Rosa cresceu em um ambiente sufocante. Perdeu a mãe muito jovem para o câncer e ficou aos cuidados de um pai alcoólatra e violento. Ela vivia na tensão constante de escapar de abusos e das agressões físicas que marcavam seu corpo e alma.
Jéssica, sua irmã mais velha, tinha dez anos a mais e sempre fez questão de lembrar Rosa de que foi ela quem assumiu a responsabilidade de criá-la. Fria, autoritária e amarga, Jéssica nunca demonstrava afeto ou compaixão, e sua única preocupação era controlar a irmã. Apesar disso, Rosa encontrava forças no amor por Vitor, seu sobrinho. Ele era o único motivo que a mantinha de pé, o único laço que impedia que ela caísse em um poço de desespero. Pedro, filho de Jéssica, era uma criança frágil e retraída. Aos sete anos, parecia menor e mais infantil do que realmente era, consequência de uma vida de negligência e medo. Nunca conheceu o pai e convivia com o fardo de ser indesejado, algo que Jéssica fazia questão de deixar claro em palavras e atitudes. O menino só confiava em Rosa, e essa confiança era o único alívio para ambos. --- Naquela madrugada, Rosa foi despertada por um movimento no quarto. Ela não abriu os olhos de imediato, pensando que fosse o pai bêbado mais uma vez. Era comum ele invadir os cômodos durante a noite, mas raramente fazia algo quando Vitor estava perto. — Levanta, Rosa. Sei que está acordada. Precisamos sair daqui agora — disse Jéssica, de pé ao lado da cama. — O que está acontecendo? — perguntou Rosa, confusa e ainda sonolenta. — Não comece com as perguntas. Você devia era agradecer por eu estar aqui te salvando. Se dependesse de mim, eu te deixava aqui para lidar com o nosso pai, mas não. Eu sou uma pessoa boa, então estou te dando a chance de fugir. Agora pega suas coisas, só o essencial. Vamos embora. Jéssica não deu tempo para Rosa argumentar. Com o coração disparado, ela acordou Vitor e começou a juntar algumas roupas às pressas. — E a escola do Vitinho? Minha faculdade? — Rosa ainda tentou questionar. — Esquece isso. Escola e faculdade não vão servir de nada se você estiver morta! Papai se meteu em uma confusão muito grande, e nós estamos no meio. Se ficar aqui, você e esse garoto não vão sobreviver. Rosa sentiu um frio na espinha, mas seguiu as ordens. Do lado de fora, um carro caro as aguardava. O motorista, sério e calado, dirigia sem dizer uma palavra, e Rosa sentia-se cada vez mais desconfortável. Não confiava em Jéssica e muito menos no desconhecido. O carro as deixou no aeroporto. Rosa observou quando o motorista entregou um envelope a Jéssica, que abriu um sorriso satisfeito ao recebê-lo. — Para onde estamos indo? — Rosa perguntou, tentando entender a situação. — Para a Itália. Vamos nos esconder por lá durante um tempo. É só isso que você precisa saber — respondeu Jéssica, com impaciência. Após horas de viagem de avião e ônibus, chegaram a Itália por volta do meio-dia. Vitor reclamava de fome, e Rosa também estava faminta, mas sabia que não tinham dinheiro. Ao chegarem em um hotel, Jéssica parecia outra pessoa. Gentil, educada e sorridente, apresentava Vitor como sobrinho, e não como filho, o que despertou a curiosidade de Rosa. Quando chegaram ao quarto, porém, a verdadeira Jéssica voltou à tona. — Escutem bem. A partir de agora, Vitor é seu filho, Rosa. Entendeu, moleque? — disse Jéssica, puxando a orelha do menino, que começou a chorar. — Você vai dizer que engravidou na adolescência, que o pai sumiu e que eu te ajudei a criar ele. Inventa qualquer história. — Por que temos que mentir? — Rosa questionou, indignada. — Porque sim. Faz o que eu estou mandando e cala a boca. Ou prefere voltar pra casa e lidar com o nosso pai sozinho? Rosa sentiu um nó na garganta, mas não se calou. — Eu não sou burra, Jéssica. Sei que empresas contratam mães solteiras. O que você está escondendo? Jéssica bufou de raiva e puxou Rosa pelos cabelos. — Nosso pai está enfiado até o pescoço em problemas sérios. Estamos fugindo disso, eu preciso de um emprego em uma empresa importante, e ter um filho seria um empecilho. Agora faz o que eu estou mandando ou pode dar meia-volta e lidar com a bagunça que ele deixou. Rosa sabia que a história de Jéssica não fazia sentido, mas também sabia que não podia voltar. Fugir era a única opção para escapar do pesadelo que viviam. Mesmo desconfiada, decidiu seguir em frente, por ela e pelo sobrinho.Rosa não entendia por que o pai a odiava tanto. Isso acontecia desde quando era muito pequena, e ela se lembrava de sua mãe sempre se colocando entre ela e as agressões. Já com Jéssica, o homem era mais brando. Ele não era afetuoso ou cuidadoso, mas Jéssica não precisava fugir dele como Rosa.As aparências das irmãs eram gritantes na diferença, e ninguém no mundo acreditaria que elas eram irmãs. Os traços, a cor de pele e, principalmente, a índole eram completamente diferentes.---Quando Jéssica saiu da hotel naquela tarde, Rosa instruiu Vitor a agir como se fosse mudo. Ela sabia que, se por acaso o menino a chamasse de tia, poderiam levantar suspeitas.— Vitor, escute bem. Se, por um acaso, você me chamar de tia, isso pode criar problemas. Temos que manter a mentira firme — disse Rosa, em tom sério.Vitor, por sua vez, apenas acenou com a cabeça, compreendendo a gravidade da situação. Ele sabia que as coisas com a mãe e a tia eram complicadas.No final da tarde, Jéssica anunciou que
