No dia do convescote, quando cheguei ao jardim, elas já me esperavam. A felicidade estava estampada em seus sorrisos. Gostei muito delas pela simplicidade e simpatia. Estavam muito bonitas e bem vestidas. Agnes, com um vestido florido em tons de verde, e Bethany, com um lindo vestido lilás. O meu vestido era azul, escolhido por minhas amas, gostava dele e combinava muito bem com a ocasião. Minhas amas eram incríveis!
Ao me verem, fizeram reverências e as cumprimentei:
— Boa tarde, Agnes, Bethany. Como estão passando nesse lindo dia?
— Estamos bem, Vossa Majestade, e felizes pelo seu convite! — respondeu Bethany, encantada.
— Felizes em lhe fazer companhia nesse convescote. Vossa Majestade, como tem passado? — completou Agnes.
— Muito bem também! Obrigada!
Senti que elas gostavam de mim, assim como eu delas. Conversamos bastante durante nosso lanche e compartilhamos algumas experiências. Elas me contaram sobre como viviam em Tamina, a infância das duas e algumas aventuras de crianças e eu algumas experiências vividas como princesa que as faziam vibrar encantadas, principalmente Bethany que era mais nova e parecia ser mais sonhadora e romântica.
— Que coisa mais linda! Sempre sonhei em ser uma Princesa.
— Nem tudo é tão lindo assim, só contei a parte boa.
— O que pode haver de ruim na vida de uma Princesa? — perguntou Agnes.
— Algumas experiências em que precisamos muito dos pais e eles estão ocupados para nos atender e a pior, com certeza, foi perdê-los e ter de enterrá-los.
— Oh! Meu Deus! Perdoe-me pela indelicadeza! Sabia desses fatos, mas esqueci-me por alguns momentos. Vossa Majestade, sou uma tola mesmo. — Agnes desculpava-se com tristeza e lamento em sua voz.
— Não há problema, Agnes! Já está desculpada. Não se preocupe com isso, entendo o que quis dizer. Podemos perfeitamente mudar de assunto, vamos falar sobre coisas boas. O que estão achando de Minsk?
— Adorando! Sua cidade é belíssima e muito acolhedora — respondeu Bethany com os olhos cheios de alegria.
— Minha irmã gostou muito da mudança, assim como eu. Lá em Tamina não tínhamos muitas distrações, com certeza gostamos muito mais de seu país — completou Agnes.
— Fico muito satisfeita em saber e serão sempre bem-vindas aqui no castelo. Quando quiserem vir me visitar, é só mandar um mensageiro avisar que reservo um tempo para recebê-las.
— Oh! Seremos amigas da Rainha? Isso é muita honra, Vossa Majestade! — exclamou Bethany.
— Não seja tola, minha irmã. Como pode pedir para ser amiga da Rainha? Quanta indelicadeza! Desculpe, Majestade, pela inocência de minha irmã. — Agnes tentava se desculpar, julgando que era um grande erro o que sua irmã estava dizendo.
— Fique tranquila, Agnes. Bethany tem toda a razão! Ficarei honrada em tê-las como amigas, se assim também quiserem, é claro.
— Com certeza! A honra será nossa — concordou Agnes.
— Viu só, Agnes, eu estava certa em pensar na amizade com a Rainha, ela também quer ser nossa amiga — Bethany confrontava a irmã como se eu não pudesse ouvi-las. Fiquei feliz e sorri para as duas.
— Bem, a princípio então, precisamos mudar algumas coisas para sermos amigas. — Ambas ficaram surpresas com minha afirmação.
— Sim, Vossa Majestade. O que a senhora preferir — respondeu Agnes, mesmo sem saber do que se tratava.
— Em primeiro lugar, amigas não se chamam de senhora, até mesmo porque não sou tão mais velha assim do que vocês. Em segundo lugar, amigas não precisam de tanta formalidade, vocês podem me chamar pelo meu nome, por favor.
— Mas, não seria indelicadeza de nossa parte? — perguntou Agnes.
— Claro que não, pois se é ela mesma quem está nos pedindo que seja assim.
