Guilherme e Gustavo Moreau, irmãos de sangue e de um legado poderoso, tiveram destinos muito distintos. Filhos do temido Dom Sampaio, um dos maiores chefes da máfia, os dois eram a promessa de uma dinastia ainda mais forte. Quando o pai faleceu, deixou sua cadeira de poder para Guilherme, um homem marcado profundamente pelas cicatrizes da guerra e pela vida implacável que levara, tanto no corpo quanto na alma.
Guilherme, com sua presença imponente e suas cicatrizes visíveis, não foi escolhido apenas pela sua força, mas pela frieza e pela mente estratégica. Ele era um líder, não apenas por direito, mas por sua habilidade em se manter firme nas decisões difíceis, algo que o tornava respeitado e temido. Por outro lado, Gustavo, sempre idealista e com uma visão mais questionadora da vida, não compartilhou da mesma filosofia. Sua inclinação para discutir sobre responsabilidade, ética e outras questões mais "humanas" o tornou uma ameaça à visão pragmática de poder de seu irmão. Em um mundo onde a lealdade à máfia e a implacabilidade são essenciais, Gustavo foi progressivamente excluído de qualquer responsabilidade. Sua preocupação com o certo e o errado o fez uma figura irrelevante na estrutura, e ele foi marginalizado, ficando à sombra do irmão, sem espaço para exercer qualquer tipo de influência dentro da organização, o caráter se Gustavo era claramente duvidoso e ele era sem confiança alguma. Guilherme, por sua vez, carregava não apenas o peso do nome e da responsabilidade, mas também o fardo das cicatrizes, internas e externas, que o definiam. Seu poder era inquestionável, mas sua alma havia sido consumida por tudo o que ele fizera para manter o império intacto. E assim, os irmãos Moreau seguiam seus caminhos: um à frente de um império imbatível, o outro na malandragem, vivendo de pequenos golpes. Gustavo Moreau, ao contrário de seu irmão, não tinha nenhum interesse em assumir responsabilidades ou carregar o peso da máfia. Para ele, o poder era algo que deveria ser usufruído, não um fardo. Sem paciência para as regras implacáveis do império que o pai havia deixado, ele optou por seguir seu próprio caminho, longe de qualquer expectativa ou pressão. Decidiu, então, partir para o Brasil, acreditando que ali encontraria a liberdade que tanto desejava — um lugar onde o glamour e a vida fácil estivessem ao seu alcance, longe da sombra de sua família e da brutalidade da máfia. Enquanto Gustavo se afastava e mergulhava no luxo e nas festas, vivendo uma vida de excessos, Guilherme não tinha escolha. O império de Dom Sampaio caiu sobre seus ombros, e ele teve que assumir a liderança muito mais cedo do que imaginava. Era um peso esmagador, mas ele não teve opção. A máfia, com toda a sua rede de alianças e interesses, precisava de um novo comandante, e era ele quem tinha que ocupar esse posto, não importa o quanto isso lhe pesasse. Além disso, muito jovem, Guilherme foi pressionado a firmar um casamento arranjado com Katrina, uma mulher que ele jamais amaria. Katrina era a personificação da vaidade e da futilidade, preocupada apenas com sua aparência e status. O casamento deles não tinha nenhum fundo afetivo; era um acordo estratégico entre impérios, uma união forçada para consolidar o poder de Guilherme dentro da máfia e garantir alianças importantes para o futuro. Embora ele não a amasse, o casamento era uma formalidade que precisava ser cumprida para que o império da família Moreau continuasse a prosperar. E assim, Guilherme se viu preso em um casamento sem amor, com uma mulher que mais parecia uma peça de sua estratégia, e com o império de seu pai nas mãos, sem poder ou desejo de se afastar de sua amarga realidade. Guilherme e Gustavo Moreau foram criados em um ambiente frio e impessoal, onde o amor nunca teve espaço. Seu pai, Dom Sampaio, nunca demonstrou afeto por eles, pois sua visão de criação era voltada apenas para a força, o poder e a disciplina implacável. Sampaio acreditava que emoções como o amor eram fraquezas que não podiam ser alimentadas, especialmente em um mundo tão cruel como o da máfia. A ausência de carinho e calor familiar moldou os dois irmãos, criando neles um vazio emocional profundo. Antes de falecer, a mãe dos meninos, que sempre foi uma figura mais suave em sua vida, fez uma última promessa: pediu a Meg, a governanta da casa, que cuidasse dos meninos. Meg, com seu coração caloroso e generoso, assumiu essa responsabilidade com zelo. Ela