Capítulo 4

No dia do meu décimo segundo aniversário, após a festa celebrada por todos no salão principal do castelo com um belíssimo baile, meu pai me deu um presente e também queria se despedir, pois estava saindo para liderar uma batalha.

O Rei Serafim Adrian Nithercott sabia lutar como poucos reis que conhecíamos. Desde muito criança, foi treinado por Rômulo, pai de Hamom e avô de Aron, o melhor guerreiro do reino naquela época e grande amigo de meu avô, o Rei Bartolomeu Dumas Nithercott.

Meu avô acreditava que todo rei deveria ser treinado para tornar-se um guerreiro e lutar para defender seu reino, suas terras, seu povo, não apenas orientando seu exército para uma batalha, mas também estando presente e dando seu sangue e sua vida, se fosse necessário.

Quando abri meu presente, fiquei encantada: uma coroa, lindíssima, toda ornamentada com lindas e delicadas pedras preciosas. Minha primeira reação foi ficar boquiaberta.

— Meu pai, ela é linda! Obrigada, mas por que uma coroa? Já tenho várias como princesa, apesar dessa ser a mais bela e mais exuberante de todas! — Gostei muito do presente, mesmo sem entender seu significado.

— Já vou lhe explicar, minha filha. Você sabe, minha princesa, que sou um guerreiro. Aprendi a lutar ainda bem menino e desenvolvi minhas habilidades no decorrer dos anos. Sou um rei que não se conforma em apenas assistir a uma guerra, tenho de estar presente e lutar pela minha causa, pelo meu povo.

— Sei sim, meu pai. O senhor sempre me contou suas incríveis histórias de aprendizado com lutas e armas, mas o que isso tem a ver com o meu presente? — Minha mente de criança ainda não conseguia entender o verdadeiro significado daquela conversa.

— Então, minha querida, você não sabe, mas nosso país está em guerra. Não cabe a você entender os detalhes, ainda é muito criança para isso, só lhe basta saber que estamos em guerra.

— Entendo o que é uma guerra, meu pai, e sei que é horrível. Muitas pessoas morrem e são feridas até que um lado vença e nem sempre quem parece bom vence. — Minha mãe havia me contado algumas coisas a respeito.

— Verdade, você tem razão. Nem sempre o lado bom vence, infelizmente. — Ficou pensativo por alguns instantes e depois continuou. — Mas, enfim, estamos em guerra. Não me pergunte o motivo e nem contra quem, não quero que você ocupe sua mente com esses pensamentos, apenas entenda que estamos em guerra e que seu pai, o Rei, é um guerreiro e está saindo para liderar seu exército em batalha.

Meu coração quase pulou do peito ao ouvir o que meu pai me dizia. Estava começando a entender tudo.

— Devido a isso, Princesa, você entende o quanto é arriscado e o quanto eu preciso lhe fazer um grande pedido?

— Entendo, meu pai, qual é o seu pedido?

— Que você ajude sua mãe sendo uma boa princesa e aceite seus ensinamentos para ser uma excelente futura Rainha, que é o seu destino. Que você use esse presente no dia de sua coroação, essa é a coroa que foi usada pela sua avó Rainha Katherine Sophie Nithercott, está na família há muitos anos e agora é sua, cuide dela com muito carinho.

— Sim, meu pai, cuidarei sim! Fique tranquilo que serei uma boa Princesa e no futuro uma excelente Rainha. Tenho certeza que voltará logo, meu reinado irá demorar muito para acontecer, além do fato de que o senhor ainda não me ensinou muitas coisas, como, por exemplo, a lutar. Já expressei meu desejo, mesmo sendo mulher quero aprender a lutar também.

— Conversaremos sobre isso quando voltar. Você sabe o quanto fico feliz com o seu interesse em luta, mas entenda também que sua mãe nunca concordou, então, precisamos convencê-la quanto a isso. — Ele me deu uma piscadinha, mostrando seu apoio.

— Sim, precisamos mesmo! Conversaremos melhor quando o senhor voltar. O senhor irá voltar logo, não é, meu pai?

— Espero que sim, esse é o meu maior desejo. Em breve, estarei de volta! Feliz aniversário, minha bela Princesa! Eu te amo! Seja muito feliz!

Essas foram as últimas palavras de meu pai, seguida de um longo e afetuoso beijo na testa. Deixou-me com aquele lindo presente, imaginando quando eu iria usá-la. Sinceramente, não tinha pressa, pois sabia muito bem do que dependia para que isso acontecesse e não queria que esse dia chegasse tão cedo.

