Minha mãe, a Rainha Stella Marie Baldrick, era considerada uma das mulheres mais belas de todo o reino de Minsk. Foi escolhida pelo meu avô para se casar com meu pai. Sua família era de origem nobre e uma das mais ricas de toda a região.
Sua beleza era encantadora. Seus cabelos dourados e ondulados, assim como os meus; amava essa semelhança entre nós. Seus olhos azuis tinham um tom que fascinava, intrigava e, ao mesmo tempo, transmitia toda a sua doçura. Seu rosto perfeito e harmonioso combinava com sua pele clara como a luz do sol.
Mesmo com toda sua doçura, era uma mulher muito forte e decidida. Desde que se casou com meu pai, assumiu uma postura impecável e todos a admiravam e a respeitavam por isso.
Apesar do casamento deles ter sido arranjado pelas duas famílias, ambos se apaixonaram à primeira vista, como diziam. Era um amor tão bonito de se ver, com muito carinho, cumplicidade e respeito.
Minhas lembranças com ela eram doces e ternas. Nem sempre foi uma mãe presente, devido a seus compromissos seguindo meu pai como rei, mas o tempo que tínhamos juntas era muito bem aproveitado. Tínhamos uma sintonia muito boa, e ela sempre vinha com uma palavra de incentivo, amor e carinho para mim. Aprendi muitas coisas com ela e fico muito feliz pelo privilégio de conviver com ambos, de nascer nessa família e de ter pais tão importantes e maravilhosos.
Minha mãe permaneceu no trono, como minha tutora, durante quatro anos e foi muito competente. Fez tudo de acordo com os pensamentos de meu pai e sempre se perguntava:
— O que meu amado marido faria nesse momento? — Às vezes, ela até fazia essa pergunta perto de mim e me olhava como se eu tivesse a resposta.
Em algumas ocasiões, eu colocava minhas ideias e, lembrando agora, penso que ela estava, mesmo sem que eu percebesse, me preparando para reinar.
Lembro-me de uma conversa que tivemos sobre amor e casamento. Ela me deu alguns conselhos importantes.
— Minha querida filha, nunca aceite um marido que você não ame! Mesmo que escolham por você, como aconteceu comigo, só se case se você se apaixonar por ele. Meu casamento com seu pai foi arranjado pelos seus avôs, mas eu o amei desde o primeiro instante em que o vi e quando o conheci melhor tive a certeza de que queria ele como meu marido para toda a vida. — Eu aceitava seu conselho, é claro, e sonhava com o dia em que isso aconteceria
Queria muito me casar, mas somente do jeito exato que se deu com meus pais, com amor, paixão, carinho e respeito. A harmonia que existia entre os dois era admirável, e sempre que via os dois juntos sentia muito orgulho por tê-los como meus pais e desejava um amor igual.
Minha mãe era tudo que eu tinha de mais belo na minha vida. Após a morte de meu pai, ficamos muito fortes juntas e vencemos esses quatro anos iniciais.
Infelizmente, no quinto ano surgiu uma peste, uma doença terrível que assolava as regiões próximas e chegou ao vilarejo do reino. Mesmo com tantos recursos para tentar mantê-la do lado de fora, ela conseguiu entrar.
Alguns empregados começaram a adoecer, uns conseguiram se curar e outros não tiveram a mesma sorte. Acometeu também alguns conselheiros, e mesmo isolando os doentes, minha mãe começou a ter alguns sintomas dessa triste doença.
Após alguns dias, também isolada e aos cuidados de Abdus, o curandeiro do castelo, ao invés de melhorar, apresentava sinais de piora e queria me ver. Contudo sabia do perigo em me transmitir a doença, por isso pedia para não deixar que eu fosse até ela, conforme me contou Abdus.
— O perigo de contágio é muito grande. Ela quer muito vê-la, mas a Princesa tem que entender o risco que corre se quiser vê-la mesmo assim. Infelizmente, as notícias não são boas, temo que ela não passe dessa noite. — Aquela afirmação dele quebrou meu coração em pedaços e a vontade de ver minha mãe foi maior que o medo que sentia da doença.
— Preciso entrar lá, Abdus, você tem que me ajudar. Não posso deixar de me despedir de minha mãe. Por favor, me ajude! — implorava para que ele burlasse as normas e me ajudasse, e foi o que ele fez.
