Capítulo 5

 Minha mãe, a Rainha Stella Marie Baldrick, era considerada uma das mulheres mais belas de todo o reino de Minsk. Foi escolhida pelo meu avô para se casar com meu pai. Sua família era de origem nobre e uma das mais ricas de toda a região.

     Sua beleza era encantadora. Seus cabelos dourados e ondulados, assim como os meus; amava essa semelhança entre nós. Seus olhos azuis tinham um tom que fascinava, intrigava e, ao mesmo tempo, transmitia toda a sua doçura. Seu rosto perfeito e harmonioso combinava com sua pele clara como a luz do sol.

     Mesmo com toda sua doçura, era uma mulher muito forte e decidida. Desde que se casou com meu pai, assumiu uma postura impecável e todos a admiravam e a respeitavam por isso.

   Apesar do casamento deles ter sido arranjado pelas duas famílias, ambos se apaixonaram à primeira vista, como diziam. Era um amor tão bonito de se ver, com muito carinho, cumplicidade e respeito.

     Minhas lembranças com ela eram doces e ternas. Nem sempre foi uma mãe presente, devido a seus compromissos seguindo meu pai como rei, mas o tempo que tínhamos juntas era muito bem aproveitado. Tínhamos uma sintonia muito boa, e ela sempre vinha com uma palavra de incentivo, amor e carinho para mim. Aprendi muitas coisas com ela e fico muito feliz pelo privilégio de conviver com ambos, de nascer nessa família e de ter pais tão importantes e maravilhosos.

     Minha mãe permaneceu no trono, como minha tutora, durante quatro anos e foi muito competente. Fez tudo de acordo com os pensamentos de meu pai e sempre se perguntava:

     — O que meu amado marido faria nesse momento? — Às vezes, ela até fazia essa pergunta perto de mim e me olhava como se eu tivesse a resposta.

     Em algumas ocasiões, eu colocava minhas ideias e, lembrando agora, penso que ela estava, mesmo sem que eu percebesse, me preparando para reinar.

      Lembro-me de uma conversa que tivemos sobre amor e casamento. Ela me deu alguns conselhos importantes.

     — Minha querida filha, nunca aceite um marido que você não ame! Mesmo que escolham por você, como aconteceu comigo, só se case se você se apaixonar por ele. Meu casamento com seu pai foi arranjado pelos seus avôs, mas eu o amei desde o primeiro instante em que o vi e quando o conheci melhor tive a certeza de que queria ele como meu marido para toda a vida. — Eu aceitava seu conselho, é claro, e sonhava com o dia em que isso aconteceria

     Queria muito me casar, mas somente do jeito exato que se deu com meus pais, com amor, paixão, carinho e respeito. A harmonia que existia entre os dois era admirável, e sempre que via os dois juntos sentia muito orgulho por tê-los como meus pais e desejava um amor igual.

     Minha mãe era tudo que eu tinha de mais belo na minha vida. Após a morte de meu pai, ficamos muito fortes juntas e vencemos esses quatro anos iniciais.

     Infelizmente, no quinto ano surgiu uma peste, uma doença terrível que assolava as regiões próximas e chegou ao vilarejo do reino. Mesmo com tantos recursos para tentar mantê-la do lado de fora, ela conseguiu entrar.

     Alguns empregados começaram a adoecer, uns conseguiram se curar e outros não tiveram a mesma sorte. Acometeu também alguns conselheiros, e mesmo isolando os doentes, minha mãe começou a ter alguns sintomas dessa triste doença.

     Após alguns dias, também isolada e aos cuidados de Abdus, o curandeiro do castelo, ao invés de melhorar, apresentava sinais de piora e queria me ver. Contudo sabia do perigo em me transmitir a doença, por isso pedia para não deixar que eu fosse até ela, conforme me contou Abdus.

     — O perigo de contágio é muito grande. Ela quer muito vê-la, mas a Princesa tem que entender o risco que corre se quiser vê-la mesmo assim. Infelizmente, as notícias não são boas, temo que ela não passe dessa noite. — Aquela afirmação dele quebrou meu coração em pedaços e a vontade de ver minha mãe foi maior que o medo que sentia da doença.

     — Preciso entrar lá, Abdus, você tem que me ajudar. Não posso deixar de me despedir de minha mãe. Por favor, me ajude! — implorava para que ele burlasse as normas e me ajudasse, e foi o que ele fez.

