— Nasceu, majestade. É uma menina.
O rei fecha os olhos com força ao ouvir o anuncio da serva. Esperava que viesse um menino. Tudo estava seguindo conforme a profecia.
“Não posso aceitar que essa piralha tire o meu trono. Muito menos que se una a escória do nosso mundo.”
A serva lhe estende o pacote onde a bebê suja descansa em um tecido destinado apenas a realeza.
— Ela não chorou? — pergunta ao ver a menina quieta. — Não escutei outro barulho além dos esforços da rainha.
— Não senhor. Nenhum choro.
“Isso é bom. É um sinal do destino.” Pensa.
Em sua cabeça começa a se formar um plano.
— Entendo. Leve-a para a parte mais afastada dos meus domínios. No Oeste, naquela cidade de mulheres sozinhas. Não quero nenhum homem perto dela até que comece suas regras. Quando começar, vou enviar um eunuco para que se passe pelo seu marido. Pagarei para que eles fiquem o mais distante possível de qualquer outra pessoa. Ela tem que morrer virgem. Não deve nem saber o significado da palavra sexo.
O rei James Habel I estava disposto a qualquer coisa pelo seu trono, mas isso não incluía matar um filho. Enquanto pudesse resolver sem derramar o sangue dos seus, a criança estaria segura.
— Não seria mais fácil levá-la a um convento? Soube que algumas mulheres optaram por seguir com a vida como levavam no mundo dos humanos, isso incluiu manter um convento — diz olhando a bebê.
A mulher teve pena da garotinha que cresceria sem possibilidade de começar uma família, ao mesmo tempo em que agradeceu pelo rei não ordenar que a matassem. A criada sabia que a pobre menina não tinha culpa de não ter nascido um garoto.
— As freiras no convento não são santas. Já houve incidentes de fuga e muitas delas vieram de vidas complicadas, bem mais que as mulheres do Oeste, sem contar que lá os castigos dolorosos inibem os erros. Quero que essa menina seja completamente ignorante da sua sexualidade. Além disso, o convento é muito perto da capital, qualquer descuido... — o rei balança a cabeça. — Não quero nem pensar. O ideal é ela se acostumar com a vida que leva e ser ensinada a ignorar o próprio corpo. Aquelas mulheres me devem por viver em paz e sem impostos, farão isso para que continue assim.
— O que dirá a rainha, meu senhor?
— A criança morreu no parto. Tentaremos novamente conceber o herdeiro.
— Parece mesmo destino. Há uma criança que nasceu entre os criados minutos atrás, ela nasceu morta. Farei a troca. — A serva se levanta levando a bebê que observa tudo com seus olhinhos pretos e brilhantes como uma noite pontilhada de pequenas estrelas.
Antes que ela se afaste muito, o rei diz:
— O nome dela será Rimena. Avise-as.
A serva se vira em sua direção e faz uma reverência, finalmente sumindo com a criança pelos corredores.
Logo que a serva retorna com o bebê morto, o rei a acompanha até o quarto e se aproxima de uma ansiosa rainha.
— O que houve? — questiona. Achou estranho a criança não chorar e a serva sair do quarto logo que a tirou de seu ventre.
Ela não sabia que foi por exigência do marido.
— A criança nasceu morta, minha rainha. Era um garoto. — Olha para a serva com o pacote.
A rainha estende os braços e pega o menino sem vida. Nem faz ideia que se trata de um filho de uma empregada do castelo que chora em seu canto por ter o corpo do filho levado pelo rei.
Ela chora a perda e o sentimento de fracasso.
Olhando para o marido, diz:
— Me desculpe por não te dar o herdeiro que o povo lhe cobra.
Ele se senta na cama e toca sua mão com gentileza.
— Não fale assim. A culpa não é sua. Ainda somos jovens. Logo teremos um filho que vai encher nossa vida de alegria.
A serva tira o corpo do garoto dos braços dela. Ela acompanha com o olhar, como se esperasse um milagre de ressureição. É em vão.
— Me esforçarei para que nosso casamento seja abençoado com um filho. — Limpa as lágrimas e funga. — Obrigada por ser tão compreensivo.
O rei aperta sua mão.
— Sei que irá. Apenas descanse e se recupere. Não posso te perder.
Ela sorri com esforço e ele sai para que a serva entregue o bebê morto a outra e a ajude a se limpar e descansar. Em breve fariam um funeral pelo bebê.
