Passei os dois anos seguintes aos cuidados do meu tutor e amigo da família, Elmos. Um conselheiro do reino que serviu muito bem ao meu pai e à minha mãe, um grande amigo deles que se tornou um grande amigo meu também. Quando completei dezoito anos e enfim chegou o dia da minha coroação, ele me procurou antes da cerimônia e me disse:
— Minha querida Princesa e minha futura Rainha, a partir de amanhã passarei a você seu tão merecido posto, seu trono, seu reino. Tenho certeza de sua capacidade devido ao seu aprendizado nesses anos e sei que será uma excelente governante e seu reinado entrará para a história de Minsk.
— Obrigada, querido Elmos. Tudo isso graças ao senhor e seus ensinamentos. Acredito que serei uma boa rainha e sei que com sua ajuda venceremos qualquer problema que possa surgir. O senhor continuará ao meu lado, não é mesmo? — perguntei ciente da resposta. Sabia que ele jamais me abandonaria.
— Claro que sim, Vossa Majestade! Enquanto quiser e o quanto precisar de mim, estarei sempre à vossa disposição.
— Agradeço por tudo, Elmos. Continuo contando com você!
Despediu-se com um sorriso, uma reverência e um beijo em minha mão. Ele era tudo o que eu tinha após a morte de meus pais, ele e minha querida ama Gertrude. As únicas pessoas em quem podia confiar cegamente.
No dia seguinte à coroação, já estava marcada minha primeira reunião com os conselheiros e Elmos me passou a liderança, assim como tudo que precisava saber para seguir adiante.
Todos do Conselho explicavam-me situações adversas, e já no primeiro dia, tive que tomar decisões importantes para o reino. Segundo eles, tive um ótimo desempenho e todos ficaram felizes com minhas atitudes, minha firmeza nas decisões e meu jeito claro em ver e resolver as coisas. Diziam que eu era uma boa mistura de meu pai e minha mãe, o que me deixava orgulhosa e muito feliz.
Os próximos dias seguiram-se sem problemas e eram cheios de compromissos, reuniões, e ainda não pude arranjar tempo para resolver uma coisa que desejava muito.
Queria muito seguir com minha ideia e começar o treinamento para lutar, assim como foi com meu avô e meu pai. Só havia uma pessoa em todo o reino que eu julgava capaz de me ensinar sem preconceitos, que me ajudaria sem pestanejar e entenderia meu desejo. Ele sabia desde sempre que era isso o que eu mais queria. Desde criança falava a ele desse meu desejo e que o dia em que conseguisse permissão para treinar, ele seria o meu treinador. Essa pessoa era meu grande amigo e amado Aron.
Mandei chamá-lo para uma conversa e estava ansiosa para vê-lo. Fazia muito tempo que não conseguia ficar perto dele; só nos encontrávamos pelo castelo algumas vezes, mas não conseguíamos trocar mais do que alguns cumprimentos. Devido à minha rotina cheia de compromissos, após a coroação, senti que ele se distanciou muito de mim, temia que fosse devido ao peso da minha coroa e pelo que ela significava.
Pedi para encontrá-lo no jardim, precisava respirar um pouco de ar puro e como seria uma conversa a princípio informal, seria ótimo passear com ele e, ao mesmo tempo, descansar um pouco.
Chegando lá, ele já me esperava, sentado em um dos bancos do jardim. Um sentimento bom me invadiu, ver um rosto familiar era importante para mim naquele momento, em especial aquele rosto.
— Vossa Graça, Minha Rainha. — Fez uma reverência em cumprimento.
— Cavaleiro, que bom revê-lo! Preciso muito conversar com você, Aron. Como está, meu querido amigo? — Ao mesmo tempo em que aceitava sua reverência, sugeri com um aceno que caminhássemos pelo jardim.
— Estou bem, Alteza, e Vossa Majestade? Acostumando-se com a nova vida como Rainha?
— Sim! Uma vida bem tumultuada a minha agora, mas estou feliz por seguir o rumo de meus pais e tudo que faço é por eles, em memória deles. Posso pedir-lhe uma coisa antes de tudo?
— É claro que sim! Tudo que Vossa Alteza necessitar.
