois eram a promessa de uma dinastia ainda mais forte. Quando o pai faleceu, deixou sua cadeira de poder para Guilherme, um homem marcado profundamente pelas cicatrizes da guerra e pela vida implacável que levara, tanto no corpo quanto na alma.Guilherme, com sua presença imponente e suas cicatrizes visíveis, não foi escolhido apenas pela sua força, mas pela frieza e pela mente estratégica. Ele era um líder, não apenas por direito, mas por sua habilidade em se manter firme nas decisões difíceis, algo que o tornava respeitado e temido.Por outro lado, Gustavo, sempre idealista e com uma visão mais questionadora da vida, não compartilhou da mesma filosofia. Sua inclinação para discutir sobre responsabilidade, ética e outras questões mais "humanas" o tornou uma ameaça à visão pragmática de poder de seu irmão. Em um mundo
Anos depois de fugir para o Brasil em busca de diversão e liberdade, Gustavo viu seu dinheiro se esgotar. O estilo de vida luxuoso e irresponsável que havia adotado começou a desmoronar, e a realidade, dura como sempre, o forçou a voltar para onde tudo começou. Não havia mais alternativas. O poder de sua família ainda estava vivo, mas, sem a fortuna que ele havia desperdiçado, não restava outra opção senão retornar para o império que ele tinha deixado para trás.Ao voltar, encontrou Guilherme bem diferente do homem que havia deixado para trás. Guilherme agora era um homem marcado não apenas pelas cicatrizes do corpo, mas pela responsabilidade e peso do império. Sua presença era imponente: alto, forte, com um olhar ríspido e frio. A dureza de sua vida e as exigências de seu cargo o haviam transformado em alguém quase inacessível. Guilherme era uma parede de força, de indiferença, e estava muito distante de ser o irmão que Gustavo conhecera.Por outro lado, Gustavo continuava a ser um h
Katrina e Gustavo, unidos pela ambição e pela ilusão de derrubar Guilherme, acreditavam que juntos poderiam destruir a estrutura de poder que ele havia conquistado e tomar o seu lugar. Eles estavam convencidos de que, ao se casar, poderiam não apenas humilhar Guilherme, mas também assumir o controle do império da máfia, com o apoio do pai de Katrina, que se veria à frente do império da máfia francesa. Era um plano impulsionado por ego e desejo de poder, uma aliança traiçoeira forjada no intuito de destronar o homem que já comandava tudo.Para alcançar esse objetivo, eles urdiram uma trama ardilosa: simular um incêndio acidental no apartamento de Guilherme, algo que causaria sua morte e abriria caminho para a ascensão de Gustavo, enquanto Katrina assumiria seu lugar como esposa e herdeira. Tudo foi meticulosamente planejado para parecer um acidente, uma fatalidade inevitável. Mas a realidade era bem diferente. O incêndio foi inteiramente proposital, com cada passo calculado para garant
Rosa cresceu em um ambiente sufocante. Perdeu a mãe muito jovem para o câncer e ficou aos cuidados de um pai alcoólatra e violento. Ela vivia na tensão constante de escapar de abusos e das agressões físicas que marcavam seu corpo e alma.Jéssica, sua irmã mais velha, tinha dez anos a mais e sempre fez questão de lembrar Rosa de que foi ela quem assumiu a responsabilidade de criá-la. Fria, autoritária e amarga, Jéssica nunca demonstrava afeto ou compaixão, e sua única preocupação era controlar a irmã. Apesar disso, Rosa encontrava forças no amor por Vitor, seu sobrinho. Ele era o único motivo que a mantinha de pé, o único laço que impedia que ela caísse em um poço de desespero.Pedro, filho de Jéssica, era uma criança frágil e retraída. Aos sete anos, parecia menor e mais infantil do que realmente era, consequência de uma vida de negligência e medo. Nunca conheceu o pai e convivia com o fardo de ser indesejado, algo que Jéssica fazia questão de deixar claro em palavras e atitudes. O me