CAPÍTULO 5

RIMENA

— Nicolai, achei que não viria. O jogo já vai começar. — Um homem baixinho e barrigudo diz assim que nós entramos no lugar.

É um grande espaço com várias mesas e cadeiras, todas ocupadas, além de ter pessoas andando de um lado para o outro e música alta envolvendo todo o lugar.

Meu marido aperta a mão que o homem lhe estende e depois de cumprimentar diz:

— Pode emprestar um quarto para minha mulher? Ela precisar descansar.

— Claro — responde sorridente. — Carmem, leve a mulher do Nicolai até um dos quartos com banheiro. Ajude-a no que precisar, pelo nosso melhor cliente.

— Vamos, querida. — A mulher me chama. Ela é meio que parecida com o homem. Também é baixinha e carrega uma barriga saliente. Ainda não consegui identificar o que eles são.

Confesso que estou acanhada. Viver tanto tempo sozinha com Nicolai ou com as mulheres que me criaram me deixou meio que sem saber como reagir diante de outras pessoas... Meio nada, completamente sem saber como agir.

Sigo a mulher corpulenta com vestido colorido por algumas escadas até chegar ao quarto mencionado. Seus cabelos têm uma cor linda, é dourado e estão presos em uma trança embutida.

O vestido dela é bonito. Muito diferente do meu que é cinza e sem vida. Na Cidade das Mulheres só usávamos cinza e preto, muito raramente usávamos branco, e nunca nada colorido. Depois que fui morar com Nicolai, aos catorze anos, continuei usando as mesmas coisas.

Chego a ficar tonta de tanto olhar para todos os lados, curiosa com tudo.

Ela me leva por um corredor onde tem vários quartos com portas fechadas. Ouço barulhos estranhos vindo de alguns, algo parecido com gemidos.

Antes de chegar a esse corredor, Nicolai ficou onde havia várias pessoas bebendo, fumando e falando alto em várias mesas, eles falavam mais alto que a música que tocava no ambiente.

— Vou trazer toalhas para você tomar um banho. E trarei um vestido limpo. Ou você trouxe algum?

— Não trouxe. Só tenho o que estou usando.

— Certo. Posso te emprestar um da Lilica. Aposto que ela não se importa.

— Oh meu Deus! — me afasto bruscamente da parede ao ouvir o barulho forte de algo se batendo contra ela e sons altos de pessoas gemendo. Uma voz feminina chegou a gritar “pare, por favor”.

A mulher ri, me deixando completamente confusa.

— Desculpe. Vou indicar quartos mais distantes aos clientes mais afoitos — diz.

— Eles estão bem? — pergunto preocupada. Eles parecem sentir dor.

A mulher franze a sobrancelha fina. Sua risada some.

— Você é casada mesmo?

— Desde os catorze anos. Por que?

Ela só responde com uma careta e um levantar de ombros. Carmen deixa tudo que vou precisar no quarto e me entrega a chave para eu trancar a porta por dentro quando quiser.

Antes de trancar eu ainda olho o corredor. Tem barulho em mais um quarto e ninguém no corredor. Me pergunto o que devem estar fazendo. Será que estão treinando luta ou algo assim? Costumávamos fazer muito barulho quando estávamos treinando na Cidade das Mulheres.

Luma dizia que eu deveria pelo menos aprender a lutar, já que parecia não haver magia em mim.

Tranco a porta.

Por mais trinta minutos escuto barulhos vindo do quarto ao lado. Me seguro para não ir até lá ajudar. Se a senhora Carmen não se importa é porque estão bem. Ela deve saber mais que eu, que vivi tanto tempo isolada.

Tomo meu banho e coloco o vestido que a Carmen me empresta. É branco e só chega a um pouco acima dos meus joelhos. Me sinto estranha. Só vejo o meu corpo quando tomo banho, todas as minhas roupas são longas e de mangas cumpridas. Mas na verdade, confesso que eu desejei que ela me emprestasse algo colorido.

Me deito na cama que cheira a sabão, o mesmo que uso nas roupas em casa. Logo o cansaço da viagem leva a preocupação com as pessoas que gemiam ou meu marido que ainda não subiu. Durmo pesado.

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