PARTE 1
Deitada em um campo de flores,
Observando e admirando o céu,
Mesmo sem te ver, senti a sua presença.
Você foi se aproximando, pensando que eu não podia lhe ver.
Seu perfume se misturou com o aroma das flores, e respirar se tornou algo muito mais prazeroso.
Não consegui controlar a expectativa, a saudade e a vontade de te ver.
Levantei-me lentamente e você já estava a alguns passos de mim.
Quando nossos olhos se encontraram, foi como ver novamente,
Toda a beleza do mundo.
***
“I hear your voice on the wind
Ouço a sua voz no vento
And I hear you call out my name
E ouço-a chamar meu nome
Listen, my child! You say to me
Ouça, minha criança! Você diz para mim
I am the Voice of your history
Eu sou a voz de sua história
Be not afraid - come follow me
Não tema - venha, siga-me
Answer my call and I'll set you free...”
Responda meu convite e vou tornar você livre...
The Voice
(Celtic Woman)
***
— Calma! Devemos esperar até que eles estejam mais perto — dizia Aron, percebendo minha ansiedade.
— Não quero arriscar nada, entendeu? Essa batalha é nossa! Eles não conseguirão invadir o reino, de jeito nenhum! — Mesmo sabendo do potencial dos nossos soldados e de que éramos capazes de vencer, estava insegura.
Queria muito lutar. Era a primeira vez que pisava em um campo de batalha, e aquilo tudo havia se tornado uma questão de honra. Precisava provar que estava certa nas minhas decisões. Não só mostrar para todos, mas principalmente para mim mesma.
Nunca fui uma pessoa insegura, isso nunca me abalou, até agora. Sempre fui segura e me sentia protegida entre as muralhas do reino e fora delas também, mas minha principal segurança vinha de dentro, do meu coração, e sentia isso com todas as forças possíveis.
Fui uma criança muito amada e querida pelos meus pais, Rei e Rainha, por todos os nossos amigos, súditos, empregados e toda a população do reino.
Tive uma vida tranquila, meus pais faziam o possível e o impossível para que isso acontecesse. Apesar de ser quem sou e viver onde vivo.
Sobre quem sou? Onde vivo e como cheguei até aqui, aguardando para começar uma guerra, à frente de um campo de batalha? Acho melhor começar contando minha história.
Agora sou uma Rainha. Já fui Princesa e filha muito amada e feliz. No entanto, as coisas mudaram muito nos últimos dez anos e fui obrigada a mudar também, porém sem perder o horizonte que me fora mostrado com tanto cuidado e carinho, sem abandonar minha dignidade e meus princípios.
Nada nesse mundo seria capaz de modificar a minha essência, nunca mudaria por nada. Minha base era muito mais forte do que qualquer problema e qualquer intervenção que pudesse haver.
Mudanças externas surgiram, mas dentro de mim permanecia a força que me foi dada e cultivada.
Em primeiro lugar, como já mencionei, nasci nobre. Meu pai, o Rei Serafim, descendente da família real Nithercott do Reino de Minsk, governava nosso país junto com minha mãe, Rainha Stella Marie Baldrick, e dessa união nasci, Princesa Malena Katherine Baldrick Nithercott, a única herdeira do trono. Um grande fardo para meu pai que sonhava com um herdeiro, um príncipe e futuro Rei.
Isso se tornou um grande desafio pessoal para mim: ser uma filha melhor para que meu pai não sentisse a falta de um filho. Ele sentia, é claro. Mesmo me amando muito, sei que ele sentia.
Devido a isso, decidi que tentaria fazer muito mais do que uma filha faria. Tentaria ser um filho também para ele. O Rei Serafim gostava muito de lutas e batalhas e treinava com o melhor guerreiro do reino, seu amigo e cavaleiro Hamom Thomas Culbert, pai de Aron, meu amigo de infância.
Essa amizade vinha desde a juventude, desde que eles eram garotos e meu pai era um Príncipe. A geração seguinte deu continuidade àquela bela amizade.
Aron e eu crescemos juntos, brincávamos e éramos amigos. Houve um tempo em que ele ficou afastado do reino, para estudar fora. Senti muita saudade do meu grande amigo e quando ele retornou mais maduro aconteceu o que eu jamais poderia imaginar, a amizade havia se transformado em paixão.
