Capítulo 6

Passei os dois anos seguintes aos cuidados do meu tutor e amigo da família, Elmos. Um conselheiro do reino que serviu muito bem ao meu pai e à minha mãe, um grande amigo deles que se tornou um grande amigo meu também. Quando completei dezoito anos e enfim chegou o dia da minha coroação, ele me procurou antes da cerimônia e me disse:

     — Minha querida Princesa e minha futura Rainha, a partir de amanhã passarei a você seu tão merecido posto, seu trono, seu reino. Tenho certeza de sua capacidade devido ao seu aprendizado nesses anos e sei que será uma excelente governante e seu reinado entrará para a história de Minsk.

     — Obrigada, querido Elmos. Tudo isso graças ao senhor e seus ensinamentos. Acredito que serei uma boa rainha e sei que com sua ajuda venceremos qualquer problema que possa surgir. O senhor continuará ao meu lado, não é mesmo? — perguntei ciente da resposta. Sabia que ele jamais me abandonaria.

     — Claro que sim, Vossa Majestade! Enquanto quiser e o quanto precisar de mim, estarei sempre à vossa disposição.

      — Agradeço por tudo, Elmos. Continuo contando com você!

     Despediu-se com um sorriso, uma reverência e um beijo em minha mão. Ele era tudo o que eu tinha após a morte de meus pais, ele e minha querida ama Gertrude. As únicas pessoas em quem podia confiar cegamente.

    No dia seguinte à coroação, já estava marcada minha primeira reunião com os conselheiros e Elmos me passou a liderança, assim como tudo que precisava saber para seguir adiante.

       Todos do Conselho explicavam-me situações adversas, e já no primeiro dia, tive que tomar decisões importantes para o reino. Segundo eles, tive um ótimo desempenho e todos ficaram felizes com minhas atitudes, minha firmeza nas decisões e meu jeito claro em ver e resolver as coisas. Diziam que eu era uma boa mistura de meu pai e minha mãe, o que me deixava orgulhosa e muito feliz.

    Os próximos dias seguiram-se sem problemas e eram cheios de compromissos, reuniões, e ainda não pude arranjar tempo para resolver uma coisa que desejava muito.

     Queria muito seguir com minha ideia e começar o treinamento para lutar, assim como foi com meu avô e meu pai. Só havia uma pessoa em todo o reino que eu julgava capaz de me ensinar sem preconceitos, que me ajudaria sem pestanejar e entenderia meu desejo.  Ele sabia desde sempre que era isso o que eu mais queria. Desde criança falava a ele desse meu desejo e que o dia em que conseguisse permissão para treinar, ele seria o meu treinador. Essa pessoa era meu grande amigo e amado Aron.

     Mandei chamá-lo para uma conversa e estava ansiosa para vê-lo. Fazia muito tempo que não conseguia ficar perto dele; só nos encontrávamos pelo castelo algumas vezes, mas não conseguíamos trocar mais do que alguns cumprimentos. Devido à minha rotina cheia de compromissos, após a coroação, senti que ele se distanciou muito de mim, temia que fosse devido ao peso da minha coroa e pelo que ela significava.

     Pedi para encontrá-lo no jardim, precisava respirar um pouco de ar puro e como seria uma conversa a princípio informal, seria ótimo passear com ele e, ao mesmo tempo, descansar um pouco.

     Chegando lá, ele já me esperava, sentado em um dos bancos do jardim. Um sentimento bom me invadiu, ver um rosto familiar era importante para mim naquele momento, em especial aquele rosto.

      — Vossa Graça, Minha Rainha. — Fez uma reverência em cumprimento.

     — Cavaleiro, que bom revê-lo! Preciso muito conversar com você, Aron. Como está, meu querido amigo? — Ao mesmo tempo em que aceitava sua reverência, sugeri com um aceno que caminhássemos pelo jardim.

     — Estou bem, Alteza, e Vossa Majestade? Acostumando-se com a nova vida como Rainha?

     — Sim! Uma vida bem tumultuada a minha agora, mas estou feliz por seguir o rumo de meus pais e tudo que faço é por eles, em memória deles. Posso pedir-lhe uma coisa antes de tudo?