Após o café, Rosa foi ajudar Meg a arrumar a cozinha, mesmo que ela insistisse que não precisava.Cesar se ofereceu para mostrar a mansão a Vitor. O garoto, ainda desconfiado, foi tranquilizado por Meg, que garantiu que ele estaria seguro. Vitor procurava aprovação no olhar de Rosa, que apenas balançou a cabeça, indicando que estava tudo bem.Jéssica, sem saber ainda da influência de Cesar, perguntou se ele poderia levá-la até Guilherme. Ele concordou, e os dois partiram. Cesar também queria encontrar o amigo para tratar de assuntos importantes.Enquanto isso, houve um desencontro. Cesar levou Vitor para empresa que ficava ao lado, mas Jéssica, que não queria ir, não teve muita escolha, já que ainda não conhecia bem a mansão. Guilherme retornou por outra estrada, em sua caminhonete.Guilherme, um homem de poucas palavras, chegou à casa e foi recebido por Meg, que sorria enquanto Rosa, tentando alcançar o armário, se equilibrava em uma cadeira. A cena fez Meg rir, e Rosa, um pouco sem
César se apressou em levar Jéssica para a cidade, ele sabia que a paciência do amigo era limitada, e Jéssica era uma mulher extremamente irritante e falsa. Seu comportamento mudou com César depois que ela descobriu que ele também era um dos acionistas do império mafioso de Guilherme, além de ser um dos responsáveis pelas operações da família.__Bom, agora que já terminamos a reunião, eu vou tomar um banho e, depois que almoçarmos, vou conhecer um pouco mais sobre os negócios da família. __Você almoça na cidade, eu já estou de partida. Vou ter um dedo de prosa de cinco minutinhos com meu primão e partimos. Mas, outro dia, você experimenta o tempero maravilhoso de Meg, afinal, você pode pedir para ela entrar, por favor. Ela precisa acertar com Rosa como ficará os horários delas duas.A mansão de Guilherme era afastada da cidade.Meg começou a trabalhar para a família Moreau quando a mãe de Guilherme ainda estava viva. Elas eram grandes amigas, a única amiga que Margarida teve. Meg cui
Guilherme e Gustavo Moreau, irmãos de sangue e de um legado poderoso, tiveram destinos muito distintos. Filhos do temido Dom Sampaio, um dos maiores chefes da máfia, os dois eram a promessa de uma dinastia ainda mais forte. Quando o pai faleceu, deixou sua cadeira de poder para Guilherme, um homem marcado profundamente pelas cicatrizes da guerra e pela vida implacável que levara, tanto no corpo quanto na alma.Guilherme, com sua presença imponente e suas cicatrizes visíveis, não foi escolhido apenas pela sua força, mas pela frieza e pela mente estratégica. Ele era um líder, não apenas por direito, mas por sua habilidade em se manter firme nas decisões difíceis, algo que o tornava respeitado e temido.Por outro lado, Gustavo, sempre idealista e com uma visão mais questionadora da vida, não compartilhou da mesma filosofia. Sua inclinação para discutir sobre responsabilidade, ética e outras questões mais "humanas" o tornou uma ameaça à visão pragmática de poder de seu irmão. Em um mundo
Anos depois de fugir para o Brasil em busca de diversão e liberdade, Gustavo viu seu dinheiro se esgotar. O estilo de vida luxuoso e irresponsável que havia adotado começou a desmoronar, e a realidade, dura como sempre, o forçou a voltar para onde tudo começou. Não havia mais alternativas. O poder de sua família ainda estava vivo, mas, sem a fortuna que ele havia desperdiçado, não restava outra opção senão retornar para o império que ele tinha deixado para trás.Ao voltar, encontrou Guilherme bem diferente do homem que havia deixado para trás. Guilherme agora era um homem marcado não apenas pelas cicatrizes do corpo, mas pela responsabilidade e peso do império. Sua presença era imponente: alto, forte, com um olhar ríspido e frio. A dureza de sua vida e as exigências de seu cargo o haviam transformado em alguém quase inacessível. Guilherme era uma parede de força, de indiferença, e estava muito distante de ser o irmão que Gustavo conhecera.Por outro lado, Gustavo continuava a ser um h
Katrina e Gustavo, unidos pela ambição e pela ilusão de derrubar Guilherme, acreditavam que juntos poderiam destruir a estrutura de poder que ele havia conquistado e tomar o seu lugar. Eles estavam convencidos de que, ao se casar, poderiam não apenas humilhar Guilherme, mas também assumir o controle do império da máfia, com o apoio do pai de Katrina, que se veria à frente do império da máfia francesa. Era um plano impulsionado por ego e desejo de poder, uma aliança traiçoeira forjada no intuito de destronar o homem que já comandava tudo.Para alcançar esse objetivo, eles urdiram uma trama ardilosa: simular um incêndio acidental no apartamento de Guilherme, algo que causaria sua morte e abriria caminho para a ascensão de Gustavo, enquanto Katrina assumiria seu lugar como esposa e herdeira. Tudo foi meticulosamente planejado para parecer um acidente, uma fatalidade inevitável. Mas a realidade era bem diferente. O incêndio foi inteiramente proposital, com cada passo calculado para garant