era, para eles, a única figura de afeto genuíno que conheceram. Ela se tornou uma espécie de mãe para Guilherme, oferecendo o que podia de carinho e cuidados em um lar que se mostrava implacável, Gustavo não quis esse amor, via Meg, como uma simples empregada. Meg não tinha poder para mudar a vida deles ou a realidade imposta pelo pai, mas fez tudo o que pôde para protegê-los de um mundo que não parecia ter lugar para a fragilidade. Ela os amava de uma maneira silenciosa, sem esperar nada em troca, e seus gestos de carinho eram as únicas coisas que, de alguma forma, suavizavam a dura realidade que viviam. Mesmo com a partida da mãe e a ausência de Sampaio, Meg continuava ao lado de Guilherme e Gustavo, mesmo sem Gustavo aceitar muito bem, mas ela seguia tentando garantir que, mesmo em um mundo de trevas, eles tivessem algo que se assemelhasse ao cuidado e ao afeto que tanto precisavam.Anos depois de fugir para o Brasil em busca de diversão e liberdade, Gustavo viu seu dinheiro se esgotar. O estilo de vida luxuoso e irresponsável que havia adotado começou a desmoronar, e a realidade, dura como sempre, o forçou a voltar para onde tudo começou. Não havia mais alternativas. O poder de sua família ainda estava vivo, mas, sem a fortuna que ele havia desperdiçado, não restava outra opção senão retornar para o império que ele tinha deixado para trás.Ao voltar, encontrou Guilherme bem diferente do homem que havia deixado para trás. Guilherme agora era um homem marcado não apenas pelas cicatrizes do corpo, mas pela responsabilidade e peso do império. Sua presença era imponente: alto, forte, com um olhar ríspido e frio. A dureza de sua vida e as exigências de seu cargo o haviam transformado em alguém quase inacessível. Guilherme era uma parede de força, de indiferença, e estava muito distante de ser o irmão que Gustavo conhecera.Por outro lado, Gustavo continuava a ser um h
Katrina e Gustavo, unidos pela ambição e pela ilusão de derrubar Guilherme, acreditavam que juntos poderiam destruir a estrutura de poder que ele havia conquistado e tomar o seu lugar. Eles estavam convencidos de que, ao se casar, poderiam não apenas humilhar Guilherme, mas também assumir o controle do império da máfia, com o apoio do pai de Katrina, que se veria à frente do império da máfia francesa. Era um plano impulsionado por ego e desejo de poder, uma aliança traiçoeira forjada no intuito de destronar o homem que já comandava tudo.Para alcançar esse objetivo, eles urdiram uma trama ardilosa: simular um incêndio acidental no apartamento de Guilherme, algo que causaria sua morte e abriria caminho para a ascensão de Gustavo, enquanto Katrina assumiria seu lugar como esposa e herdeira. Tudo foi meticulosamente planejado para parecer um acidente, uma fatalidade inevitável. Mas a realidade era bem diferente. O incêndio foi inteiramente proposital, com cada passo calculado para garant
Meg mostrou a casa que seria o novo lar de Rosa e Vitinho. Eles gostaram; era uma casa pequena, mas bonita e arejada. Poderiam ser felizes ali se não fosse a teia de mentiras em que estavam presos e nem sabiam quão grande ela poderia ser.__ Vou começar a limpar.__ Menina, descanse. Você já começa a trabalhar amanhã e ainda se comprometeu a pintar a casa.A casa só precisava de uma pintura; estava em perfeito estado. Era a casa mais próxima da mansão Vitorino. Da varanda do quarto de Guilherme, era possível ter uma visão plena da janela de um dos quartos que Rosa escolheu como dela por ser maior e também da pequena varanda da casinha.__ Nada disso, Meg. O senhor Guilherme disse que eu preciso de privacidade, mas acho que ele é quem precisa. Não vou e nem quero incomodar; fui um incômodo por muito tempo em uma casa que minha mãe deixou para mim, mas que nunca foi minha, nunca foi meu, e agora...Rosa percebeu que falava demais e que não poderia cometer um erro.__ Continue, menina._
Não passou despercebido aos olhos de Guilherme que, antes de se recolher para o quarto em que dormiria, Rosa trancou a porta do quarto onde Vitinho estava e apertou a chave na mão como se a segurança do menino dependesse daquele gesto. Guilherme sabia que ela ainda não confiava nele. Poderia ter ficado chateado ou ofendido, mas, pelo contrário, percebeu que Rosa estava protegendo o filho. Ele achou Rosa uma mãe excelente e admirou isso nela.Rosa escovou os dentes e se deitou. Já havia tomado banho mais cedo e, antes de dormir, olhou as notificações do celular. Havia várias mensagens da irmã, mas ela não abriu nenhuma. No fundo, Rosa estava agradecida por não precisar compartilhar o mesmo espaço que Vitinho com a irmã, mas sabia que ela não a deixaria em paz.Ainda cansada pela viagem e pelo dia, em que havia pintado praticamente a casa inteira em uma única tarde, Rosa desejava que sua estadia na casa de Guilherme fosse apenas a trabalho.Durante a noite, teve pesadelos horríveis. Son
