Rosa percebeu que Guilherme ficou intrigado, mas pensou que talvez ele não tivesse gostado do beijo… ou quem sabe, aquela metida da Katrina ainda mexesse com ele, e ele poderia não ter gostado dela ter se intrometido na história.— Ora, ora, parece que temos um casal apaixonado — Katrina tentou manter a pose, mas por dentro... ela fervia. Odiou ver a cena, odiou ainda mais perceber que Guilherme parecia mexido com Rosa.Já Gustavo se mantinha calado. Observava tudo com atenção, analisando cada detalhe. E estava fascinado por Rosa. Por dentro, pensava que talvez ela estivesse com Guilherme por interesse... talvez por dinheiro.— Vão embora — Guilherme exigiu, seco.— Precisamos conversar — Gustavo afirmou com firmeza.— Não temos o que conversar. Vão embora agora. E não voltem mais!— Precisamos ir até Gramado — insistiu Gustavo.Era uma cidade no Rio Grande do Sul. A mãe deles havia sido enterrada lá, e uma missa era realizada todos os anos. Os irmãos sempre se deslocavam para a cerim
No restante do domingo, Guilherme tentou uma aproximação com Rosa, mas ela fugiu.Até seus tecidos ela deixou na máquina de costura... Ele suspirou, pensativo, talvez fosse melhor ceder e deixá-la levar aquela máquina para a casa dela de uma vez por todas.Na segunda-feira, era dia de vindima — a tradicional colheita manual das uvas. Raramente, na propriedade, Guilherme optava pela colheita mecânica. Gostava da tradição, do burburinho dos homens, do som das tesouras cortando os cachos e da conversa fiada no meio das parreiras.Enquanto isso, algumas mulheres se juntaram a Meg e Rosa na cozinha para ajudar nos preparativos do almoço. Estava uma bagunça gostosa, barulhenta, cheia de risos. Guilherme, como de costume, ajudava os homens. Cada um com sua tesoura, iam trabalhando com afinco.À noite, todos se reuniriam ao redor da fogueira para ouvir modas de viola, comer carne assada e beber um bom vinho.Mas, no momento do almoço, Guilherme e Meg perceberam a ausência de Rosa. Ele sabia o
Os dias seguiam nada tranquilos. Guilherme continuava tentando obter mais informações sobre a família Rosa — queria saber quem eram todos eles.Rosa até tentava fugir de Guilherme, mas era quase impossível. Adorava os beijos dele.— Gui, não podemos fazer isso — murmurou ela, com a respiração acelerada.Ele estava grudado nela na cozinha, em plena tarde, com um calor imenso lá fora. Dentro da cozinha, tudo parecia ainda mais quente.Guilherme enfiou a língua dentro da boca dela, e Rosa correspondeu. Tinha aprendido direitinho.A excitação dele era tamanha que chegava a doer.— Me diga o que não podemos, Rosa? — ele provocou, a voz rouca de desejo.Ela esqueceu de reclamar. Nem sabia mais se conseguiria ficar sem os beijos dele.Vitinho estava na casa de Tião, brincando com as gêmeas que tinham a mesma idade que ele.— Sabe, Rosa... às vezes acho que você usa esses vestidos só pra me provocar — ele murmurou, encostando os lábios outra vez nos dela.Mas Rosa não deixava passar disso, e
Rosa até ia trocar de roupa.— Não precisa… — Guilherme disse, num tom baixo e seguro. — Não vai encontrar com ninguém no caminho.Ela apenas pegou um roupão e colocou por cima da camisola leve. Com o celular na mão, acompanhou Guilherme, que carregava Vitinho nos braços. O menino tinha um sono pesado, respirava devagarinho.Rosa, antes de sair, fechou as janelas e trancou as portas. O céu lá fora estava estrelado, bonito, sereno, quase como um sinal de paz.Guilherme levou Vitinho até o quarto que já considerava ser do garoto. Rosa ia para o quarto onde costumava dormir quando estava na casa grande, mas ele a segurou pela mão com delicadeza.— Dorme comigo. — pediu, com os olhos presos nos dela.— Eu acho que ainda não é o momento… — ela respondeu, hesitante, olhando pro chão.— Não vamos fazer nada… só dormir. — ele garantiu, com uma sinceridade quase infantil.— Promete? — Ela ergueu os olhos, desconfiada.Ele se aproximou e a beijou. Rosa gemeu baixinho nos lábios dele, surpresa c
