No dia do meu décimo segundo aniversário, após a festa celebrada por todos no salão principal do castelo com um belíssimo baile, meu pai me deu um presente e também queria se despedir, pois estava saindo para liderar uma batalha.
O Rei Serafim Adrian Nithercott sabia lutar como poucos reis que conhecíamos. Desde muito criança, foi treinado por Rômulo, pai de Hamom e avô de Aron, o melhor guerreiro do reino naquela época e grande amigo de meu avô, o Rei Bartolomeu Dumas Nithercott.
Meu avô acreditava que todo rei deveria ser treinado para tornar-se um guerreiro e lutar para defender seu reino, suas terras, seu povo, não apenas orientando seu exército para uma batalha, mas também estando presente e dando seu sangue e sua vida, se fosse necessário.
Quando abri meu presente, fiquei encantada: uma coroa, lindíssima, toda ornamentada com lindas e delicadas pedras preciosas. Minha primeira reação foi ficar boquiaberta.
— Meu pai, ela é linda! Obrigada, mas por que uma coroa? Já tenho várias como princesa, apesar dessa ser a mais bela e mais exuberante de todas! — Gostei muito do presente, mesmo sem entender seu significado.
— Já vou lhe explicar, minha filha. Você sabe, minha princesa, que sou um guerreiro. Aprendi a lutar ainda bem menino e desenvolvi minhas habilidades no decorrer dos anos. Sou um rei que não se conforma em apenas assistir a uma guerra, tenho de estar presente e lutar pela minha causa, pelo meu povo.
— Sei sim, meu pai. O senhor sempre me contou suas incríveis histórias de aprendizado com lutas e armas, mas o que isso tem a ver com o meu presente? — Minha mente de criança ainda não conseguia entender o verdadeiro significado daquela conversa.
— Então, minha querida, você não sabe, mas nosso país está em guerra. Não cabe a você entender os detalhes, ainda é muito criança para isso, só lhe basta saber que estamos em guerra.
— Entendo o que é uma guerra, meu pai, e sei que é horrível. Muitas pessoas morrem e são feridas até que um lado vença e nem sempre quem parece bom vence. — Minha mãe havia me contado algumas coisas a respeito.
— Verdade, você tem razão. Nem sempre o lado bom vence, infelizmente. — Ficou pensativo por alguns instantes e depois continuou. — Mas, enfim, estamos em guerra. Não me pergunte o motivo e nem contra quem, não quero que você ocupe sua mente com esses pensamentos, apenas entenda que estamos em guerra e que seu pai, o Rei, é um guerreiro e está saindo para liderar seu exército em batalha.
Meu coração quase pulou do peito ao ouvir o que meu pai me dizia. Estava começando a entender tudo.
— Devido a isso, Princesa, você entende o quanto é arriscado e o quanto eu preciso lhe fazer um grande pedido?
— Entendo, meu pai, qual é o seu pedido?
— Que você ajude sua mãe sendo uma boa princesa e aceite seus ensinamentos para ser uma excelente futura Rainha, que é o seu destino. Que você use esse presente no dia de sua coroação, essa é a coroa que foi usada pela sua avó Rainha Katherine Sophie Nithercott, está na família há muitos anos e agora é sua, cuide dela com muito carinho.
— Sim, meu pai, cuidarei sim! Fique tranquilo que serei uma boa Princesa e no futuro uma excelente Rainha. Tenho certeza que voltará logo, meu reinado irá demorar muito para acontecer, além do fato de que o senhor ainda não me ensinou muitas coisas, como, por exemplo, a lutar. Já expressei meu desejo, mesmo sendo mulher quero aprender a lutar também.
— Conversaremos sobre isso quando voltar. Você sabe o quanto fico feliz com o seu interesse em luta, mas entenda também que sua mãe nunca concordou, então, precisamos convencê-la quanto a isso. — Ele me deu uma piscadinha, mostrando seu apoio.
— Sim, precisamos mesmo! Conversaremos melhor quando o senhor voltar. O senhor irá voltar logo, não é, meu pai?
— Espero que sim, esse é o meu maior desejo. Em breve, estarei de volta! Feliz aniversário, minha bela Princesa! Eu te amo! Seja muito feliz!
