Guilherme e Rosa partiram rumo à escola em silêncio. Ele dirigia tranquilo, mas seus pensamentos estavam a mil. O colégio para o qual levava Vitinho era especial para ele. Ele e o irmão haviam estudado lá durante toda a infância e juventude. Era um lugar que carregava boas memórias, mas também era uma das poucas coisas em que investia sem pensar duas vezes. Guilherme não era só um ex-aluno: era um dos maiores investidores daquele colégio, o que o tornava praticamente um dos donos. Porém, esse detalhe ele fazia questão de manter em segredo.Quando chegaram, Rosa ficou deslumbrada. A arquitetura da escola era moderna, com amplos espaços verdes, playgrounds impecáveis e um ginásio que parecia de cinema. Ela deu alguns passos hesitantes pelo saguão, mas, logo, seu olhar caiu sobre as placas de bronze nas paredes, mostrando que aquele colégio era privado. Sem perceber, segurou na camiseta de Guilherme, como se buscasse algum tipo de segurança.— Eu... eu não tenho dinheiro para pagar uma e
Guilherme parou o carro na frente de um restaurante elegante, o mais renomado da cidade. Era um lugar frequentado exclusivamente por pessoas da alta sociedade, com decoração impecável e atendimento exemplar. Ele escolheu aquele restaurante pensando em impressionar Rosa, mas, ao encará-la, percebeu pelo olhar dela que algo estava errado.— Rosa, está tudo bem? — ele perguntou, franzindo o cenho.Ela hesitou, mas acabou desabafando:— Você se importa se eu não te acompanhar?A pergunta o pegou de surpresa, e Guilherme não conseguiu disfarçar a preocupação.— Por que não quer me acompanhar?Ele perguntou, mas imediatamente se arrependeu. Guilherme sabia a resposta antes mesmo que ela dissesse. Provavelmente, Rosa estava com vergonha de entrar em um lugar tão luxuoso com ele. Mesmo que ela fosse, sem dúvida, a mulher mais linda que estaria naquele restaurante, ele sabia que ele próprio seria o alvo de olhares críticos e de reprovação. Apesar de ter muito dinheiro, a aparência de Guilherme
Jéssica chegou ao restaurante acompanhada por Cesar, amigo e primo de Guilherme.— Procuramos vocês no Good Food, mas Cesar me disse que vocês poderiam ter vindo para a churrascaria. Conhecendo bem minha irmãzinha querida, previ que ela não entraria em um restaurante como aquele. Ainda bem, porque, sem dúvida, iriam confundi-la com a garçonete.Jéssica sorriu alto, chamando a atenção de todos.— Se bem que os garçons lá estão super bem vestidos e portados, bem diferente de você, Rosa.Jéssica lançou um olhar de reprovação para a irmã.Mas Rosa não pareceu se incomodar com o que Jéssica dizia. Pelo contrário, simplesmente a ignorou.— Desculpe, querida Jéssica, mas não posso concordar com você dessa vez. — Rosa está linda — disse Cesar. — Ou melhor, ela é linda.Rosa não se importou com os ataques da irmã, já estava acostumada. Mas ficou extremamente incomodada com os galanteios de Cesar. Ele era sempre assim.Guilherme passou um rabo de olho para o amigo, também achou Rosa linda naque
Guilherme e Rosa compraram alguns tecidos de diferentes cores. Ele notou que ela gostava de cores vivas e estampas alegres, então escolheram o que precisariam, como botões, linhas, alguns babados mais infantis, e até encontraram lubrificante para a máquina de costura. Em seguida, seguiram para uma papelaria. Guilherme se sentia feliz, embora não demonstrasse, e Rosa sorria como uma criança.— Pegou tudo o que o Vitinho vai precisar? — Guilherme perguntou, com um olhar ansioso.— Na verdade, eu nem sei muito o que é necessário. O básico, como cadernos e lápis, costumavam vir de doações na maioria das vezes. A escola, por ser pública, tinha um projeto para crianças carentes.Guilherme ficou pensativo. Como uma mulher tão refinada quanto Rosa poderia conviver com essa realidade de doações? Ele não entendia muito bem, mas, ao pensar nisso, se lembrou que o pai de Rosa talvez fosse a parte mais complicada da família, e isso explicava muita coisa.Com um suspiro, ele se aproximou de uma at
