Enfim, entrava na capela do castelo para presenciar a cerimônia de casamento. Fui anunciada com todas as honras e sentei-me no trono real, que ficava no altar ao lado da cadeira do Bispo, Dom Ângelo III, nosso sacerdote e amigo da família há um bom tempo. Convidei-o algumas semanas antes para realizar a cerimônia e, apesar de relutar um pouco, acabou aceitando.— Vossa Graça entende que sou designado para cerimônias da realeza, não é mesmo? — O Bispo demonstrava um pouco de impaciência.— Sim, Vossa Eminência. Entendo perfeitamente, mas trata-se do casamento de grandes amigos da nobreza e estou cedendo os espaços do castelo para cerimônia e baile, então, seria muito importante se Dom Ângelo fizesse a celebração e atendesse a um pedido de Vossa Rainha.Tentava convencê-lo, o que foi até fácil, considerando a teimosia persistente em todas as conversas com ele, desde a época de meu pai. O rei sempre contava histórias sobre como o Bispo era difícil de lidar.— Sinceramente, esperava estar
— Como você está, Malena? Como se sente? — perguntou Aron, assim que começamos a dança.— Bem. Sinto-me bem. Porque a pergunta?— Percebi que não estava bem na hora da benção, fiquei assustado e preocupado que estivesse doente, pensei que não conseguiria abençoar nosso casamento.— Claro que não! Daria a bênção a vocês mesmo que estivesse doente, mesmo que estivesse de cama. Fique tranquilo, estou bem. Creio ter sido apenas um mal-estar devido ao calor.— Não fale isso nem de brincadeira. Sua saúde é muito importante, deve ser muito bem cuidada. Tem certeza que está realmente bem? Não está me escondendo nada?— Claro que não! O que poderia lhe esconder? — A não ser o fato de que lhe amo, não lhe escondo mais nada. — Estou ótima! Foi apenas um mal súbito, já passou!— Que bom! Então fico mais tranquilo. Estava bem quente lá dentro mesmo. Aqui fora está mais fresco e você me parece melhor.— Sim, estou sim! E você? Como se sente agora que está casado?— Bem, me sinto bem! Por enquanto n
Quando a viagem de núpcias acabou, voltamos ao treinamento e aos chás da tarde. Meus dias eram cheios de compromissos, não era fácil governar um reino. Tudo, absolutamente tudo, dependia de uma decisão da Rainha e deveria passar pelo meu conhecimento e consentimento. Por isso, treinar e conversar com minha amiga à tarde era o que mais me distraía e ajudava a seguir em frente.Aron me ajudava a treinar e a não esquecer tudo que me ensinou. Não era fácil estar com ele todos os dias; mesmo dizendo a mim mesma que tinha enterrado aquele amor, estar em sua presença era perturbador. Tentava não pensar demais enquanto estávamos juntos e buscava ser a amiga de sempre, mas era muito difícil.Dois meses depois, Agnes veio para o chá da tarde radiante e não se aguentava de tanta felicidade:— Tenho uma grande notícia para lhe dar, minha amiga. Tenho certeza que ficará muito feliz!— Percebo que deve ser muito importante essa notícia, você está mais feliz hoje do que qualquer outro dia. O que hou
Aqueles meses, apesar de intensos, passaram muito rápido. Entre enjoos e desejos, a barriga ficou cada vez maior, as mudanças de comportamento, o bebê se movimentando, as dores no corpo, o cansaço do final da gestação e lá estava eu, apreciando cada momento daquela preparação para a vida, como se fossem meus momentos. Acompanhava com minha amiga, ajudava-a e amava tanto aquele bebê que meu coração transbordava de alegria. Eu o amava não só pelo fato de ser um “pedacinho” de Aron, como também pela amizade que construíra com Agnes e pela maravilhosa sensação de fazer parte da vida deles, e poder estar presente naqueles momentos tão sublimes. A hora do parto estava chegando, já haviam se passado as luas necessárias para o nascimento do bebê, a melhor parteira do reino estava à disposição de Agnes a todo o momento e nosso curandeiro, Abdus, também permanecia atento, caso precisássemos de alguma intervenção. Separei um dos melhores aposentos do castelo para ela dar à luz. Ar
