César se apressou em levar Jéssica para a cidade, ele sabia que a paciência do amigo era limitada, e Jéssica era uma mulher extremamente irritante e falsa. Seu comportamento mudou com César depois que ela descobriu que ele também era um dos acionistas do império mafioso de Guilherme, além de ser um dos responsáveis pelas operações da família.
__Bom, agora que já terminamos a reunião, eu vou tomar um banho e, depois que almoçarmos, vou conhecer um pouco mais sobre os negócios da família. __Você almoça na cidade, eu já estou de partida. Vou ter um dedo de prosa de cinco minutinhos com meu primão e partimos. Mas, outro dia, você experimenta o tempero maravilhoso de Meg, afinal, você pode pedir para ela entrar, por favor. Ela precisa acertar com Rosa como ficará os horários delas duas. A mansão de Guilherme era afastada da cidade. Meg começou a trabalhar para a família Moreau quando a mãe de Guilherme ainda estava viva. Elas eram grandes amigas, a única amiga que Margarida teve. Meg cuidou de Gustavo e Guilherme, e sabia que um havia herdado o calor do coração da mãe, enquanto o outro puxou a frieza do pai. Jéssica não teve muito o que falar, pegou a mão de Vitinho e saiu praticamente arrastando o menino. Todos perceberam a cena, mas não intervieram. Notaram também que Rosa ficou com os olhos lacrimejados ao ver o garoto sendo arrastado por Jéssica. Jéssica queria fazer mais uma tortura psicológica em Vitinho, queria deixar claro o que aconteceria com ele, caso ele deixasse a farsa cair. Ela sabia que era um perigo, principalmente quando o menino começasse a estudar. Mesmo que ele falasse pouco, ainda assim seria perigoso para o império. César se retirou da sala e disse que esperaria o primo no escritório. Meg entrou para conversar sobre os horários. Ela estava cansada, trabalhava ali há muitos anos e já pensava em se retirar, mas viu que Guilherme não estava preparado para vê-la partir. No entanto, Meg já estava morando na cidade, sua filha era mãe solteira, e ela ajudava a cuidar do neto. Estava cansada. __Meg, veja qual é o melhor horário para você e converse com a senhorita Rosa para ver se ela aceita a proposta. __Rosa, você não precisa começar tão cedo. Eu só preciso de sua ajuda quando os homens da organização vierem para o almoço. Isso acontece apenas uma vez ao mês. Depois que servirmos o almoço, você pode descansar e, então, ficará atenta apenas para servir o jantar do Guilherme. Ele costuma jantar muito tarde, e a cozinha também ficará sob sua responsabilidade. __Tudo bem para mim, Meg, sem problemas. Guilherme observava tudo em silêncio. A voz de Rosa era doce e suave, e ele nunca gostou tanto de ouvir alguém falar. Ela transmitia calma e uma paz que o incomodava. Ele não podia se encantar. Todos os alarmes dentro dele estavam ligados. __Tudo bem mesmo, Rosa? Até porque você precisa organizar os seus horários da faculdade. __Sem problemas, senhor Moreau, a faculdade à distância é só uma vez por semana, e quanto aos trabalhos acadêmicos, posso conciliar com os meus horários. __Também precisa de tempo para o seu filho, menina. __Filho? Guilherme ficou surpreso. Rosa balançou a cabeça afirmativamente, odiava mentir. Guilherme ficou curioso. Era tão difícil entender aquela mulher. A única coisa que ele conseguia ver nos olhos dela era medo, nada mais. __Ok, então, Rosa, eu preciso dos seus documentos para acertarmos a questão do seu salário, e fique tranquila, o império Moreau arcará com as despesas da sua faculdade. Pela primeira vez, Rosa sorriu, e Guilherme se assustou ainda mais. Como ela poderia ser tão bonita daquele jeito? __Obrigada, senhor Moreau. __Me chame de Guilherme, Rosa, por favor. Aqui, todos me chamam assim. __Ah, quanta cerimônia, meus filhos, pare com isso! Chame ele de Guilherme, menina, e Guilherme, chame ela de Rosa, nunca mais de Moreau. Meg resolveu a questão de forma prática. Guilherme sabia que, para ser chamado de Guilherme por Rosa, ele teria que começar chamando-a pelo nome também. __Rosa, tem uma senhora chamada Marta. Ela vem fazer a limpeza da casa três vezes por semana. Enquanto isso, eu e você vamos mantendo tudo em ordem. A roupa fica por nossa conta, também, mas o meu Gui suja pouca coisa, fique tranquila. Rosa só concordou com a cabeça. __ Meg, providencie a casa ao lado para Rosa, por favor. __Eu achei que ela ficaria aqui mesmo, menino. __Melhor não, Meg, Rosa precisa de privacidade com o filho dela. Meg sabia que Guilherme estava mentindo. A verdade é que Guilherme queria Rosa o mais longe possível. Ele estava pensando em como ficaria a questão da sua janta, sabia que aquela mulher era um perigo. Ele não poderia perder o controle e jamais