Guilherme estava em choque.Rosa, sem entender o que acontecia, mal conseguiu pensar nesse detalhe.Virgindade. Foi isso que Guilherme descobriu. Rosa era virgem — e agora ele sabia que Vitinho não era filho dela. Aquilo explicava a falta de experiência no beijo, o jeito delicado, inseguro.Ele pensou que deveria ter ficado bravo. Afinal, ela havia mentido. E eram mentiras comprometedoras.Mas, à sua frente, estava uma menina ainda intocada, que confiava nele. Nem podia chamá-la de mulher — era uma menina pura, que ele deveria ter protegido com mais cuidado.Guilherme ficou ali, parado, em silêncio, tentando processar tudo.Rosa, envergonhada, encolheu-se. O corpo tremia. Sentiu que talvez ele estivesse arrependido de ter se deitado com ela.Sem dizer nada, levantou-se devagar, pegou as roupas e se vestiu às pressas, tentando esconder as lágrimas que insistiam em escorrer.Guilherme continuava imóvel, paralisado, sem saber o que dizer, o que fazer.— Rosa... eu... eu sinto muito... —
Guilherme finalmente encontrou. Descobriu que eles haviam embarcado para o Rio, usando identidades falsas.Na documentação, Rosa era a responsável por Vitinho — o que, de certo modo, facilitou a fuga.Sem perder tempo, Guilherme pegou o carro e seguiu o ônibus. O veículo ainda não tinha feito parada, o que dificultou que Guilherme os acompanhasse.Desesperado, ele fazia manobras perigosas na BR, forçando o motorista a decidir se parava pela insistência dele ou se seguia viagem. O homem temeu um assalto... mas, antes que acontecesse um acidente, cedeu.A porta do ônibus se abriu com um rangido tenso.Guilherme começou a gritar:— Rosa! Rosa! — sua voz era um misto de alívio, urgência e angústia.Lá dentro, Rosa cochilava. Não havia pregado o olho a noite inteira.Mas quem ouviu foi Vitinho. Seus olhos se arregalaram. O coração disparou. Ele conhecia aquela voz.— É o tio! É o tio Guilherme! — gritou o menino, levantando-se num pulo.Rosa tentou contê-lo com o braço, o coração acelerado
Guilherme sentiu que Rosa estava tensa. Sabia o motivo: Jéssica.Ela estava com medo da irmã arrancar o menino dela.Ligou para César — primo e amigo de confiança, além de empresário com uma porcentagem de ações na empresa Moreau. Também era advogado — e dos bons. César tinha investimentos, outras ações, e era filho único. Seu pai, irmão de Sampaio, o tornava um Moreau de sangue. O ramo da família era joias, e César era tão rico quanto Guilherme — e leal.A compra das ações na empresa foi mesmo para manter os olhos em Gustavo. O pai de César nunca confiou nele — e com razão.César veio assim que Guilherme ligou.Toda a situação foi explicada em detalhes. César foi direto:— Rosa, me prometa que não vai omitir nada. Qualquer detalhe importa. Estamos lidando com algo precioso: a vida de um menino.Rosa contou o que julgava importante para o caso.— Eu adoraria dizer que temos chance de ganhar essa causa — suspirou ele, sério — mas não temos. Jéssica é a mãe. Vai ser a sua palavra contra
Rosa cresceu em um ambiente sufocante. Perdeu a mãe muito jovem para o câncer e ficou aos cuidados de um pai alcoólatra e violento. Ela vivia na tensão constante de escapar de abusos e das agressões físicas que marcavam seu corpo e alma.Jéssica, sua irmã mais velha, tinha dez anos a mais e sempre fez questão de lembrar Rosa de que foi ela quem assumiu a responsabilidade de criá-la. Fria, autoritária e amarga, Jéssica nunca demonstrava afeto ou compaixão, e sua única preocupação era controlar a irmã. Apesar disso, Rosa encontrava forças no amor por Vitor, seu sobrinho. Ele era o único motivo que a mantinha de pé, o único laço que impedia que ela caísse em um poço de desespero.Pedro, filho de Jéssica, era uma criança frágil e retraída. Aos sete anos, parecia menor e mais infantil do que realmente era, consequência de uma vida de negligência e medo. Nunca conheceu o pai e convivia com o fardo de ser indesejado, algo que Jéssica fazia questão de deixar claro em palavras e atitudes. O me