CAPÍTULO 2

Dezoito anos depois...

RIMENA

Levanto com a disposição de uma criança em seu aniversário. O que é quase fato, já que é meu aniversário, só não sou mais criança.

Hoje é o dia. Ele prometeu me levar dessa vez, justamente por ser meu aniversário de dezoito anos.

O sol mal nascia e eu já estava com café pronto para quando meu marido acordasse. Essa era a minha obrigação, cuidar da casa e da nossa alimentação, meu marido cuida para que não nos falte nada, indo até a cidade e comprando tudo que é necessário em casa.

— Bom dia! — falo animada quando ele entra na cozinha.

Meu marido não tem o melhor dos humores, mas já aprendi a lidar com isso. Eu cresci entre mulheres e elas me ensinaram que os homens são diferentes em vários aspectos. Eles são mais rabugentos, gostam de mandar, são mais fortes fisicamente, entre outras coisas.

Só posso confirmar pelo que sei do Nicolai, pois é o único homem que já vi em toda minha vida.

Luma, a senhora que me criou, dizia que o rei ordenou que nos casássemos. Segundo ela, eu fui a escolhida na cidade só de mulheres. Eu não me opus. Achei estranho por nunca ver nenhuma mulher ali saindo para casar, mas não me opus. Todas diziam que eu ia ser feliz, que casamento era uma benção, coisas do tipo. Eu acreditei... ou pelo menos me esforcei.

Nunca nem vi o rei, e acho injusto ele decidir a vida das pessoas, mesmo eu não sabendo se existia outras opções.

E se casamento é tão bom assim, por que elas estão em um lugar onde não permitem homens?

Eu me fazia esse tipo de pergunta desde o momento em que me informaram que eu iria me casar.

Confesso que não tive medo, meu medo maior sempre foi ficar ali, fazendo e vivendo as mesmas coisas todos os dias. Eu queria conhecer além do Oeste. Queria conhecer outras pessoas, outros lugares.

Se eu soubesse que só mudaria de lugar, que nada mudaria na minha rotina...

— Senhor Nicolai, vai a cidade hoje? — pergunto ao mesmo tempo em que me esforço para não ser contagiada por seu mal humor.

— Eu irei, você não — diz seco.

E lá se vai toda a minha alegria matinal.

— Mas o senhor disse...

Ele não pode voltar atrás agora.

— Eu disse que era perigoso. E você ficou me enchendo até eu dizer que pensaria no assunto. Pois bem, pensei e decidi não te levar. — Sua voz demonstra tédio, como Luma falando com crianças teimosas. — Só vou a cidade uma vez a cada três meses por ser perigoso. Sem possibilidade de te levar. Por que acha que moramos longe?

Dessa vez não vou aceitar.

Não quero acreditar que o mundo seja esse lugar horroroso que ele descreve. E para saber eu preciso sair desse lugar longe de tudo e de todos.

— Meu senhor, é meu aniversário. — Sinto lágrimas queimando meus olhos, mas não as deixo sair. — Sim, eu não sei nada do que existe além dessas terras, o máximo que conheci foi  a Cidade das Mulheres no Oeste e onde minhas pernas me levaram ao nosso redor, e não tem nada além de mais florestas...

Ele me interrompe:

— Onde quer chegar?

— Nunca o desobedeci, mas hoje eu irei a cidade. Com ou sem perigos. Se o senhor não me levar, irei com meus próprios pés.

Sempre quis conhecer outros lugares, outras pessoas, e hoje estava decidida.

Ele ri e diz:

— Nunca chegaria lá. A cidade mais próxima fica a quase três dias de carroça.

— Ainda assim irei. Posso andar por meses. Vou andar até morrer ou encontrar o que busco.

— Quanta tolice! — me assusto e dou um passo para trás quando ele se levanta bruscamente.

Nicolai é praticamente da minha altura, mas seu corpo é grande para os lados, e para frente. A barriga dele é bem saliente. Eu o acho um pouco assustador. Isso quase me faze desistir. Quase.

Cruzo os braços e o encaro.

Ele ri e diz:

— A única coisa que sabe sobre a cidade é o que conto.

Ele fica parado, me encarando de volta.

Não me dou por vencida.

— Por isso insisto em mudar essa situação.

— Seja feita a sua vontade, majestade.

Faz uma reverência exagerada e sai irritado, deixando a comida sobre a mesa. Ele sempre diz e faz isso quando não tem argumentos.

Dessa vez não vou desistir do que quero.

Não estou exigindo nada de mais.

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