— Pode, por favor, chamar-me pelo meu nome? Você não precisa de toda essa formalidade comigo, afinal, nos conhecemos há muito tempo, não é mesmo?
— Temo não poder realizar esse Vosso primeiro desejo. Não posso agir diferente de seus outros súditos.
— Você não é meu súdito, Aron, nunca foi! Você é meu amigo desde que éramos crianças.
— Sim, mas não me sentiria confortável por usar seu nome na frente dos outros e, além do mais, pareceria um desrespeito à Vossa Majestade.
— Tenho que concordar com você nesse ponto. Pelo menos quando estivermos á sós, poderia me tratar como antes? Por favor? — eu insistia, pois, o que mais queria era me aproximar dele e imaginava se ele desconfiava de minhas intenções.
— Tentarei atender ao seu pedido, em nome de nossa antiga amizade e de nossos pais.
— Ficarei muito feliz com isso, meu querido amigo. — Sorri para ele em agradecimento e recebi de volta aquele lindo sorriso que amava tanto desde que éramos pequenos.
Devido à amizade de nossos pais, nossas famílias estavam sempre juntas. Hamom e Corina tinham muitas terras e as famílias de ambos os lados eram muito ricas. Ele e meu pai também eram amigos desde a infância e compartilhavam da mesma ideia sobre aprender a lutar e serem guerreiros. Aron era filho único assim como eu e havia sido treinado pelo seu próprio pai. Lembrando disso, comecei a dar o rumo que eu desejava à nossa conversa.
— Penso que você se lembra da minha imensa vontade em aprender a lutar, ou não é? — perguntei a ele, sorrindo.
— Sim, é claro que sim! Lembro-me também que Vossa mãe não concordava com isso, correto? — indagou, com seus lindos olhos negros confortantes.
— Isso é bem verdade, mas já havia algum tempo que meu pai tentava convencê-la do quanto isso seria bom para mim e que meu desejo era sincero.
— Sei disso, Malena, não duvido da sinceridade desse seu desejo, dessa sua vontade, mas você sabe dos riscos que pode correr ao seguir as convicções de seu avô e seu pai. Você sabe o que aprendendo a lutar e estar preparada para ser uma guerreira, irá acontecer quando surgir alguma disputa, alguma guerra que seja necessário liderar um exército? Você sabe disso, não é mesmo? — enfatizou, sabendo muito bem que seria em vão tentar me convencer do contrário.
— Certamente que sei e é exatamente por isso que preciso ter o melhor guerreiro do reino como meu treinador, o que você acha?
— Você está me convidando para ensinar você a lutar, é isso?
— Quem mais eu poderia querer como meu treinador? Não há outra pessoa melhor do que você para isso — ele concordou, levantando as sobrancelhas e sorrindo.
— Você enfrentará muitas críticas de seus conselheiros quanto a isso, está preparada para lidar com eles?
— Eles não podem impedir a rainha de fazer o que quiser, ainda mais em se tratando de minha própria vida.
— E eu, Vossa Majestade? Tenho alguma escolha ou só me resta aceitar e obedecê-la?
— Não lhe obrigarei a nada, é claro que não, mas ficarei honrada se aceitar o meu pedido. Você é minha melhor opção, na verdade, a única. Não ficaria confortável em treinar com mais ninguém, somente com você.
— Sendo assim, não há motivo para recusar e a honra será toda minha em lhe treinar, mas já vou avisando: não pegarei leve com você nem por ser mulher e menos ainda por ser minha rainha. Nosso treinamento será pesado, assim como seria com os homens.
— Não esperaria nada menos de você, por isso o escolhi e é exatamente o que desejo.
— Então, estamos acertados?
— Sim, estamos acertados!
Terminamos a conversa com um aperto de mãos e sorrisos compartilhados, com aquela intimidade que só quem se conhece há muito tempo pode ter. Comunicávamos nossos sentimentos pelo olhar. Eu me descobri mergulhando naqueles lindos olhos e naquele sorriso que me encantava e me dava forças para prosseguir e realizar o desejo de cumprir a missão de meus antepassados.
