CAPÍTULO 6

NICOLAI

Não sei o que é pior; a minha vida no castelo ou nesse casamento falso com Rimena.

Não, eu sei. A vida no casamento.

No castelo eu podia ter minhas escapadas, agora só posso uma vez por mês no máximo. Quanto mais venho a cidade mais ela passa a ter interesse em vir também. É uma garota curiosa. Fica cada dia mais difícil afastá-la do mundo.

O rei é um ser covarde. Deixar sua própria filha em uma situação assim. A garota nem pode ler, passa o dia com plantas e galinhas naquele lugar, naquele fim de mundo.

Às vezes me pergunto porque ele me contou quem é essa menina. Poderia ter inventado qualquer desculpa, mas simplesmente disse: “Você vai morar com a minha filha, afastados de tudo e de todos. Meu conselheiro dará maiores detalhes”.

E foi assim que eu soube que o rei tinha uma filha que ninguém suspeita.

Tenho pena dela, mas não o bastante para mostrar o mundo que ela está perdendo. O que quero mesmo é um jeito de manter esse casamento que me rende uma grana e ter mais tempo para meus caprichos. Talvez uma casa mais próxima e protegida seja o ideal.

Perco muito tempo nesse casamento ridículo.

— Cubro a oferta — coloco as moedas de ouro sobre a mesa e afasto os pensamentos com a possibilidade de vitória.

Comigo só j**a quem tem dinheiro. Por isso as coisas para a casa são de qualidade inferior. Precisa sobrar para o jogo e para Matt, meu amante.

Eu o conheci aqui mesmo, na Casa da Madame Carmen.

Apesar do nome, quem manda é o marido dela, Mendonça.

Aqui tem de tudo; jogos com apostas, mulheres para uma noite de sexo, homens para noite de sexo.

Matt é o meu garoto aqui. Ele me faz sentir completo. Quando estou com ele esqueço que o maldito do meu pai me vendeu como eunuco para o rei em troca de terras, me esqueço que o desgraçado cortou uma parte de mim por terras.

Matt ainda atende outros homens. Não posso exigir que seja exclusivo, ainda não. Ele é ambicioso. Nunca deixaria a vida na Casa da Madame Carmen por uma vidinha medíocre onde teria que contar moedas.

O jogo continua. Soube que a minha esposa dormiu, e pedi para trancar a porta do quarto dela por fora e me entregar a chave. A doida da Carmen entregou a chave a ela. Mandei buscar. Não quero ela vendo muita coisa. Se ela soubesse que está em um bordel. Se ela soubesse o que é um bordel...

O jogo continua. Só paro para me aliviar. Depois passarei em um dos quartos com meu amante. Primeiro, ganhar mais dinheiro para deixá-lo bem feliz.

— O que? — levanto de sopetão ao ver que perdi tudo.

— Dia de azar, meu amigo — Mendonça, dono do lugar, diz com um sorriso amarelo.

Ele raramente j**a com os clientes, só quando quer ganhar, pois sempre ganha. Só que eu estava muito confiante depois de ganhar rapidamente várias rodadas.

— Foi só um pequeno azar, aposto que vai ganhar na próxima. — Matt atiça. Ele está atrás de mim, massageando meus ombros.

Me viro e encaro seus olhos puxados. Ele me mostra as presas de um jeito bem sexy. Se eu tivesse um pau ele ficaria duro com o sorriso do meu vampiro.

— O dinheiro acabou — digo derrotado.

O mês vai ser apertado se eu não conseguir mais dinheiro do rei.

— Aposta sua esposa — Matt diz no meu ouvido com sua voz macia. E não parece estar brincando.

Não posso apostar minha esposa. Ela é de onde tiro o dinheiro. Ele não sabe. Além disso, a perder significa que ela se tornaria uma das meninas da casa. E isso significa estar em contato com muitos paus, coisa que o rei mataria para não acontecer. Nesse caso o cadáver seria eu.

— Está maluco? Como apostaria isso? — digo só para ele.

— Maluco não, confiante.

— Não seria o primeiro — Mendonça ri, apesar de falar perto do meu ouvido, o sussurro de Matt foi alto para os outros jogadores ouvirem também. E pelo jeito o que eu disse também. — Muitas das garotas que trabalham aqui começaram por causa de maridos ou irmãos que jogam, até mesmo pais. Jogadores não deviam ter famílias. — Balança a cabeça em negativo.

— Vai sair?

— Desistiu?

Os outros jogadores me apressam a decidir.

Eu não costumo perder. Por causa disso estou somando uma pequena fortuna em um lugar secreto no meu quarto. O mês seria apertado simplesmente porque esse dinheiro tem outro propósito que não tem nada a ver com bancar minha vida de marido.

Eu não vou perder.

— Aposto a minha mulher — digo confiante da vitória.

— Se apostar ela vai ficar com quem ganhar até que pague a quantia. — Mendonça avisa.

— Eu sei. Não vou perder.

Talvez eu tenha bebido um pouco além e esteja confiante demais, porém sinto nos ossos que dessa vez eu vou ganhar. Eu preciso de mais dinheiro, quero mais. Esse que eu perdi é pouco perto do que está em jogo nessa rodada.

A partida começa. E na metade já estou suando frio. Minhas cartas estão péssimas. Preciso de um milagre para vencer.

O milagre não vem.

— Caralho! — levanto da mesa, um misto de desespero e raiva.

Mendonça ganha outra vez.

— Pois é. Acontece sempre. — Mendonça se levanta. — Vamos encerrar por hoje antes que perca sua alma. E sugiro que me siga para vermos os termos da sua mulher vendida.

Puta que pariu! Eu não posso deixar Rimena nas mãos do Mendonça.

Ele me espera com uma expressão que diz “eu te avisei”.

É o que faço. O sigo até sua sala particular.

— Já que você ganhou, meu amigo. Pode deixá-la só com tarefas de limpeza? Te imploro — peço com meu melhor tom de desespero.

Mendonça é um homem justo. Eu tenho meu dinheiro escondido, mas de jeito nenhum que vou usar nisso. Rimena aguenta um pouco. Só preciso evitar que o rei descubra onde ela está e evitar que ela caia sentada no pau de alguém.

Ele me olha com pena. Até parece que preciso de pena.

— Você tem um mês. Acho que é o suficiente para conseguir a grana. Após isso ela vai atender aos clientes.

— Obrigado. O pagarei o quanto antes.

— Assim espero. A sua esposa depende disso.

Saio do lugar e vou para o quarto de Matt. Ele já me espera. Diz que vai me compensar por ter dado uma péssima sugestão.

Matt é tudo para mim. E eu quero que ele não precise ser de mais ninguém, só meu. Por isso decido: Vou dizer ao rei que fui assaltado e preciso de mais dinheiro, direi que encontraram a casa onde estamos e que vamos precisar mudar para um local mais isolado. Ele vai acreditar.

Não posso deixar meu garoto sem seus mimos. Muito menos perder o que ganho do rei.

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