Essas foram as últimas palavras de meu pai, seguida de um longo e afetuoso beijo na testa. Deixou-me com aquele lindo presente, imaginando quando eu iria usá-la. Sinceramente, não tinha pressa, pois sabia muito bem do que dependia para que isso acontecesse e não queria que esse dia chegasse tão cedo.
Queria e desejava muito que meus pais, o Rei e a Rainha, vivessem muitos anos com muita saúde e felicidade, mas nem sempre os desejos se realizam, não é mesmo? Descobri isso da pior forma possível.
Foram tortuosos os dias de espera, após sua partida com nosso exército. Ele saiu para a batalha e liderou seus soldados guerreiros ao lado de seu fiel cavalheiro Hamom. Ainda bem que Aron já estava estudando fora na época, senão teria ido junto também, pois completara quinze anos e lutava tão bem quanto o seu pai, era treinado desde muito pequeno pelo mesmo.
Nossos mensageiros informavam, diariamente, minha mãe e seus conselheiros sobre o que ocorria na guerra. Parecia que seria eterna e aquela aflição não acabaria nunca.
Minha mãe cuidava de tudo na ausência de meu pai. Eu ficava na espreita, tentando ouvir as conversas e rumores pelo castelo.
Sentia muita saudade dele, aguardava com ansiedade seu retorno para revê-lo e para conversarmos sobre meu treinamento, queria muito começar logo, sabia que estava na hora exata de iniciar, só precisava convencer a rainha de que eu era capaz e desejava muito ser guerreira.
Após semanas que pareciam intermináveis, a guerra havia acabado e recebemos a notícia da vitória. Infelizmente, a notícia não foi motivo para alegrias e comemorações, pois meu pai havia morrido em combate.
Ficamos inconformadas, não sabíamos o que fazer sem ele. Ele era muito mais que um rei para nós: era marido, pai, amigo e nosso porto seguro.
Apesar de saber o quanto ele desejava um filho homem, nunca foi um pai ausente, pelo contrário, sempre foi ótimo. Sabia que me amava muito, afinal como ele mesmo dizia: “era a princesinha do papai, a mais adorada de todos os reinos juntos”. Isso para mim era tudo, significava o mundo.
Os dias seguintes foram muito tristes, um luto eterno, um sofrimento inabalável. Os soldados trouxeram seu corpo para ser velado e sepultado.
Fizemos duas cerimônias, uma dentro do castelo para família e amigos, outra nas dependências do reino, todo o seu povo queria homenageá-lo e rezar por ele. Foram lindas as cerimônias, tristes e emocionantes. No dia seguinte, houve o sepultamento, o pior dia da minha vida até então.
Hamom, que voltou da guerra com os soldados sobreviventes, lamentava muito não ter conseguido salvar meu pai durante o combate. Após o enterro, ele disse à minha mãe:
— Peço perdão, Vossa Alteza, pela minha falha em não conseguir trazer nosso Rei com vida. Infelizmente, não estava tão perto dele quando tudo aconteceu e quando me aproximei já era tarde demais. No entanto, posso garantir que o malfeitor teve o que merecia e foi feita a justiça pela Vossa morte, meu grande amigo não morreu em vão e foi vingado no mesmo momento.
— Tenho certeza que sim, Hamom, sei que deu o seu melhor. O melhor que foi capaz de fazer. Agradeço toda a sua devoção, todos os anos de trabalho e dedicação com nossa família e espero poder continuar contando com seus trabalhos, principalmente nesses tempos difíceis que virão. Sem nosso Rei, precisarei muito de seu apoio — respondeu minha mãe, e pude ver as lágrimas escorrerem de seus olhos.
— Com certeza, minha Rainha, será uma honra continuar servindo à vossa família.
Eu estava perto quando eles conversaram, sem que percebessem minha presença. Saí de lá e corri para meus aposentos dentro dos quais passei dias, chorando e sentindo aquela ausência insuportável.
Minha mãe foi obrigada a assumir todas as responsabilidades do reino, pois, apesar de eu ser a única herdeira na sucessão ao trono, ainda era muito jovem para ser coroada e assumir tantas responsabilidades.
Ela seria minha tutora até que eu completasse dezoito anos. Por sorte, meu pai dividia muita coisa com ela e deixava que participasse de algumas decisões importantes, mesmo sem o Conselho saber. Devido a isso, ela entendia na teoria como governar o reino e agora teria de colocar tudo em prática. Ela obteve muito sucesso em sua jornada. Foi uma Rainha justa, coerente, conseguiu manter-se longe de confusões com outros países e com outros reinos. Era muito respeitada por todos e o reino de Minsk a amava. Foi a nossa saudosa e querida Rainha Stella.