Só conseguimos começar o treinamento uma semana após nossa conversa. Meus compromissos como Rainha eram muitos: reuniões, festas e até mesmo passeios e viagens. Quem cuidava de tudo para mim era meu secretário Elmos, que tinha auxiliado muitas vezes minha mãe com a organização de seus afazeres também, para não faltar e nem se esquecer de nada. Era um excelente profissional e amigo para todas as horas.No dia marcado, acordei muito ansiosa, e apesar das recomendações de Aron quanto a minha alimentação, não consegui comer quase nada, somente água e algumas frutas. Finalmente chegara o dia em que iria iniciar meu treinamento para ser uma líder em lutas e batalhas, esse era o meu desejo e ele estava prestes a começar.Não seria apenas uma Rainha, mas sim uma guerreira pronta para enfrentar qualquer problema. Tive muita rejeição e alerta de meus conselheiros para não seguir adiante e mudar de ideia. Muitos deles me disseram que não era atividade para uma mulher e muito menos para uma jovem
Poderia até parecer bobagem para algumas pessoas, mas, para mim, ter essa oportunidade todos os dias era uma grande realização. Estava verdadeiramente encantada com minha nova vida e rotina.Apesar de toda a dor que ainda sentia pela ausência de meus pais, descobrir que era capaz de seguir em frente, governar um reino e realizar meus sonhos, mesmo com muitas opiniões contrárias ao que eu estava fazendo, era compensador.Além de tudo isso, estava redescobrindo a amizade com uma das pessoas mais importantes da minha vida, da minha infância. Estava também descobrindo um grande amor e mesmo sem saber se ele também me amava, estar com Aron todos os dias era um bálsamo, a melhor hora do dia. Sentia-me encantada por sua força, sua garra, seus ensinamentos, suas histórias, tudo nele me fascinava.Acordava feliz por saber que seria ele uma das primeiras pessoas que eu veria no meu dia.Alegrava-me ouvir sua voz, ver seu sorriso, sua alegria de viver e de me ensinar tudo que sabia.Ele parecia
Conversando com o senhor Robert em nossa reunião, pude perceber o quanto ele era interessado em nossas terras e que tinha ideias maravilhosas e novas técnicas de plantio que já eram usadas em suas terras e, segundo ele, tinha lhes dado muito lucro nos últimos anos.Não entendia muito do assunto, mas Frederico, meu conselheiro que cuidava - e muito bem - dessa parte, estava comigo na reunião e ajudou-me a entender melhor.— Rainha Malena, Vossa Majestade nem pode imaginar o quanto ficaria feliz em ter a permissão para lhe ajudar com minhas novas ideias. Se lhes forem úteis, estou à inteira disposição para lhe oferecer ajuda e juntos prosperarmos ainda mais.— Nossas plantações já são muito produtivas, Senhor Robert, mas melhorar é sempre bom. Estou aberta a ouvir suas ideias e se forem coerentes podemos, sim, trabalhar juntos. O que acha dos projetos apresentados, Senhor Frederico? — Ele estudava atentamente os papéis que havia lhe entregado.— Excelentes, Vossa Majestade! Tão bons e t
No dia do convescote, quando cheguei ao jardim, elas já me esperavam. A felicidade estava estampada em seus sorrisos. Gostei muito delas pela simplicidade e simpatia. Estavam muito bonitas e bem vestidas. Agnes, com um vestido florido em tons de verde, e Bethany, com um lindo vestido lilás. O meu vestido era azul, escolhido por minhas amas, gostava dele e combinava muito bem com a ocasião. Minhas amas eram incríveis!Ao me verem, fizeram reverências e as cumprimentei:— Boa tarde, Agnes, Bethany. Como estão passando nesse lindo dia?— Estamos bem, Vossa Majestade, e felizes pelo seu convite! — respondeu Bethany, encantada.— Felizes em lhe fazer companhia nesse convescote. Vossa Majestade, como tem passado? — completou Agnes.— Muito bem também! Obrigada!Senti que elas gostavam de mim, assim como eu delas. Conversamos bastante durante nosso lanche e compartilhamos algumas experiências. Elas me contaram sobre como viviam em Tamina, a infância das duas e algumas aventuras de crianças e
