Quando a viagem de núpcias acabou, voltamos ao treinamento e aos chás da tarde. Meus dias eram cheios de compromissos, não era fácil governar um reino. Tudo, absolutamente tudo, dependia de uma decisão da Rainha e deveria passar pelo meu conhecimento e consentimento. Por isso, treinar e conversar com minha amiga à tarde era o que mais me distraía e ajudava a seguir em frente.Aron me ajudava a treinar e a não esquecer tudo que me ensinou. Não era fácil estar com ele todos os dias; mesmo dizendo a mim mesma que tinha enterrado aquele amor, estar em sua presença era perturbador. Tentava não pensar demais enquanto estávamos juntos e buscava ser a amiga de sempre, mas era muito difícil.Dois meses depois, Agnes veio para o chá da tarde radiante e não se aguentava de tanta felicidade:— Tenho uma grande notícia para lhe dar, minha amiga. Tenho certeza que ficará muito feliz!— Percebo que deve ser muito importante essa notícia, você está mais feliz hoje do que qualquer outro dia. O que hou
Aqueles meses, apesar de intensos, passaram muito rápido. Entre enjoos e desejos, a barriga ficou cada vez maior, as mudanças de comportamento, o bebê se movimentando, as dores no corpo, o cansaço do final da gestação e lá estava eu, apreciando cada momento daquela preparação para a vida, como se fossem meus momentos. Acompanhava com minha amiga, ajudava-a e amava tanto aquele bebê que meu coração transbordava de alegria. Eu o amava não só pelo fato de ser um “pedacinho” de Aron, como também pela amizade que construíra com Agnes e pela maravilhosa sensação de fazer parte da vida deles, e poder estar presente naqueles momentos tão sublimes. A hora do parto estava chegando, já haviam se passado as luas necessárias para o nascimento do bebê, a melhor parteira do reino estava à disposição de Agnes a todo o momento e nosso curandeiro, Abdus, também permanecia atento, caso precisássemos de alguma intervenção. Separei um dos melhores aposentos do castelo para ela dar à luz. Ar
Quando chegamos ao quarto, tudo já estava bem limpo, Agnes não estava acordada e o bebê era enlaçado e protegido pelo seu braço. Era um menino, lindo e forte! Abdus nos informou que, após uma intervenção, ela acordou e assim conseguiram realizar o parto, porém houve muito sangramento e em muitos momentos eles pensaram que ambos não resistiriam. Naquele momento, estavam bem, o bebê já havia mamado e dormia como um anjo. Ela também parecia muito angelical, contudo sua palidez me deixou preocupada. — Abdus, quero que me conte tudo o que aconteceu e não me esconda nada! Certo? — Sim, Vossa Majestade! Tenho mesmo uma coisa muito importante para lhe contar! — Aquela afirmação me deu arrepios, sabia pelo seu tom de voz que não era uma coisa boa. Aron deitou-se na cama com os dois e beijou a testa de Agnes, que acordou sorrindo. — Olha meu amor, nosso pequeno nasceu. Ele é lindo demais! — ela falava, pausadamente, com a voz fraca e trêmula. — Sim, querid
Estava feliz por ser madrinha daquele anjo lindo. Nosso pequeno Serafim, como o chamava, cresceu rodeado de muita atenção e de muitos mimos. Após seu nascimento, convidei-os para morar no castelo que era muito grande somente para mim e, como não pretendia casar-me e ter filhos, queria meu afilhado por perto e meus amigos também. Quando ele completou dois anos, decidi que já era hora de fazer meu testamento, pois não queria, de forma alguma, que quando partisse dessa vida a herança de meus antepassados não tivesse um rumo certo, ficando à mercê do clero ou de algum parentesco distante. Devido a isso, ditei para o escrivão meu testamento, que foi escrito nos papéis oficiais do reino, com suas insígnias, para que tivesse o valor necessário. Chamei algumas testemunhas também, Elmos e Percival, que a princípio foram contra minha decisão. Sendo assim, foi necessário entrar com uma moção para que fosse possível mudar a lei que ditava o direito à herança do trono somente por h