— É isso mesmo, Bethany, sou eu mesma que peço para que seja assim! Fique tranquila, Agnes, entre amigas não há espaço para cerimônias.
— Então, que assim seja, Vossa… quer dizer, que assim seja, Rainha Malena.
— Somente Malena, assim como a chamo somente Agnes.
— Não leve minha irmã à mal, Malena, ela se acostumará bem rápido, tenho certeza!
— Sei que sim, Bethany, logo se acostumará.
— É que ela está um pouco nervosa. Em breve, irá conhecer seu pretendente para se casar, nosso pai que está arrumando tudo com a família dele — contava Bethany.
— Que interessante, seu pai comentou comigo sobre o assunto, mas o que você acha disso, Agnes? Está de acordo com seu pai, sobre ele escolher seu futuro esposo?
— Na verdade, não, mas não tive muita escolha. Meu pai deixou bem claro que devo me casar antes de completar meu décimo oitavo aniversário. O que acontecerá daqui a três meses!
— Bem, penso que vale a pena conhecê-lo então. Não sou muito a favor de casamentos arranjados, mas talvez vocês possam se apaixonar um pelo outro e acabar casando-se por amor, como aconteceu com meus pais. — Claro que ao ouvirem isso, fizeram-me contar tudo sobre a linda história de amor entre meu pai e minha mãe. Bethany suspirava com cada detalhe que eu contava e perguntava mais. Agnes, apesar de mais reservada, também parecia curiosa em saber os detalhes.
Foi assim que nos tornamos amigas. Sempre que podia, reservava um tempo para que pudéssemos tomar um chá ou fazer um passeio juntas, gostava de estar com elas e elas comigo. Após alguns dias de amizade, parecia que já nos conhecíamos a vida toda e aos poucos elas aprenderam a me tratar como amiga sem as formalidades devidas a uma rainha.
Um dia, Agnes veio sozinha, pois Bethany estava estudando e não podia se distrair. Agnes estava feliz e começou a me contar sobre o encontro com seu futuro noivo e marido. O jantar de apresentação em sua casa tinha sido na noite anterior e ela estava feliz, totalmente diferente dos outros dias, em que tinha dúvidas sobre aquele casamento arranjado.
— Ele é lindo, demais Malena. Você tinha razão. A história dos seus pais está se repetindo comigo. Estou completamente apaixonada por ele.
— Que bom, Agnes, fico feliz em saber disso. Assim você poderá se casar por amor e não simplesmente por negócios e nem para agradar a sua família. Isso é muito bom!
— E o melhor amiga, tenho certeza que ele também se interessou por mim. Conversamos um pouco. Ele fala muito bem, estudou fora e voltou a pouco para Minsk. Tivemos uma conversa muito interessante e, aliás, você o conhece. O pai dele trabalhou para o seu pai durante muitos anos e, pelo que entendi, ainda trabalha para você.
— É mesmo? Quem é ele afinal? — perguntei, temendo a resposta, pois, no fundo, desconfiava de quem se tratava, só não queria acreditar.
— O nome dele é Aron. Esse é o nome do meu futuro marido e já o meu grande amor! — Agnes suspirou.
— Aron? — perguntei incrédula e demorei alguns segundos para conseguir falar novamente — Conheço, sim… é claro que conheço!
Meu coração disparou e parecia que ia sair pela boca. Minhas mãos começaram a suar e uma inquietude tomou conta de todo o meu corpo. Não sabia mais como me comportar para que Agnes não percebesse. Ela não parava de falar sobre seu encontro com Aron e eu só queria gritar.
Gritar pedindo para que parasse, para que não falasse mais nada, que eu não queria continuar ouvindo o que me contava.
O chão parecia haver sumido sob meus pés e aquela realidade tão absurda se transformou em mais um grande lamento, uma realidade fria e angustiante.