Descobri que o amava. Um amor que chegou de repente, sem avisar, sem que eu pudesse entender direito e tomou conta de mim por inteira.
Não conseguia controlar aquele sentimento mesmo que quisesse e, sinceramente, eu queria, queria muito, mas era difícil.
Ele era um pouco mais velho que eu, três anos apenas, e ao voltar continuou me tratando como amiga e como Princesa.
Queria muito sua amizade, mas também desejava algo mais e parecia que ele não percebia isso.Não tínhamos mais a mesma intimidade de antes, afinal, quando ele viajou para estudar, ainda era um menino e brincava comigo nos campos do reino. Agora, ambos estávamos quase adultos e não cabiam mais as mesmas brincadeiras de antes. Devido a isso, afastamo-nos um pouco, para minha tristeza. Encontrava-o aleatoriamente pelo castelo e pelo reino.Durante as festas, ele me tirava para dançar e conversávamos um pouco, contudo os assuntos eram sempre sobre o que aconteceu a ele durante o tempo que passou fora e sobre o que fiz durante esse tempo, sobre meus estudos e algumas histórias com amigos em comum.Às vezes, ficava perguntando por ele para os criados que acabavam me informando onde o tinham visto pela última vez, e eu arrumava um pretexto para ir até o local encontrá-lo. Ele nem desconfiava das minhas intenções, pelo menos parecia que não.Aron não me dava nenhum motivo para acreditar no co
Quando saí de meus aposentos, ela me disse:— Boa sorte, querida. Você será a mais bela e a melhor Rainha que esse reino já pôde ter. Que a paz e o amor estejam sempre em vosso coração. — Agradeci com um olhar, um aperto de mão e um beijo demorado em sua face macia e rosada. As palavras não saíram, e ficou um nó na garganta difícil de controlar, mas tinha de conseguir, não podia chorar naquele momento, estava a caminho da minha coroação.Aproximando-me do salão principal, comecei a ouvir os convidados conversando e uma música suave tocada pelos músicos do castelo.Meu pai costumava fazer muitas festas, minha mãe também gostava muito de comemorações e comigo não seria diferente. Tinha em meus planos, realizar muitos bailes e comemorar tudo que pudesse, em memória deles.Parei na entrada, aguardando ser anunciada, como me foi orientado. Sem aviso, a música parou, os convidados silenciaram e foi anunciada a minha presença.— Vossa Majestade, Princesa Malena Katherine Baldrick Nithercott!
No dia do meu décimo segundo aniversário, após a festa celebrada por todos no salão principal do castelo com um belíssimo baile, meu pai me deu um presente e também queria se despedir, pois estava saindo para liderar uma batalha.O Rei Serafim Adrian Nithercott sabia lutar como poucos reis que conhecíamos. Desde muito criança, foi treinado por Rômulo, pai de Hamom e avô de Aron, o melhor guerreiro do reino naquela época e grande amigo de meu avô, o Rei Bartolomeu Dumas Nithercott.Meu avô acreditava que todo rei deveria ser treinado para tornar-se um guerreiro e lutar para defender seu reino, suas terras, seu povo, não apenas orientando seu exército para uma batalha, mas também estando presente e dando seu sangue e sua vida, se fosse necessário.Quando abri meu presente, fiquei encantada: uma coroa, lindíssima, toda ornamentada com lindas e delicadas pedras preciosas. Minha primeira reação foi ficar boquiaberta.— Meu pai, ela é linda! Obrigada, mas por que uma coroa? Já tenho várias
Minha mãe, a Rainha Stella Marie Baldrick, era considerada uma das mulheres mais belas de todo o reino de Minsk. Foi escolhida pelo meu avô para se casar com meu pai. Sua família era de origem nobre e uma das mais ricas de toda a região. Sua beleza era encantadora. Seus cabelos dourados e ondulados, assim como os meus; amava essa semelhança entre nós. Seus olhos azuis tinham um tom que fascinava, intrigava e, ao mesmo tempo, transmitia toda a sua doçura. Seu rosto perfeito e harmonioso combinava com sua pele clara como a luz do sol. Mesmo com toda sua doçura, era uma mulher muito forte e decidida. Desde que se casou com meu pai, assumiu uma postura impecável e todos a admiravam e a respeitavam por isso. Apesar do casamento deles ter sido arranjado pelas duas famílias, ambos se apaixonaram à primeira vista, como diziam. Era um amor tão bonito de se ver, com muito carinho, cumplicidade e respeito. Minhas lembranças com ela eram doces e ternas. Nem sempre foi uma mãe p
