Queria muito sua amizade, mas também desejava algo mais e parecia que ele não percebia isso.
Não tínhamos mais a mesma intimidade de antes, afinal, quando ele viajou para estudar, ainda era um menino e brincava comigo nos campos do reino. Agora, ambos estávamos quase adultos e não cabiam mais as mesmas brincadeiras de antes. Devido a isso, afastamo-nos um pouco, para minha tristeza. Encontrava-o aleatoriamente pelo castelo e pelo reino.
Durante as festas, ele me tirava para dançar e conversávamos um pouco, contudo os assuntos eram sempre sobre o que aconteceu a ele durante o tempo que passou fora e sobre o que fiz durante esse tempo, sobre meus estudos e algumas histórias com amigos em comum.
Às vezes, ficava perguntando por ele para os criados que acabavam me informando onde o tinham visto pela última vez, e eu arrumava um pretexto para ir até o local encontrá-lo. Ele nem desconfiava das minhas intenções, pelo menos parecia que não.
Aron não me dava nenhum motivo para acreditar no contrário, mas o coração de uma pessoa apaixonada não deve desistir, não é mesmo? Eu tinha certeza que não conseguiria, a não ser que o próprio dissesse que não me correspondia.
Mesmo ele não me dando nenhum motivo para acreditar que poderia me amar, buscava sua presença sempre que possível e ele, sempre muito educado e cortês, me acompanhava em longas caminhadas pelo jardim.
Quando conversávamos sobre seus estudos, muitas vezes ele deixava escapar alguns detalhes que não me agradavam. Falava sobre alguns romances e de algumas moças que conhecera por lá. Aquilo doía em meu coração, todavia fingia que não me importava e acabava contando alguma história sobre as visitas de nosso “amigo” em comum, o Príncipe Estevam, que morava em um reino bem próximo ao nosso. Na verdade, ele era mais meu amigo do que de Aron. Eles brigavam bastante quando estávamos juntos. Pareciam competir pela minha atenção, o que me deixava envaidecida. Apesar disso, em geral eles se davam bem. Um dia, em uma de nossas conversas, surgiu a pergunta.
— Como vai o “principezinho”? Tem vindo muito por aqui?
— Você está falando de Estevam, não é mesmo? — ele concordou com um aceno. — Na verdade, não. Vem às vezes com os pais, passeamos pelo jardim e conversamos. Suas histórias sobre o reino são muito engraçadas e divertidas. Admiro muito sua companhia. — Fiquei atenta à expressão de Aron para ver se haveria alguma emoção ao me ouvir, alguma pontinha de ciúmes.
Nada. Não percebi nada!
Comecei a pensar que realmente o amava sozinha, mas como controlaria um coração apaixonado?
Quando descobrimos o amor é difícil tirá-lo do coração, porém, no fundo, eu sabia que era exatamente isso o que eu deveria fazer.
***
Aos dezoito anos, fui coroada. A Rainha Malena Katherine Baldrick Nithercott, governante do reino de Minsk, meu amado país, que era um dos mais belos de toda a região.
Terras planas, solo fértil com muitas plantações dos mais variados grãos, vegetais e muitos pomares.
Nossos jardins também eram belíssimos e muito bem cuidados pelos empregados do reino.
Bosques de flores e árvores cercavam o castelo e toda a extensão de nosso país, que não era muito grande, mas tinha o tamanho ideal, suficiente para acolher seu povo, que sempre fora muito bem tratado por meus pais e nossos antepassados.
Minsk era um país onde todos amavam viver e servir, o que me deixava ainda mais orgulhosa por estar assumindo a maior posição do reino, mesmo sendo tão nova e inexperiente, e em circunstâncias tão difíceis.
Chegamos, enfim, ao dia trinta do mês de maio, e lá estava eu, envolta nos preparativos para minha festa. A festa de aniversário, dessa vez, seria substituída pela minha coroação. Já era fim de tarde e estava em meus aposentos, com minhas amas me arrumando para a grande noite.
Meu vestido era lindo, vermelho com detalhes em dourado e muitas joias que combinavam perfeitamente com tudo. Um lindo véu foi colocado em meus cabelos, que já estavam presos, tendo alguns cachos soltos. Amava meus cabelos, loiros em tons dourados e levemente cacheados, como os de minha mãe. A maquiagem ressaltava meus olhos esverdeados, um pouco maiores do que o comum, herança de meu pai. O vestido caia muito bem em meu corpo magro, porém esguio. Já não me sentia uma menina há algum tempo. A partir daquele dia, eu me tornaria de vez uma mulher, seria uma Rainha.
Apesar do quanto aquele dia era importante para mim e para o reino, não podia dizer que estava feliz, devido às circunstâncias que me fizeram chegar até ali.
Queria muito cuidar de tudo que agora era minha responsabilidade, no entanto, assim como eu, o reino de Minsk ainda chorava por todas as suas perdas.