cairia na cilada de entregar seu coração. Até porque tinha certeza de que, mesmo que quisesse entregar seu coração para Rosa, ela jamais aceitaria um coração tão quebrado quanto o dele, e um homem com cicatrizes no corpo e na alma. __Posso me retirar? Meg e Guilherme perceberam que Rosa não parava de olhar pela janela, como se estivesse à procura de Vitinho. Estava preocupada com o menino. __Pode sim, Rosa. A casa precisa ser pintada. Eu chamarei um dos empregados para fazer isso. __Ah, não precisa, no tempo livre eu mesma faço isso. Só me providencie a tinta, por favor. __Ok, então. Enquanto pinta a casa, você fica aqui, mas só até a pintura. Rosa sorriu, e Guilherme percebeu que ela parecia ainda mais feliz com a tarefa de ficar em uma casa separada, longe debaixo do seu teto. Ele achou que fosse porque a assustava. Os três saíram da sala e encontraram César e Jéssica. __Querida irmã, podemos conversar só mais um pouquinho? Disse Jéssica. __Acho que já conversamos tudo que tínhamos para conversar, Jéssica. Parece que iniciamos uma vida nova. Boa sorte para você na cidade, tenho certeza de que vai gostar. Rosa se virou para Meg. __Te ajudo a fazer o almoço, Meg. A senhora agradeceu e foi para a cozinha com Rosa e Vitinho, que nem olhou para Jéssica. César teve vontade de sorrir, mas Jéssica bufou de tanta raiva de Rosa, que desafiava a sua autoridade.Guilherme e Gustavo Moreau, irmãos de sangue e de um legado poderoso, tiveram destinos muito distintos. Filhos do temido Dom Sampaio, um dos maiores chefes da máfia, os dois eram a promessa de uma dinastia ainda mais forte. Quando o pai faleceu, deixou sua cadeira de poder para Guilherme, um homem marcado profundamente pelas cicatrizes da guerra e pela vida implacável que levara, tanto no corpo quanto na alma.Guilherme, com sua presença imponente e suas cicatrizes visíveis, não foi escolhido apenas pela sua força, mas pela frieza e pela mente estratégica. Ele era um líder, não apenas por direito, mas por sua habilidade em se manter firme nas decisões difíceis, algo que o tornava respeitado e temido.Por outro lado, Gustavo, sempre idealista e com uma visão mais questionadora da vida, não compartilhou da mesma filosofia. Sua inclinação para discutir sobre responsabilidade, ética e outras questões mais "humanas" o tornou uma ameaça à visão pragmática de poder de seu irmão. Em um mundo
Anos depois de fugir para o Brasil em busca de diversão e liberdade, Gustavo viu seu dinheiro se esgotar. O estilo de vida luxuoso e irresponsável que havia adotado começou a desmoronar, e a realidade, dura como sempre, o forçou a voltar para onde tudo começou. Não havia mais alternativas. O poder de sua família ainda estava vivo, mas, sem a fortuna que ele havia desperdiçado, não restava outra opção senão retornar para o império que ele tinha deixado para trás.Ao voltar, encontrou Guilherme bem diferente do homem que havia deixado para trás. Guilherme agora era um homem marcado não apenas pelas cicatrizes do corpo, mas pela responsabilidade e peso do império. Sua presença era imponente: alto, forte, com um olhar ríspido e frio. A dureza de sua vida e as exigências de seu cargo o haviam transformado em alguém quase inacessível. Guilherme era uma parede de força, de indiferença, e estava muito distante de ser o irmão que Gustavo conhecera.Por outro lado, Gustavo continuava a ser um h
Katrina e Gustavo, unidos pela ambição e pela ilusão de derrubar Guilherme, acreditavam que juntos poderiam destruir a estrutura de poder que ele havia conquistado e tomar o seu lugar. Eles estavam convencidos de que, ao se casar, poderiam não apenas humilhar Guilherme, mas também assumir o controle do império da máfia, com o apoio do pai de Katrina, que se veria à frente do império da máfia francesa. Era um plano impulsionado por ego e desejo de poder, uma aliança traiçoeira forjada no intuito de destronar o homem que já comandava tudo.Para alcançar esse objetivo, eles urdiram uma trama ardilosa: simular um incêndio acidental no apartamento de Guilherme, algo que causaria sua morte e abriria caminho para a ascensão de Gustavo, enquanto Katrina assumiria seu lugar como esposa e herdeira. Tudo foi meticulosamente planejado para parecer um acidente, uma fatalidade inevitável. Mas a realidade era bem diferente. O incêndio foi inteiramente proposital, com cada passo calculado para garant