Naquela noite, Abdus conseguiu distrair os guardas e me fez entrar no quarto de minha mãe. Fiquei surpresa em como a encontrei. Havia apenas alguns traços de sua beleza, estava muito pálida e com muitas manchas no rosto. Até mesmo seus belos cabelos dourados estavam opacos e sem vida.
Aproximei-me de sua cama e segurei sua mão. Ela, que parecia estar em um sono profundo, sentindo minha presença, virou sua face para mim e abriu os olhos. Sorriu ao me ver e disse:
— Eu sabia que você viria, minha querida filha. Mesmo sem poder vir, eu sabia que não conseguiria ficar longe, mas temo pela sua saúde. — disse com a voz baixa e trêmula.
— Claro que viria, minha mãe, como poderia não vir? Não me importo se ficar doente também, precisava vê-la e estar ao seu lado. — Tentei segurar as lágrimas que teimavam em transbordar.
— Sei disso, meu amor, também desejava vê-la. Preciso lhe falar uma coisa muito importante. Se algo acontecer e eu não conseguir me curar, preciso que você seja forte e saiba o quanto seu pai e eu sempre a amamos com a nossa vida. Você será em breve coroada Rainha, talvez eu não esteja mais com você nessa vida, mas estarei sempre aí dentro, em seu coração. — Ergueu com dificuldade sua mão direita e a pousou em meu peito, começou a chorar, e eu também não consegui mais me conter.
— Não fale assim, minha mãe, a senhora há de ficar boa, de melhorar e voltar ao reinado até que eu possa ser coroada, irá me ajudar a governar o nosso reino. — Tentava ser forte e dar forças a ela também, porém era muito difícil.
— Pode ser, minha querida, mas, caso isso não aconteça, saiba que deixei alguém em quem confio muito para ser seu tutor nesses próximos dois anos que faltam para que você seja, enfim, coroada. Elmos será essa pessoa, ele é o nosso melhor conselheiro e pode confiar nele assim como seu pai e nós sempre confiamos. — Terminou minha mãe, pois não teve mais forças para continuar.
— Repouse, minha mãe, fique tranquila para melhorar. Ficarei bem por todos os que precisam de mim e da minha liderança. Serei forte pela senhora, em memória de meu pai e de nossa família. Descanse e fique em paz. — Não sei nem explicar o que sentia por dentro, foi muito difícil ser forte naquele momento e não desabar em seu leito. Mesmo com o coração em pedaços, eu consegui. Terminamos nossa despedida com um longo abraço e ela me deu um beijo acompanhado de um sorriso que jamais esquecerei. Aquele sorriso que amava tanto e que, mesmo em sua face debilitada, brilhava como uma estrela.
Abdus precisava me tirar dali, pois já tinha corrido um risco enorme de contrair a doença também. Fui levada por ele para fora do quarto, chorando e rezando para que minha mãe melhorasse, o que infelizmente não aconteceu. Ela deu seu último suspiro algumas horas após nossa despedida.
Nem preciso dizer o quanto foi difícil para mim sepultar minha mãe apenas quatro anos após o falecimento de meu pai. Foi uma dor que não é possível descrever o tamanho, uma ferida que nunca cicatrizou. Um buraco que ficou aberto em meu coração e em minha vida, mais um dos piores dias que vivi.
Minha mãe, Rainha Stella, foi sepultada ao lado de meu pai, Rei Serafim, e antes disso houve a missa de despedida igualmente bonita, como foi a dele. Faltavam algumas pessoas que ainda convalesciam devido à doença ou que não conseguiram sobreviver.
Mais um momento muito triste em que perdia o chão, perdia mais um porto seguro e me sentia à deriva, sem saber o que fazer e para onde ir.
Alguns meses depois, a doença estava controlada. Já fazia algum tempo que ninguém mais ficava doente e eu, apesar do contato com minha mãe, não tive nenhum sinal de contágio. A peste passou, mas deixou suas marcas para sempre. Todo o reino sofreu e estava tentando se recuperar. Não seria nada fácil, no entanto, a esperança de novos tempos reinava em meu coração, apesar de todas as dores. Estava de pé e tinha que permanecer firme para seguir em frente.