Estava chegando a hora e em breve estaria caminhando para minha cerimônia de coroação. Sentia-me ansiosa, minhas mãos estavam frias e um formigamento no meu estômago teimava em persistir.
Não consegui comer quase nada durante o dia todo. Quase nem pude sair dos meus aposentos naquele dia. Fiquei aguardando a noite chegar, e minhas amas passaram o dia ao meu redor, enchendo-me de mimos, banhos florais e frutas frescas.
Quando abriam a porta, podia ver e ouvir os murmúrios pelos corredores, sabia que o castelo inteiro estava se preparando também. Cozinheiros preparavam o banquete, decoradores arrumavam o salão principal, e os convidados já estavam chegando para se instalarem e se prepararem para a festa.
O Bispo Dom Ângelo III, que realizaria a cerimônia, também já havia chegado como me informara minha ama Gertrude, uma segunda mãe para mim.
Ela estava sempre presente, auxiliando-me em tudo o que precisava desde que eu era pequena. Fora minha cuidadora, minha ama de leite e era minha confidente e amiga para todas as horas. Minha mãe estava sempre muito ocupada e não podia estar o tempo todo comigo, mas Gertrude estava.
Gertrude era uma senhora muito amável, com uma aparência gentil e estava sempre perfumada com um aroma suave de flores frescas, muito agradável. Era muito bom tê-la por perto. Sempre tinha uma palavra carinhosa, um gesto de amor, uma gentileza. Naquele dia, encheu-me de coisas boas, de palavras positivas. Estava feliz por mim, e seus desejos eram sinceros, como de uma mãe mesmo.
Quando saí de meus aposentos, ela me disse:— Boa sorte, querida. Você será a mais bela e a melhor Rainha que esse reino já pôde ter. Que a paz e o amor estejam sempre em vosso coração. — Agradeci com um olhar, um aperto de mão e um beijo demorado em sua face macia e rosada. As palavras não saíram, e ficou um nó na garganta difícil de controlar, mas tinha de conseguir, não podia chorar naquele momento, estava a caminho da minha coroação.Aproximando-me do salão principal, comecei a ouvir os convidados conversando e uma música suave tocada pelos músicos do castelo.Meu pai costumava fazer muitas festas, minha mãe também gostava muito de comemorações e comigo não seria diferente. Tinha em meus planos, realizar muitos bailes e comemorar tudo que pudesse, em memória deles.Parei na entrada, aguardando ser anunciada, como me foi orientado. Sem aviso, a música parou, os convidados silenciaram e foi anunciada a minha presença.— Vossa Majestade, Princesa Malena Katherine Baldrick Nithercott!
No dia do meu décimo segundo aniversário, após a festa celebrada por todos no salão principal do castelo com um belíssimo baile, meu pai me deu um presente e também queria se despedir, pois estava saindo para liderar uma batalha.O Rei Serafim Adrian Nithercott sabia lutar como poucos reis que conhecíamos. Desde muito criança, foi treinado por Rômulo, pai de Hamom e avô de Aron, o melhor guerreiro do reino naquela época e grande amigo de meu avô, o Rei Bartolomeu Dumas Nithercott.Meu avô acreditava que todo rei deveria ser treinado para tornar-se um guerreiro e lutar para defender seu reino, suas terras, seu povo, não apenas orientando seu exército para uma batalha, mas também estando presente e dando seu sangue e sua vida, se fosse necessário.Quando abri meu presente, fiquei encantada: uma coroa, lindíssima, toda ornamentada com lindas e delicadas pedras preciosas. Minha primeira reação foi ficar boquiaberta.— Meu pai, ela é linda! Obrigada, mas por que uma coroa? Já tenho várias
Minha mãe, a Rainha Stella Marie Baldrick, era considerada uma das mulheres mais belas de todo o reino de Minsk. Foi escolhida pelo meu avô para se casar com meu pai. Sua família era de origem nobre e uma das mais ricas de toda a região. Sua beleza era encantadora. Seus cabelos dourados e ondulados, assim como os meus; amava essa semelhança entre nós. Seus olhos azuis tinham um tom que fascinava, intrigava e, ao mesmo tempo, transmitia toda a sua doçura. Seu rosto perfeito e harmonioso combinava com sua pele clara como a luz do sol. Mesmo com toda sua doçura, era uma mulher muito forte e decidida. Desde que se casou com meu pai, assumiu uma postura impecável e todos a admiravam e a respeitavam por isso. Apesar do casamento deles ter sido arranjado pelas duas famílias, ambos se apaixonaram à primeira vista, como diziam. Era um amor tão bonito de se ver, com muito carinho, cumplicidade e respeito. Minhas lembranças com ela eram doces e ternas. Nem sempre foi uma mãe p