Em seu caminho em direção a sala do trono, ele se pega pensando se algum dos seus antepassados já fez algo parecido ou se realmente todos eles tiveram apenas filhos homens.
Tudo em seu ser dizia que esse castelo carregava as almas de muitas princesas mortas.
Dezoito anos depois...RIMENALevanto com a disposição de uma criança em seu aniversário. O que é quase fato, já que é meu aniversário, só não sou mais criança.Hoje é o dia. Ele prometeu me levar dessa vez, justamente por ser meu aniversário de dezoito anos.O sol mal nascia e eu já estava com café pronto para quando meu marido acordasse. Essa era a minha obrigação, cuidar da casa e da nossa alimentação, meu marido cuida para que não nos falte nada, indo até a cidade e comprando tudo que é necessário em casa.— Bom dia! — falo animada quando ele entra na cozinha.Meu marido não tem o melhor dos humores, mas já aprendi a lidar com isso. Eu cresci entre mulheres e elas me ensinaram que os homens são diferentes em vários aspectos. Eles são mais rabugentos, gostam de mandar, são mais fortes fisicamente, entre outras coisas.Só posso confirmar pelo que sei do Nicolai, pois é o único homem que já vi em toda minha vida.Luma, a senhora que me criou, dizia que o rei ordenou que nos casássemo
SAYMONOs lobos não são bem vistos pelas pessoas nesse mundo. São os parias. E eu sou mais que isso. Sou o renegado que sobreviveu quando a feiticeira amada por todos não voltou das chamas.Por isso escolhi algo em que sou bom e me tornei o melhor, alguém indispensável e temido. Não preciso que gostem de mim, basta que temam. A única pessoa que preciso do meu lado é a minha mulher, aquela que me estendeu a mão e me ajudou a ver quem eu era de verdade.— Quantos faltam? — questiono enquanto limpo a lâmina do meu punhal. O vermelho mancha meu lenço branco.— Apenas uma família — ela responde e recebe meu olhar de negação. — Sem crianças. — Trata de deixar claro.— Então vamos acabar com isso. Quero férias. Só nós três. — Guardo o punhal no coturno.— Três? — levanta a sobrancelha.— Você, eu e sua boceta gostosa.Ouço sua gargalhada. Ela sabe que não estou brincando. Transar com essa mulher é surreal. Considero sua boceta a melhor amiga do meu pau, uma melhor amiga bem safada.Dessa vez
RIMENAMeu marido falava muito sério quando disse que a cidade é longe. Mas exagerou para me assustar. Ficamos na carroça por quase um dia — não três —, parando para descansar e comer.Não reclamei em nenhum momento. Ele já não queria me levar. Se eu abrisse a boca era capaz de Nicolai dar meia volta.Sinto falta de um banho. Mesmo estando no inverno me acostumei a ter um banho todos os dias no mesmo horário. Essa é uma vantagem por ter um rio perto da nossa casa.Apesar do desconforto por não conseguir seguir minha rotina, eu me sentia eufórica, queria olhar tudo que via, principalmente porque pelo caminho, vez ou outra, surgia uma casa ou pessoas. Cheguei a ver crianças brincando, um garotinho... vários. Eu nunca tinha visto um garoto. O único homem que conheço é meu marido. Até quis um filho, mas sem a ajuda de Nicolai seria impossível.As mulheres que me criaram diziam que para ter um filho, bastava o casal desejar muito que ele surgia. A magia do nascimento, era assim que chamava
RIMENA— Nicolai, achei que não viria. O jogo já vai começar. — Um homem baixinho e barrigudo diz assim que nós entramos no lugar.É um grande espaço com várias mesas e cadeiras, todas ocupadas, além de ter pessoas andando de um lado para o outro e música alta envolvendo todo o lugar.Meu marido aperta a mão que o homem lhe estende e depois de cumprimentar diz:— Pode emprestar um quarto para minha mulher? Ela precisar descansar.— Claro — responde sorridente. — Carmem, leve a mulher do Nicolai até um dos quartos com banheiro. Ajude-a no que precisar, pelo nosso melhor cliente.— Vamos, querida. — A mulher me chama. Ela é meio que parecida com o homem. Também é baixinha e carrega uma barriga saliente. Ainda não consegui identificar o que eles são.Confesso que estou acanhada. Viver tanto tempo sozinha com Nicolai ou com as mulheres que me criaram me deixou meio que sem saber como reagir diante de outras pessoas... Meio nada, completamente sem saber como agir.Sigo a mulher corpulenta