Queria e desejava muito que meus pais, o Rei e a Rainha, vivessem muitos anos com muita saúde e felicidade, mas nem sempre os desejos se realizam, não é mesmo? Descobri isso da pior forma possível.

Foram tortuosos os dias de espera, após sua partida com nosso exército. Ele saiu para a batalha e liderou seus soldados guerreiros ao lado de seu fiel cavalheiro Hamom. Ainda bem que Aron já estava estudando fora na época, senão teria ido junto também, pois completara quinze anos e lutava tão bem quanto o seu pai, era treinado desde muito pequeno pelo mesmo.

Nossos mensageiros informavam, diariamente, minha mãe e seus conselheiros sobre o que ocorria na guerra. Parecia que seria eterna e aquela aflição não acabaria nunca.

Minha mãe cuidava de tudo na ausência de meu pai. Eu ficava na espreita, tentando ouvir as conversas e rumores pelo castelo.

Sentia muita saudade dele, aguardava com ansiedade seu retorno para revê-lo e para conversarmos sobre meu treinamento, queria muito começar logo, sabia que estava na hora exata de iniciar, só precisava convencer a rainha de que eu era capaz e desejava muito ser guerreira.

Após semanas que pareciam intermináveis, a guerra havia acabado e recebemos a notícia da vitória. Infelizmente, a notícia não foi motivo para alegrias e comemorações, pois meu pai havia morrido em combate.

Ficamos inconformadas, não sabíamos o que fazer sem ele. Ele era muito mais que um rei para nós: era marido, pai, amigo e nosso porto seguro.

Apesar de saber o quanto ele desejava um filho homem, nunca foi um pai ausente, pelo contrário, sempre foi ótimo. Sabia que me amava muito, afinal como ele mesmo dizia: “era a princesinha do papai, a mais adorada de todos os reinos juntos”. Isso para mim era tudo, significava o mundo.

Os dias seguintes foram muito tristes, um luto eterno, um sofrimento inabalável. Os soldados trouxeram seu corpo para ser velado e sepultado.

Fizemos duas cerimônias, uma dentro do castelo para família e amigos, outra nas dependências do reino, todo o seu povo queria homenageá-lo e rezar por ele. Foram lindas as cerimônias, tristes e emocionantes. No dia seguinte, houve o sepultamento, o pior dia da minha vida até então.

Hamom, que voltou da guerra com os soldados sobreviventes, lamentava muito não ter conseguido salvar meu pai durante o combate. Após o enterro, ele disse à minha mãe:

— Peço perdão, Vossa Alteza, pela minha falha em não conseguir trazer nosso Rei com vida. Infelizmente, não estava tão perto dele quando tudo aconteceu e quando me aproximei já era tarde demais. No entanto, posso garantir que o malfeitor teve o que merecia e foi feita a justiça pela Vossa morte, meu grande amigo não morreu em vão e foi vingado no mesmo momento.

— Tenho certeza que sim, Hamom, sei que deu o seu melhor. O melhor que foi capaz de fazer. Agradeço toda a sua devoção, todos os anos de trabalho e dedicação com nossa família e espero poder continuar contando com seus trabalhos, principalmente nesses tempos difíceis que virão. Sem nosso Rei, precisarei muito de seu apoio — respondeu minha mãe, e pude ver as lágrimas escorrerem de seus olhos.

— Com certeza, minha Rainha, será uma honra continuar servindo à vossa família.

Eu estava perto quando eles conversaram, sem que percebessem minha presença. Saí de lá e corri para meus aposentos dentro dos quais passei dias, chorando e sentindo aquela ausência insuportável.

Minha mãe foi obrigada a assumir todas as responsabilidades do reino, pois, apesar de eu ser a única herdeira na sucessão ao trono, ainda era muito jovem para ser coroada e assumir tantas responsabilidades.  

Ela seria minha tutora até que eu completasse dezoito anos. Por sorte, meu pai dividia muita coisa com ela e deixava que participasse de algumas decisões importantes, mesmo sem o Conselho saber. Devido a isso, ela entendia na teoria como governar o reino e agora teria de colocar tudo em prática. Ela obteve muito sucesso em sua jornada. Foi uma Rainha justa, coerente, conseguiu manter-se longe de confusões com outros países e com outros reinos. Era muito respeitada por todos e o reino de Minsk a amava. Foi a nossa saudosa e querida Rainha Stella.

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