Passei os dois anos seguintes aos cuidados do meu tutor e amigo da família, Elmos. Um conselheiro do reino que serviu muito bem ao meu pai e à minha mãe, um grande amigo deles que se tornou um grande amigo meu também. Quando completei dezoito anos e enfim chegou o dia da minha coroação, ele me procurou antes da cerimônia e me disse: — Minha querida Princesa e minha futura Rainha, a partir de amanhã passarei a você seu tão merecido posto, seu trono, seu reino. Tenho certeza de sua capacidade devido ao seu aprendizado nesses anos e sei que será uma excelente governante e seu reinado entrará para a história de Minsk. — Obrigada, querido Elmos. Tudo isso graças ao senhor e seus ensinamentos. Acredito que serei uma boa rainha e sei que com sua ajuda venceremos qualquer problema que possa surgir. O senhor continuará ao meu lado, não é mesmo? — perguntei ciente da resposta. Sabia que ele jamais me abandonaria. — Claro que sim, Vossa Majestade! Enquanto quiser e o quanto precis
Só conseguimos começar o treinamento uma semana após nossa conversa. Meus compromissos como Rainha eram muitos: reuniões, festas e até mesmo passeios e viagens. Quem cuidava de tudo para mim era meu secretário Elmos, que tinha auxiliado muitas vezes minha mãe com a organização de seus afazeres também, para não faltar e nem se esquecer de nada. Era um excelente profissional e amigo para todas as horas.No dia marcado, acordei muito ansiosa, e apesar das recomendações de Aron quanto a minha alimentação, não consegui comer quase nada, somente água e algumas frutas. Finalmente chegara o dia em que iria iniciar meu treinamento para ser uma líder em lutas e batalhas, esse era o meu desejo e ele estava prestes a começar.Não seria apenas uma Rainha, mas sim uma guerreira pronta para enfrentar qualquer problema. Tive muita rejeição e alerta de meus conselheiros para não seguir adiante e mudar de ideia. Muitos deles me disseram que não era atividade para uma mulher e muito menos para uma jovem
Poderia até parecer bobagem para algumas pessoas, mas, para mim, ter essa oportunidade todos os dias era uma grande realização. Estava verdadeiramente encantada com minha nova vida e rotina.Apesar de toda a dor que ainda sentia pela ausência de meus pais, descobrir que era capaz de seguir em frente, governar um reino e realizar meus sonhos, mesmo com muitas opiniões contrárias ao que eu estava fazendo, era compensador.Além de tudo isso, estava redescobrindo a amizade com uma das pessoas mais importantes da minha vida, da minha infância. Estava também descobrindo um grande amor e mesmo sem saber se ele também me amava, estar com Aron todos os dias era um bálsamo, a melhor hora do dia. Sentia-me encantada por sua força, sua garra, seus ensinamentos, suas histórias, tudo nele me fascinava.Acordava feliz por saber que seria ele uma das primeiras pessoas que eu veria no meu dia.Alegrava-me ouvir sua voz, ver seu sorriso, sua alegria de viver e de me ensinar tudo que sabia.Ele parecia
Conversando com o senhor Robert em nossa reunião, pude perceber o quanto ele era interessado em nossas terras e que tinha ideias maravilhosas e novas técnicas de plantio que já eram usadas em suas terras e, segundo ele, tinha lhes dado muito lucro nos últimos anos.Não entendia muito do assunto, mas Frederico, meu conselheiro que cuidava - e muito bem - dessa parte, estava comigo na reunião e ajudou-me a entender melhor.— Rainha Malena, Vossa Majestade nem pode imaginar o quanto ficaria feliz em ter a permissão para lhe ajudar com minhas novas ideias. Se lhes forem úteis, estou à inteira disposição para lhe oferecer ajuda e juntos prosperarmos ainda mais.— Nossas plantações já são muito produtivas, Senhor Robert, mas melhorar é sempre bom. Estou aberta a ouvir suas ideias e se forem coerentes podemos, sim, trabalhar juntos. O que acha dos projetos apresentados, Senhor Frederico? — Ele estudava atentamente os papéis que havia lhe entregado.— Excelentes, Vossa Majestade! Tão bons e t
No dia do convescote, quando cheguei ao jardim, elas já me esperavam. A felicidade estava estampada em seus sorrisos. Gostei muito delas pela simplicidade e simpatia. Estavam muito bonitas e bem vestidas. Agnes, com um vestido florido em tons de verde, e Bethany, com um lindo vestido lilás. O meu vestido era azul, escolhido por minhas amas, gostava dele e combinava muito bem com a ocasião. Minhas amas eram incríveis!Ao me verem, fizeram reverências e as cumprimentei:— Boa tarde, Agnes, Bethany. Como estão passando nesse lindo dia?— Estamos bem, Vossa Majestade, e felizes pelo seu convite! — respondeu Bethany, encantada.— Felizes em lhe fazer companhia nesse convescote. Vossa Majestade, como tem passado? — completou Agnes.— Muito bem também! Obrigada!Senti que elas gostavam de mim, assim como eu delas. Conversamos bastante durante nosso lanche e compartilhamos algumas experiências. Elas me contaram sobre como viviam em Tamina, a infância das duas e algumas aventuras de crianças e