NICOLAINão sei o que é pior; a minha vida no castelo ou nesse casamento falso com Rimena.Não, eu sei. A vida no casamento.No castelo eu podia ter minhas escapadas, agora só posso uma vez por mês no máximo. Quanto mais venho a cidade mais ela passa a ter interesse em vir também. É uma garota curiosa. Fica cada dia mais difícil afastá-la do mundo.O rei é um ser covarde. Deixar sua própria filha em uma situação assim. A garota nem pode ler, passa o dia com plantas e galinhas naquele lugar, naquele fim de mundo.Às vezes me pergunto porque ele me contou quem é essa menina. Poderia ter inventado qualquer desculpa, mas simplesmente disse: “Você vai morar com a minha filha, afastados de tudo e de todos. Meu conselheiro dará maiores detalhes”.E foi assim que eu soube que o rei tinha uma filha que ninguém suspeita.Tenho pena dela, mas não o bastante para mostrar o mundo que ela está perdendo. O que quero mesmo é um jeito de manter esse casamento que me rende uma grana e ter mais tempo pa
Acordei com o corpo um pouco dolorido por estar em uma cama diferente da minha. Apesar de que as duas são parecidas em questão de conforto. A minha só é menor.Estava sozinha no quarto, nem sinal de Nicolai.Estranho, ele costuma acordar depois de mim. Será que dormiu em um quarto separado da mesma forma que em casa? Eu devia esperar por isso, nunca dividimos o mesmo quarto.Saio do quarto e ando pelos corredores. Está tudo silencioso, muito diferente de durante a noite.Espero que aquelas pessoas que estavam pedindo socorro estejam bem.Encontro as escadas por onde passei ontem e desço. O movimento de ontem não existe mais, poucas pessoas limpando o lugar.— Com licença — chamo uma moça loira que está com uma vassoura varrendo vidros do chão debaixo de uma mesa.Ela me olha, vejo seus belos olhos cinza e pergunto:— Onde encontro a senhora Carmen?— Ela está dormindo. Só depois das onze da manhã.O tom da sua voz é meio cantado. Não sei explicar. Sua voz é linda.— Obrigada!
O tempo passa comigo aqui nesse lugar.Sinceramente, não demorou muito para que eu gostasse e começasse a desejar que Nicolai demorasse ou que nunca voltasse. É um sentimento feio, sei, porém não posso evitar.Aprendi tantas coisas, coisas absurdas, outras tão legais. Quero aprender mais, muito mais.Não posso ir embora, por vários motivos. Um deles, e o maior, é que não sei como voltar para casa. Ai vem o fato de que Nicolai meio que me vendeu por um mês.Quando eu o encontrar ele terá que me explicar muito bem essa história.Por falar em histórias... Aqui tem muitos livros. Eu nunca tinha visto um livro que não fosse o de regras das mulheres do Oeste. O que não faz muita diferença já que não sei ler. Ou melhor, não sabia.A senhora Carmen me ajuda muito, ela e Lilica estão me ensinando a ler e fazer os trabalhos do local onde terei que viver pelos próximos dias. Ela que seleciona os livros que posso ler, segundo ela, eu tenho que ir por partes. Já percebi que alguns livros com homen
SAYMON— Você achou que era brincadeira? — pergunto rindo dos seus olhos arregalado ao me ver desenrolando a corda.Quando ela entrou no quarto de motel, eu esperava só de roupão e com o sorriso de menino sapeca que sempre surgia em sua presença.— Achei — responde engolindo em seco.— E eu achei que já tivesse entendido que não brinco com coisa séria — falo de um jeito sarcástico. — Quer beber?— Preciso.Vou até ela sem o vinho. Ela acompanha meus movimentos com olhos curiosos e assustados. Me posiciono atrás dela e beijo seu pescoço, primeiro devagar, depois sugando com certa força e mordendo. Não resisto, sua pele clama pelos meus dentes. Ela geme e perde as forças das pernas. Está perto de gozar apenas com minhas mordidas. Isso nela é o que me deixa louco. É tão sensível.Desço lambendo e sugando suas costas nuas. Ela vai ficar cheia de chupões e marcas dos meus dentes, do jeito que gosto.A distraio com seus lábios até ela sentir a laçada firme em seus pulsos. A amarro com os br