Passei os dois anos seguintes aos cuidados do meu tutor e amigo da família, Elmos. Um conselheiro do reino que serviu muito bem ao meu pai e à minha mãe, um grande amigo deles que se tornou um grande amigo meu também. Quando completei dezoito anos e enfim chegou o dia da minha coroação, ele me procurou antes da cerimônia e me disse: — Minha querida Princesa e minha futura Rainha, a partir de amanhã passarei a você seu tão merecido posto, seu trono, seu reino. Tenho certeza de sua capacidade devido ao seu aprendizado nesses anos e sei que será uma excelente governante e seu reinado entrará para a história de Minsk. — Obrigada, querido Elmos. Tudo isso graças ao senhor e seus ensinamentos. Acredito que serei uma boa rainha e sei que com sua ajuda venceremos qualquer problema que possa surgir. O senhor continuará ao meu lado, não é mesmo? — perguntei ciente da resposta. Sabia que ele jamais me abandonaria. — Claro que sim, Vossa Majestade! Enquanto quiser e o quanto precis
Só conseguimos começar o treinamento uma semana após nossa conversa. Meus compromissos como Rainha eram muitos: reuniões, festas e até mesmo passeios e viagens. Quem cuidava de tudo para mim era meu secretário Elmos, que tinha auxiliado muitas vezes minha mãe com a organização de seus afazeres também, para não faltar e nem se esquecer de nada. Era um excelente profissional e amigo para todas as horas.No dia marcado, acordei muito ansiosa, e apesar das recomendações de Aron quanto a minha alimentação, não consegui comer quase nada, somente água e algumas frutas. Finalmente chegara o dia em que iria iniciar meu treinamento para ser uma líder em lutas e batalhas, esse era o meu desejo e ele estava prestes a começar.Não seria apenas uma Rainha, mas sim uma guerreira pronta para enfrentar qualquer problema. Tive muita rejeição e alerta de meus conselheiros para não seguir adiante e mudar de ideia. Muitos deles me disseram que não era atividade para uma mulher e muito menos para uma jovem
Poderia até parecer bobagem para algumas pessoas, mas, para mim, ter essa oportunidade todos os dias era uma grande realização. Estava verdadeiramente encantada com minha nova vida e rotina.Apesar de toda a dor que ainda sentia pela ausência de meus pais, descobrir que era capaz de seguir em frente, governar um reino e realizar meus sonhos, mesmo com muitas opiniões contrárias ao que eu estava fazendo, era compensador.Além de tudo isso, estava redescobrindo a amizade com uma das pessoas mais importantes da minha vida, da minha infância. Estava também descobrindo um grande amor e mesmo sem saber se ele também me amava, estar com Aron todos os dias era um bálsamo, a melhor hora do dia. Sentia-me encantada por sua força, sua garra, seus ensinamentos, suas histórias, tudo nele me fascinava.Acordava feliz por saber que seria ele uma das primeiras pessoas que eu veria no meu dia.Alegrava-me ouvir sua voz, ver seu sorriso, sua alegria de viver e de me ensinar tudo que sabia.Ele parecia
Conversando com o senhor Robert em nossa reunião, pude perceber o quanto ele era interessado em nossas terras e que tinha ideias maravilhosas e novas técnicas de plantio que já eram usadas em suas terras e, segundo ele, tinha lhes dado muito lucro nos últimos anos.Não entendia muito do assunto, mas Frederico, meu conselheiro que cuidava - e muito bem - dessa parte, estava comigo na reunião e ajudou-me a entender melhor.— Rainha Malena, Vossa Majestade nem pode imaginar o quanto ficaria feliz em ter a permissão para lhe ajudar com minhas novas ideias. Se lhes forem úteis, estou à inteira disposição para lhe oferecer ajuda e juntos prosperarmos ainda mais.— Nossas plantações já são muito produtivas, Senhor Robert, mas melhorar é sempre bom. Estou aberta a ouvir suas ideias e se forem coerentes podemos, sim, trabalhar juntos. O que acha dos projetos apresentados, Senhor Frederico? — Ele estudava atentamente os papéis que havia lhe entregado.— Excelentes, Vossa Majestade! Tão bons e t