Capítulo 7

Só conseguimos começar o treinamento uma semana após nossa conversa. Meus compromissos como Rainha eram muitos: reuniões, festas e até mesmo passeios e viagens. Quem cuidava de tudo para mim era meu secretário Elmos, que tinha auxiliado muitas vezes minha mãe com a organização de seus afazeres também, para não faltar e nem se esquecer de nada. Era um excelente profissional e amigo para todas as horas.

No dia marcado, acordei muito ansiosa, e apesar das recomendações de Aron quanto a minha alimentação, não consegui comer quase nada, somente água e algumas frutas. Finalmente chegara o dia em que iria iniciar meu treinamento para ser uma líder em lutas e batalhas, esse era o meu desejo e ele estava prestes a começar.

Não seria apenas uma Rainha, mas sim uma guerreira pronta para enfrentar qualquer problema. Tive muita rejeição e alerta de meus conselheiros para não seguir adiante e mudar de ideia. Muitos deles me disseram que não era atividade para uma mulher e muito menos para uma jovem Rainha. Isso só me dava mais forças e me estimulava ainda mais a começar meu treinamento. Desejava provar a eles que estavam errados e que uma mulher é capaz, sim, de aprender a lutar e se tornar uma guerreira, uma líder não só como Rainha, mas também liderando um exército em uma batalha, se fosse preciso.

Vesti-me de acordo com a orientação de Aron, usei calças, pela primeira vez, camisa, botas e um casaco pronto para receber uma leve armadura quando começasse o treino.

Confesso que a princípio achei aquela roupa estranha e foi um pouco difícil de me acostumar com ela, mas aquilo não seria um empecilho e nem iria me desanimar.

Quando cheguei até a sala principal do castelo, Aron estava me esperando para irmos juntos até o local que ele havia escolhido para nosso treinamento.

Ele sorriu e com um aceno entendi que estava feliz em me ver daquela maneira, seus olhos brilharam para mim como nunca tinha acontecido, ele parecia orgulhoso por me ver seguir com meu destino.

Na estrebaria, pegamos nossos cavalos, que já estavam selados nos esperando, equipados com algumas bolsas que carregavam as armas.

Seguimos até o bosque próximo, dentro do reino mesmo. Era um espaço interessante e muito bonito.

Chegando lá, Aron me ajudou a descer do cavalo e senti sua mão entrelaçar minha cintura. Meus sentidos mudaram. Senti seu corpo muito próximo ao meu, mais perto do que jamais estivemos durante todos esses anos, nossos rostos e olhares próximos demais para suportar.

Por um instante, pensei que fosse me beijar, mas, logo em seguida, afastou-se constrangido.

— Vamos começar por aqui hoje. O que acha do local? — perguntou disfarçando, como se nada demais tivesse acontecido.

— Gosto, muito bonito. Excelente escolha. — Disfarcei também, afinal podiam ser apenas coisas da minha cabeça, apenas uma coincidência, algo que ele nem percebeu. Será?

— Então, vamos começar. A sua primeira lição é aprender a como se portar em uma luta, sua postura é muito importante para segurar as armas e começar a lutar, depois você vai aprender tudo sobre as armas que irá utilizar — ele me explicava com entusiasmo, contando o nome de todas as armas e para o que elas serviam. Aos poucos, pude tocá-las, descobri como segurá-las e como usá-las para golpear.

Das que usaríamos individualmente, a que mais me encantou foi a espada para esgrima, era muito bonita, e quando a segurei para aprender a usá-la, uma linda lembrança de meu pai surgiu. Cheguei a presenciar algumas vezes ele lutando com Hamom, treinavam sempre que era possível e ambos duelavam muito bem.

Ah! Meu pai. Se pudesse me ver agora, iniciando meu aprendizado, sei que sentiria muito orgulho de sua filha. Uma imensa saudade me invadiu, mas tive que deixar aqueles pensamentos voarem para outro lugar e me manter concentrada em meu aprendizado.

Aprendi também a usar mais duas espadas e a utilizar a adaga para proteção. As outras espadas eram um pouco mais pesadas. Teria que me acostumar, pois carregaria uma comigo sempre que estivéssemos treinando.

Entendi que tínhamos à disposição catapultas para atacarmos nossos inimigos durante uma batalha, flechas também ajudariam muito, por isso um dos ensinamentos envolviam o arco e flecha que aprendi a utilizar com um pouco mais de dificuldade. Com o tempo, consegui praticar com muita habilidade.

No decorrer dos dias, fizemos muitos exercícios para postura, alongamentos e golpes com e sem a espada. Até que chegou o dia em que teríamos nossa primeira luta, seria importante para colocar em prática os exercícios que aprendera até ali e, estava claro, ainda não utilizaria uma espada de verdade, poderia machucá-lo sem querer e me machucar também.

Todos os dias treinávamos pela manhã naquele bosque. Não faltava nenhum dia e ele também não. Aquilo havia se tornado minha vida, meu maior objetivo, a realização de um sonho.

Os exercícios e aprendizado me ajudavam a manter meu corpo e mente sãos e me levavam cada dia mais ao meu maior desejo.

Às vezes, ficava imaginando o que meus pais pensariam de mim se me vissem treinando. Minha mãe ficaria aflita pela minha integridade física e meu pai ficaria também, mas imagino que o orgulho em ver sua filha seguindo a tradição da família seria maior. Sempre que pensava nisso, não me continha em sorrir e uma sensação boa invadia meu coração.

Apreciava muito também ter a companhia de Aron todas as manhãs, em alguns dias até tomávamos café juntos, com um convescote no bosque, sentia-me como criança novamente. Conversávamos e lembrávamos de nossas brincadeiras de infância e nossas traquinagens. Era um jeito muito divertido de começar o dia e uma ótima preparação, um pré-treinamento.

Houve um dia em que fizemos o desjejum juntos, descansamos um pouco e após alguns exercícios de relaxamento e alongamento começamos nossa primeira luta.

Logo no começo, ele conseguiu me deter e aplicar um golpe, mas consegui revidar também e me defender. Comecei a perceber que fazia aquilo muito bem, parecia natural, como se meu corpo soubesse o que fazer e tivesse nascido para tal. Apesar de algumas dificuldades, sempre me mantinha em pé, defendia-me dos golpes e conseguia golpear algumas vezes. Quando terminamos nosso primeiro duelo, Aron aplaudiu, dizendo:

— Parabéns Vossa Majestade, uma aluna exemplar! Aprendeu tudo que lhe ensinei e foi muito bem para sua primeira luta.

— Obrigada, querido mestre. Tenho um ótimo treinador — respondi e agradeci fazendo uma reverência e rindo um pouco de mim mesma. Estava muito cansada e, ao mesmo tempo, muito feliz.

Os dias seguiram-se assim, dividindo meus compromissos como rainha com meu treinamento para ser uma guerreira, a cada dia e a cada aula ficava mais feliz e mais entusiasmada em continuar.

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