Minha mãe, a Rainha Stella Marie Baldrick, era considerada uma das mulheres mais belas de todo o reino de Minsk. Foi escolhida pelo meu avô para se casar com meu pai. Sua família era de origem nobre e uma das mais ricas de toda a região. Sua beleza era encantadora. Seus cabelos dourados e ondulados, assim como os meus; amava essa semelhança entre nós. Seus olhos azuis tinham um tom que fascinava, intrigava e, ao mesmo tempo, transmitia toda a sua doçura. Seu rosto perfeito e harmonioso combinava com sua pele clara como a luz do sol. Mesmo com toda sua doçura, era uma mulher muito forte e decidida. Desde que se casou com meu pai, assumiu uma postura impecável e todos a admiravam e a respeitavam por isso. Apesar do casamento deles ter sido arranjado pelas duas famílias, ambos se apaixonaram à primeira vista, como diziam. Era um amor tão bonito de se ver, com muito carinho, cumplicidade e respeito. Minhas lembranças com ela eram doces e ternas. Nem sempre foi uma mãe p
Passei os dois anos seguintes aos cuidados do meu tutor e amigo da família, Elmos. Um conselheiro do reino que serviu muito bem ao meu pai e à minha mãe, um grande amigo deles que se tornou um grande amigo meu também. Quando completei dezoito anos e enfim chegou o dia da minha coroação, ele me procurou antes da cerimônia e me disse: — Minha querida Princesa e minha futura Rainha, a partir de amanhã passarei a você seu tão merecido posto, seu trono, seu reino. Tenho certeza de sua capacidade devido ao seu aprendizado nesses anos e sei que será uma excelente governante e seu reinado entrará para a história de Minsk. — Obrigada, querido Elmos. Tudo isso graças ao senhor e seus ensinamentos. Acredito que serei uma boa rainha e sei que com sua ajuda venceremos qualquer problema que possa surgir. O senhor continuará ao meu lado, não é mesmo? — perguntei ciente da resposta. Sabia que ele jamais me abandonaria. — Claro que sim, Vossa Majestade! Enquanto quiser e o quanto precis
Só conseguimos começar o treinamento uma semana após nossa conversa. Meus compromissos como Rainha eram muitos: reuniões, festas e até mesmo passeios e viagens. Quem cuidava de tudo para mim era meu secretário Elmos, que tinha auxiliado muitas vezes minha mãe com a organização de seus afazeres também, para não faltar e nem se esquecer de nada. Era um excelente profissional e amigo para todas as horas.No dia marcado, acordei muito ansiosa, e apesar das recomendações de Aron quanto a minha alimentação, não consegui comer quase nada, somente água e algumas frutas. Finalmente chegara o dia em que iria iniciar meu treinamento para ser uma líder em lutas e batalhas, esse era o meu desejo e ele estava prestes a começar.Não seria apenas uma Rainha, mas sim uma guerreira pronta para enfrentar qualquer problema. Tive muita rejeição e alerta de meus conselheiros para não seguir adiante e mudar de ideia. Muitos deles me disseram que não era atividade para uma mulher e muito menos para uma jovem
Poderia até parecer bobagem para algumas pessoas, mas, para mim, ter essa oportunidade todos os dias era uma grande realização. Estava verdadeiramente encantada com minha nova vida e rotina.Apesar de toda a dor que ainda sentia pela ausência de meus pais, descobrir que era capaz de seguir em frente, governar um reino e realizar meus sonhos, mesmo com muitas opiniões contrárias ao que eu estava fazendo, era compensador.Além de tudo isso, estava redescobrindo a amizade com uma das pessoas mais importantes da minha vida, da minha infância. Estava também descobrindo um grande amor e mesmo sem saber se ele também me amava, estar com Aron todos os dias era um bálsamo, a melhor hora do dia. Sentia-me encantada por sua força, sua garra, seus ensinamentos, suas histórias, tudo nele me fascinava.Acordava feliz por saber que seria ele uma das primeiras pessoas que eu veria no meu dia.Alegrava-me ouvir sua voz, ver seu sorriso, sua alegria de viver e de me ensinar tudo que sabia.Ele parecia