Com certeza, eu o conhecia muito bem e não podia entender o que estava acontecendo. Como ele poderia aceitar que sua família escolhesse uma noiva para se casar? Não entendia, porque aquilo não combinava com Aron, e não conseguia respostas para aquelas perguntas. Assim, continuava sem entender e sem acreditar que aquilo era possível.Após aquela revelação, fiquei aturdida e não consegui me concentrar em mais nenhuma conversa. Usei a desculpa de que precisava voltar ao castelo para um compromisso e fui embora. Minha cabeça girava, meus sentidos estavam bagunçados e uma dor muito forte apertava meu coração.No dia seguinte, em nosso treinamento, encontrei com Aron no lugar de sempre e mal consegui lhe dar bom dia. Minhas primeiras palavras a ele foram:— Conheci sua futura noiva, tomamos um chá ontem à tarde — falei, olhando bem em seus olhos para ter certeza de qual seria sua reação.— Já fiquei sabendo, ela me disse que havia conhecido a rainha e se tornado amiga dela em pouco tempo. C
Após exatos três meses, chegou o dia em que perderia Aron para sempre, o dia de seu casamento com Agnes. É claro que participei de todos os preparativos com a noiva. Ele quase não falava no assunto e, apesar de nos vermos todos os dias, não conversávamos sobre isso.Recebi o convite de Agnes para abençoar o casamento e não pude recusar. Após a cerimônia com o Bispo, ela desejava que sua união fosse abençoada pela rainha, como era de costume nos casamentos da realeza.Se meu pai fosse vivo e eu me casasse, ele, como Rei, deveria dar as bênçãos ao meu casamento. Dizia a lenda que, se isso não acontecesse, a união seria amaldiçoada. Agnes não queria correr esse risco e dizia:— Além de toda essa tradição, sou amiga da rainha, o que vale a benção duplamente, não é mesmo? Triplamente, melhor dizendo, já que meu noivo também é vosso amigo.— Sim, com certeza! Farei as honras da benção com todo prazer, minha amiga — disse com sinceridade, apesar de todo sofrimento preso em minha alma e em me
Enfim, entrava na capela do castelo para presenciar a cerimônia de casamento. Fui anunciada com todas as honras e sentei-me no trono real, que ficava no altar ao lado da cadeira do Bispo, Dom Ângelo III, nosso sacerdote e amigo da família há um bom tempo. Convidei-o algumas semanas antes para realizar a cerimônia e, apesar de relutar um pouco, acabou aceitando.— Vossa Graça entende que sou designado para cerimônias da realeza, não é mesmo? — O Bispo demonstrava um pouco de impaciência.— Sim, Vossa Eminência. Entendo perfeitamente, mas trata-se do casamento de grandes amigos da nobreza e estou cedendo os espaços do castelo para cerimônia e baile, então, seria muito importante se Dom Ângelo fizesse a celebração e atendesse a um pedido de Vossa Rainha.Tentava convencê-lo, o que foi até fácil, considerando a teimosia persistente em todas as conversas com ele, desde a época de meu pai. O rei sempre contava histórias sobre como o Bispo era difícil de lidar.— Sinceramente, esperava estar
— Como você está, Malena? Como se sente? — perguntou Aron, assim que começamos a dança.— Bem. Sinto-me bem. Porque a pergunta?— Percebi que não estava bem na hora da benção, fiquei assustado e preocupado que estivesse doente, pensei que não conseguiria abençoar nosso casamento.— Claro que não! Daria a bênção a vocês mesmo que estivesse doente, mesmo que estivesse de cama. Fique tranquilo, estou bem. Creio ter sido apenas um mal-estar devido ao calor.— Não fale isso nem de brincadeira. Sua saúde é muito importante, deve ser muito bem cuidada. Tem certeza que está realmente bem? Não está me escondendo nada?— Claro que não! O que poderia lhe esconder? — A não ser o fato de que lhe amo, não lhe escondo mais nada. — Estou ótima! Foi apenas um mal súbito, já passou!— Que bom! Então fico mais tranquilo. Estava bem quente lá dentro mesmo. Aqui fora está mais fresco e você me parece melhor.— Sim, estou sim! E você? Como se sente agora que está casado?— Bem, me sinto bem! Por enquanto n