Meu Conselho era composto por dez homens, todos eles com uma posição de destaque no reino. Alguns eram amigos de minha família há muitos anos. Elmos era um deles e, além de conselheiro, era meu secretário, foi meu tutor, amigo da família e um segundo pai para mim. Percival era Duque e possuía muitas terras na região, produtivas e que serviam ao reino. Lorde Hamilton era sempre contra todas as minhas opiniões e deixava bem claro não aprovar que uma mulher fosse líder de um reino. Enfatizava a necessidade de um Rei para controlar uma Rainha, e não a mesma reinando sozinha. Não ia contra seus princípios, e suas ideias eram retrógradas. Conde Fitzgerald o seguia e sempre apoiava Lorde Hamilton. Eram muito amigos, possuíam negócios juntos e concordavam quase sempre em tudo, eram irredutíveis.Duque Soresen, ao contrário, sempre gentil e fiel à coroa, foi muito amigo de meu avô e de meu pai também, apoiava-me e acreditava em mim. Dizia que eu era melhor que todos eles juntos e que
Tudo parecia estar tão bem e tão perfeito que temia que algo atrapalhasse toda aquela felicidade. Nossos treinamentos continuavam. Aron me dizia que não estava mais me ensinando, e sim que apenas praticávamos para chegarmos à perfeição e estávamos bem perto, segundo ele. Meus amigos e meu afilhado moravam comigo no castelo e podia vê-los sempre que quisesse. A felicidade era tanta em tê-los por perto e poder mimá-los que em alguns instantes até me esquecia do meu amor e pensava que ele estava aos poucos se transformando em uma linda amizade. Em uma bela tarde, estávamos reunidos para nosso chá no jardim, conversava com minhas amigas Agnes e Bethany, enquanto o pequeno Serafim brincava ao nosso redor. Percebi uma movimentação estranha e logo em seguida recebi uma correspondência urgente. — Vossa Majestade, perdoe-me por lhe interromper em seu momento de descanso, mas assim que vi essa carta tive a certeza de que era importante. Há um aviso de urgência nela. — Elmos estava
Lá estávamos nós, após dois dias, aguardando o Rei Estevam para o chá da tarde. Escolhi recebê-lo na sala de chás, um dos lugares mais aconchegantes do castelo. A sala estava muito bem decorada com algumas mesas pequenas e poltronas vermelhas confortáveis. Cortinas nos tons verde, marrom e tapetes por toda a sala, além da lareira que aquecia o ambiente, pois o inverno já se aproximava e estávamos em um dia um pouco frio e bem nebuloso. Esperava que, ao nos encontrarmos pessoalmente, nossa amizade de infância aflorasse e que fosse possível resolvermos tudo sem problemas. Quando ele chegou, eu já o aguardava em uma das mesas que estava posta com muitas guloseimas para nossa degustação. Vestia um traje de outono, o mais recente confeccionado por minhas costureiras, na cor amarela com detalhes em rosa. Minha ama achou encantador e me disse que conquistaria o coração de qualquer homem que quisesse vestida daquele jeito, entretanto sabia que aquilo não era possível, pois quem
— Realmente, eles eram muito amigos e talvez meu pai tenha sido muito bom em relevar tamanho erro, que não foi conveniente para meu reino. Devido a isso, tenho que lhe pedir para fazer as correções necessárias. — Você está querendo dizer que devo abrir mão dessas terras e da maior parte do maior rio que tenho em meu reino? — perguntei incrédula. — Sim, seria muito justo e estaria reparando um grande erro que não consigo entender porque aconteceu? Ficamos os três olhando para Estevam. Por alguns instantes, um silêncio perturbador tomou conta do ambiente até que Elmos se pronunciou. — Vossa Majestade, creio ser o mais correto conversarmos em uma reunião com todo o Conselho e resolvermos essa situação da melhor forma possível! — Com toda razão, tenho certeza que será o mais correto mesmo — afirmei, dirigindo meu olhar para Estevam, que se levantou pedindo licença. — Imaginei que fariam isso e que não sairia daqui hoje com uma decisão. Tenho a certeza de q