     Naquela noite, Abdus conseguiu distrair os guardas e me fez entrar no quarto de minha mãe. Fiquei surpresa em como a encontrei. Havia apenas alguns traços de sua beleza, estava muito pálida e com muitas manchas no rosto. Até mesmo seus belos cabelos dourados estavam opacos e sem vida.

     Aproximei-me de sua cama e segurei sua mão. Ela, que parecia estar em um sono profundo, sentindo minha presença, virou sua face para mim e abriu os olhos. Sorriu ao me ver e disse:

     — Eu sabia que você viria, minha querida filha. Mesmo sem poder vir, eu sabia que não conseguiria ficar longe, mas temo pela sua saúde. — disse com a voz baixa e trêmula.

     — Claro que viria, minha mãe, como poderia não vir? Não me importo se ficar doente também, precisava vê-la e estar ao seu lado. — Tentei segurar as lágrimas que teimavam em transbordar.

     — Sei disso, meu amor, também desejava vê-la. Preciso lhe falar uma coisa muito importante. Se algo acontecer e eu não conseguir me curar, preciso que você seja forte e saiba o quanto seu pai e eu sempre a amamos com a nossa vida. Você será em breve coroada Rainha, talvez eu não esteja mais com você nessa vida, mas estarei sempre aí dentro, em seu coração. — Ergueu com dificuldade sua mão direita e a pousou em meu peito, começou a chorar, e eu também não consegui mais me conter.

     — Não fale assim, minha mãe, a senhora há de ficar boa, de melhorar e voltar ao reinado até que eu possa ser coroada, irá me ajudar a governar o nosso reino. — Tentava ser forte e dar forças a ela também, porém era muito difícil.

     — Pode ser, minha querida, mas, caso isso não aconteça, saiba que deixei alguém em quem confio muito para ser seu tutor nesses próximos dois anos que faltam para que você seja, enfim, coroada. Elmos será essa pessoa, ele é o nosso melhor conselheiro e pode confiar nele assim como seu pai e nós sempre confiamos. — Terminou minha mãe, pois não teve mais forças para continuar.

     — Repouse, minha mãe, fique tranquila para melhorar. Ficarei bem por todos os que precisam de mim e da minha liderança. Serei forte pela senhora, em memória de meu pai e de nossa família. Descanse e fique em paz. — Não sei nem explicar o que sentia por dentro, foi muito difícil ser forte naquele momento e não desabar em seu leito. Mesmo com o coração em pedaços, eu consegui. Terminamos nossa despedida com um longo abraço e ela me deu um beijo acompanhado de um sorriso que jamais esquecerei. Aquele sorriso que amava tanto e que, mesmo em sua face debilitada, brilhava como uma estrela.

Abdus precisava me tirar dali, pois já tinha corrido um risco enorme de contrair a doença também. Fui levada por ele para fora do quarto, chorando e rezando para que minha mãe melhorasse, o que infelizmente não aconteceu. Ela deu seu último suspiro algumas horas após nossa despedida.

     Nem preciso dizer o quanto foi difícil para mim sepultar minha mãe apenas quatro anos após o falecimento de meu pai. Foi uma dor que não é possível descrever o tamanho, uma ferida que nunca cicatrizou. Um buraco que ficou aberto em meu coração e em minha vida, mais um dos piores dias que vivi.

     Minha mãe, Rainha Stella, foi sepultada ao lado de meu pai, Rei Serafim, e antes disso houve a missa de despedida igualmente bonita, como foi a dele. Faltavam algumas pessoas que ainda convalesciam devido à doença ou que não conseguiram sobreviver.

     Mais um momento muito triste em que perdia o chão, perdia mais um porto seguro e me sentia à deriva, sem saber o que fazer e para onde ir.

     Alguns meses depois, a doença estava controlada. Já fazia algum tempo que ninguém mais ficava doente e eu, apesar do contato com minha mãe, não tive nenhum sinal de contágio. A peste passou, mas deixou suas marcas para sempre. Todo o reino sofreu e estava tentando se recuperar. Não seria nada fácil, no entanto, a esperança de novos tempos reinava em meu coração, apesar de todas as dores. Estava de pé e tinha que permanecer firme para seguir em frente.

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