Meg mostrou a casa que seria o novo lar de Rosa e Vitinho. Eles gostaram; era uma casa pequena, mas bonita e arejada. Poderiam ser felizes ali se não fosse a teia de mentiras em que estavam presos e nem sabiam quão grande ela poderia ser.__ Vou começar a limpar.__ Menina, descanse. Você já começa a trabalhar amanhã e ainda se comprometeu a pintar a casa.A casa só precisava de uma pintura; estava em perfeito estado. Era a casa mais próxima da mansão Vitorino. Da varanda do quarto de Guilherme, era possível ter uma visão plena da janela de um dos quartos que Rosa escolheu como dela por ser maior e também da pequena varanda da casinha.__ Nada disso, Meg. O senhor Guilherme disse que eu preciso de privacidade, mas acho que ele é quem precisa. Não vou e nem quero incomodar; fui um incômodo por muito tempo em uma casa que minha mãe deixou para mim, mas que nunca foi minha, nunca foi meu, e agora...Rosa percebeu que falava demais e que não poderia cometer um erro.__ Continue, menina._
Não passou despercebido aos olhos de Guilherme que, antes de se recolher para o quarto em que dormiria, Rosa trancou a porta do quarto onde Vitinho estava e apertou a chave na mão como se a segurança do menino dependesse daquele gesto. Guilherme sabia que ela ainda não confiava nele. Poderia ter ficado chateado ou ofendido, mas, pelo contrário, percebeu que Rosa estava protegendo o filho. Ele achou Rosa uma mãe excelente e admirou isso nela.Rosa escovou os dentes e se deitou. Já havia tomado banho mais cedo e, antes de dormir, olhou as notificações do celular. Havia várias mensagens da irmã, mas ela não abriu nenhuma. No fundo, Rosa estava agradecida por não precisar compartilhar o mesmo espaço que Vitinho com a irmã, mas sabia que ela não a deixaria em paz.Ainda cansada pela viagem e pelo dia, em que havia pintado praticamente a casa inteira em uma única tarde, Rosa desejava que sua estadia na casa de Guilherme fosse apenas a trabalho.Durante a noite, teve pesadelos horríveis. Son
No outro dia, Rosa acabou acordando tarde. Foi um sono agitado e cheio de pesadelos.Guilherme ficou observando ela dormir até que o dia amanhecesse. Viu no rosto dela todas as expressões de sofrimento, de perturbação, de pavor. Ela chorava nos sonhos, pedia por favor e dizia não querer algo. Chegou a se debater, e ele imaginou várias coisas que Rosa poderia ter passado. Odiou vê-la sofrendo.Guilherme pensou em abraçá-la na tentativa de acalmá-la, mas temeu que ela acordasse e ficasse ainda mais assustada. Queria ter chegado antes, foi o que pensou. Depois concluiu que não teria adiantado nada. Ela era muito para ele e jamais o aceitaria em sua vida.Rosa acordou assustada, tocou todo o corpo para ver se Guilherme não a tinha tocado enquanto dormia. Ficou aliviada; pelo menos ele não era um aproveitador, foi isso que pensou.Ela ainda não sabia se Guilherme era um comparsa de Meg. Depois pensou que, se fosse, não teria motivos para esconder sobre Vitinho. Ela levantava suposições, ma
Rosa se arrumou rápido, vestiu um vestido florido, o comprimento ia até perto dos joelhos e era de alcinhas. O dia estava quente, e o vestido era fresco. Calçou nos pés uma sandália de amarração velha e gasta, mas que ainda assim ficava bonita. Ela não comeu nada, envergonhada pela cena que protagonizara mais cedo.Quando terminou, correu para o quarto de Vitinho para ajudá-lo a se arrumar, mas tomou um susto ao bater de frente com uma parede imponente de quase dois metros. O homem parecia um leopardo pronto para o ataque, com uma expressão carregada.Vitinho sorria, já vestido, enquanto Guilherme penteava os cabelos negros do menino.— Antes que me acuse, eu não fiz nada. E, se quer saber, nem entrei no banheiro para ajudá-lo no banho. Só o instruí sobre onde estavam as coisas de que ele precisaria. Ele estava parecendo um porquinho de tão sujo. — Guilherme piscou para o menino.Mas era mentira. Guilherme tinha entrado no quarto para alertar Vitinho sobre segurança. O menino ficaria
Guilherme e Rosa partiram rumo à escola em silêncio. Ele dirigia tranquilo, mas seus pensamentos estavam a mil. O colégio para o qual levava Vitinho era especial para ele. Ele e o irmão haviam estudado lá durante toda a infância e juventude. Era um lugar que carregava boas memórias, mas também era uma das poucas coisas em que investia sem pensar duas vezes. Guilherme não era só um ex-aluno: era um dos maiores investidores daquele colégio, o que o tornava praticamente um dos donos. Porém, esse detalhe ele fazia questão de manter em segredo.Quando chegaram, Rosa ficou deslumbrada. A arquitetura da escola era moderna, com amplos espaços verdes, playgrounds impecáveis e um ginásio que parecia de cinema. Ela deu alguns passos hesitantes pelo saguão, mas, logo, seu olhar caiu sobre as placas de bronze nas paredes, mostrando que aquele colégio era privado. Sem perceber, segurou na camiseta de Guilherme, como se buscasse algum tipo de segurança.— Eu... eu não tenho dinheiro para pagar uma e