Conversando com o senhor Robert em nossa reunião, pude perceber o quanto ele era interessado em nossas terras e que tinha ideias maravilhosas e novas técnicas de plantio que já eram usadas em suas terras e, segundo ele, tinha lhes dado muito lucro nos últimos anos.Não entendia muito do assunto, mas Frederico, meu conselheiro que cuidava - e muito bem - dessa parte, estava comigo na reunião e ajudou-me a entender melhor.— Rainha Malena, Vossa Majestade nem pode imaginar o quanto ficaria feliz em ter a permissão para lhe ajudar com minhas novas ideias. Se lhes forem úteis, estou à inteira disposição para lhe oferecer ajuda e juntos prosperarmos ainda mais.— Nossas plantações já são muito produtivas, Senhor Robert, mas melhorar é sempre bom. Estou aberta a ouvir suas ideias e se forem coerentes podemos, sim, trabalhar juntos. O que acha dos projetos apresentados, Senhor Frederico? — Ele estudava atentamente os papéis que havia lhe entregado.— Excelentes, Vossa Majestade! Tão bons e t
No dia do convescote, quando cheguei ao jardim, elas já me esperavam. A felicidade estava estampada em seus sorrisos. Gostei muito delas pela simplicidade e simpatia. Estavam muito bonitas e bem vestidas. Agnes, com um vestido florido em tons de verde, e Bethany, com um lindo vestido lilás. O meu vestido era azul, escolhido por minhas amas, gostava dele e combinava muito bem com a ocasião. Minhas amas eram incríveis!Ao me verem, fizeram reverências e as cumprimentei:— Boa tarde, Agnes, Bethany. Como estão passando nesse lindo dia?— Estamos bem, Vossa Majestade, e felizes pelo seu convite! — respondeu Bethany, encantada.— Felizes em lhe fazer companhia nesse convescote. Vossa Majestade, como tem passado? — completou Agnes.— Muito bem também! Obrigada!Senti que elas gostavam de mim, assim como eu delas. Conversamos bastante durante nosso lanche e compartilhamos algumas experiências. Elas me contaram sobre como viviam em Tamina, a infância das duas e algumas aventuras de crianças e
Com certeza, eu o conhecia muito bem e não podia entender o que estava acontecendo. Como ele poderia aceitar que sua família escolhesse uma noiva para se casar? Não entendia, porque aquilo não combinava com Aron, e não conseguia respostas para aquelas perguntas. Assim, continuava sem entender e sem acreditar que aquilo era possível.Após aquela revelação, fiquei aturdida e não consegui me concentrar em mais nenhuma conversa. Usei a desculpa de que precisava voltar ao castelo para um compromisso e fui embora. Minha cabeça girava, meus sentidos estavam bagunçados e uma dor muito forte apertava meu coração.No dia seguinte, em nosso treinamento, encontrei com Aron no lugar de sempre e mal consegui lhe dar bom dia. Minhas primeiras palavras a ele foram:— Conheci sua futura noiva, tomamos um chá ontem à tarde — falei, olhando bem em seus olhos para ter certeza de qual seria sua reação.— Já fiquei sabendo, ela me disse que havia conhecido a rainha e se tornado amiga dela em pouco tempo. C
Após exatos três meses, chegou o dia em que perderia Aron para sempre, o dia de seu casamento com Agnes. É claro que participei de todos os preparativos com a noiva. Ele quase não falava no assunto e, apesar de nos vermos todos os dias, não conversávamos sobre isso.Recebi o convite de Agnes para abençoar o casamento e não pude recusar. Após a cerimônia com o Bispo, ela desejava que sua união fosse abençoada pela rainha, como era de costume nos casamentos da realeza.Se meu pai fosse vivo e eu me casasse, ele, como Rei, deveria dar as bênçãos ao meu casamento. Dizia a lenda que, se isso não acontecesse, a união seria amaldiçoada. Agnes não queria correr esse risco e dizia:— Além de toda essa tradição, sou amiga da rainha, o que vale a benção duplamente, não é mesmo? Triplamente, melhor dizendo, já que meu noivo também é vosso amigo.— Sim, com certeza! Farei as honras da benção com todo prazer, minha amiga — disse com sinceridade, apesar de todo sofrimento preso em minha alma e em me