Com certeza, eu o conhecia muito bem e não podia entender o que estava acontecendo. Como ele poderia aceitar que sua família escolhesse uma noiva para se casar? Não entendia, porque aquilo não combinava com Aron, e não conseguia respostas para aquelas perguntas. Assim, continuava sem entender e sem acreditar que aquilo era possível.Após aquela revelação, fiquei aturdida e não consegui me concentrar em mais nenhuma conversa. Usei a desculpa de que precisava voltar ao castelo para um compromisso e fui embora. Minha cabeça girava, meus sentidos estavam bagunçados e uma dor muito forte apertava meu coração.No dia seguinte, em nosso treinamento, encontrei com Aron no lugar de sempre e mal consegui lhe dar bom dia. Minhas primeiras palavras a ele foram:— Conheci sua futura noiva, tomamos um chá ontem à tarde — falei, olhando bem em seus olhos para ter certeza de qual seria sua reação.— Já fiquei sabendo, ela me disse que havia conhecido a rainha e se tornado amiga dela em pouco tempo. C
Após exatos três meses, chegou o dia em que perderia Aron para sempre, o dia de seu casamento com Agnes. É claro que participei de todos os preparativos com a noiva. Ele quase não falava no assunto e, apesar de nos vermos todos os dias, não conversávamos sobre isso.Recebi o convite de Agnes para abençoar o casamento e não pude recusar. Após a cerimônia com o Bispo, ela desejava que sua união fosse abençoada pela rainha, como era de costume nos casamentos da realeza.Se meu pai fosse vivo e eu me casasse, ele, como Rei, deveria dar as bênçãos ao meu casamento. Dizia a lenda que, se isso não acontecesse, a união seria amaldiçoada. Agnes não queria correr esse risco e dizia:— Além de toda essa tradição, sou amiga da rainha, o que vale a benção duplamente, não é mesmo? Triplamente, melhor dizendo, já que meu noivo também é vosso amigo.— Sim, com certeza! Farei as honras da benção com todo prazer, minha amiga — disse com sinceridade, apesar de todo sofrimento preso em minha alma e em me
Enfim, entrava na capela do castelo para presenciar a cerimônia de casamento. Fui anunciada com todas as honras e sentei-me no trono real, que ficava no altar ao lado da cadeira do Bispo, Dom Ângelo III, nosso sacerdote e amigo da família há um bom tempo. Convidei-o algumas semanas antes para realizar a cerimônia e, apesar de relutar um pouco, acabou aceitando.— Vossa Graça entende que sou designado para cerimônias da realeza, não é mesmo? — O Bispo demonstrava um pouco de impaciência.— Sim, Vossa Eminência. Entendo perfeitamente, mas trata-se do casamento de grandes amigos da nobreza e estou cedendo os espaços do castelo para cerimônia e baile, então, seria muito importante se Dom Ângelo fizesse a celebração e atendesse a um pedido de Vossa Rainha.Tentava convencê-lo, o que foi até fácil, considerando a teimosia persistente em todas as conversas com ele, desde a época de meu pai. O rei sempre contava histórias sobre como o Bispo era difícil de lidar.— Sinceramente, esperava estar
— Como você está, Malena? Como se sente? — perguntou Aron, assim que começamos a dança.— Bem. Sinto-me bem. Porque a pergunta?— Percebi que não estava bem na hora da benção, fiquei assustado e preocupado que estivesse doente, pensei que não conseguiria abençoar nosso casamento.— Claro que não! Daria a bênção a vocês mesmo que estivesse doente, mesmo que estivesse de cama. Fique tranquilo, estou bem. Creio ter sido apenas um mal-estar devido ao calor.— Não fale isso nem de brincadeira. Sua saúde é muito importante, deve ser muito bem cuidada. Tem certeza que está realmente bem? Não está me escondendo nada?— Claro que não! O que poderia lhe esconder? — A não ser o fato de que lhe amo, não lhe escondo mais nada. — Estou ótima! Foi apenas um mal súbito, já passou!— Que bom! Então fico mais tranquilo. Estava bem quente lá dentro mesmo. Aqui fora está mais fresco e você me parece melhor.— Sim, estou sim! E você? Como se sente agora que está casado?— Bem, me sinto bem! Por enquanto n