Passei os dois anos seguintes aos cuidados do meu tutor e amigo da família, Elmos. Um conselheiro do reino que serviu muito bem ao meu pai e à minha mãe, um grande amigo deles que se tornou um grande amigo meu também. Quando completei dezoito anos e enfim chegou o dia da minha coroação, ele me procurou antes da cerimônia e me disse: — Minha querida Princesa e minha futura Rainha, a partir de amanhã passarei a você seu tão merecido posto, seu trono, seu reino. Tenho certeza de sua capacidade devido ao seu aprendizado nesses anos e sei que será uma excelente governante e seu reinado entrará para a história de Minsk. — Obrigada, querido Elmos. Tudo isso graças ao senhor e seus ensinamentos. Acredito que serei uma boa rainha e sei que com sua ajuda venceremos qualquer problema que possa surgir. O senhor continuará ao meu lado, não é mesmo? — perguntei ciente da resposta. Sabia que ele jamais me abandonaria. — Claro que sim, Vossa Majestade! Enquanto quiser e o quanto precis
Só conseguimos começar o treinamento uma semana após nossa conversa. Meus compromissos como Rainha eram muitos: reuniões, festas e até mesmo passeios e viagens. Quem cuidava de tudo para mim era meu secretário Elmos, que tinha auxiliado muitas vezes minha mãe com a organização de seus afazeres também, para não faltar e nem se esquecer de nada. Era um excelente profissional e amigo para todas as horas.No dia marcado, acordei muito ansiosa, e apesar das recomendações de Aron quanto a minha alimentação, não consegui comer quase nada, somente água e algumas frutas. Finalmente chegara o dia em que iria iniciar meu treinamento para ser uma líder em lutas e batalhas, esse era o meu desejo e ele estava prestes a começar.Não seria apenas uma Rainha, mas sim uma guerreira pronta para enfrentar qualquer problema. Tive muita rejeição e alerta de meus conselheiros para não seguir adiante e mudar de ideia. Muitos deles me disseram que não era atividade para uma mulher e muito menos para uma jovem
Poderia até parecer bobagem para algumas pessoas, mas, para mim, ter essa oportunidade todos os dias era uma grande realização. Estava verdadeiramente encantada com minha nova vida e rotina.Apesar de toda a dor que ainda sentia pela ausência de meus pais, descobrir que era capaz de seguir em frente, governar um reino e realizar meus sonhos, mesmo com muitas opiniões contrárias ao que eu estava fazendo, era compensador.Além de tudo isso, estava redescobrindo a amizade com uma das pessoas mais importantes da minha vida, da minha infância. Estava também descobrindo um grande amor e mesmo sem saber se ele também me amava, estar com Aron todos os dias era um bálsamo, a melhor hora do dia. Sentia-me encantada por sua força, sua garra, seus ensinamentos, suas histórias, tudo nele me fascinava.Acordava feliz por saber que seria ele uma das primeiras pessoas que eu veria no meu dia.Alegrava-me ouvir sua voz, ver seu sorriso, sua alegria de viver e de me ensinar tudo que sabia.Ele parecia
Conversando com o senhor Robert em nossa reunião, pude perceber o quanto ele era interessado em nossas terras e que tinha ideias maravilhosas e novas técnicas de plantio que já eram usadas em suas terras e, segundo ele, tinha lhes dado muito lucro nos últimos anos.Não entendia muito do assunto, mas Frederico, meu conselheiro que cuidava - e muito bem - dessa parte, estava comigo na reunião e ajudou-me a entender melhor.— Rainha Malena, Vossa Majestade nem pode imaginar o quanto ficaria feliz em ter a permissão para lhe ajudar com minhas novas ideias. Se lhes forem úteis, estou à inteira disposição para lhe oferecer ajuda e juntos prosperarmos ainda mais.— Nossas plantações já são muito produtivas, Senhor Robert, mas melhorar é sempre bom. Estou aberta a ouvir suas ideias e se forem coerentes podemos, sim, trabalhar juntos. O que acha dos projetos apresentados, Senhor Frederico? — Ele estudava atentamente os papéis que havia lhe entregado.— Excelentes, Vossa Majestade! Tão bons e t
