CAPÍTULO 1

— Nasceu, majestade. É uma menina.

O rei fecha os olhos com força ao ouvir o anuncio da serva. Esperava que viesse um menino. Tudo estava seguindo conforme a profecia.

“Não posso aceitar que essa piralha tire o meu trono. Muito menos que se una a escória do nosso mundo.”

A serva lhe estende o pacote onde a bebê suja descansa em um tecido destinado apenas a realeza.

— Ela não chorou? — pergunta ao ver a menina quieta. — Não escutei outro barulho além dos esforços da rainha.

— Não senhor. Nenhum choro.

“Isso é bom. É um sinal do destino.” Pensa.

Em sua cabeça começa a se formar um plano.

— Entendo. Leve-a para a parte mais afastada dos meus domínios. No Oeste, naquela cidade de mulheres sozinhas. Não quero nenhum homem perto dela até que comece suas regras. Quando começar, vou enviar um eunuco para que se passe pelo seu marido. Pagarei para que eles fiquem o mais distante possível de qualquer outra pessoa. Ela tem que morrer virgem. Não deve nem saber o significado da palavra sexo.

O rei James Habel I estava disposto a qualquer coisa pelo seu trono, mas isso não incluía matar um filho. Enquanto pudesse resolver sem  derramar o sangue dos seus, a criança estaria segura.

— Não seria mais fácil levá-la a um convento? Soube que algumas mulheres optaram por seguir com a vida como levavam no mundo dos humanos, isso incluiu manter um convento — diz olhando a bebê.

A mulher teve pena da garotinha que cresceria sem possibilidade de começar uma família, ao mesmo tempo em que agradeceu pelo rei não ordenar que a matassem. A criada sabia que a pobre menina não tinha culpa de não ter nascido um garoto.

— As freiras no convento não são santas. Já houve incidentes de fuga e muitas delas vieram de vidas complicadas, bem mais que as mulheres do Oeste, sem contar que lá os castigos dolorosos inibem os erros. Quero que essa menina seja completamente ignorante da sua sexualidade. Além disso, o convento é muito perto da capital, qualquer descuido... — o rei balança a cabeça. — Não quero nem pensar. O ideal é ela se acostumar com a vida que leva e ser ensinada a ignorar o próprio corpo. Aquelas mulheres me devem por viver em paz e sem impostos, farão isso para que continue assim.

— O que dirá a rainha, meu senhor?

— A criança morreu no parto. Tentaremos novamente conceber o herdeiro.

— Parece mesmo destino. Há uma criança que nasceu entre os criados minutos atrás, ela nasceu morta. Farei a troca. — A serva se levanta levando a bebê que observa tudo com seus olhinhos pretos e brilhantes como uma noite pontilhada de pequenas estrelas.

Antes que ela se afaste muito, o rei diz:

— O nome dela será Rimena. Avise-as.

A serva se vira em sua direção e faz uma reverência, finalmente sumindo com a criança pelos corredores.

Logo que a serva retorna com o bebê morto, o rei a acompanha até o quarto e se aproxima de uma ansiosa rainha.

— O que houve? — questiona. Achou estranho a criança não chorar e a serva sair do quarto logo que a tirou de seu ventre.

Ela não sabia que foi por exigência do marido.

— A criança nasceu morta, minha rainha. Era um garoto. — Olha para a serva com o pacote.

A rainha estende os braços e pega o menino sem vida. Nem faz ideia que se trata de um filho de uma empregada do castelo que chora em seu canto por ter o corpo do filho levado pelo rei.

Ela chora a perda e o sentimento de fracasso.

Olhando para o marido, diz:

— Me desculpe por não te dar o herdeiro que o povo lhe cobra.

Ele se senta na cama e toca sua mão com gentileza.

— Não fale assim. A culpa não é sua. Ainda somos jovens. Logo teremos um filho que vai encher nossa vida de alegria.

A serva tira o corpo do garoto dos braços dela. Ela acompanha com o olhar, como se esperasse um milagre de ressureição. É em vão.

— Me esforçarei para que nosso casamento seja abençoado com um filho. — Limpa as lágrimas e funga. — Obrigada por ser tão compreensivo.

O rei aperta sua mão.

— Sei que irá. Apenas descanse e se recupere. Não posso te perder.

Ela sorri com esforço e ele sai para que a serva entregue o bebê morto a outra e a ajude a se limpar e descansar. Em breve fariam um funeral pelo bebê.

Em seu caminho em direção a sala do trono, ele se pega pensando se algum dos seus antepassados já fez algo parecido ou se realmente todos eles tiveram apenas filhos homens.

Tudo em seu ser dizia que esse castelo carregava as almas de muitas princesas mortas.

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