Rosa cresceu em um ambiente sufocante. Perdeu a mãe muito jovem para o câncer e ficou aos cuidados de um pai alcoólatra e violento. Ela vivia na tensão constante de escapar de abusos e das agressões físicas que marcavam seu corpo e alma.Jéssica, sua irmã mais velha, tinha dez anos a mais e sempre fez questão de lembrar Rosa de que foi ela quem assumiu a responsabilidade de criá-la. Fria, autoritária e amarga, Jéssica nunca demonstrava afeto ou compaixão, e sua única preocupação era controlar a irmã. Apesar disso, Rosa encontrava forças no amor por Vitor, seu sobrinho. Ele era o único motivo que a mantinha de pé, o único laço que impedia que ela caísse em um poço de desespero.Pedro, filho de Jéssica, era uma criança frágil e retraída. Aos sete anos, parecia menor e mais infantil do que realmente era, consequência de uma vida de negligência e medo. Nunca conheceu o pai e convivia com o fardo de ser indesejado, algo que Jéssica fazia questão de deixar claro em palavras e atitudes. O me
Rosa não entendia por que o pai a odiava tanto. Isso acontecia desde quando era muito pequena, e ela se lembrava de sua mãe sempre se colocando entre ela e as agressões. Já com Jéssica, o homem era mais brando. Ele não era afetuoso ou cuidadoso, mas Jéssica não precisava fugir dele como Rosa.As aparências das irmãs eram gritantes na diferença, e ninguém no mundo acreditaria que elas eram irmãs. Os traços, a cor de pele e, principalmente, a índole eram completamente diferentes.---Quando Jéssica saiu da hotel naquela tarde, Rosa instruiu Vitor a agir como se fosse mudo. Ela sabia que, se por acaso o menino a chamasse de tia, poderiam levantar suspeitas.— Vitor, escute bem. Se, por um acaso, você me chamar de tia, isso pode criar problemas. Temos que manter a mentira firme — disse Rosa, em tom sério.Vitor, por sua vez, apenas acenou com a cabeça, compreendendo a gravidade da situação. Ele sabia que as coisas com a mãe e a tia eram complicadas.No final da tarde, Jéssica anunciou que
Após o café, Rosa foi ajudar Meg a arrumar a cozinha, mesmo que ela insistisse que não precisava.Cesar se ofereceu para mostrar a mansão a Vitor. O garoto, ainda desconfiado, foi tranquilizado por Meg, que garantiu que ele estaria seguro. Vitor procurava aprovação no olhar de Rosa, que apenas balançou a cabeça, indicando que estava tudo bem.Jéssica, sem saber ainda da influência de Cesar, perguntou se ele poderia levá-la até Guilherme. Ele concordou, e os dois partiram. Cesar também queria encontrar o amigo para tratar de assuntos importantes.Enquanto isso, houve um desencontro. Cesar levou Vitor para empresa que ficava ao lado, mas Jéssica, que não queria ir, não teve muita escolha, já que ainda não conhecia bem a mansão. Guilherme retornou por outra estrada, em sua caminhonete.Guilherme, um homem de poucas palavras, chegou à casa e foi recebido por Meg, que sorria enquanto Rosa, tentando alcançar o armário, se equilibrava em uma cadeira. A cena fez Meg rir, e Rosa, um pouco sem
César se apressou em levar Jéssica para a cidade, ele sabia que a paciência do amigo era limitada, e Jéssica era uma mulher extremamente irritante e falsa. Seu comportamento mudou com César depois que ela descobriu que ele também era um dos acionistas do império mafioso de Guilherme, além de ser um dos responsáveis pelas operações da família.__Bom, agora que já terminamos a reunião, eu vou tomar um banho e, depois que almoçarmos, vou conhecer um pouco mais sobre os negócios da família. __Você almoça na cidade, eu já estou de partida. Vou ter um dedo de prosa de cinco minutinhos com meu primão e partimos. Mas, outro dia, você experimenta o tempero maravilhoso de Meg, afinal, você pode pedir para ela entrar, por favor. Ela precisa acertar com Rosa como ficará os horários delas duas.A mansão de Guilherme era afastada da cidade.Meg começou a trabalhar para a família Moreau quando a mãe de Guilherme ainda estava viva. Elas eram grandes amigas, a única amiga que Margarida teve. Meg cui