No dia do convescote, quando cheguei ao jardim, elas já me esperavam. A felicidade estava estampada em seus sorrisos. Gostei muito delas pela simplicidade e simpatia. Estavam muito bonitas e bem vestidas. Agnes, com um vestido florido em tons de verde, e Bethany, com um lindo vestido lilás. O meu vestido era azul, escolhido por minhas amas, gostava dele e combinava muito bem com a ocasião. Minhas amas eram incríveis!Ao me verem, fizeram reverências e as cumprimentei:— Boa tarde, Agnes, Bethany. Como estão passando nesse lindo dia?— Estamos bem, Vossa Majestade, e felizes pelo seu convite! — respondeu Bethany, encantada.— Felizes em lhe fazer companhia nesse convescote. Vossa Majestade, como tem passado? — completou Agnes.— Muito bem também! Obrigada!Senti que elas gostavam de mim, assim como eu delas. Conversamos bastante durante nosso lanche e compartilhamos algumas experiências. Elas me contaram sobre como viviam em Tamina, a infância das duas e algumas aventuras de crianças e
Com certeza, eu o conhecia muito bem e não podia entender o que estava acontecendo. Como ele poderia aceitar que sua família escolhesse uma noiva para se casar? Não entendia, porque aquilo não combinava com Aron, e não conseguia respostas para aquelas perguntas. Assim, continuava sem entender e sem acreditar que aquilo era possível.Após aquela revelação, fiquei aturdida e não consegui me concentrar em mais nenhuma conversa. Usei a desculpa de que precisava voltar ao castelo para um compromisso e fui embora. Minha cabeça girava, meus sentidos estavam bagunçados e uma dor muito forte apertava meu coração.No dia seguinte, em nosso treinamento, encontrei com Aron no lugar de sempre e mal consegui lhe dar bom dia. Minhas primeiras palavras a ele foram:— Conheci sua futura noiva, tomamos um chá ontem à tarde — falei, olhando bem em seus olhos para ter certeza de qual seria sua reação.— Já fiquei sabendo, ela me disse que havia conhecido a rainha e se tornado amiga dela em pouco tempo. C
Após exatos três meses, chegou o dia em que perderia Aron para sempre, o dia de seu casamento com Agnes. É claro que participei de todos os preparativos com a noiva. Ele quase não falava no assunto e, apesar de nos vermos todos os dias, não conversávamos sobre isso.Recebi o convite de Agnes para abençoar o casamento e não pude recusar. Após a cerimônia com o Bispo, ela desejava que sua união fosse abençoada pela rainha, como era de costume nos casamentos da realeza.Se meu pai fosse vivo e eu me casasse, ele, como Rei, deveria dar as bênçãos ao meu casamento. Dizia a lenda que, se isso não acontecesse, a união seria amaldiçoada. Agnes não queria correr esse risco e dizia:— Além de toda essa tradição, sou amiga da rainha, o que vale a benção duplamente, não é mesmo? Triplamente, melhor dizendo, já que meu noivo também é vosso amigo.— Sim, com certeza! Farei as honras da benção com todo prazer, minha amiga — disse com sinceridade, apesar de todo sofrimento preso em minha alma e em me
Enfim, entrava na capela do castelo para presenciar a cerimônia de casamento. Fui anunciada com todas as honras e sentei-me no trono real, que ficava no altar ao lado da cadeira do Bispo, Dom Ângelo III, nosso sacerdote e amigo da família há um bom tempo. Convidei-o algumas semanas antes para realizar a cerimônia e, apesar de relutar um pouco, acabou aceitando.— Vossa Graça entende que sou designado para cerimônias da realeza, não é mesmo? — O Bispo demonstrava um pouco de impaciência.— Sim, Vossa Eminência. Entendo perfeitamente, mas trata-se do casamento de grandes amigos da nobreza e estou cedendo os espaços do castelo para cerimônia e baile, então, seria muito importante se Dom Ângelo fizesse a celebração e atendesse a um pedido de Vossa Rainha.Tentava convencê-lo, o que foi até fácil, considerando a teimosia persistente em todas as conversas com ele, desde a época de meu pai. O rei sempre contava histórias sobre como o Bispo era difícil de lidar.— Sinceramente, esperava estar