No outro dia, Rosa acabou acordando tarde. Foi um sono agitado e cheio de pesadelos.Guilherme ficou observando ela dormir até que o dia amanhecesse. Viu no rosto dela todas as expressões de sofrimento, de perturbação, de pavor. Ela chorava nos sonhos, pedia por favor e dizia não querer algo. Chegou a se debater, e ele imaginou várias coisas que Rosa poderia ter passado. Odiou vê-la sofrendo.Guilherme pensou em abraçá-la na tentativa de acalmá-la, mas temeu que ela acordasse e ficasse ainda mais assustada. Queria ter chegado antes, foi o que pensou. Depois concluiu que não teria adiantado nada. Ela era muito para ele e jamais o aceitaria em sua vida.Rosa acordou assustada, tocou todo o corpo para ver se Guilherme não a tinha tocado enquanto dormia. Ficou aliviada; pelo menos ele não era um aproveitador, foi isso que pensou.Ela ainda não sabia se Guilherme era um comparsa de Meg. Depois pensou que, se fosse, não teria motivos para esconder sobre Vitinho. Ela levantava suposições, ma
Rosa se arrumou rápido, vestiu um vestido florido, o comprimento ia até perto dos joelhos e era de alcinhas. O dia estava quente, e o vestido era fresco. Calçou nos pés uma sandália de amarração velha e gasta, mas que ainda assim ficava bonita. Ela não comeu nada, envergonhada pela cena que protagonizara mais cedo.Quando terminou, correu para o quarto de Vitinho para ajudá-lo a se arrumar, mas tomou um susto ao bater de frente com uma parede imponente de quase dois metros. O homem parecia um leopardo pronto para o ataque, com uma expressão carregada.Vitinho sorria, já vestido, enquanto Guilherme penteava os cabelos negros do menino.— Antes que me acuse, eu não fiz nada. E, se quer saber, nem entrei no banheiro para ajudá-lo no banho. Só o instruí sobre onde estavam as coisas de que ele precisaria. Ele estava parecendo um porquinho de tão sujo. — Guilherme piscou para o menino.Mas era mentira. Guilherme tinha entrado no quarto para alertar Vitinho sobre segurança. O menino ficaria
Guilherme e Rosa partiram rumo à escola em silêncio. Ele dirigia tranquilo, mas seus pensamentos estavam a mil. O colégio para o qual levava Vitinho era especial para ele. Ele e o irmão haviam estudado lá durante toda a infância e juventude. Era um lugar que carregava boas memórias, mas também era uma das poucas coisas em que investia sem pensar duas vezes. Guilherme não era só um ex-aluno: era um dos maiores investidores daquele colégio, o que o tornava praticamente um dos donos. Porém, esse detalhe ele fazia questão de manter em segredo.Quando chegaram, Rosa ficou deslumbrada. A arquitetura da escola era moderna, com amplos espaços verdes, playgrounds impecáveis e um ginásio que parecia de cinema. Ela deu alguns passos hesitantes pelo saguão, mas, logo, seu olhar caiu sobre as placas de bronze nas paredes, mostrando que aquele colégio era privado. Sem perceber, segurou na camiseta de Guilherme, como se buscasse algum tipo de segurança.— Eu... eu não tenho dinheiro para pagar uma e
Guilherme parou o carro na frente de um restaurante elegante, o mais renomado da cidade. Era um lugar frequentado exclusivamente por pessoas da alta sociedade, com decoração impecável e atendimento exemplar. Ele escolheu aquele restaurante pensando em impressionar Rosa, mas, ao encará-la, percebeu pelo olhar dela que algo estava errado.— Rosa, está tudo bem? — ele perguntou, franzindo o cenho.Ela hesitou, mas acabou desabafando:— Você se importa se eu não te acompanhar?A pergunta o pegou de surpresa, e Guilherme não conseguiu disfarçar a preocupação.— Por que não quer me acompanhar?Ele perguntou, mas imediatamente se arrependeu. Guilherme sabia a resposta antes mesmo que ela dissesse. Provavelmente, Rosa estava com vergonha de entrar em um lugar tão luxuoso com ele. Mesmo que ela fosse, sem dúvida, a mulher mais linda que estaria naquele restaurante, ele sabia que ele próprio seria o alvo de olhares críticos e de reprovação. Apesar de ter muito dinheiro, a aparência de Guilherme