      —  É claro que sim! Tudo que Vossa Alteza necessitar.

   — Pode, por favor, chamar-me pelo meu nome? Você não precisa de toda essa formalidade comigo, afinal, nos conhecemos há muito tempo, não é mesmo?

     — Temo não poder realizar esse Vosso primeiro desejo. Não posso agir diferente de seus outros súditos.

     — Você não é meu súdito, Aron, nunca foi! Você é meu amigo desde que éramos crianças.

     — Sim, mas não me sentiria confortável por usar seu nome na frente dos outros e, além do mais, pareceria um desrespeito à Vossa Majestade.

     — Tenho que concordar com você nesse ponto. Pelo menos quando estivermos á sós, poderia me tratar como antes? Por favor? — eu insistia, pois, o que mais queria era me aproximar dele e imaginava se ele desconfiava de minhas intenções.

      — Tentarei atender ao seu pedido, em nome de nossa antiga amizade e de nossos pais.

   — Ficarei muito feliz com isso, meu querido amigo. — Sorri para ele em agradecimento e recebi de volta aquele lindo sorriso que amava tanto desde que éramos pequenos.

     Devido à amizade de nossos pais, nossas famílias estavam sempre juntas. Hamom e Corina tinham muitas terras e as famílias de ambos os lados eram muito ricas. Ele e meu pai também eram amigos desde a infância e compartilhavam da mesma ideia sobre aprender a lutar e serem guerreiros. Aron era filho único assim como eu e havia sido treinado pelo seu próprio pai. Lembrando disso, comecei a dar o rumo que eu desejava à nossa conversa.

     — Penso que você se lembra da minha imensa vontade em aprender a lutar, ou não é? — perguntei a ele, sorrindo.

     — Sim, é claro que sim! Lembro-me também que Vossa mãe não concordava com isso, correto? — indagou, com seus lindos olhos negros confortantes.

     — Isso é bem verdade, mas já havia algum tempo que meu pai tentava convencê-la do quanto isso seria bom para mim e que meu desejo era sincero.

    — Sei disso, Malena, não duvido da sinceridade desse seu desejo, dessa sua vontade, mas você sabe dos riscos que pode correr ao seguir as convicções de seu avô e seu pai.    Você sabe o que aprendendo a lutar e estar preparada para ser uma guerreira, irá acontecer quando surgir alguma disputa, alguma guerra que seja necessário liderar um exército? Você sabe disso, não é mesmo? — enfatizou, sabendo muito bem que seria em vão tentar me convencer do contrário.

     — Certamente que sei e é exatamente por isso que preciso ter o melhor guerreiro do reino como meu treinador, o que você acha?

     — Você está me convidando para ensinar você a lutar, é isso?

    — Quem mais eu poderia querer como meu treinador? Não há outra pessoa melhor do que você para isso — ele concordou, levantando as sobrancelhas e sorrindo.

    — Você enfrentará muitas críticas de seus conselheiros quanto a isso, está preparada para lidar com eles?

     — Eles não podem impedir a rainha de fazer o que quiser, ainda mais em se tratando de minha própria vida.

      — E eu, Vossa Majestade? Tenho alguma escolha ou só me resta aceitar e obedecê-la?

     — Não lhe obrigarei a nada, é claro que não, mas ficarei honrada se aceitar o meu pedido. Você é minha melhor opção, na verdade, a única. Não ficaria confortável em treinar com mais ninguém, somente com você.

     — Sendo assim, não há motivo para recusar e a honra será toda minha em lhe treinar, mas já vou avisando: não pegarei leve com você nem por ser mulher e menos ainda por ser minha rainha. Nosso treinamento será pesado, assim como seria com os homens.

     — Não esperaria nada menos de você, por isso o escolhi e é exatamente o que desejo.

     — Então, estamos acertados?

     — Sim, estamos acertados!

     Terminamos a conversa com um aperto de mãos e sorrisos compartilhados, com aquela intimidade que só quem se conhece há muito tempo pode ter. Comunicávamos nossos sentimentos pelo olhar. Eu me descobri mergulhando naqueles lindos olhos e naquele sorriso que me encantava e me dava forças para prosseguir e realizar o desejo de cumprir a missão de meus antepassados.

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