Capítulo 2

Queria muito sua amizade, mas também desejava algo mais e parecia que ele não percebia isso.

Não tínhamos mais a mesma intimidade de antes, afinal, quando ele viajou para estudar, ainda era um menino e brincava comigo nos campos do reino. Agora, ambos estávamos quase adultos e não cabiam mais as mesmas brincadeiras de antes. Devido a isso, afastamo-nos um pouco, para minha tristeza. Encontrava-o aleatoriamente pelo castelo e pelo reino.

Durante as festas, ele me tirava para dançar e conversávamos um pouco, contudo os assuntos eram sempre sobre o que aconteceu a ele durante o tempo que passou fora e sobre o que fiz durante esse tempo, sobre meus estudos e algumas histórias com amigos em comum.

Às vezes, ficava perguntando por ele para os criados que acabavam me informando onde o tinham visto pela última vez, e eu arrumava um pretexto para ir até o local encontrá-lo. Ele nem desconfiava das minhas intenções, pelo menos parecia que não.

Aron não me dava nenhum motivo para acreditar no contrário, mas o coração de uma pessoa apaixonada não deve desistir, não é mesmo? Eu tinha certeza que não conseguiria, a não ser que o próprio dissesse que não me correspondia.

Mesmo ele não me dando nenhum motivo para acreditar que poderia me amar, buscava sua presença sempre que possível e ele, sempre muito educado e cortês, me acompanhava em longas caminhadas pelo jardim.

Quando conversávamos sobre seus estudos, muitas vezes ele deixava escapar alguns detalhes que não me agradavam. Falava sobre alguns romances e de algumas moças que conhecera por lá. Aquilo doía em meu coração, todavia fingia que não me importava e acabava contando alguma história sobre as visitas de nosso “amigo” em comum, o Príncipe Estevam, que morava em um reino bem próximo ao nosso. Na verdade, ele era mais meu amigo do que de Aron. Eles brigavam bastante quando estávamos juntos. Pareciam competir pela minha atenção, o que me deixava envaidecida. Apesar disso, em geral eles se davam bem. Um dia, em uma de nossas conversas, surgiu a pergunta.

— Como vai o “principezinho”? Tem vindo muito por aqui?

— Você está falando de Estevam, não é mesmo? — ele concordou com um aceno. — Na verdade, não. Vem às vezes com os pais, passeamos pelo jardim e conversamos. Suas histórias sobre o reino são muito engraçadas e divertidas. Admiro muito sua companhia. — Fiquei atenta à expressão de Aron para ver se haveria alguma emoção ao me ouvir, alguma pontinha de ciúmes.

Nada. Não percebi nada!

Comecei a pensar que realmente o amava sozinha, mas como controlaria um coração apaixonado?

Quando descobrimos o amor é difícil tirá-lo do coração, porém, no fundo, eu sabia que era exatamente isso o que eu deveria fazer. 

***

Aos dezoito anos, fui coroada. A Rainha Malena Katherine Baldrick Nithercott, governante do reino de Minsk, meu amado país, que era um dos mais belos de toda a região.

Terras planas, solo fértil com muitas plantações dos mais variados grãos, vegetais e muitos pomares.

Nossos jardins também eram belíssimos e muito bem cuidados pelos empregados do reino.

Bosques de flores e árvores cercavam o castelo e toda a extensão de nosso país, que não era muito grande, mas tinha o tamanho ideal, suficiente para acolher seu povo, que sempre fora muito bem tratado por meus pais e nossos antepassados.

Minsk era um país onde todos amavam viver e servir, o que me deixava ainda mais orgulhosa por estar assumindo a maior posição do reino, mesmo sendo tão nova e inexperiente, e em circunstâncias tão difíceis.

Chegamos, enfim, ao dia trinta do mês de maio, e lá estava eu, envolta nos preparativos para minha festa. A festa de aniversário, dessa vez, seria substituída pela minha coroação. Já era fim de tarde e estava em meus aposentos, com minhas amas me arrumando para a grande noite.

Meu vestido era lindo, vermelho com detalhes em dourado e muitas joias que combinavam perfeitamente com tudo. Um lindo véu foi colocado em meus cabelos, que já estavam presos, tendo alguns cachos soltos. Amava meus cabelos, loiros em tons dourados e levemente cacheados, como os de minha mãe. A maquiagem ressaltava meus olhos esverdeados, um pouco maiores do que o comum, herança de meu pai. O vestido caia muito bem em meu corpo magro, porém esguio. Já não me sentia uma menina há algum tempo. A partir daquele dia, eu me tornaria de vez uma mulher, seria uma Rainha.

Apesar do quanto aquele dia era importante para mim e para o reino, não podia dizer que estava feliz, devido às circunstâncias que me fizeram chegar até ali.

Queria muito cuidar de tudo que agora era minha responsabilidade, no entanto, assim como eu, o reino de Minsk ainda chorava por todas as suas perdas.

Estava chegando a hora e em breve estaria caminhando para minha cerimônia de coroação. Sentia-me ansiosa, minhas mãos estavam frias e um formigamento no meu estômago teimava em persistir.

Não consegui comer quase nada durante o dia todo. Quase nem pude sair dos meus aposentos naquele dia. Fiquei aguardando a noite chegar, e minhas amas passaram o dia ao meu redor, enchendo-me de mimos, banhos florais e frutas frescas.

Quando abriam a porta, podia ver e ouvir os murmúrios pelos corredores, sabia que o castelo inteiro estava se preparando também. Cozinheiros preparavam o banquete, decoradores arrumavam o salão principal, e os convidados já estavam chegando para se instalarem e se prepararem para a festa.

O Bispo Dom Ângelo III, que realizaria a cerimônia, também já havia chegado como me informara minha ama Gertrude, uma segunda mãe para mim.

Ela estava sempre presente, auxiliando-me em tudo o que precisava desde que eu era pequena. Fora minha cuidadora, minha ama de leite e era minha confidente e amiga para todas as horas. Minha mãe estava sempre muito ocupada e não podia estar o tempo todo comigo, mas Gertrude estava.

Gertrude era uma senhora muito amável, com uma aparência gentil e estava sempre perfumada com um aroma suave de flores frescas, muito agradável. Era muito bom tê-la por perto. Sempre tinha uma palavra carinhosa, um gesto de amor, uma gentileza. Naquele dia, encheu-me de coisas boas, de palavras positivas. Estava feliz por mim, e seus desejos eram sinceros, como de uma mãe mesmo.

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