Quando chegamos ao quarto, tudo já estava bem limpo, Agnes não estava acordada e o bebê era enlaçado e protegido pelo seu braço. Era um menino, lindo e forte! Abdus nos informou que, após uma intervenção, ela acordou e assim conseguiram realizar o parto, porém houve muito sangramento e em muitos momentos eles pensaram que ambos não resistiriam. Naquele momento, estavam bem, o bebê já havia mamado e dormia como um anjo. Ela também parecia muito angelical, contudo sua palidez me deixou preocupada. — Abdus, quero que me conte tudo o que aconteceu e não me esconda nada! Certo? — Sim, Vossa Majestade! Tenho mesmo uma coisa muito importante para lhe contar! — Aquela afirmação me deu arrepios, sabia pelo seu tom de voz que não era uma coisa boa. Aron deitou-se na cama com os dois e beijou a testa de Agnes, que acordou sorrindo. — Olha meu amor, nosso pequeno nasceu. Ele é lindo demais! — ela falava, pausadamente, com a voz fraca e trêmula. — Sim, querid
Estava feliz por ser madrinha daquele anjo lindo. Nosso pequeno Serafim, como o chamava, cresceu rodeado de muita atenção e de muitos mimos. Após seu nascimento, convidei-os para morar no castelo que era muito grande somente para mim e, como não pretendia casar-me e ter filhos, queria meu afilhado por perto e meus amigos também. Quando ele completou dois anos, decidi que já era hora de fazer meu testamento, pois não queria, de forma alguma, que quando partisse dessa vida a herança de meus antepassados não tivesse um rumo certo, ficando à mercê do clero ou de algum parentesco distante. Devido a isso, ditei para o escrivão meu testamento, que foi escrito nos papéis oficiais do reino, com suas insígnias, para que tivesse o valor necessário. Chamei algumas testemunhas também, Elmos e Percival, que a princípio foram contra minha decisão. Sendo assim, foi necessário entrar com uma moção para que fosse possível mudar a lei que ditava o direito à herança do trono somente por h
Meu Conselho era composto por dez homens, todos eles com uma posição de destaque no reino. Alguns eram amigos de minha família há muitos anos. Elmos era um deles e, além de conselheiro, era meu secretário, foi meu tutor, amigo da família e um segundo pai para mim. Percival era Duque e possuía muitas terras na região, produtivas e que serviam ao reino. Lorde Hamilton era sempre contra todas as minhas opiniões e deixava bem claro não aprovar que uma mulher fosse líder de um reino. Enfatizava a necessidade de um Rei para controlar uma Rainha, e não a mesma reinando sozinha. Não ia contra seus princípios, e suas ideias eram retrógradas. Conde Fitzgerald o seguia e sempre apoiava Lorde Hamilton. Eram muito amigos, possuíam negócios juntos e concordavam quase sempre em tudo, eram irredutíveis.Duque Soresen, ao contrário, sempre gentil e fiel à coroa, foi muito amigo de meu avô e de meu pai também, apoiava-me e acreditava em mim. Dizia que eu era melhor que todos eles juntos e que
Tudo parecia estar tão bem e tão perfeito que temia que algo atrapalhasse toda aquela felicidade. Nossos treinamentos continuavam. Aron me dizia que não estava mais me ensinando, e sim que apenas praticávamos para chegarmos à perfeição e estávamos bem perto, segundo ele. Meus amigos e meu afilhado moravam comigo no castelo e podia vê-los sempre que quisesse. A felicidade era tanta em tê-los por perto e poder mimá-los que em alguns instantes até me esquecia do meu amor e pensava que ele estava aos poucos se transformando em uma linda amizade. Em uma bela tarde, estávamos reunidos para nosso chá no jardim, conversava com minhas amigas Agnes e Bethany, enquanto o pequeno Serafim brincava ao nosso redor. Percebi uma movimentação estranha e logo em seguida recebi uma correspondência urgente. — Vossa Majestade, perdoe-me por lhe interromper em seu momento de descanso, mas assim que vi essa carta tive a certeza de que era importante. Há um aviso de urgência nela. — Elmos estava