Quando a viagem de núpcias acabou, voltamos ao treinamento e aos chás da tarde. Meus dias eram cheios de compromissos, não era fácil governar um reino. Tudo, absolutamente tudo, dependia de uma decisão da Rainha e deveria passar pelo meu conhecimento e consentimento. Por isso, treinar e conversar com minha amiga à tarde era o que mais me distraía e ajudava a seguir em frente.Aron me ajudava a treinar e a não esquecer tudo que me ensinou. Não era fácil estar com ele todos os dias; mesmo dizendo a mim mesma que tinha enterrado aquele amor, estar em sua presença era perturbador. Tentava não pensar demais enquanto estávamos juntos e buscava ser a amiga de sempre, mas era muito difícil.Dois meses depois, Agnes veio para o chá da tarde radiante e não se aguentava de tanta felicidade:— Tenho uma grande notícia para lhe dar, minha amiga. Tenho certeza que ficará muito feliz!— Percebo que deve ser muito importante essa notícia, você está mais feliz hoje do que qualquer outro dia. O que hou
Aqueles meses, apesar de intensos, passaram muito rápido. Entre enjoos e desejos, a barriga ficou cada vez maior, as mudanças de comportamento, o bebê se movimentando, as dores no corpo, o cansaço do final da gestação e lá estava eu, apreciando cada momento daquela preparação para a vida, como se fossem meus momentos. Acompanhava com minha amiga, ajudava-a e amava tanto aquele bebê que meu coração transbordava de alegria. Eu o amava não só pelo fato de ser um “pedacinho” de Aron, como também pela amizade que construíra com Agnes e pela maravilhosa sensação de fazer parte da vida deles, e poder estar presente naqueles momentos tão sublimes. A hora do parto estava chegando, já haviam se passado as luas necessárias para o nascimento do bebê, a melhor parteira do reino estava à disposição de Agnes a todo o momento e nosso curandeiro, Abdus, também permanecia atento, caso precisássemos de alguma intervenção. Separei um dos melhores aposentos do castelo para ela dar à luz. Ar
Quando chegamos ao quarto, tudo já estava bem limpo, Agnes não estava acordada e o bebê era enlaçado e protegido pelo seu braço. Era um menino, lindo e forte! Abdus nos informou que, após uma intervenção, ela acordou e assim conseguiram realizar o parto, porém houve muito sangramento e em muitos momentos eles pensaram que ambos não resistiriam. Naquele momento, estavam bem, o bebê já havia mamado e dormia como um anjo. Ela também parecia muito angelical, contudo sua palidez me deixou preocupada. — Abdus, quero que me conte tudo o que aconteceu e não me esconda nada! Certo? — Sim, Vossa Majestade! Tenho mesmo uma coisa muito importante para lhe contar! — Aquela afirmação me deu arrepios, sabia pelo seu tom de voz que não era uma coisa boa. Aron deitou-se na cama com os dois e beijou a testa de Agnes, que acordou sorrindo. — Olha meu amor, nosso pequeno nasceu. Ele é lindo demais! — ela falava, pausadamente, com a voz fraca e trêmula. — Sim, querid
Estava feliz por ser madrinha daquele anjo lindo. Nosso pequeno Serafim, como o chamava, cresceu rodeado de muita atenção e de muitos mimos. Após seu nascimento, convidei-os para morar no castelo que era muito grande somente para mim e, como não pretendia casar-me e ter filhos, queria meu afilhado por perto e meus amigos também. Quando ele completou dois anos, decidi que já era hora de fazer meu testamento, pois não queria, de forma alguma, que quando partisse dessa vida a herança de meus antepassados não tivesse um rumo certo, ficando à mercê do clero ou de algum parentesco distante. Devido a isso, ditei para o escrivão meu testamento, que foi escrito nos papéis oficiais do reino, com suas insígnias, para que tivesse o valor necessário. Chamei algumas testemunhas também, Elmos e Percival, que a princípio foram contra minha decisão. Sendo assim, foi necessário entrar com uma moção para que fosse possível mudar a lei que ditava o direito à herança do trono somente por h